sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1


Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 (The Hunger Games: Mockingjay – Part 1)

Direção: Francis Lawrence

Ano de produção: 2014

Com: Jennifer Lawrence, Liam Hemsworth, Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman, Josh Hutcherson, Woody Harrelson, Donald Sutherland, Elizabeth Banks, Stanley Tucci, Natalie Dormer, Jena Malone.

Gênero: Aventura

Classificação Etária: 14 Anos


‘A Esperança – Parte 1’ prepara fecho apoteótico

            A saga ‘Jogos Vorazes’ já está no 3° filme e alguns conceitos – ou pré-conceitos – que foram colocados no primeiro filme já não são mais válidos. Por exemplo, foi vendido como um filme voltado para os adolescentes, o que provocou uma inibição do público em geral pelo trauma causado pela saga Crepúsculo. E também foi vendido como um romance, o que está completamente errado.

            A verdade é que ‘Jogos Vorazes’ já é uma grande franquia e promete ficar na história do cinema, e os motivos são um pouco peculiares: os temas principais são autoritarismo, a política do pão e circo e a luta contra o sistema. E tudo isso em uma franquia que em teoria é para o público teen. Mas, na prática, ‘Jogos Vorazes’ pode ser apreciado por crianças de todas as idades. É certo que uma grande fatia do público é adolescente, mas não se pode negar a força desta saga em falar com todos, independentemente da idade e classe social.

            Mas isso não veio por acaso. O trunfo vem muito de seu grande roteiro e o cuidado na realização. Os três filmes da franquia são levados a sério e trata de suas questões sem firulas e sem romantizar a coisa. E tem uma protagonista feminina, mas não aquela mulher sexualizada para o público masculino. Aqui temos uma moça que defende seu lado mulher, jamais aparece em trajes mínimos, o que é muito bom porque aumenta a credibilidade da história e luta pelos seus ideais. Mais do que isso, luta contra o sistema opressor de Panem, onde ela vive e contra o regime ditatorial do presidente Snow. Katniss Everdeen é, portanto, uma personagem já para a história do cinema.

            É difícil saber se a franquia seria a mesma sem Jennifer Lawrence. A força da sua personagem também está na força da atriz, que é hoje a mais requisitada de Hollywood, consegue intercalar papéis em franquias milionárias e filmes mais alternativos e é impressionante como o sucesso não subiu à sua cabeça. Mesmo com um Oscar na estante, uma conta milionária e a fama mundial, ela não se deslumbrou com as, digamos, tentações do estrelato e permanece a mesma grande pessoa. E ficamos felizes que ela não entrou na chamada “maldição do Oscar”, em que atores e atrizes que ganham a estatueta nunca mais fazem nada de grandioso.

            Nessa 3ª parte, ‘A Esperança’, os Jogos já não existem mais e os distritos se unem contra o poder da Capital. Quem lidera esse chamado Levante contra o sistema é a presidente Alma Coin (vivida pela Julianne Moore) e Plutarch, vivido pelo saudoso Philip Seymour Hoffman, mas, logo eles enxergam em Katniss como um rosto para liderar as rebeliões. O Distrito 12, onde Katniss nasceu e cresceu, foi destruído pela Capital. Já o 13, que não existia mais, agora, foi reerguido.

            Para piorar a situação, Peeta, companheiro de Katniss nos jogos foi seqüestrado por Snow e sofreu uma espécie de lavagem cerebral. Ele aparece na TV da Capital em entrevistas com Caesar (apresentador de TV) para incentivar Katniss a parar com a revolta.
            O personagem de Gale (Liam Hemsworth, irmão de Chris, o nosso Thor), que era o interesse amoroso de Katniss nos dois primeiros filmes, mas se viu jogado de lado pelo “romance” entre ela e Petta, agora tem um papel de mais destaque aqui. Ele é quase como um parceiro de Katniss, assim como Cressida (que fugiu da Capital para participar da revolta) e até Prim, irmã de Katniss.

            Um grande acerto em levar Jogos Vorazes para o cinema foi em colocar Suzanne Collins, que é a autora da série de livros, como uma das roteiristas e quase tudo dos filmes depende do consentimento dela. Há muita coisa de produtor por aqui, o que é inevitável em um filme deste tamanho, mas só o fato de colocar a autora dos livros na concepção do filme já é uma amostra que existe um respeito pelos realizadores.

            Uma coisa que havia incomodado nos dois primeiros filmes era a produção estranha, em especial pela direção de arte pobre, além do figurino cafona. Aqui, com uma produção muito maior, temos, finalmente, um legítimo filme hollywoodiano. Fotografia e direção de arte perfeitos e um clima até mais sombrio, diferente do clima mais colorido dos filmes anteriores.

            Há cenas memoráveis, como o bombardeio a um hospital acompanhado pelo discurso de impacto de Katniss, bem como o primeiro encontro dela e de Peeta após o Massacre.

            A idéia de dividir em dois filmes foi para render mais dinheiro, o que é fato, mas isso acabou prejudicando o filme artisticamente. Poderia ser um filme só de 150 minutos que renderia de qualquer jeito e sem prejudicar a história.

            Mas não devemos negar a preparação para um fecho histórico. Para quem já leu o livro, não ficará tão surpreso (pois ainda há muito o que contar, o negócio é esperar mais um ano), mas fica a magia em imaginar essas reviravoltas na telona e o melhor ainda é saber que estamos em boas mãos com essa equipe.

            E como se não bastasse toda essas as qualidades do filme em si, foi um sentimento de nostalgia em ver Philip Seymour Hoffman em um de seus últimos papéis. Ele faleceu em fevereiro deste ano e já havia gravado sua participação neste filme aqui e uma boa parte do filme seguinte. Sua morte foi uma perda inestimável e inacreditável devido às circunstâncias. Para nós, fãs, fica a saudade, seu legado e seus grandes papéis.


Nota: 9,0


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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Drácula - A História Nunca Contada


Drácula – A história nunca contada (Dracula Untold)

Direção: Gary Shore

Ano de produção: 2014

Com: Luke Evans, Sarah Gadon, Dominic Cooper.

Gênero: Aventura

Classificação Etária: 14 Anos


O novo Drácula é mais do mesmo – só que pior

            Foi no final do século XIX que o escritor irlandês Bram Stoker criou o Drácula e passados mais de 100 anos, este é dos personagens mais adaptados e estudados pela cultura pop.

            Como não se lembrar de, por exemplo, ‘Drácula de Bram Stoker’, do grande Francis Ford Coppola, de 1992, que era uma adaptação honesta e continha um grande elenco. Valorizava o gênero terror, sem esquecer a origem clássica.

            E por se tratar de um personagem tão influente, logo, os estúdios viram que não deveriam ficar para trás e decidiram reinventar a história do conde Vlad para os novos tempos.

            A idéia de adaptar contos clássicos para os dias atuais não é ruim. Muito pelo contrário, as grandes histórias devem ser passadas de geração para geração e sim, têm que ser atualizadas para quem não a conhece e apreciar para valorizar o clássico sem destratar o novo.

            O problema é que a Hollywood atual coloca um fiapo de história nessas adaptações, dificilmente coloca um diretor bom no comando e no final fica um filme de produtor, além de várias tentativas de ser o novo ‘Crepúsculo’, algo sem maturidade e com o intuito negativo de atingir o público adolescente.

            Todas as adaptações de contos até agora foram muito bem de bilheteria, mas a qualidade é um pouco duvidosa. Somente ‘Malévola’ tem alguma graça, mas menos por méritos do filme e sim, por ter ‘Angelina Jolie’ à vontade no papel e voltando a atuar depois dos acontecimentos turbulentos em sua vida. Mas ‘A garota da capa vermelha’; ‘Espelho, espelho meu’ e ‘Branca de neve e o caçador’ são grandes desastres.

            E agora Hollywood transformou a história do conde Vlad, conhecido como Drácula em uma super produção.

            Toda a figura sombria que continha no conto original, misturado com os acontecimentos vitorianos da época se perdeu em uma trama insossa, sem vida e sim, um filme de produtor.

            Todas as exigências dos estúdios estão lá: grandes batalhas, um drama aqui e ali e um romance de fundo. E no caso de uma produção deste tamanho precisava de uma mão firme do diretor para tomar decisões e não deixar os produtores fazerem um filme só para eles. Possivelmente por isso, o diretor Gary Shore e os roteiristas Matt Sazama e Burk Sharpless sejam inexperientes e não poderiam realizar o filme que quisessem.

            E os problemas de ‘Drácula – A história nunca contada’ não param por aí: o filme quer explicar tudo e dar uma didática maior à história que não deveria ser levada tão a sério. Isso é uma coisa que os estúdios deveriam aprender que às vezes, a dúvida é saudável para o andamento da obra e deixar para que a platéia tire suas conclusões. Se ficarmos parados no tempo com explicações desnecessárias, o cinema nunca vai evoluir.

            O Drácula agora tem motivações: desta vez ele deve proteger quem ele ama: sua família e seu povo. É uma tentativa frustrada de humanizar o personagem e fazer a platéia torcer por ele. Isso é outra exigência dos estúdios: o novo ‘homem-aranha’ com Andrew Garfield tem o mesmo problema.

            E como se não bastasse tudo isso, a escolha do elenco também é fraca: Luke Evans está muito bem na franquia ‘O Hobbit’, mas aqui tem um personagem que não exige muito dele e não parece a vontade no papel, o mesmo se diz de Sarah Gadon (de ‘Cosmópolis’). E em um filme de aventura, exige-se um vilão de qualidade, certo? Bom, não é o caso aqui, Dominic Cooper como Mehmed tem um papel constrangedor e sem carisma. Ele é uma aposta de Hollywood para os próximos anos. Recentemente ele também fez o fraco ‘Need for Speed’.

            As lutas são uma tentativa de “quero ser 300 de Esparta”, mas muito mal feitas, bem como sua Direção de Arte claramente com fundo verde.

            É um insulto por se tratar de uma produção cara como esta.

            O principal motivo para ‘Drácula – A história nunca contada’ acontecer é a tentativa da Universal em criar uma nova franquia. No momento, eles só estão com ‘Velozes e Furiosos’. É pouco para um estúdio deste tamanho e se depender do sucesso deste filme aqui, a continuação logo chegará.

            Ao menos, o desfecho é bacana e abriu alas para uma nova roupagem e época para a história. Material e dinheiro tem para fazer uma boa continuação e sem desrespeitar a inteligência de quem assiste.

            Fica para a próxima.


Nota: 3,0

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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Tim Maia



Tim Maia

Direção: Mauro Lima

Ano de produção: 2014

Com: Babu Santana, Robson Nunes, Alinne Moraes, Cauã Reymond, Laila Zaid.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 16 Anos


Tim Maia recebe uma biografia à altura de seu talento

            Se tem uma coisa que o cinema brasileiro sabe fazer muito bem são biografias. Essas histórias contam mais a lado humano e menos o lado ídolo. E em todos os casos, quanto menos se sabe, melhor.

            Foi assim com ‘Cazuza – o tempo não para’, ‘Dois filhos de Francisco’ e ‘Gonzaga – de pai para filho’. Todos eles foram um sucesso de público e crítica e, cada um à sua maneira e época, resgatou o espírito musical e a importância que ambos os ícones tiveram.

            E agora, em 2014, temos a cinebiografia de Tim Maia, que é até hoje considerado dos maiores cantores da história do país.

            Sebastião Rodrigues Maia, que nasceu em 1942 e morreu em 1998 e desde a adolescência parecia que estava predestinado a virar um astro.

            Teve uma infância pobre, vendendo marmitas no bairro da Tijuca no Rio de Janeiro, mas não demorou muito para perceber que seu talento era a música. Junto com Roberto Carlos (ele mesmo, o rei), fundaram um grupo, os Sputniks (em referência à corrida espacial soviética). Logo, Roberto foi se distanciando do grupo, tomou as rédeas de sua vida e seguiu carreira solo onde tem até hoje, passadas mais de 5 décadas. Já Tião Maia, como era conhecido (o apelido de Tim foi dado com o tempo) viu seu grupo não vingar até ele ficar mais pobre. Foi tentar a sorte nos EUA (e a forma como ele conseguiu dinheiro para a passagem é curiosa), mas não conseguiu sucesso. Muito pelo contrário, era época se segregação racial e ele conheceu a cultura negra de lá. Ele foi preso por tentativa de roubo e foi deportado para o Brasil.

            Voltando aqui, a coisa não era boa. Sua família estava na miséria e, enquanto isso, Roberto Carlos ganhava fama e prestígio.

            Sua sorte mudou quando conheceu o músico Fábio, interpretado por Cauã Reymond e logo começou a parceria entre os dois. Tim começou a fazer pequenas apresentações de abertura nos shows de Fábio, mas logo foi ganhando destaque até começar a constituir uma carreira e seguir rumo ao sucesso...

            Esse filme, assim como a maioria das biografias, tenta não glamourizar demais o personagem e o trata de forma mais humana e imparcial. Embora Tim e Roberto tenham sido criados praticamente juntos, suas histórias não totalmente distintas: Roberto é o sinônimo de bom moço e soube usar melhor a cabeça com a fama. Já Tim, embora tenha a voz muito melhor (olha a polêmica que criei!) é o símbolo da má influência e rebeldia. Seu dinheiro era ostentado com festas caras, com muito consumo de bebidas e drogas e com viagens igualmente caras. Não demora muito, portanto, para vir sua ruína financeira.

            O filme é baseado em um livro de Nelson Motta, "Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia" e foi adaptado para o cinema com o roteiro de Mauro Lima (que também é o diretor).

            Mauro já sabe trabalhar com biografias, como foi o caso de ‘Meu Nome Não é Johnny’, mas aqui o ponto de vista diferente. Embora os dois casos sejam de pessoas controversas, a responsabilidade em contar uma história de um ídolo como Tim Maia é muito maior do que contar a história de um traficante como João Guilherme Estrela. Mas o resultado é grandioso e muito pé no chão.

            A reconstrução de época é feita com também competência. Os anos 50, 60 e 70 são muito bem retratados com uma bela Direção de Arte, bem como os trejeitos dos personagens.

            O elenco é muito bem dirigido, não está estereotipado e cada papel lhe caiu bem. Os dois atores que interpretam Tim, Babu Santana, na fase adulta e Robson Nunes, na adolescência, fazem um papel muito honesto e chamaram a responsabilidade para si em um trabalho que poderia dar errado sim, por tratar de uma figura conhecida do grande público.

            Mesmo Cauã Reymond e Alinne Moraes, acostumados e papéis menos exigentes na TV e que exigem mais de suas belezas do que de seus talentos, surpreendem como Fábio e Janaína, esposa de Tim (e a química não ficou ruim) e mãe de Carmelo (filho que não é de Tim, mas ele assumiu).

            Há tempos que Tim Maia merecia uma biografia à sua altura e esse filme não faz feio. Há algumas derrapadas sim, em querer transformar a linguagem cinematográfica em televisiva (pois é), não dá para dizer que o um retrato definitivo, mas, como filme e como memória, é honesto.


Nota: 9,0

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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Footloose - Ritmo Louco



Footloose – Ritmo Louco (Footloose)

Direção: Herbert Ross

Ano de produção: 1984

Com: Kevin Bacon, John Lithgow, Lori Singer, Dianne Wiest, Sarah Jessica Parker.

Gênero: Drama/Musical

Classificação Etária: 12 Anos

Uma trilha para a história

            A cultura pop dos anos 1980 marca até hoje, seja o cinema, a TV ou o clima de nostalgia, mas, nada daquela época é mais lembrado do que as músicas: é impressionante como as canções da época repercutem até hoje, seja pela rebeldia, pelo poder que se tinha em chamar a galera para dançar ou pela qualidade.

            E quando se une cinema e dança então, o clima de nostalgia é mais evidente.

            ‘Footloose – Ritmo Louco’ é um daqueles filmes mais reconhecidos pela trilha sonora, embora o filme também seja muito bom, mas é a parte musical que faz de ‘Footloose’ ser lembrado até hoje. E não é o único da década, ‘Flashdance’ e ‘Dirty Dancing’ também são exemplos.

            Se fosse para fazer uma lista com as 10 melhores trilhas sonoras da história, a de ‘Footloose’ com certeza estaria no meio e 30 anos após seu lançamento ela ainda ser lembrada, é algo para se comemorar.

            Quem nunca se deliciou com a música título, Footloose, de Kenny Loggins? (indicada ao Globo de Ouro) ou com Let’s Hear It For the Boy, de Deniece Williams?

            Na história, temos a vida de Ren (Kevin Bacon, em um de seus primeiros papéis) que viveu em Chicago e se migra para uma cidade pequena do interior. O que ele não contava era que a cidade é ultra religiosa e conservadora e proíbe bailes e que jovens ouçam músicas como a rock n’ roll, principalmente na figura do Reverendo Shaw Moore (John Lithgow), que é, digamos, a figura opressora da história.

            Ele tem uma filha que vai contra os ideais religiosos do pai, adora rock, gosta de dançar e de sair à noite.

            Com isso, Ren tenta burlar o sistema e promover um baile, mas é barrado pelos conservadores. Mais do que isso, ele é tratado como marginal pela sociedade e até sua família é prejudicada.

            Já nos primeiros momentos de ‘Footloose’, nota-se que estamos falando de um filme sobre os anos 1980: seja no visual, figurino e trejeitos dos personagens.

            Logo na histórica seqüência de abertura, com os pés dançantes ao som da canção Footloose, fica claro que estamos falando de um filme com a temática musical.

            ‘Footloose’ foi o primeiro filme de destaque de Kevin Bacon e de Sarah Jessica Parker, além de ter a grande Dianne Wiest antes de ela ganhar seus merecidos Oscar por ‘Hannah e suas irmãs’ e ‘Tiros na Broadway’, ambos de Woody Allen. O diretor do filme, Herbert Ross, (de ‘Flores de Aço’) faleceu no ano de 2001.

            Recentemente, a rede Cinemark reexibiu ‘Footloose’ na sessão de clássicos e, neste caso, para homenagear os 30 anos de lançamento.

            É um grande marco cinematográfico. E é um “anos 80 da gema”: músicas, adolescentes, rebeldia, bullying e a figura adulta repressora.

            São os bons tempos de volta!


Nota: 9,0

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domingo, 9 de novembro de 2014

Interestelar



Interestelar (Interestellar)

Direção: Christopher Nolan

Ano de produção: 2014

Com: Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Jessica Chastain, Mackenzie Foy, Michael Caine, Matt Damon, Wes Bentley, Casey Affleck, John Lithgow, Topher Grace, Ellen Burstyn.

Gênero: Ficção Científica

Classificação Etária: 12 Anos


O retorno da grande Ficção Científica

            Christopher Nolan é um diretor realmente único. Ele surgiu no mercado independente e se tornou conhecido ao dirigir e escrever ‘Amnésia’, em 2000 e hoje é dos diretores mais conhecidos e respeitados de Hollywood. Conseguir realizar blockbusters, atrair multidões ao cinema, e ainda não se esquecer das raízes independentes, é tarefa para poucos. Spielberg e J. J. Abrams que os digam.

            E ainda ressuscitar a história do homem-morcego e dar ao herói uma visão mais realista, sombria e longe da coisa carnavalesca dos filmes de Joel Schumacher nos anos 1990.

            Com todo o prestígio alcançado, somente um diretor desse porte conseguiria sinal verde do estúdio para realizar um projeto como ‘Interestelar’.

            ‘Interestelar’ foi concebido em 2006, o diretor seria Steven Spielberg e o roteirista seria Jonathan Nolan (irmão de Christopher), mas logo foi sendo assumido por Chris.

            Seu roteiro é baseado em um projeto do físico Kip Thorne, que colaborou com Robert Zemeckis no roteiro de ‘Contato’ em 1997, também com Matthew McConaughey. Além da colaboração na concepção da história e de muitas passagens ao longo do filme, que necessitam de conhecimentos físico-astronômicos, Christopher e Jonathan se interessaram pelos estudos de Thorne pelo chamado “buraco da minhoca”, que se baseia em um “atalho” através de tempo e espaço e teoriza que o universo pode ser “dobrável”. Aqui, a coisa fica um pouco mais clara para o público em geral sem destratar a platéia.

            Logo no início, ‘Interestelar’ lembra muito um documentário: temos um senhor e uma senhora idosa conversando com a câmera sobre a época de luta pela sobrevivência na Terra. Quem assiste ao filme não tem a menor ideia de o que aquilo significa, mas logo somos apresentados à história “verdadeira”, em que conhecemos a vida de Cooper (Matthew McConaughey, ótimo no papel), um ex-astronauta que virou agricultor no interior dos EUA e sua filha, Murph (Mackenzie Foy, a filha de Bella e Edward no último filme da saga ‘Crepúsculo’) e a convivência familiar e as dificuldades. Murph é uma garota muito inteligente e se interessa por astronomia. Logo, eles seguem algumas coordenadas geográficas e não demora muito para eles perceberem que descobriram uma sede secreta da NASA. Cooper recebe a missão do professor Brand (Michael Caine) para descobrir galáxias e planetas habitáveis para a espécie humana, pois a Terra está se tornando inabitável.

            Cooper aceita a missão e viaja para os confins do universo junto com a filha do professor Brand, vivida pela sempre ótima Anne Hathaway e sua equipe.

            Murph, porém, não gosta da ideia de seu pai não poder voltar e cresce amargurada, mas se torna uma mulher ainda mais inteligente e determinada do que na infância e aqui é vivida pela Jessica Chastain (que está em ascensão em Hollywood).

            As comparações com ‘2001 – Uma Odisséia no Espaço’, de Stanley Kubrick são inevitáveis. Além do tema sobre o espaço, também existe a ausência de som, ausência de efeitos espetaculares como vistos em ‘Star Wars’ e presença de diálogos. Mas, engana-se quem acha que isso torna ‘Interestelar’ seja enfadonho. Muito pelo contrário. Este é dos grandes filmes do ano e, apesar de não se comparar com 2001, as referências estão claras: metáforas sobre a vida na Terra, grandes passagens de tempo (os anos-luz que passam na vida de todos, tanto a tripulação, quanto os habitantes da Terra, e o conflito de gerações, é espetacular) e um personagem digital. No caso desse personagem, ao contrário do grande vilão Hal 9000 em 2001, aqui o personagem auxilia a equipe e muitas vezes a tripulação depende dele: TARS, como é chamado, é um elo importante para a missão.

            E além de ser uma ficção científica eficiente, ‘Interestelar’ acerta por investir em relações humanas. Não importa o quanto o cinema evolua na produção, mas são as emoções e investimentos entre as pessoas “comuns” é que sustentam um filme. ‘Avatar’ fez isso muito bem, e ainda com a parábola sobre a consciência ecológica. No caso de ‘Interestelar’, a passagem de tempo entre Murph e Cooper, desde o pai não vendo a filha crescer e ela se tornando mais amargurada e mais decidida – e sendo um personagem mais interessante – valem mais do que qualquer efeito.

            Christopher Nolan não possui a audácia apenas de fazer roteiro independente em blockbusters, mas também em colocar um ótimo e numeroso elenco em seus filmes. Desde ‘Batman Begins’, ele só trabalha com grandes elencos – e só com os melhores. Matthew McConaughey é o atual vencedor do Oscar por ‘Clube de Compras Dallas’ e agora é um ator respeitado e longe dos papéis fáceis que ele fazia nas comédias românticas como em ‘Como perder um homem em 10 dias’. Anne Hathaway acaba com a chamada “maldição do Oscar” e faz uma Brand muito séria e inteligente. Jessica Chastain está em alta em Hollywood e muito requisitada pelos grandes diretores e é maravilhoso ver que Nolan confia nela. Sim, Nolan tem seus atores preferidos. Michael Caine se tornou “pupilo” de Nolan e esta é a 6ª parceria entre os dois, que acontece desde ‘Batman Begins’.

            A trilha sonora angustiante de Hans Zimmer também é quase um personagem da história: sombria nos momentos mais tensos e mais lírica quando é necessário.

            É incerto dizer se ‘Interestelar’ será um sucesso comercial, mas é desde já favorito a vários Oscar e sucesso crítico. É o Nolan sendo menos popular e mais exigente.


Nota: 10,0

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