segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Gente como a gente

Gente como a gente (Ordinary People)


Direção: Robert Redford

Ano de produção: 1980

Com: Timothy Hutton, Donald Sutherland, Mary Tyler Morre, Judd Hirsch, Elizabeth McGovern.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 12 Anos


Somente a Academia conservadora explica “Gente como a gente”.

            É muito triste quando uma obra é lembrada pelas pessoas de forma negativa. E “Gente como a gente” é um grande exemplo disso. Hoje em dia, quase ninguém se lembra do filme, da história ou dos atores, muito menos da história, mas, todo mundo que acompanha cinema se lembra – e muito bem – da injustiça histórica cometida pelo Oscar no ano de 1981: “Gente como a gente”, um drama que se tornou odiado por muitos com o passar dos anos, abocanhou os principais Oscars daquele ano, de Melhor Filme e Direção, deixando para trás ninguém menos do que “Touro Indomável” de Martin Scorsese. Isso explica o fato de o filme ser tão odiado no circuito cinematográfico.

            Na verdade, a Academia do Oscar (eu procuro dizer Academia e Oscar como sinônimos), no final dos anos 1970 e começo dos 1980, procurou premiar filmes mais otimistas, que traziam a família americana para o centro do universo e promover o espírito “american way of life”.

            Alguém duvida? Basta ver algumas injustiças históricas dessa época: em 1977, a Academia deu o prêmio de Melhor Filme ao correto e popular “Rocky – Um Lutador”, tirando o prêmio de filmes de calibre como “Taxi Driver” e “Rede de Intrigas”. Em 1980, não há dúvida de que “Apocalypse Now” é dos filmes mais poderosos e ousados da história e, também, dos melhores, senão o melhor, filme de guerra da história. Mas a Academia resolve premiar um drama certinho e correto que foi “Kramer VS Kramer”. E em 1981, a história se repete. O Oscar ainda paga o preço por ter esnobado “Touro Indomável” como Melhor Filme e de ter premiado este filme aqui.

Fui assistir a “Gente como a gente” tentando gostar, esquecendo as premiações e mergulhar na história. Foi uma grande pena que uma história tão rica, tão ampla e tão cheia de sentimentos resultou em um filme chocho, frio, manipulador, certinho demais e de tão obcecado por prêmios, que soa até falso.

Gente como a gente conta a história da família Jarrett, sob o ponto de vista de Conrad (Timothy Hutton, vencedor do Melhor Ator Coadjuvante pelo papel), que tentou o suicídio após a morte de seu irmão mais velho e inicia um tratamento psicológico. Seu pai, Calvin (Donald Sutherland) até tenta compreendê-lo e de certa forma são amigos, mas Conrad se revela menos sociável. Sua mãe, Beth (Mary Tyler Morre – indicada ao Oscar de Melhor Atriz pelo papel) não esconde de ninguém da preferência pelo filho que morreu, sempre enfatiza e sempre culpa Conrad pela morte do filho. Entra em cena seu psicólogo, interpretado por Judd Hirsch (indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante pelo papel), que parece sempre distante de seu paciente e se mostra mais interessado em manter sua primazia perante o jovem do que ajudá-lo de fato. A única pessoa que, aparentemente tem alguma afetividade por Conrad é a jovem Jeannine (Elizabeth McGovern, em um papel muito tímido), que de fato demonstra amizade verdadeira com o nosso protagonista, mas não anula a angústia e sentimento ruim de Conrad.

A história é ótima, poderia resultar de fato em algo comovente, histórico e épico. De fato, há qualidades no filme. Este é o primeiro filme dirigido por Robert Redford, que, tanto neste filme, quanto nos demais longas, ele demonstra afinidade e que, sim, sabe trabalhar com atores e sabe, como todos os cineastas deveriam saber, que a melhor coisa em um filme são os personagens. Todo o elenco está com uma atuação discreta e correta, exceto Timothy Hutton, que arrebenta como um jovem perturbado e psicologicamente mal resolvido. Seu papel é, sem dúvida, a melhor coisa do filme.

Mas seu andamento é tão arrastado e superficial que tornou “Gente como a gente” ficar esquecido com o tempo. É um filme, portanto, já datado. A fotografia é precária, o roteiro é, infelizmente, preguiçoso (e foi um roteiro vencedor de Oscar) e todo o esforço do elenco (e olha que são ótimos atores) se perde durante o filme. O roteirista Alvin Sargent (da trilogia “Homem Aranha”), embalado por uma trilha sonora desastrosa), prefere as emoções fáceis ao invés de, digamos, explorar mais o lado psicológico dos atores e ser mais, digamos, inteligível. Além da longa duração. Duas horas é um tempo médio para um filme, mas, neste caso, parece que o tempo não anda porque o filme em si parece que nunca sai do lugar.

Há algumas qualidades em “Gente como a gente”. A verdade é que ele é um filminho, apenas quadradinho e esquecível e não tinha nada que ser premiado e premiação nenhuma. E nem indicado. Há coisas que só a Academia faz por você.


Nota: 4,0


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domingo, 17 de novembro de 2013

Jogos Vorazes - Em Chamas

Jogos Vorazes – Em Chamas (Hunger Games – Catching Fire)


Direção: Francis Lawrence

Ano de produção: 2013

Com: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Woody Harrelson, Sam Caflin, Donald Sutherland, Jena Malone, Jeffrey Wright, Liam Hemsworth, Philip Seymour Hoffman, Lenny Kravitz, Stanley Tucci, Elizabeth Banks, Amanda Plummer.

Gênero: Aventura

Classificação Etária: 14 Anos




“Jogos Vorazes – Em Chamas” deixa a trama mais rica e mais interessante.

            O primeiro Jogos Vorazes estreou nos cinemas no 1º semestre de 2012. Sem fazer muito barulho, não foi exatamente um sucesso comercial, muito se deu pela propaganda negativa que foi feita, sendo anunciada pela Paris Filmes como “o novo Crepúsculo”. Mas, após as críticas positivas e pelo boca-a-boca, o filme foi ganhando a acolhida popular e muitos fãs. A série de livros, “Jogos Vorazes”, também ficou famosa e a escritora, Suzanne Collins, conhecida no mundo inteiro. Outras duas razões que deixaram “Jogos Vorazes” amado e cultuado por muitos: uma foi a estratégia do Netflix em lançá-lo em seu sistema, o que ajudou muito a popularizar a história. E outra razão foi o fundo político por trás da história, afinal, o filme fala de regime um regime totalitário, repressão, manipulação da mídia, arte do espetáculo e a arte do pão e circo.

            Nesse “Em Chamas”, após os acontecimentos do primeiro filme e a vitória de Katniss Everdeen e Peeta Mellark no torneio Jogos Vorazes, os Distritos mais pobres e famintos viram na vitória do casal uma forma de esperança e revolta contra a capital. Isso, claro, chama a atenção dos chefões da capital, fundamentalmente do Presidente Snow e de Plutarch Heavensbee, líder nos jogos, que decidem aumentar a repressão nos Distritos e convocar os Jogos, desta vez, com todos os vencedores dos distritos, incluindo Katniss e Peeta, que terão que enfrentar outros vencedores e, consequentemente, participantes teoricamente melhores do que a dupla, dando início aos jogos.

            Mesmo sendo a mesma franquia e, teoricamente, a mesma história, há diferenças cruciais em relação ao primeiro filme: primeiro a expectativa, afinal, ninguém dava nada pelo primeiro filme e fundamentalmente, ninguém conhecia o universo. Segundo o orçamento, que foi exatamente o dobro do anterior, com 140 milhões de dólares contra 70 milhões do primeiro. Com o sucesso, reconhecimento do primeiro e a legião de fãs, era uma expectativa enorme para este aqui e a enorme responsabilidade dos realizadores. Felizmente, o filme não só atende como supera as expectativas.

            Além dos efeitos e das cenas espetaculares de ação, a temática política e do pão e circo não só está presente como está mais intensa e cruel. Há mais repressão, mais totalitarismo, menos romance (embora haja o iminente casamento de fachada entre Peeta e Katniss) e mais fundo político e alegoria com o mundo real (alguém se lembrou dos protestos de junho de 2013 aqui do Brasil?). Há, também, um amadurecimento maior do elenco, fundamentalmente da sempre ótima Jennifer Lawrence. Agora que ela já é uma atriz consagrada, vencedora de Oscar e de talento comprovado, vemos neste filme aqui uma carga dramática maior que a personagem exigia e uma presença maior dela em cena, que aqui, se divide entre moça apaixonada, mulher forte, vencedora idealista e ainda tem que cuidar da família. E ela demonstra, mais uma vez, porque é a atriz do momento em Hollywood.

            O filme ainda conta com um grande elenco de peso, com os veteranos Donald Sutherland, Philip Seymour Hoffman (que infelizmente faleceu no início do ano) e Woody Harrelson, ainda tem Jeffrey Wright e Jena Malone (de “Na Natureza Selvagem”), e até o cantor Lenny Kravitz, como o elitista Cinna está bem.

            Por ser um filme de transição, “Jogos Vorazes – Em Chamas”, não tem uma conclusão e abriu espaço para as próximas continuações, o desfecho que promete ser épico com “Jogos Vorazes – A Esperança”, partes 1 e 2, prometidas para 2014 e 2015. E com tanta adaptação literária ruim, como “Instrumentos Mortais”, “Dezesseis Luas”, “Eragon” e o próprio “Crepúsculo”, não é exagero dizer que “Jogos Vorazes” é a única digna de nota da atualidade. E com fundo político, conteúdo e nos faz pensar, o que raro hoje em dia.
           
Nota: 9,0


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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Thor 2 - O mundo sombrio

Thor 2 – O mundo sombrio (Thor – The dark world)


Direção: Alan Taylor

Ano de produção: 2013

Com: Chris Hemsworth, Natalie Portman, Tom Hiddleston, Christopher Eccleston, Anthony Hopkins, Kat Dennings, Rene Russo.

Gênero: Ação

Classificação Etária: 12 Anos



Thor 2 mostra uma nova fase da Marvel.

            A equipe de “Thor 2 – O mundo sombrio” estava com uma bomba nas mãos. Afinal, depois do mal estar gerado no primeiro filme, em 2011, ninguém ousava se meter no projeto novamente. E, também, depois do furacão causado por “The Avengers – Os Vingadores”, era difícil imaginar um filme solo de herói que causasse impacto depois da estrondosa reunião de super-heróis que The Avengers nos agraciou.

            E ainda no universo de Os Vingadores, os fãs não estavam muito esperançosos dessa fase nova da Marvel, principalmente depois da decepção causada por “Homem de Ferro 3”. Eu mesmo não coloquei muita fé na história do deus do trovão ou se essa história tivesse continuidade.

            Mas, nada como queimar a língua da maneira mais irônica. “Thor 2 – O mundo sombrio” é um grande filme, que honra esse grande personagem da Marvel, trouxe uma história inteligente e didática, mesmo para os leigos. Além disso, é absolutamente delicioso de se assistir, com alívios cômicos na medida certa, sem estragar ou distorcer a trama, cobre todas as falhas do primeiro filme e quase (eu disse quase) nos faz esquecer-se de Os Vingadores.

            Na história, os Elfos Negros, que eram seres que habitavam no universo antes do big bang, tentaram dominar o Éter, uma substância poderosa com a capacidade de dominar os nove universos. Porém, os Elfos, perderam a batalha pela conquista do Éter para os deuses de Asgard e parecia que ali estava tudo perdido. Jogando para os dias de hoje, aqui na Terra, na cidade de Londres, Jane Foster (Natalie Portman) está há dois anos sem ver seu amado Thor (Chris Hemsworth) e descobre, sem querer, um portal, que lhe dá a posse do poderoso Éter. Em Asgard, Loki (Tom Hiddleston) é detido pelos desastres ocorridos em Nova York com “The Avengers – Os Vingadores” e está fadado a perder seu trono de rei para seu irmão, Thor. O deus do trovão, Thor, retorna à Terra e descobre que Jane possui o Éter, que lhe dá um estranho campo de força. Thor leva Jane a Asgard para se cuidar, mas o planeta é invadido pelos Elfos e por Malekith (Christopher Eccleston), que querem tomar posse do Éter, e também querem a dominação da Terra e conquistar os dois mundos.

            As diferenças e qualidades em relação ao filme de 2011 são nítidas. Primeiro tudo funciona por aqui. Três ressalvas sobre o primeiro filme eram as cenas bizarras de ação; depois o fato de ser infiel aos quadrinhos por mostrar mais o Planeta Terra e quase destratar o planeta Asgard; também a química e romance entre Chris Hemsworth e Natalie Portman não emplacou.

            Aqui em “Thor 2 – O mundo sombrio”, as cenas de ação são espetaculares. A Marvel Studios aproveitou tudo o que o herói tem de melhor e também aproveitou até as últimas consequências de como explorar ou dissertar um roteiro bem amarrado. O planeta Asgard está muito melhor aproveitado por aqui, existe sim, vida pura a ser explorada em uma história fantástica e ao invés de mostrar quase só a Terra como o primeiro filme, o roteiro liga bem os dois mundos, sem priorizar esse ou aquele. Mas e o romance de Thor e Jane? A química dos dois não só é perfeita e até comove, e, de certa forma a personagem de Natalie Portman, assim como todos os “terrestres” da história, funcionam como um alívio cômico nos momentos de tensão, com direito a uma rápida e engraçada participação de Stan Lee.

            Ao contrário de “Homem de Ferro 3”, um universo paralelo, afinal, não havia referência com nenhum outro filme da Marvel. Aqui, em Thor 2, as referências são tão presentes quanto deliciosas. A trama de passa após os acontecimentos de “The Avengers – Os Vingadores”, então, tudo é citado, sem prejudicar a história, como uma rápida piada com o Capitão América, protagonizada pelo Loki e as cenas pós-créditos.

            E por falar em Loki, como não citá-lo? Foi a melhor coisa do primeiro filme e aqui rouba a cena como anti-herói. A imprevisível e aparentemente impossível parceira entre Loki e Thor é um dos picos do filme. Não contarei aqui o desfecho, mas o resultado é tão surpreendente que, quanto menos souber, melhor para apreciar os momentos.

            Quem disse que não havia vida após Os Vingadores? Este só é o início da fase nova da Marvel. E que venham mais heróis e mais filmes. Capitão América e Homem-Formiga, por exemplo, vêm aí. E, claro, Os Vingadores 2.
           
           

Nota: 9,0


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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Segredos de Sangue

Segredos de Sangue (Stoker)


Direção: Park Chan- Wook

Ano de produção: 2013

Com: Mia Wasikowska, Matthew Goode, Nicole Kidman, Jacki Weaver, Dermot Mulroney .

Gênero: Suspense

Classificação Etária: 14 Anos



Segredos de Sangue tem clima, mas não surpreende.

            Foi logo no início de 2013, que foi lançado o trailer de “Segredos de Sangue”. E foi uma experiência devastadora. Foi uma grande amostra de como criar um clima de suspense, como fazer o público conhecer personagens de forma inteligível sem explicar demais e como brincar com as cenas juntando a trilha sonora. A expectativa, pelo menos no cenário independente, era alta. Todo mundo ficou entusiasmado para assistir. Bem, meses depois, assistindo ele, posso dizer, sem sombra de dúvidas, que o trailer é muito melhor do que o filme. Ou, mais do que isso, o trailer entrega os melhores momentos do longa e os melhores diálogos. Logo, podemos deduzir que, quem viu o trailer, nem precisa ver o filme inteiro, pois todas as surpresas estão lá. E de forma muito mais estilizada, diga-se de passagem.

            “Segredos de Sangue” conta a história de India Stoker (Mia Wasikowska, ótima no papel!!!!!), que acabara de perder seu pai (Dermot Mulroney, que só aparece em flashbacks) e se tornou uma pessoa muito fechada, desde então, já que o laço com seu pai era extremamente forte. Ela, de início, só vive com a mãe, Evelyn (Nicole Kidman), que, por sinal, India a despreza, mas, depois, descobre que tem um tio, Charlie (Goode) e que o próprio vai morar com elas. Charlie é charmoso, carismático e logo conquista a simpatia de todos e todas da região, menos de India, que suspeita do comportamento de Charlie. A convivência dos dois é o ponto chave da história.

            Na estréia de Wook em longas norte-americanos (ele dirige o excepcional Old Boy), ele continua com o mesmo clima de suspense/terror de seus personagens, a ausência de inocência e sentimentalismo, a câmera sempre atenta e focada nos personagens e embalado sempre por uma trilha sonora fantástica. Por aqui, a música é praticamente um personagem. Quem assina a parte musical do filme é o sempre ótimo Clint Mansell (de Réquiem Para um Sonho e Cisne Negro).

            Além do problema do trailer ser melhor que o longa, “Segredos de Sangue” soa tão artificial que parece estranho ao grande público. Na verdade, o filme não se decide entre ser alternativo e independente ou tentar imitar (sim, “imitar”) os suspenses hollywoodianos. Em algumas horas é sensacionalista, outras tenta o niilismo sem diálogos deixando o espectador tomar suas próprias conclusões, que nesse caso, serão sempre óbvias. Outro grande defeito: o prólogo demorado. São quase duas horas de filme, e o envolvimento com os personagens, sobretudo com a protagonista, demora a emplacar, principalmente com o clima frio conduzido pela história. Na verdade, o filme só se completa se visto o trailer minutos antes.

            Embora exista, como já dito, um forte clima de suspense e uma trilha sonora excelente, o maior trunfo do filme responde pela ótima atuação da australiana Mia Wasikowska. Seu olhar frio, calculista e quase psicopata é o que embala o longa que, em muitas vezes, nem precisa de diálogo, basta o olhar de India. Frio, assim como o resultado final de “Segredos de Sangue”.


Nota: 7,0


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