terça-feira, 30 de setembro de 2014

Rush - no limite da emoção



Rush – No limite da emoção (Rush)

Direção: Ron Howard

Ano de produção: 2013

Com: Chris Hemsworth, Daniel Bruhl, Alexandra Maria Lara, Olivia Wilde.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 14 Anos


Mais um trunfo de Howard

            É difícil olhar para um filme tão poderoso quanto ‘Rush – No limite da emoção’ e ver que ele passou despercebido pelo Oscar. É um grande filme, incrivelmente bem realizado, é uma biografia (e a Academia adora histórias reais) e o diretor é um sujeito que os acadêmicos adoram: Ron Howard. Ele já ganhou Oscar de direção e filme em 2002 por ‘Uma Mente Brilhante’ e tem muitos amigos em Hollywood. E ainda tem o roteirista, Peter Morgan, que, em 2008, escreveu outro roteiro poderoso e também dirigido por Howard: Frost/Nixon.

            Além disso, ‘Rush – No limite da emoção’ tem 3 atores que estão em alta em Hollywood, em especial Chris Hemsworth, o nosso Thor, mas, não podemos nos esquecer de Daniel Bruhl (de ‘O quinto poder’) e da beldade Olivia Wilde (da série ‘House’). O filme foi um sucesso de público e crítica e, à exceção do Oscar, esteve sim, nas premiações.

            Mas, deixando os prêmios de lado, e falando sobre o filme em si, ‘Rush – No limite da emoção’ é, além de um grande filme é uma biografia muito honesta sobre dois grandes pilotos da Fórmula 1, sobretudo a rivalidade entre os dois, o britânico James Hunt e o austríaco Niki Lauda.

            E nem dá para dizer que o roteiro favoreceu um dos dois lados: ambos os pilotos têm um tratamento imparcial e sem vangloriar nenhum dos dois. O que o filme quis mostrar era o quanto um admirava o outro e invejava o outro. Enquanto James Hunt apresentava um perfil mais jovial, tinha várias amantes e queria mais curtir a vida, Niki Lauda era mais focado e vivia quase que exclusivamente pelo seu trabalho e o roteiro tratou o lado mais, digamos, humano dos personagens, pois, Hunt tem defeitos e Lauda tem qualidades: o piloto britânico jamais consegue emplacar um relacionamento sério, seu casamento frustrado com Suzy Miller (papel da Olivia Wilde) contrastando com suas amantes e sua bebedeira é um retrato disso. Ao passo que o piloto austríaco constitui um casamento consolidado com uma moça que ele conhece na estrada, Marlene.

            Na história, começamos com os jovens Hunt e Lauda na Fórmula 3 e ali já dava sinais que não sobraria pedra sobre pedra entre eles. Não demora muito para os dois subirem para a Fórmula 1: Hunt consegue vaga em uma equipe pequena e Lauda financia sua ida à Ferrari. Estamos no campeonato de 1975 e Niki Lauda é o grande vencedor daquele ano. James Hunt culpa seu carro pelo fracasso e, para o ano seguinte, consegue convencer os empresários e ser o primeiro piloto de uma grande equipe, no caso, a McLaren. E o campeonato de 1976 é marcado pela disputa – corrida a corrida – dos dois pilotos. O grande ápice daquele campeonato é a corrida na Alemanha, o circuito é altamente perigoso e Lauda tenta convencer a FIA (órgão que administra a Fórmula 1) e os pilotos a não existir o grande prêmio. Ele não tem sucesso na empreitada e corre a contra gosto. Quase no final da corrida, ocorre seu fatídico e célebre acidente: Lauda queima parte do seu rosto e, após 6 semanas internado, volta à vida e às corridas com seu rosto deformado. Nesse meio tempo, Hunt vai conquistando vitórias e vai chegando mais perto de seu título.

            Há um arco muito bacana nessa decisão de campeonato: a volta de Lauda para as corridas foi considerada precoce para os médicos e o próprio austríaco diz que ele só voltou por causa de Hunt. Aliás, a cena em que Niki toma injeção de oxigênio no cérebro contrastando com as imagens de um James Hunt vencedor é arrepiante. E na última corrida daquele ano, no Japão, o carro do britânico está por um fio e a equipe orienta-o a abandonar a corrida, mas, Hunt a finaliza, termina em 3° lugar e conquista o título. O próprio James admite que só fez essa loucura por causa de Niki Lauda. O roteiro deixa claro que um não seria nada se o outro não existisse, que um admira o outro (e são pessoas completamente diferentes) e essa rivalidade é um capítulo importante para a Fórmula 1 e para a automobilismo em geral.

            O filme é tão bem montado que a platéia pode se confundir entre cenas reais e cenas filmadas. Ron Howard disse em uma entrevista que não foram usados cortes reais, exceto no desfecho, que mostra imagens reais do inesquecível campeonato de Fórmula 1 de 1976 e fotos de bastidores entre Niki Lauda e James Hunt.

            São momentos para guardar na memória de uma época que não volta mais, quando a Fórmula 1 era bem disputada e havia mais arrojamento dos pilotos, muito diferente dos dias de hoje, onde o dinheiro fala mais alto.

            E, com o grande resultado desse filme aqui, queremos um longa-metragem sobre a rivalidade entre Ayrton Senna e Alain Prost.


Nota: 10,0

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Os Outros



Os Outros (The Others)

Direção: Alejandro Amenábar

Ano de produção: 2001

Com: Nicole Kidman, Fionnula Flanagan, Elaine Cassidy, Christopher Eccleston.

Gênero: Suspense

Classificação Etária: 14 Anos


Um terror à forma antiga para atrair multidões

            Eu adoro assistir filmes de terror. Mesmo. Mas, fundamentalmente, eu adoro ficar com medo em filmes de terror. Que é aquele filme que você vê, fica na sua cabeça por dias e ele sempre volta quando você tenta dormir.

            Infelizmente, filmes assim estão em baixa em Hollywood. Não me lembro da última vez que algum filme causou isso em mim, talvez com a versão japonesa e americana de ‘O Chamado’ de um distante 2002. A cinessérie ‘Jogos Mortais’ não conta nesse sentido. O primeiro filme foi realmente inovador (e não assustador) ao nos mostrar uma forma diferente de encarar desfechos pessimistas e depois viraram apenas torturas e desculpas para se fazer mais filmes.

            E, ultimamente, só estou conseguindo suprir essa carência de terror na TV, na série espetacular da Fox chamada ‘American Horror Story’. A série é pesada sim, mas, o medo está nos detalhes mais sutis, como um olhar e o andar da câmera.

            Aliás, é uma coisa que os estúdios deveriam aprender: não adianta se criar monstros e tentar assustar de forma espetaculosa, o medo está nos pequenos detalhes. Grandes clássicos do gênero sabem bem disso, como ‘O Iluminado’ e ‘O silêncio dos inocentes’.

            E no ano de 2001, quando o mundo ainda estava no frisson do fenômeno que foi ‘O Sexto Sentido’, em 1999, foi realizado um filme com cara e jeito de clássico, não há uma gota de sangue e assusta muito: ‘Os Outros’.

            Grande parte desse feito realizado é a mão do diretor e roteirista, Alejandro Amenábar e dos produtores da Miramax, Bob e Harvey Weinstein (que sempre estão no Oscar e esse filme aqui passou despercebido pelos acadêmicos de forma inexplicável). É impressionante como eles dificilmente erram e sabem o que fazem. E aqui em ‘Os Outros’, eles acertam em cheio.

            O filme se passa na Inglaterra pós 2ª guerra mundial, mais precisamente no ano de 1945, onde vive uma mãe, Grace (Nicole Kidman, no melhor papel de sua carreira) e seus dois filhos. O filme já começa com a contratação de uma família para trabalharem como empregados. O marido de Grace está na 2ª Guerra e não dá sinais de volta.

            Grace cuida de seus filhos com “mãos de ferro”, mas, o que chama a atenção é a doença peculiar que os dois apresentam: eles são ultra-sensíveis à luz e só habitam por ambientes escuros. Logo começam a aparecer criaturas estranhas ao longo da casa, sobretudo onde as crianças habitam. O que são essas criaturas e o que elas querem com seus filhos, é algo que Grace tentará descobrir.

            A magia do roteiro e realização deste filme é que, mesmo com uma narrativa mais clássica e um terror mais sutil, o filme assusta muito, principalmente porque Alejandro Amenábar optou por esconder as criaturas até o final e deixar tudo à interpretação do espectador.

            Nicole Kidman estava em alta na carreira em 2001. Ela estava recém-separada de Tom Cruise, estava em todos os holofotes e teve uma indicação ao Oscar por ‘Moulin Rouge – Amor em Vermelho’ (mas merecia mais por esse filme aqui). Vendo que ela hoje mal consegue atuar, em especial depois de seu Oscar por ‘As Horas’, em 2003, é uma grande decepção.

            E além dos sustos sutis e da narrativa clássica, outra característica em comum com ‘O sexto sentido’ é o magnífico final. Não contarei aqui, obviamente, mas é um verdadeiro soco no estômago do espectador, que logo dá vontade de voltar o filme do começo para ver se as pistas estavam lá.

            E quando foi a última vez que você se sentiu provocado vendo um filme?


Nota: 10,0

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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Uma Cilada para Roger Rabbit

Uma cilada para Roger Rabbit (Who Framed Roger Rabbit)

Direção: Robert Zemeckis

Ano de produção: 1988

Com: Bob Hoskins, Christopher Lloyd, Joanna Cassidy, Kathleen Turner, Amy Irving.

Gênero: Comédia

Classificação Etária: 12 Anos


Zemeckis e Spielberg um dia foram assim

            A tecnologia de ‘Uma cilada para Roger Rabbit’ é tão engenhosa e à frente do seu tempo que poucos arriscaram fazê-la novamente. E quando fazem, o resultado é desastroso. Como não se lembrar do fracasso de ‘O mundo proibido’, com Brad Pitt em 1992 e do fiasco que foi ‘Space Jam: O jogo do século’? São filmes que usam a computação gráfica e clássica para desenhos em 2D e misturaram com atores em carne e osso, querendo pegar carona com o sucesso de “Uma Cilada”, mas sem sucesso.

            Outra razão para filmes assim não serem feitos é a globalização: muitos personagens de desenhos estão divididos em suas empresas e conseguir direitos autorais para tais personagens, é caríssimo. E nem precisa ser no mundo das animações. Basta ver essa briga sem fim entre a Marvel Studios, a Fox e a Sony para conseguir direitos para seus heróis. Ou, mais ainda, o grande trabalho que foi para a realização de ‘Detona Ralph’ e trazer os grandes personagens dos games para a telona.

            No caso de ‘Uma cilada para Roger Rabbit’, quase todos os desenhos consagrados estão lá. Dos grandes, somente Tom & Jerry e Popeye ficaram de fora. E foi tudo feito na raça. O computador só corrigiu a iluminação.

            E tanto esforço garantiu o reconhecimento, técnico ao menos, do filme no Oscar: ‘Uma cilada para Roger Rabbit’ faturou 3 merecidas estatuetas: Efeitos Especiais, Efeitos Sonoros e Edição. Além de o filme ter sido ovacionado por público e crítica.

            Mas e o roteiro? Bom, apesar de a temática se apresentar no mundo das animações, sua história não é nem de longe para crianças. Muito pelo contrário. É uma trama de espionagem, sensualidade e homenagem aos filmes noir.

            A história se passa na Los Angeles de 1947, a Grande Depressão e a Segunda Guerra já haviam passado e os EUA já se firmaram como grande potência. Lá vive um detetive beberrão e atrapalhado, Eddie Valliant (Bob Hoskins), que é contratado para ver o que está acontecendo entre Roger e Jessica Rabbit em um lugar chamado “Desenholândia”. Ele é um coelho atrapalhado e ela é um mulherão que se apresenta em uma boate. E Eddie vai investigar a fidelidade de Jessica. Lá, ele descobre que Jessica trai Roger com um cliente, Marvin Acme, tira fotos como prova e as mostra para Roger. Mas Marvin morre na mesma noite e Roger Rabbit se torna a principal suspeito. Mas, será que foi ele mesmo ou tudo foi uma armação?

            Visualmente, ‘Uma cilada para Roger Rabbit’ é uma obra-prima. E não só para a época. Até os dias de hoje também. Fruto da grande dobradinha entre o produtor Steven Spielberg e o diretor Robert Zemeckis. Essa parceria já havia acontecido na trilogia ‘De volta para o futuro’ e é uma pena que não houve mais filmes com os dois juntos.

            Essa não foi a primeira vez que Zemeckis faturou o Oscar de Efeitos Especiais. Ele ganhou em 1993 pela comédia ‘A morte lhe cai bem’ e em 1995 por ‘Forrest Gump – O contador de histórias’ (na qual ela ganhou como Melhor Diretor e Filme) e, se ele está sumido nos dias de hoje, saibam que ele contribuiu – e muito – para o cinema entre os anos 1980 e 1990.

            ‘Uma cilada para Roger Rabbit’ não é um filme que se leve tão a sério e tudo é em nome da fantasia. Desde a “Desenholândia”, a interação entre humanos e desenhos até a relação estranha entre Jessica e Roger.

A sequência de abertura merece estar entre as melhores da história, em que Roger dá uma de babá e leva um “olé” do bebê na busca pelo biscoito em cima da geladeira. E depois descobrimos que tudo fazia parte de uma gravação de TV.

            Se fosse feito hoje em dia, ‘Uma cilada para Roger Rabbit’ com certeza geraria continuações e produtos. Mas seu lançamento foi em 1988 e tudo ficou somente neste filme aqui. É uma história centrada e que uma continuação necessitaria de um cuidado com o roteiro e personagens. Coisa que os roteiristas deveriam entender.


Nota: 10,0

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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ninfomaníaca - Volume 1



Ninfomaníaca – Volume 1 (Nymphomaniac)

Direção: Lars Von Trier

Ano de produção: 2013

Com: Stacy Martin, Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard, Shia LaBeouf, Christian Slater, Uma Thurman.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 18 Anos


A odisseia sexual de Lars Von Trier.

            Não tem jeito. O cinema de Lars Von Trier é para ser amado ou odiado. E para embarcar em seu universo, é preciso conhecer seu estilo. A câmera quase documental, a ausência de trilha sonora e, em alguns casos, até ausência de cenários. O público em geral odeia e os críticos, adoram. Trier é, portanto, um diretor para poucos.

            Mas seus filmes têm seu público e por isso ele faz mais filmes. Não é um grande público dos blockbusters americanos, mas é um público mais diferenciado. E geralmente de 2 em 2 anos temos um filme dele.

            O cinema de Trier é incômodo. Ele mostra o ser humano da pior forma possível e sem censura e pudor. Daí ele ganhou a fama de diretor alternativo. Mesmo uma obra comovente como ‘Dançando no escuro’ apresenta uma forma sombria do ser humano.

            Mas, se olharmos para sua grande biografia, nenhum outro filme é mais polêmico, incômodo e provocativo do que seu projeto mais ambicioso, ‘Ninfomaníaca’. Trier escreveu e dirigiu esse filme e foi filmado e concebido para ter 5h30 de duração e de forma íntegra (!). Porém, os produtores viram (e com razão), que ninguém teria paciência de ver um filme com tudo isso de tempo por melhor que fosse. Além do mais, o filme continha sexo explícito e exacerbado e poderia chocar ainda mais seu público. Com isso, Trier enxugou e editou seu projeto para dois filmes de duas horas.

            Porém, “editado” não significa contido. ‘Ninfomaníaca – volume 1’ é um filme denso, para poucas pessoas e muito, mas muito ousado.

            Na história, uma mulher, Joe, vivida pela sempre ótima Charlotte Gainsbourg é encontrada espancada em um beco e é resgatada por um homem mais velho, Seligman (Stellan Skarsgard). Ela começa a contar sua história de vida e deixa claro que não é uma boa pessoa e tem fixação por sexo. Como ela mesma se autodenomina, ela é uma ninfomaníaca.

            Dá para fazer uma alegoria com outro grande projeto de outro grande diretor que dividiu seu filme em duas partes: ‘Kill Bill’, de Quentin Tarantino. Lá, tínhamos uma história relativamente simples, mas que o diretor quis uma temática mais profunda. E aqui não é diferente, temos uma história muito simples, que em qualquer cine privê passa, mas que Trier gostou tanto de escrever esse roteiro que tratou a coisa de maneira mais profunda.

            O filme é narrado em capítulos, contando desde a infância de Joe, com as descobertas sexuais de seu corpo e do mundo em geral, passando pela relação carinhosa com seu pai, até sua adolescência, mostrando sua primeira vez até as aventuras sexuais da adolescência. A cena em que ela aposta com uma amiga com quantos homens ela consegue ter relações em uma viagem de trem, terminando com um sexo oral em um milionário, é o ápice de tudo isso.

            Se na grande maioria das cenas temos a ausência de trilha sonora e tomadas longas de diálogos, quando se tem música, ela é arrebatadora. Nas cenas de descoberta de Joe, logo no início, Trier usa a mesma música que Kubrick usa na relação entre Tom Cruise e Nicole Kidman em ‘De olhos bem fechados’, e quando Joe se assume ninfomaníaca no trem, o rock pesado como pano de fundo faz todo o sentido.

            O elenco de apoio está formidável. Uma Thurman e Christian Slater, muito famosos nos anos 1990 estavam sumidos e estão bem no papel. Até Shia LaBeouf (o mocinho dos três primeiros filmes de ‘Transformers’) convence no seu papel, de início como o sujeito que tira a virgindade de Joe, e depois, diretor provisório da empresa do tio.

            E mesmo com todas as qualidades já citadas, como roteiro e a direção de Trier, ‘Ninfomaníaca – volume 1’ seria um desastre total se não fosse o papel sublime e espetacular de Stacy Martin, que vive a Joe na adolescência. Ela é linda e ótima atriz! E é apenas uma iniciante atuando. E sua beleza inocente e pervertida é também parte da personagem. Aliás, é uma coisa que define muito uma grande atuação, quando não se precisa de tantos diálogos e um olhar e expressão definem a personagem. Tanto o olhar de mocinha apaixonada tanto seu olhar sedutor. Somente o conteúdo denso do filme explica o porquê essa menina não foi indicada a prêmios. No que depender desse papel, essa menina tem um grande carreira pela frente.

            E Lars foi inteligente em contratar uma atriz novata e desconhecida. O papel é ousado, com cenas de sexo e nudez sem censura e uma atriz consagrada com certeza teria mais repulsa a um papel desses e exigiria mais. Já imaginou uma Jennifer Lawrence em um filme desses?

            Os críticos adoraram o filme, mas o público não. Muita gente acusa o filme de pornográfico e frio. Discordo. O filme conta a trajetória de uma mulher, tentando se descobrir e conhecendo-se. E como Lars gosta de filmar como uma vida real, as aventuras sexuais fazem todo o sentido.

            Nesse volume 1, além de contar a infância de descobertas de Joe, o filme ainda passa pelo início da vida profissional da moça (e seu chefe é o mesmo sujeito que tirou sua virgindade) e quando ela se torna uma destruidora de lares. Aliás, esse é o melhor momento do filme, os momentos da família do sujeito, com os filhos e a esposa traída, vivida por Uma Thurman, no apartamento de Joe, contém diálogos poderosos e hipnotizantes.

            Ah, mais duas curiosidades. O trailer desse filme passou em uma sessão de ‘Frozen – uma aventura congelante’ em um cinema norte-americano, para o constrangimento geral e pais desesperados. E nos créditos finais deste filme, somos apresentados às imagens de ‘Ninfomaníaca – volume 2’. No que depender das cenas, o desfecho será primoroso.


Nota: 9,0

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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Hércules

Hércules

Direção: Brett Ratner

Ano de produção: 2014

Com: Dwayne Johnson, Ian McShane, John Hurt, Joseph Fiennes, Rufus Sewell.

Gênero: Ação

Classificação Etária: 14 Anos


Só a indústria hollywoodiana explica ‘Hércules’.

            Injustiçado para uns e sem critério para outros, mas, é quase impossível ficar indiferente em relação a um cineasta tão polêmico quando Brett Ratner. Ele é o diretor da trilogia ‘A hora do rush’, mas, seu trabalho mais conhecido (e mais ambíguo) foi em ‘X-Men 3: O Confronto Final’. Muita gente diz que ele não é autoral e faz tudo o que o estúdio determina e seus filmes são, na verdade, de produtor. Em parte, isso é verdade, embora ‘X-Men 3’ seja um filme feito nas pressas e a Fox praticamente desprezou a grande história que tinha nas mãos, o resultado foi até satisfatório, menos por culpa de Ratner, mas, pela grande história com os mutantes.

            E, no caso de ‘Hércules’, seu novo filme, ficou claro que se trata sim, de um filme de produtor. Em tomada nenhuma desse filme há algum indício de que teve a mão de um cineasta ou do roteirista. Aqui, é um filme feito pelo estúdio e com a palavra final dos, digamos, engravatados de Hollywood.

            Não que eu seja contra os produtores em Hollywood, muito pelo contrário, em filmes de orçamento milionário, o resultado só é possível com muito recurso dos estúdios e investimento de produtores, mas, alguns detalhes, como o timing dos atores e uma história consistente dependem de quem entende de cinema. Os bons filmes da Marvel e a biografia de Christopher Nolan estão aí para comprovar.

            As adaptações estão em alta em Hollywood e essa grande história do semideus Hércules, filho de Zeus, não deveria ficar esquecida para a cultura pop atual. A primeira adaptação para Hércules se deu em 1958 pelo cinema italiano, mas logo Hollywood se mexeu e adaptou para uma famosa série de TV dos anos 1990 e em 1997, com uma grande animação da Disney.

            De lá para cá, a mitologia grega ficou em alta, em especial no grande ‘Tróia’, com Brad Pitt e a adaptação das HQs de Frank Miller, ‘300’, que mudou muito a forma de como enxergamos adaptações de quadrinhos e estilizou uma fotografia mais sombria, respeitando a linguagem cinematográfica. Aliás, visualmente, esse novo Hércules é idêntico a ‘300’.

            A abertura de ‘Hércules’ é espetacular e parecia que a coisa seria bacana. Primeiro, somos jogados e seu nascimento e infância. Depois temos a cena em que ele salva seu sobrinho de uma tortura, contra 40 homens. Tanto as batalhas, como os trejeitos do herói, definem o personagem para sempre. Até para uma possível franquia (?).

            O problema é que, depois o filme desanda. O roteiro é cheio de pontas soltas e situações mal explicadas, em especial em relação à morte de sua família. Ao longo do filme, nosso herói tem alucinações com a fera de 3 cabeças e a morte de sua esposa, mas, depois, quando descobrimos o motivo real dessas alucinações, é uma explicação tão rasa e rápida que dificilmente a platéia se envolverá emocionalmente.

            O nosso Dwayne Johnson, o “The Rock”, é um ótimo ator de ação, embora péssimo ator dramático. E seu Hércules lhe caiu muito bem. Percebe-se seu esforço (tanto físico quanto psicológico) para entregar a seu público o melhor papel possível. Ele treinou exaustivamente, enfrentou um forte calor em Budapeste com a armadura grega e ainda leu muito sobre a mítica do personagem (sim, “The Rock” é muito inteligente), mas, sem um olhar mais autoral do diretor, seu papel ficou vazio como uma natureza morta.

            Aliás, este não é bem um filme sobre Hércules. Conforme o filme vai evoluindo, ele lidera o exército do rei Cótis, e, ao lado se seus aliados, vingar a morte de sua família e conquistar a Trácia. Porém, o filme explora mais o reino de Trácia e do rei Cótis e Hércules se torna coadjuvante de sua própria história. O que deveria ser o diferencial para o filme, em mostrar a história de um semideus extremamente forte, se torna um filme comum na nossa época: o bem contra o mal, batalhas intermináveis e um drama sem consistência, assim como sua mitologia.

            Todo o elenco de apoio está mal desenvolvido, até mesmo alguns atores consagrados: John Hurt, como o rei Cótis, é um vilão sem carisma nenhum, assim como seu “parceiro”, Euristeus, vivido por Joseph Fiennes (de Shakespeare Apaixonado) – e é impressionante como Joseph atua mal.

            E até uma característica que deveria ser um ponto alto para o filme, que é a computação gráfica, está mal feita. Como se não bastasse, a fotografia quase plagiada de ‘300’, como já citado, aqui temos personagens digitais mal feitos, que de tão artificiais, provocam mais risos do que tensão na platéia. e isso fica mais claro nas cenas com a câmera por cima, em especial nas grandes batalhas.

            É certo que o filme queria conversar com as novas gerações, apesar de falar de uma época que se passa antes de Cristo, mas, pressionar um roteiro mais pop é forçar a barra.

            O filme não se assume como cultura pop, nem como feito histórico, e com o resultado negativo das bilheterias americanas, estamos livres de uma continuação. Pelo menos, um alívio.


Nota: 4,0

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