sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O Homem nas Trevas assusta muito fazendo pouco


            2016 está sendo um ano com mais promessas do que com resultados, pelo menos, no cinema: vários projetos que prometiam muito, entregaram pouco e decepcionam, sobretudo no período do verão americano. Houve alguns bons filmes, mas quase nada memorável a ponto de ficar para a História (no verão do ano passado tivemos Mad Max e Divertida Mente, por exemplo).

            O que está acontecendo neste ano é que os melhores filmes do ano são aqueles que poucos tiveram expectativa e não são necessariamente filmes de baixo orçamento (Zootopia é um exemplo).

            E há um outro filme fazendo barulho nas redes sociais e que está sendo apontado pelos críticos e pelo público como dos melhores filmes do ano – e melhores suspenses dos últimos anos: O Homem nas Trevas, que o título original é “Don’t Breathe”, ou “Não Respire” e quem assiste ao filme vê que este título faria muito mais sentido, afinal, há diversos momentos em que alguns personagens – e o público – passam sem respirar e agoniado.


            Na história, três jovens assaltantes decidem praticar um último roubo, que é invadir a casa de um deficiente visual veterano de guerra.

            A missão parecia tranquila, mas coisas estranhas começam a acontecer dentro da casa.


            Há diversas camadas para serem exploradas em O Homem nas Trevas e quanto menos o espectador souber, mais interessante fica. O que começa como um filme de roubo vira um suspense psicológico e se torna visceral e elegante ao mesmo tempo.

            O roteiro de Fede Alvarez (que também é o diretor) e de Rodolfo Sayagues (os dois também escreveram A Morte do Demônio) mostra que todos têm suas motivações e ninguém é exatamente culpado e ninguém é exatamente inocente: se alguém invadisse a sua casa para roubar o seu dinheiro, como você reagiria? Mas se alguém te atacasse de forma brutal, como você reagiria? O filme brinca com essas questões o tempo todo e deixa para o espectador tomar as suas conclusões, sem manipulá-lo.


            Sam Raimi ficou mundialmente conhecido como o diretor da trilogia do Homem-Aranha e embora tenham dois grandes filmes desta trilogia (o terceiro é fraco!), seu coração fala mais alto pelo terror, como nos dois exemplares de A Morte do Demônio (o de 1981 ele é diretor e no de 2013 ele é produtor). E aqui ele é o produtor novamente e vemos muito de sua marca aqui, como alguns sustos falsos, o bizarro e o “jumpscare”, que é aquele susto inesperado.

            E tem mais: embora ele seja um diretor já renomado, ele jamais deixa de lado seu espírito de cinema independente: O Homem nas Trevas é um filme relativamente pequeno (custou “só” 10 milhões de dolares), a maior parte do filme se passa em apenas um único ambiente e o nome mais conhecido do elenco é Stephen Lang, que não é exatamente um astro, embora tenha feito a maior bilheteria da história, que é Avatar.


            Aliás, seu personagem é o deficiente visual em questão e embora o elenco jovem esteja muito bem, é ele o melhor personagem por aqui. Ele foi apenas creditado como “o homem cego” e não tem nome – pelo menos até onde o público sabe – e sempre se mostra imponente e como uma ameaça.

            O “homem cego” é um personagem a ser descoberto. O roteiro não perdeu tempo com flashbacks ou em explicar demais a sua história (que cairiam bem em um spin-off) e lembra muito o personagem de Clint Eastwood em Gran Torino: um veterano de guerra solitário, amargurado e seu único indício de humanidade é seu cachorro (no filme de Eastwood era seu carro).


            O Homem nas Trevas é uma pequena preciosidade do suspense/terror, seu sucesso é merecido e é uma história que pode ser muito bem explorada, mas não em demasia, já que tanto se fala na falta de criatividade em Hollywood.

Nota: 10,0

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