quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Gonzaga - de pai para filho


Gonzaga – De pai para filho

Direção: Breno Silveira

Ano de produção: 2012

Com: Chambinho do Acordeon, Julio Andrade, Nanda Costa, Adélio Lima, Land Vieira, Alison Santos, Giancarlo Di Tommaso, Cecília Dassi.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 14 Anos

Nota: 9,0


“Gonzaga” dá uma nova esperança ao atual cinema nacional

            O Luiz Gonzaga foi uma das personalidades mais emblemáticas, polêmicas e marcantes do país. Sua história é tão surpreendente que não poderia ter sido inventada e era inevitável que ela fosse transportada para o cinema. Mas “Gonzaga – De pai para filho” não é bem uma cine-biografia do rei do baião, como ele era conhecido, mas um forte e intenso conflito de gerações Luiz Gonzaga, o pai, e Gonzaguinha, o filho. A história dos dois e, fundamentalmente, a divergência e a magia do filho para com o pai é sublime. E quanto menos se sabe, mais interessante fica.

            “Gonzaga” se passa, de início, na cidade de Exu, no sertão do Estado do Pernambuco, no ano de 1981, onde Gonzaguinha vai à esta cidade conhecer melhor seu pai, Luiz Gonzaga, para, então, se aproximar dele. Seu pai decide contar sua história de vida para, então, ver se o filho compreende as razões de seu abandono durante a sua vida. Daí somos transportados para o ano de 1929, na mesma cidade de Exu, quando Gonzaga era ainda um adolescente cheio de sonhos e idealista. Ele tem uma paixão proibida (é apaixonado pela filha do coronel), tem uma profunda admiração por Lampião (fato que o filme, infelizmente, não abordou muito) e aprende a tocar sanfona com seu pai, Januário. Após um conflito com o coronel, Gonzaga foge da cidade e vai de pau-de-arara à Fortaleza, para tentar ganhar a vida, mas ele vai parar no exército. Mesmo passando 10 anos por lá, ele cumpre uma promessa que fez ao seu pai e não dá um só tiro, mesmo com os conflitos da época, como a Revolução de 1930, ele sempre dava um jeito de escapar dos campos de batalha. Após a baixa no exército, Gonzaga decide tentar a sorte na grande metrópole brasileira da época, o Rio de Janeiro, que seria a sua “casa”.

            O início é extremamente difícil, já que Gonzaga mal sabia ler e não tinha experiência nenhuma na cidade grande, mas de pouco e pouco ele vai conseguindo conquistar a noite carioca, principalmente quando ele decide tocar as músicas raízes do Pernambuco.

            Em uma das noites, ele freqüenta um certo baile (onde ele se torna cliente) e conhece a doce Odiléia (vivida por Nanda Costa, surpreendentemente, ótima no papel, bem diferente de seu papel fraco na novela “Salve Jorge”), que logo se tornaria sua esposa e mãe de Gonzaguinha. Gonzaga é bom para Odiléia, mas com sua experiência de vida com o mundo do sertão e dos coronéis, ele acha que a mulher é sempre submissa, tornando as brigas de casal freqüentes. Odiléia começa, porém, a apresentar crises de Tuberculose, onde é internada e morre no hospital.

            Nesse meio tempo, Gonzaga se torna um sucesso absoluto e se torna o “Rei do Baião”, vendendo milhões de discos por todo o Brasil e faturando milhões.

            Não contarei a história inteira, obviamente, mas o filme também foca no segundo casamento de Gonzaga, com Helena, e o crescimento de Gonzaguinha, passando pela ausência de seu pai, a rebeldia adolescente, o colégio interno e sua mente ideológica, sobretudo durante o período militar (aliás, Gonzaguinha ficou famoso pelas suas músicas de protesto).

            O filme tem muitas, muitas qualidades. Começando pela escolha do elenco, os atores se parecem física e psicologicamente com as personagens que interpretaram. A direção de arte é competente e é uma bela reconstrução da época. E o diretor Breno Silveira retoma sua maior virtude: a de fazer uma reflexão do conflito de gerações entre pai e filho, que fez muito bem em “À Beira do Caminho” e principalmente no mega-sucesso “Dois Filhos de Francisco”, coisa que ele parece que esqueceu em “Era Uma Vez” – que nem merece ser lembrado.

            Mas principalmente, “Gonzaga – de pai para filho” e um alívio em se tratando de cinema brasileiro. A fase atual do nosso cinema é, no meu conceito, um desastre. De alguns anos para cá, só fazem comédias de muita apelação e de péssimo gosto – é só dar uma olhada nas últimas melhores bilheterias, como “E Aí, Comeu” e “Cilada.com”, se o intuito é competir com as comédias hollywoodianas, o tiro está saindo pela culatra, mas “Gonzaga” volta às raízes e origens do que o nosso cinema é, e sempre foi, de senso crítico, político e corajoso.

            O filme até mereceria um conceito 10, mas os 15 minutos finais, mais parecem que os realizadores acharam que acabou o tempo de projeção e resolveram enxugar demais a história. Quase não dá para se envolver emocionalmente com o que acontece, que, aliás, é o momento mais esperado do filme, mesmo com o belíssimo final, com imagens sublimes e que merecem ficar sempre registradas na estante de qualquer fã.

            Ah, e prepare o lenço, pois o filme comove, sempre com sutilezas, mas sempre animando com as canções de tirar o pé do chão, como “Asa Branca”, que se tornaria o hino do nordeste e “Que Nem Jiló”, e, ouvindo essas músicas novamente e pensando na atual fase desastrosa da música nacional, que tal uma dança de forró para hoje à noite?

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A Saga Crepúsculo – Amanhecer – Parte 2


A Saga Crepúsculo – Amanhecer – Parte 2 (The Twilight Saga – Breaking Dawn – Part 2)

Direção: Bill Condon

Ano de produção: 2012

Com: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner, Mackenzie Foy, Michael Sheen, Dakota Fanning.

Gênero: Aventura de Romance

Classificação Etária: 14 Anos

Nota: 6,0


Com um final “mais do mesmo”, o último capítulo da saga Crepúsculo apenas “cumpriu seu papel”

            Foi uma situação engraçada assistir a um filme da saga Crepúsculo em um cinema lotado. Até então, sempre vi todos os filmes em casa, ou em DVD ou na TV. Por se tratar do último episódio, resolvi encarar um cinema cheio de adolescentes berrantes. E a experiência não foi nada agradável. A gritaria e os suspiros por algumas cenas são insuportáveis.

            Essa saga crepúsculo, aliás, é como um início de namoro, em que a pessoa se apaixona a ponto de não achar os reais defeitos que aquilo tem. Como eu já passei dessa fase de se apaixonar por Crepúsculo, devo dizer aqui que a série foi um fenômeno produzido e feito apenas para ser “a moda do momento” (acho difícil alguém se lembrar da saga no futuro).

A série nunca teve aquele atrativo e desde 2008, quando foi lançado o primeiro Crepúsculo, estou tentando entender até hoje esse fenômeno todo. Não que seja de todo mal, a série tem, aliás, muitas qualidades, mas não trouxe nada de novidade que uma série de sucesso, como “O Senhor dos Anéis” ou “O Poderoso Chefão”, fizeram e muito bem. Não tem nada de novo tanto no quesito roteiro como parte técnica, que, aliás, foi um retrocesso nesse ponto, com efeitos especiais bem ultrapassados e que mais se parecem com aqueles feitos nos primórdios, lá na década de 1920.

Embora o primeiro filme, “Crepúsculo”, tivesse sido apenas mediano, ficou uma sensação de “quero mais” para o próximo episódio. “Lua nova”, o segundo episódio, foi um desastre total, um filme completamente desnecessário e que só serviu para as fãs suspirarem por um novo galã que surgira, Taylor Lautner, como o lobo Jacob, que, aliás, vou comprar briga com muita gente em relação a isso, mas Lautner é um péssimo ator, basta ver isso no recente “Sem Saída”. Já “Eclipse” deu a saga novos ares e aquela esperança de que a série finalmente entraria nos eixos. E entrou. “Amanhecer – Parte 1” é, indiscutivelmente, o melhor filme da saga, por ser bem mais maduro do que os anteriores, história melhor amarrada e por ter na direção, o cineasta Bill Condon (de “Dreamgirls – Em busca de um sonho”), que sabe muito bem tratar de atores, embora este tenha sido seu primeiro arrasa-quarteirão.

E agora, em 2012, chegamos à esse final esperado. E a idéia de dividir o último episódio foi a mesma argumentação que os produtores deram quando resolveram dividir “Harry Potter”: disseram que iriam explorar mais os detalhes do livro, que seria mais abrangente e atraente, também. Mas, assim como a história do bruxinho, como aqui, lamento dizer que a idéia era sim, encher lingüiça e, principalmente, o lucro acima de tudo.

Embora a primeira parte tivesse sido muito boa artisticamente e com uma edição mais direta, essa parte 2 foi bem intuitiva para apenas faturar uns milhões.

Primeiro que a idéia de dividir em dois filmes foi uma grande falta de respeito com os fãs, que acompanharam os filmes, os livros, e justamente no final, eles tinham que tirar mais dinheiro do povo, que tanto prestigiou a saga? Dos 115 minutos de projeção dessa parte 2, eu tiraria, sem perder o conteúdo, uns 40 minutos.

Que fizessem um único filme de três horas, não iria trazer prejuízo aos executivos e o pessoal iria do mesmo jeito aos cinemas.

Neste último filme, quase toda a abertura poderia ter sido descartada. É um festival de situações que só serve para segurar os fãs com uma espécie de dejá vu, embora traga uma mudança muito radical na história: Bella Swan, após anos com seu amor proibido, Edward, agora é uma vampira e é mãe de primeira viagem, de uma menina que é uma graça, Rennesmee (Mackenzie Foy). Ao invés de se dedicar a mostrar mais essa relação de mãe e filha ou a Bella, como a nova vampira da vez, a abertura é um festival de piadinhas sem graça, que, aliás, eu não sei o que tem a ver com Crepúsculo, uma tentativa constrangedora de tentar ser ousado (a cena de sexo do casal principal é de chorar) e mais uma vez mostra Jacob quase sem roupas de forma desnecessária.

Mas, há sim, qualidades na história. Começando pela dupla principal. Com o grande sucesso como Bella, Stewart agora se dedica a papéis mais sérios e de maior expressão, como o Road Movie “Na Estrada”, do diretor brasileiro Walter Salles. E, no caso de Pattinson, essa mudança é muito mais visível, já que ele se torna um ator de verdade a cada filme, desde o romance simpático “Água para elefantes” ou grande filme de Cronemberg, “Cosmópolis”. Com essas mudanças na carreira dos dois, eles estão mais, digamos, maduros e menos estereotipados como no início da saga.

Há também uma história interessante, com os Volturi tendo a certeza de que Rennesmee é uma imortal e, portanto, uma ameaça, a guerra está declarada. Os Cullen resolvem, então, recrutar mais vampiros para uma eventual batalha, embora o objetivo seja claro de diálogo, tendo, inclusive, duas índias amazônicas.

Mas o melhor do filme ficou por conta mesmo da grande pegadinha quase no final. O diretor conseguiu atiçar a todos em uma grande cena de ação e ao final do momento, quase dá vontade de pedir ao projetista voltar a cena para se ter certeza de que todas as pistas estavam por lá mesmo (pode parecer confuso, mas não contarei o que acontece).

E o final, apesar de não ser brilhante, não deixa a desejar e registra para sempre esta saga que, é amada por muitos e odiada por outros. É o retrato de um capítulo final que não fez feio mas não acrescentou muita coisa. É como um time que ganha um campeonato jogando feio. A vida imita a arte, ora pois.

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terça-feira, 13 de novembro de 2012

Sombras da Noite


Sombras da Noite (Dark Shadows)

Direção: Tim Burton

Ano de produção: 2012

Com: Johnny Deep, Eva Green, Michelle Pfeiffer, Bella Heathcote, Helena Bonham Carter, Chloe Grace Moretz, Jackie Earle Haley.

Gênero: Comédia de Terror

Classificação Etária: 14 Anos

Nota: 8,5


            Logo no primeiro minuto de “Sombras da Noite”, sem saber nada do filme, já se sabe que se trata de uma obra de Tim Burton, afinal, todos os ingredientes de seus filmes mais clássicos como “Edward – Mãos de Tesoura” e “Os Fantasmas de Divertem” estão lá: personagens excêntricos e um mundo paralelo e bizarro. Felizmente, Burton voltou às suas origens mais esquisitas antes de ele mudar, na minha opinião, para a pior, com um lado mais blockbuster em grandes produções como “Alice” e o “Planeta dos Macacos” de 2001. Talvez porque neste novo filme, “Sombras da Noite”, Tim não tem aquela pressão dos estúdios de realizar um arrasa-quarteirão.

            “Sombras da Noite” é baseado em uma série da TV americana, Dark Shadows,  e se passa, no início, em 1772, quando Barnabas Collins (Deep) é o herdeiro de uma poderosa família que estava com um lucrativo negócio de pesca do então novo mundo, ou seja, nos EUA. Quando ele resolve se casar com a então empregada da mansão, Angelique (Eva Green), Barnabas não tem idéia da tragédia que iria acontecer em sua vida: ele a trai com uma moça muito mais jovem e angelical e Angelique se revela uma bruxa obsessiva, que mata os pais de Barnabas, faz a amante se matar e como se não bastasse, faz com que toda a cidade de Collinsport se revolte contra ele e o transforma em vampiro, prendendo-o em um caixão, onde Barnabas vive por lá por 200 anos.

            Na outra, digamos, parte da história, Barnabas ressurge de uma maneira no mínimo bizarra: o ano é 1972, muita coisa mudou e durante uma construção de um prédio, os operários despertam Barnabas sem querer e ele, com muita sede de sangue humano (afinal foram 200 anos!) mata todos os operários e volta à sua família. Mas esta família está financeiramente quebrada, mais por causa da ambição de Angelique que roubou e desviou tudo e um de seus objetivos novos e, claro, vingança.

            A história, porém, não para por aí: apesar de ter um grande astro como Johnny Deep no elenco, todos os personagens têm seu papel de destaque, principalmente o elenco feminino. A própria Eva Green tem um passado e presente pitoresco, revelando um amor estranho e obsessivo por Barnabas, Bella Heathcote, que faz Josette, a amante-suicida que , por causa de uma brincadeira do diretor, faz a nova babá da casa, Victória, em 1972. Ela que, aliás, tem um passado tão bizarro quanto peculiar: por causa de seu dom de ver gente morta, seus pais a internaram em um hospício onde ela passou a infância e parte da adolescência, até que ela foge e encontra a vaga de babá em um jornal. Michelle Pfeiffer, que estava sumida também está ótima como a patriarca da nova família e está tão boa quanto Deep. Helena Bonham Carter, mesmo eu não gostando muito dela, tenho que admitir que o papel de psiquiatra maluca que caiu bem, embora seja um papel muito secundário. E finalmente, Chloe Grace Moretz, que é uma atriz que eu infalivelmente adoro, faz Carolyn, a filha mimada da família, mas está uma doçura no papel. E não deixem de prestar atenção em Alice Cooper, fazendo papel dele mesmo em um show de rock promovido por Barnabas.

            O filme é cheio de referências e piadas irônicas, as referências ficam com a sociedade da época, desde uma sessão de Amargo Regresso, com Jon Voight, passando pela geração hippie da época (a cena em que Barnabas se encontra com eles é deliciosa, que, infelizmente, não contarei o que acontece) e a ironia fica com o fato que sendo o personagem de Deep um vampiro era natural que as pessoas o temeriam, mas é ele que morre de medo do povo, ele considera a geração nova muito “estranha” e suas frases são tão antiquadas que ninguém fala mais assim, como Angelique assim descreve.

            Embora esta não seja a melhor parceria entre Deep e Burton, este aqui foge, por exemplo, de ser o desastre que foi “Alice”, embora não seja nenhum “Ed Wood”, mas é um, digamos, “Tim Burton da gema”.


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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Psicose

Psicose (Psycho)
Direção: Alfred Hitchcock
Ano de produção: 1960
Com: Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, John Gavin, Martin Balsam
Gênero: Suspense
Classificação Etária: 14 Anos
Nota: 10

            Quando se fala em um filme de suspense de qualidade, o que te vem à cabeça? Imagino que, para muitos, a primeira opção é Psicose. Não existe filme do gênero que capta tão bem o desespero e psicológico humano, com sequências para realmente ficar na mente de todos nós e uma obra-prima de um diretor realmente único. Hitchcock, no melhor momento de sua carreira – ok, um dos dois melhores momentos, fazendo páreo com “Um Corpo Que Cai”. Mas este é, com certeza, seu filme mais célebre, mais lembrado, muito copiado e jamais superado. Psicose inspirou muitos filmes do gênero, como o inteligente suspense “Identidade” e o blockbuster “1408”. Quando um filme muito antigo é lembrado nos dias de hoje, é apreciado sem a gente se atentar a coisas como a produção, a técnica e aos efeitos, é por que a coisa está boa. Psicose teve mais três continuações, todas foram um fracasso total de público e crítica. E ainda teve uma refilmagem muito fajuta, em 1998, dirigida por Gus Van Sant. Aliás, é um mistério até hoje o porquê Sant teve a idéia infeliz em refilmar Psicose. Ele estava em alta com o sucesso comercial e crítico de “Gênio Indomável”, era uma revelação em ascensão e não tinha nada que mexer no clássico. Sant filmou o clássico quadro a quadro, mas o resultado saiu horroroso. Quem pegar uma versão e outra,verá que as cenas são incrivelmente idênticas, exceto uma desnecessária cena de masturbação de Bates, por volta dos 35 minutos de filme. A versão de 1998 ficou muito robótica, teve um péssimo protagonista (Vince Vaughn – que ficaria famoso anos depois como ator de comédia, por exemplo, em “Penetras Bons de Bico” e “Encontro de Casais”) e Gus Van Sant, que é um grande diretor, não tem talento, até o momento, para o suspense. Está previsto para estrear no ano que vem uma biografia de Hitchcock, estrelada por Anthony Hopkins, que fala dos bastidores de Psicose. O papel de Janet Leigh ficou com a estonteante Scarlett Johansson – que no quesito beleza é incontestável, mas está há tempos nos devendo um papel digno de nota.

            E a história... Para quem veio de Marte, conta a história de Marion Crane, vivida pela ótima Janet Leigh, que trabalha como atendente em uma imobiliária. Em uma sexta-feira, seu chefe deixa com ela 40 mil dólares em dinheiro vivo. Ela inventa a história que estava com uma dor de cabeça para sair mais cedo do trabalho e some com o dinheiro. Durante a fuga, ela se depara com seu chefe em um semáforo, que não a reconhece – esta cena, aliás, foi que inspirou Tarantino em “Pulp Fiction – Tempos de Violência” na cena em que Bruce Willis atropela Marcellus Wallace. De tanto dirigir, Marion se cansa e decide passar a noite em um hotel, o Hotel Bates. Lá, é atendida por um jovem, até que educado, Norman Bates (Anthony Perkins), que é tímido, solitário e só vive com sua mãe, ela que, aliás, reprova a nova hóspede, mas Norman não parece se importar muito, até tem uma atração rápida por Marion e a espiona tirando a roupa (foi essa a cena da masturbação, no filme de 1998). Ao tomar banho porém, Marion é assassinada a facadas por uma pessoa que, aparentemente, é a mãe de Bates. Esta cena do assassinato é um dos momentos mais notáveis do cinema, que ainda é lembrada - assusta muito. Assusta tanto que o espectador nem percebe que a faca jamais toca no corpo da atriz. Um close no olho da atriz e a música diminuindo, até ela morrer de fato, são momentos únicos e de gelar a espinha. Após o ocorrido, a irmã de Marion, Lila, percebe o sumiço da irmã e suspeita que Sam, amante de Marion, tem a ver com o desaparecimento. O chefe de Marion aciona um detetive particular para tentar recuperar o dinheiro roubado. 

            Bem, com o receio de que alguém não ter visto o filme, ou se viu, não lembra o que acontece no desfecho, prefiro parar a história por aqui. O filme deixa várias perguntas no ar. A cena final, que não contarei aqui, foi para marcar um personagem para sempre, esta cena é imitada até hoje, inclusive nas novelas.

            Psicose é, também, um delicioso exercício psicológico, mostrando do que a mente humana é capaz de fazer e pensar, de como nós temos nossas máscaras e como podem haver vários alter-egos dentro de nós. Há um livro, de Sidney Sheldon,em que uma mesma mulher tem 3 alter-egos, um deles é uma assassina em série, mas que a justiça se recusa a achar que é um caso de psicologia e sim, de polícia. Ou nos mostra como a mente humana pode reagir depois de um trauma inesquecível.

            Hitchcock não tem medo de ousar, não tem medo do que pode dar errado e não tem medo do que as pessoas podem pensar, e outro ponto positivo é que ele não se prende a explicar demais as coisas. Ás vezes, a dúvida é o que dá o brilho que a sétima arte precisa, isso que, por exemplo, “Jogos Mortais” errou feio em fazer sete(!) filmes para querer explicar todos os acontecimentos, além da violência gratuita.

            Fazer um filme que, passados 62 anos de sua estréia, ainda deixar a platéia em estado de choque, é coisa de gênio, é coisa de Hitchcock.


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Trailer do filme:




Tudo pode dar certo

Tudo pode dar certo (Whatever Works)
Direção: Woody Allen
Ano de produção: 2009
Com: Larry David, Evan Rachel Wood, Patricia Clarkson.
Gênero: Comédia Dramática
Classificação Etária: 12 Anos
Nota: 9,0

Há diretores que são tão únicos no cinema que só de bater o olho em uma cena já se sabe quem está por trás de um determinado filme. E “Tudo pode dar certo”, de Woody Allen é um desses. Mesmo sem saber de antemão quem o dirige, fica claro desde a primeira seqüência que estamos falando de uma obra de Allen. Primeiro pela análise psicológica das personagens. O nosso protagonista fica analisando, sempre de forma negativa, a todos ao seu redor e à sua vida em geral. Outra característica é o uso da metalinguagem, ou seja, em que o autor conversa com o leitor (aqui, neste caso, com o espectador), uma referência ao personagem do próprio Woody em “Annie Hall”, que, aliás, os dois personagens são muito parecidos psicologicamente. Outra coisa foram as situações hilárias com o desfecho das personagens, aquela sensação de que a idéia só poderia ser de um cineasta realmente único que é Woody Allen, além de uma trilha sonora inesquecível e locações de encher os olhos.

Allen filma em sua terra natal, Nova York, algo que não acontecia desde 2004, com o simpático “Melinda e Melinda”, pois, nesse meio tempo, ele se aventurou pela Europa, com “Match Point”, “Sonho de Cassandra” e Scoop – “O grande furo”, em Londres “Vicky Cristina Barcelona, na Espanha; e depois, na França com a obra-prima “Meia-Noite em Paris” e com o recente “Para Roma com Amor”, na Itália”.

“Tudo pode dar certo” conta a história de Boris (Larry David), um velhinho bem ranzinza, que adora analisar psicologicamente as pessoas, tem uma visão pessimista das coisas e, após uma tentativa fracassada de suicídio, trabalha como professor de xadrez para crianças. Mas ele não leva jeito para a coisa, pois, costuma ofender aos pequenos leigos no tabuleiro. Em um dia aparentemente corriqueiro, ao entrar em seu apartamento, Boris se depara com a jovem Melodie (vivida por Evan Rachel Wood, de “Aos Treze” – que é uma graça). A garota implora para morar com Boris, que acaba aceitando, embora de contra a sua vontade. Logo, ela arruma um emprego, mas não é dos mais atraentes para Boris, que é de passeadora de cachorros. Melodie se revela um doce de pessoa, embora não seja tão inteligente. Já Boris é arrogante e ranzinza, mas com um QI elevadíssimo. Não demora muito para ela se apaixonar por ele, os dois têm um relacionamento incomum, chegando a um estranho casamento.

Mais tarde, surge a figura da mãe de Melodie, Marietta, vivida por Patricia Clarkson, que de início é contra o casamento e trata de procurar um relacionamento mais jovem para a filha. Surge também o pai de Melodie, que havia traído Marietta com uma prostituta e veio pedir perdão. Ah, ele também é contra o casamento de sua filha.

            O filme acerta pelo fato de ser simples. Roteiro e personagem corriqueiros. Quem está acostumado apenas com as superproduções hollywoodianas, possivelmente, não irá gostar, por achar que é “muito parado”. Até o elenco é praticamente desconhecido. Larry David, que não é conhecido pelo grande público, já trabalhou com Allen em “A Era do Rádio” e “Contos de Nova York”. Evan Rachel Wood, que fez aquele filme maravilhoso, que foi “Aos Treze”, logo caiu no esquecimento, mas fez um papel memorável em “O Lutador”, na qual faz a filha de Mickey Rourke, agora, esperamos que seja a ressurreição dela, que é uma boa atriz.

            Outro ponto alto do filme é não julgar as personagens. Com um roteiro desses, um diretor qualquer poderia fazer algo como, “um senhor sem humanidade é enfeitiçado por um anjinho da guarda chamado Melodie que o faz enxergar esse sentimento chamado amor”. Felizmente não é assim. Boris é mais parecido com nós do que a gente imagina. Melodie não é 100% boazinha (não explicarei o porquê, isso é revelado no desfecho) e o final é tão inesperado que só poderia ser de Allen. Só mesmo ele poderia cutucar com tanta acidez no psicológico humano. Coisa de gênio. Coisa de Woody Allen.


Fotos:












Trailer do Filme: