quinta-feira, 21 de julho de 2016

The Fundamentals of Caring

              Dos filmes que estrearam em 2016, sobretudo neste período do verão americano, houve poucos que não eram continuações ou derivados de franquias já consagradas e este parece ser a palavra de ordem para os estúdios, que dependem de suas franquias e são elas que levam multidões aos cinemas.

            Mas, onde estão as boas idéias de Hollywood? A maioria migrou para a TV, que sim, está melhor do que cinema atualmente e um dos responsáveis por isso é o serviço da Netflix, que agora também produz seus filmes próprios.

            Se Beasts of no Nation foi um grande acerto (e ignorado no Oscar), os filmes do Adam Sandler continuam derrapando, mas o serviço de streaming pode estar encontrando o seu caminho longe dele com The Fundamentals of Caring, seu novo filme próprio e embora ele não seja 100% original, tem a alma e espírito de um filme independente.


            The Fundamentals of Caring é baseado no livro The Revised Fundamentals of Caregiving, de Jonathan Evison e é um feel good movie absolutamente delicioso de se ver e até onde a memória alcança, dos filmes mais verdadeiros ao falar do comportamento humano desde As Vantagens de Ser Invisível.

            Também lembra muito Pequena Miss Sunshine, por ser um Road Movie com personagens desajustados e também lembra Juno pelo clima melancólico, pela trilha sonora pop. É tudo o que Cidades de Papel deveria ter sido ano passado e não foi.

            The Fundamentals of Caring conta a história de Ben (Paul Rudd – o nosso Homem Formiga), que está amargurado pela perda do filho e pela iminência de um divórcio, aceita o trabalho de cuidar de um adolescente cadeirante, Trevor, que também vive amargurado, mas é arrogante ao extremo de poucos aguentarem trabalhar com ele. Ambos decidem viajar pelos EUA de carro e esquecer os seus problemas.


            Quem vê a sinopse fica com a impressão de “já vi isso antes”, como no recente Como eu Era Antes de Você, A Culpa é das Estrelas e do grande Intocáveis e de fato pode parecer mesmo, mas The Fundamentals of Caring torna seus personagens quase que tridimensionais com seus dilemas e motivações. E quanto mais descobrirmos sobre um determinado personagem, mais interessante ele fica: Ben não encara seus problemas de frente e usa suas dores para se proteger do mundo. Trevor esconde uma pessoa sensível através de sua arrogância – e a cena em que ele se encontra com um fantasma do passado é arrepiante.

            Também entram no meio da viagem duas personagens femininas: Dot, vivida por uma Selena Gomez que está incrivelmente inspirada. Parecia que Selena seguiria o mesmo caminho de outros ídolos teens, como Miley Cyrus, que tiveram a fama repentina e ticaram esquecidas, sem contar o talento duvidoso, mas Selena apareceu recentemente em A Grande Aposta e tem mais um drama histórico para estrear ainda em 2016. E pode sim, ter uma carreira consolidada.


            Também temos a figura de Peaches, que foi pouco explorada, mas deveria ter um arco maior – e embora a personagem seja muito boa, se tirasse ela da história, não faria falta.

            E a melhor coisa de The Fundamentals of Caring é mesmo a química do elenco: Paul Rudd e Craig Roberts como Trevor convencem como amigos – e quase como irmãos. E o público torce também pela química que nasce entre ele e Dot também como um casal.


            The Fundamentals of Caring tem tudo para se tornar um mini clássico e um filme querido por muita gente. Foi dirigido e escrito por Rob Burnett, que foi seu primeiro trabalho de direção. É sinal que, assim como no caso de suas séries, a Netflix confia no trabalho dos autores e uma ou outra falha de The Fundamentals of Caring pode ser relevada se levarmos em conta que é o primeiro trabalho de um diretor que trabalhou com uma equipe pequena e seria injusto exigir demais desse Road Movie despretensioso.

            E que venham mais trabalhos autorais. Nós, como público, agradecemos.

Nota: 9,0

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Modern Family - 6ª Temporada


            Quem nunca viu nenhum episódio de Modern Family e acompanha as premiações como Emmy e Globo de Ouro pode estranhar o porquê de esta série estar vencendo constantemente os prêmios na categoria comédia em detrimento a séries mais populares do gênero quando The Big Bang Theory, por exemplo.

            E mais ainda, pode achar que a série seja superestimada ou com algum esquema de marketing forte.

            Mas, bastam alguns minutos de exibição a nota-se a tamanha qualidade técnica e escrita da série, com personagens completamente irresistíveis e que não perdeu a mão agora no 6º ano.

            Modern Family conta a história de uma família dividida em 3 arcos: temos um casal cuidando de seus 3 filhos totalmente diferentes entre si: a mais nerd, a mais descolada e o caçula, o mais desajeitado. Em outro arco, temos o patriarca da família que se casou com uma colombiana e também cuida do filho dela. E finalmente temos dois homens que vivem juntos e adotam uma criança vietnamita.

            A série pode parecer uma sitcom como qualquer outra e mais do mesmo, mas há algumas diferenças peculiares: há vários cenários que compõem o todo e não há risadas ao fundo: os momentos cômicos ficam a cargo do personagem certo, história certa e ângulo de câmera certa. E diverte mais do que qualquer série que força o espectador a rir de algo corriqueiro.

            E no caso de Modern Family, há alguns elementos que a tornam especial, como a quebra da 4ª parede dos personagens em momentos-chave, deixando a maioria dos episódios quase como documentários; um flashback que complementa alguma piada e sempre no final dos episódios, há uma espécie de cena pós-créditos – que também é um recurso usado pelo Porta dos Fundos.

            A série fala sobre alguns conceitos que ainda são considerados tabus como casais do mesmo sexo que vive juntos e adota um filho, o tratamento dado aos latinos em terras estadunidenses e sobre como criar filhos adolescentes. E um dos trunfos da série é tratar desses assuntos, fugindo de cenas e situações polêmicas, mas sem suavizar os problemas, sem questionar a inteligência do espectador e sem se esquecer de que se trata de uma série de comédia – e não dramática.

            E com vários personagens, não há nenhum “elo fraco” e todos os integrantes – sem exceção – têm sua força na história e fazem muito bem os seus papéis e não são necessariamente bons atores fora de Modern Family, como a beldade Sofia Vergara, que interpreta Gloria e Sarah Hyland, que interpreta a patricinha Haley. Junto com Ariel Winter (que anda causando polêmica nas redes sociais), ambas já fizeram grandes bombas cinematográficas e se provaram péssimas atrizes de cinema.

            Nada disso desmerece a série (estamos avaliando o que acontece dentro dos episódios e não fatores externos) e elas entram na galeria dos atores/atrizes que dão mais certo na TV em detrimento ao cinema, como Sarah Jessica Parker, Claire Danes e Matthew Perry, por exemplo.

            Modern Family já foi renovada para a 8ª temporada e o elenco tem contrato para uma 9ª temporada. E este pode realmente ser o fim dela. Os atores estão mais exigentes, cobrando mais caro e o elenco infantil das primeiras temporadas já cresceu. Fica difícil prever quem se dará bem com o final de Modern Family no que diz à carreira. Vários atores que fizeram bonito na telinha estão no esquecimento hoje em dia.

       Mas enquanto Modern Family estiver aí, continuaremos acompanhando as desventuras e evolução desta família que poderia ser qualquer uma, afinal, nada é mais bizarro do que o comportamento humano.

Nota: 10,0

terça-feira, 19 de julho de 2016

Stranger Things - 1ª Temporada

                A Hollywood atual está dependente não só das franquias, mas também em trazer alguns clássicos para os tempos atuais e a grande preocupação nesse sentido está em fazer o chamado fan service que é em colocar várias referências para saciar os fãs “antigos”, mas também com a preocupação em fazer um produto voltado para a geração atual, basta ver o resultado do novo Caça-Fantasmas e Tartarugas Ninja, por exemplo.

            Já no mundo da TV, há uma nova série original da Netflix que é realmente um produto novo, mas não 100%: é cheia de referências dos clássicos dos anos 80. Não é remake, nem continuação de nada, mas há situações quase idênticas de filmes como ET – O Extraterrestre, Os Goonies, Conta Comigo, Poltergeist e até de O Iluminado.



            Stranger Things é uma série criada pelos irmãos Duffer e as referências aos anos 80 estão até nos detalhes considerados técnicos, como a Direção de Arte, Fotografia, e em sua grande abertura com uma trilha que entrega muito a sua época.

            Até na comunicação a série entrega a sua época: os personagens dependem do bom e velho telefone com fio para se comunicarem – em detrimento aos smartphones e whatsapp que temos hoje.

            Mas aí fica a pergunta: Stranger Things pode agradar quem não reconhecer as referências?

            A resposta é sim, mas quem notar as referências e costumes da época verá uma bela homenagem além de uma história de investigação.

            Stranger Things se passa em 1983 e já começa com o desaparecimento de Will e a investigação para encontrá-lo. Sua mãe, Joyce (vivida por Winona Ryder, em seu melhor papel em anos) é considerada maluca pela maior parte dos envolvidos e a série mostra sua transformação física e psicológica conforme a série avança.



            O elenco adulto de Stranger Things é excelente: além de Winona Ryder, o delegado Hopper traz a imagem do macho seguro da época, mas que esconde um sujeito destruído por dentro. Os pais de Mike e Nancy são o estereótipo dos conservadores em uma família normal de subúrbio tendo que lidar com seus jovens rebeldes. E Matthew Modine é o que mais se aproxima de um vilão e é um personagem a ser descoberto.


            O elenco adolescente também é muito competente, como a própria Nancy, que, de início, traz a imagem da moça perfeita que todos querem namorar, mas que não demora muito para sua personagem apresentar mais profundidades. Ela deseja o sujeito popular da escola, ao passo que ele a vê como um troféu de início e seus amigos são o retrato do mundo de aparências e “perfeições” que adolescentes de qualquer idade passam. E temos Jonathan, irmão de Will e filho de Joyce, que também parte em busca do seu irmão, mas de forma independente. E é o estereótipo do “esquisito” em detrimento aos “descolados”.

            Mas a melhor coisa de Stranger Things é o seu brilhante elenco mirim, que juntos têm uma grande química à procura de seu amigo, Will e sempre se mostram um passo à frente dos adultos, que assim como em ET, de Steven Spielberg, são sempre mostrados na visão das crianças e do ângulo delas, ou seja, eles são, em sua maioria, seres ameaçadores.


            E a melhor personagem é realmente a Millie Brown, que interpreta a Onze, que servira de cobaia para o personagem de Modine e não demora muito para se juntar ao grupo dos garotos e os melhores momentos desta temporada são protagonizados por ela. Curiosamente, sua Onze quase não tem falas, mas é sua expressão e presença que tornam sua personagem especial.

            Se Millie Brown ficar de fora das premiações, não há justiça neste mundo.


            Os realizadores já entenderam há um tempo o formato da Netflix de se fazer séries, que consiste em não fazer episódios separados, e sim, um grande filme. E se as séries originais já fazem isso se forma brilhante, como House of Cards e Orange is the New Black, aqui temos isso elevado à terceira potência: o começo de um episódio de Stranger Things é exatamente a continuação do outro. E mais do que isso: conforme a investigação vai acontecendo, ela se torna mais atraente do ponto de vista narrativo e cada revelação é um choque ao espectador. E o resultado é brilhante.


            E em uma série com vários personagens, não há nenhum elo fraco: em praticamente todos os episódios a série intercala entre os seus núcleos e em todos o espectador fica tenso e se envolve com os personagens, mesmo com a trama central de encontrar Will e descobrir o que está acontecendo.

            A Netflix faz hoje exatamente o que o cinema fez nos anos 70, que foi investir na obra do autor, antes de os arrasa-quarteirões invadirem os estúdios. E se hoje em dia a TV está melhor do que o cinema, o serviço de streaming é um dos responsáveis.

            E que venha a 2ª temporada de Stranger Things!

Nota: 10,0

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Orange is the New Black – 4ª temporada


            Orange is the New Black, essa grande série da Netflix, criada por Jenji Kohan (que também criou Weeds) chega ao seu 4º ano com duas certezas: há tempos deixou de ser uma série cômica, tanto que na primeira temporada ela foi indicada às premiações como série de comédia e nas temporadas seguintes, como série dramática.

            Outra mudança foi que o foco da série deixou de ser o da Piper há muito tempo. Isso é positivo, mas não quer dizer que ela seja uma personagem desinteressante, muito pelo contrário, mas sua história com Alex Vause já não tinha mais rumo, além do mais, a série apresenta personagens – e subtramas – muito mais interessantes.

            A Netflix sabe muito bem disso e já renovou Orange is the New Black até a 7ª temporada. Dá tempo de sobra para mostrar mais personagens e flashbacks ao longo de seus episódios e suas temporadas nada mais são do que grandes filmes de 13 horas.

            Respeitando as proporções e diferenças, um episódio de Orange is the New Black é muito parecido com um episódio de Game of Thrones. Explicamos: em cada episódio são mostrados pequenos trechos de cada arco, personagem e vemos a dimensão de tudo. E um episódio de ambas as séries costuma terminar com algo bombástico. Mas a grande diferença entre Orange is the New Black e a série da HBO é que, sem envolvimento emocional com as personagens, a chance de alguém abandonar a série é grande.


            Os principais personagens de Orange is the New Black já tiveram episódios mais dedicados a eles, inclusive com flashbacks e quanto mais sabemos sobre eles, mas interessante ficam e a forma como o espectador se envolve e compra a história antes da vida no presídio determina se vai ou não acompanhar a série até o final.

            Logo nos primeiros minutos deste 4º ano, a série deixa claro que é dramática e começa do mesmo ponto do final da temporada passada: a prisão de Litchfield recebe centenas de novas presas e culmina na superlotação do local, mas este não é o pior problema: a prisão agora é comandada por agentes do governo, muito diferentes dos guardas que, até então, eram amigos das prisioneiras de certa forma. O líder deles, Piscatella, um veterano de guerra, as trata com de forma quase desumana em alguns momentos e o agora diretor, Joe Caputo, não tem pulso firme para lidar com eles, nem com as mulheres e nem com os poderosos do FBI e está muito mais preocupado com a sua Linda do que com o trabalho em si.


            Quem está em uma prisão cometeu algum crime. Fato. Mas quem está lá merece um tratamento subumano? A polícia pode agir de forma autoritária? São algumas questões que a temporada levanta.

            Há uma personagem que sai de Litchfield. Ela cumpriu sua pena e agora está livre. Mas está livre mesmo? O mundo – sobretudo o mercado de trabalho – dá novas chances a ex-presidiários? “O lugar era uma prisão, fedia muito, mas lá eu tinha amigas” – é o que ela diz quando já está fora.

            Mas o debate mais relevante desta temporada é a xenofobia e a questão racial: há um número alto de presas da cor negra e latinas e não demora muito para algumas mais radicais expressarem discursos de ódio entre “nós” e “elas”, ao ponto de uma personagem ser marcada com a suástica em seu braço e ocorrerem brigas (“brigas” no plural mesmo) quando alguma prisioneira ofende a outra por causa da raça ou etnia.


            Os flashbacks ainda são mostrados de forma elegante e eficiente. Na maioria dos casos, eles mostram como era a vida de alguma prisioneira antes de chegar à prisão. E algumas são muito parecidas com nós, “pessoas de bem”...

            Essa 4ª temporada deixou muitos ganchos para o próximo ano, mais perguntas do que respostas e considerando que teremos mais 3 temporadas, a Netflix terá tempo de sobra para trabalhar no desenvolvimento de várias personagens e subtramas em seus grandes “filmes de 13 horas”.

            Orange is beautiful!

Nota: 9,0

domingo, 17 de julho de 2016

Como Eu Era Antes de Você é o feel good movie do ano

           Sucesso na literatura e sucesso nos cinemas. Desde os fenômenos de Harry Potter e O Senhor dos Anéis no início deste século, Hollywood descobriu que os fãs de um bom livro também gostam de um bom filme e foi-se o tempo em que ficávamos com um pé atrás quando um livro teria uma adaptação cinematográfica.

            E uma das razões é justamente o maior cuidado com a transcrição das mídias e entender que não precisa necessariamente ser igual o material original e respeitando o sentido de uma adaptação, as mudanças podem ser válidas.

            Outra razão também é que Hollywood está colocando os próprios autores para roteirizar os filmes baseados em seus livros. Garota Exemplar foi um grande acerto neste quesito, é um filme/livro espetacular e com dos melhores plot twists da história. E agora surge uma nova adaptação de um sucesso das livrarias: Como Eu Era Antes de Você é baseado no livro homônimo da Jojo Moyes, ela própria escreve o roteiro e as comparações com A Culpa é das Estrelas e Intocáveis são inevitáveis.


            Ele se sai melhor do que a adaptação de John Green, mas compará-lo ao grande filme francês seria um insulto.

            Quem vê o trailer e todos os materiais promocionais pode achar que tudo é uma fórmula pronta e que Como Eu Era Antes de Você seja mais do mesmo. Ele de fato apresenta alguns clichês da maioria das comédias românticas, mas os clichês funcionam e é difícil ser inovador neste gênero. (500) Dias Com Ela foi uma grande exceção.

            Na história, um sujeito milionário, atleta e arrogante, Will Traynor (Sam Claflin, o Finnick de Jogos Vorazes) é atropelado por uma moto e fica tetraplégico, perdendo os movimentos do pescoço para baixo e precisa de alguém para cuidar dele. Sua mãe contrata a excêntrica Louisa, uma moça que acabou de perder o seu emprego de garçonete e só aceitou o trabalho porque paga bem. Os dois começam uma estranha relação e não demora muito para que ambos se apaixonem.


            A sinopse pode parecer algo como “já vi essa história antes”, mas a forma como a convivência é mostrada, tanto no livro quanto no filme, é o que torna Como Eu Era Antes de Você algo mais especial: Will é um sujeito ranzinza, o mesmo arrogante de sempre e claramente perdeu a vontade de viver. E por diversas vezes nem mesmo Louisa o faz mudar de ideia, ao passo que ela só está lá por motivos aparentemente egoístas (financeiros), já tem um namorado e por ser de uma classe social diferente, jamais se imaginou em um relacionamento com um sujeito milionário, tanto que em um determinado momento ela diz a ele que “você não olharia para mim se estivesse andando”.

            As locações nos castelos ingleses e em Paris dão o tom do filme bem como sua trilha sonora bacana. Sem forçar o público a se emocionar, embora ela funcione muito, tanto nos momentos de dramáticos como nos cômicos – que não são poucos.


            Emilia Clarke finalmente acerta um papel cinematográfico após seu desastre como Sarah Connor em O Exterminador do Futuro – Gênesis e mostra que pode ir além de sua Daenerys de Game of Thrones em papéis completamente diferentes: se na série ela tem uma presença imponente e séria, aqui ela faz uma moça atrapalhada, simples, mas que não demora muito para a platéia se envolver com a personagem e até se apaixonar por sua Louisa. Emilia deve ter visto muito Bridget Jones e outras comédias românticas onde a mocinha é incomum, pois a semelhança é notável.


            O curioso de sua personagem por aqui é que seu figurino peculiar poderia beirar ao ridículo, mas que dentro do filme funciona muito e o que poderia ser considerado brega, se torna algo irresistível em Emilia Clarke vivendo sua Louisa.

            Sam Claflin faz um bom Will, mas nada memorável e o elenco de apoio está muito bem, tanto a família de Will quanto a de Louisa. Curiosamente, o pai de Will é vivido por Charles Dance, que também está em Game of Thrones e e irmã de Louisa, Katrina (que se torna sua melhor amiga), é vivida pela Jenna Coleman (a Clara de Doctor Who). E o que dizer de Patrick, o namorado de Louisa? Ele é quase um alívio cômico como um também atleta, também arrogante e tem mais olhos para suas glórias pessoais do que para sua namorada.

            Não foram poucas as pessoas que saíram às lágrimas do cinema após a sessão de Como Eu Era Antes de Você. Funciona como romance, como comédia, para ver a dois ou sozinho. E também como adaptação literária. E tem tudo para se tornar o feel good movie de 2016.

Nota: 9,0

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Novo Caça-Fantasmas consegue um saldo melhor do que os clássicos

           “Não vi e não gostei”. Essa foi a sensação de muita gente que detonou Caça-Fantasmas antes do lançamento. A Hollywood atual está dependente de suas franquias e alguns reboots disfarçados de sequências. As duas maiores bilheterias de 2015, Star Wars e Jurassic World foram assim e não houve movimentação online.


            Mas Caça-Fantasmas teve essa rejeição inicial, em parte, porque o filme teria protagonistas femininas em detrimento ao elenco masculino dos filmes dos anos 1980 e seu trailer teve recorde de deslikes no youtube – foram quase 1 milhão.

            De fato, os trailers, imagens e matérias promocionais deixam muito a desejar e não foi surpresa essa rejeição, mas considerando toda essa campanha contra e responsabilidade de respeitar o filme clássico, Caça-Fantasmas conseguiu sair por cima e todos os envolvidos entregam um filme divertido, nostálgico e com um saldo melhor do que o segundo filme, por exemplo.


            E quanto à recepção negativa, há uma cena em que uma das personagens ironiza os nerds que “perdem tempo escrevendo qualquer coisa na internet” e que provavelmente foi filmada depois dos comentários online.

            Quem dirige é Paul Feig e ele já havia nos agraciado com comédias bacanas como Missão Madrinha de Casamento e A Espiã que Sabia de Menos e seu elenco está afiado e a química entre as atrizes é irreparável.

            Embora o filme possa sugerir que as quatro atrizes sejam as principais, é Kristen Wiig que tem mais tempo de tela e um arco dramático maior. Ela interpreta Erin, uma professora universitária de olho em uma promoção e como o cargo exige uma credibilidade maior, ela esconde seu passado na qual ela havia publicado um livro sobre a existência de fantasmas. Mas um acaso faz com que a sua amiga de infância, Abby (vivida por uma Melissa McCarthy muito mais contida do que o normal), junto com a engenheira Jillian (Kate McKinnon) se juntem e formem um grupo para combater os fantasmas de Nova York junto com Patty (Leslie Jones).

            Há uma interessante inversão de valores aqui do que estávamos habituados a ver até o momento: são as mulheres quem detêm o conhecimento em ciência e tecnologia e são as grandes lideranças, ao passo que o maior personagem masculino do filme, Kevin, é apenas o “rosto bonito” e o mocinho da vez.

            Quem interpreta Kevin é o nosso Thor, o Chris Hemsworth, que, diferente de seus papéis imponentes até aqui, ele faz um personagem todo desajeitado e é um grande alívio cômico em um filme que já é engraçado.

            Caça-Fantasmas funciona como um filme independentemente, mas também funciona muito bem para quem viu os dois filmes dos anos 80, com várias referências aos personagens e monstros e pontas especiais do elenco antigo: Bill Murray, Dan Aykroyd, Sigourney Weaver, Ernie Hudson e Annie Potts igualmente como atendente, desta vez em um hotel.

            Apenas o saudoso Harold Ramis, que faleceu em 2014, não pôde estar aqui, mas recebeu uma justa homenagem.

            Um dos problemas dos dois primeiros filmes são justamente os efeitos, que envelheceram mal e ficaram datados e havia alguma esperança de que este filme novo corrigisse isso. De fato, há uma produção mais arrojada, como a Times Square à noite, que ficou muito bonita, mas nota-se muito fundo verde em alguns momentos, sobretudo nas seqüências de ação. E sim, o filme corre o risco de ficar datado com o tempo.

            Há cenas durante os créditos finais do filme e uma cena no final – que os saudosistas vão adorar – e tem muito material para virar uma franquia e, de preferência, com esse mesmo elenco e diretor.

            Tudo vai depender do sucesso comercial deste aqui. O sucesso com a crítica já aconteceu, mas a resposta do público depende da ala conservadora ou quem olhar com maus olhos pelo trailer e material promocional. “Não julgue o filme pelo trailer”, é o que dizem!

Nota: 8,0