segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Hércules

Hércules

Direção: Brett Ratner

Ano de produção: 2014

Com: Dwayne Johnson, Ian McShane, John Hurt, Joseph Fiennes, Rufus Sewell.

Gênero: Ação

Classificação Etária: 14 Anos


Só a indústria hollywoodiana explica ‘Hércules’.

            Injustiçado para uns e sem critério para outros, mas, é quase impossível ficar indiferente em relação a um cineasta tão polêmico quando Brett Ratner. Ele é o diretor da trilogia ‘A hora do rush’, mas, seu trabalho mais conhecido (e mais ambíguo) foi em ‘X-Men 3: O Confronto Final’. Muita gente diz que ele não é autoral e faz tudo o que o estúdio determina e seus filmes são, na verdade, de produtor. Em parte, isso é verdade, embora ‘X-Men 3’ seja um filme feito nas pressas e a Fox praticamente desprezou a grande história que tinha nas mãos, o resultado foi até satisfatório, menos por culpa de Ratner, mas, pela grande história com os mutantes.

            E, no caso de ‘Hércules’, seu novo filme, ficou claro que se trata sim, de um filme de produtor. Em tomada nenhuma desse filme há algum indício de que teve a mão de um cineasta ou do roteirista. Aqui, é um filme feito pelo estúdio e com a palavra final dos, digamos, engravatados de Hollywood.

            Não que eu seja contra os produtores em Hollywood, muito pelo contrário, em filmes de orçamento milionário, o resultado só é possível com muito recurso dos estúdios e investimento de produtores, mas, alguns detalhes, como o timing dos atores e uma história consistente dependem de quem entende de cinema. Os bons filmes da Marvel e a biografia de Christopher Nolan estão aí para comprovar.

            As adaptações estão em alta em Hollywood e essa grande história do semideus Hércules, filho de Zeus, não deveria ficar esquecida para a cultura pop atual. A primeira adaptação para Hércules se deu em 1958 pelo cinema italiano, mas logo Hollywood se mexeu e adaptou para uma famosa série de TV dos anos 1990 e em 1997, com uma grande animação da Disney.

            De lá para cá, a mitologia grega ficou em alta, em especial no grande ‘Tróia’, com Brad Pitt e a adaptação das HQs de Frank Miller, ‘300’, que mudou muito a forma de como enxergamos adaptações de quadrinhos e estilizou uma fotografia mais sombria, respeitando a linguagem cinematográfica. Aliás, visualmente, esse novo Hércules é idêntico a ‘300’.

            A abertura de ‘Hércules’ é espetacular e parecia que a coisa seria bacana. Primeiro, somos jogados e seu nascimento e infância. Depois temos a cena em que ele salva seu sobrinho de uma tortura, contra 40 homens. Tanto as batalhas, como os trejeitos do herói, definem o personagem para sempre. Até para uma possível franquia (?).

            O problema é que, depois o filme desanda. O roteiro é cheio de pontas soltas e situações mal explicadas, em especial em relação à morte de sua família. Ao longo do filme, nosso herói tem alucinações com a fera de 3 cabeças e a morte de sua esposa, mas, depois, quando descobrimos o motivo real dessas alucinações, é uma explicação tão rasa e rápida que dificilmente a platéia se envolverá emocionalmente.

            O nosso Dwayne Johnson, o “The Rock”, é um ótimo ator de ação, embora péssimo ator dramático. E seu Hércules lhe caiu muito bem. Percebe-se seu esforço (tanto físico quanto psicológico) para entregar a seu público o melhor papel possível. Ele treinou exaustivamente, enfrentou um forte calor em Budapeste com a armadura grega e ainda leu muito sobre a mítica do personagem (sim, “The Rock” é muito inteligente), mas, sem um olhar mais autoral do diretor, seu papel ficou vazio como uma natureza morta.

            Aliás, este não é bem um filme sobre Hércules. Conforme o filme vai evoluindo, ele lidera o exército do rei Cótis, e, ao lado se seus aliados, vingar a morte de sua família e conquistar a Trácia. Porém, o filme explora mais o reino de Trácia e do rei Cótis e Hércules se torna coadjuvante de sua própria história. O que deveria ser o diferencial para o filme, em mostrar a história de um semideus extremamente forte, se torna um filme comum na nossa época: o bem contra o mal, batalhas intermináveis e um drama sem consistência, assim como sua mitologia.

            Todo o elenco de apoio está mal desenvolvido, até mesmo alguns atores consagrados: John Hurt, como o rei Cótis, é um vilão sem carisma nenhum, assim como seu “parceiro”, Euristeus, vivido por Joseph Fiennes (de Shakespeare Apaixonado) – e é impressionante como Joseph atua mal.

            E até uma característica que deveria ser um ponto alto para o filme, que é a computação gráfica, está mal feita. Como se não bastasse, a fotografia quase plagiada de ‘300’, como já citado, aqui temos personagens digitais mal feitos, que de tão artificiais, provocam mais risos do que tensão na platéia. e isso fica mais claro nas cenas com a câmera por cima, em especial nas grandes batalhas.

            É certo que o filme queria conversar com as novas gerações, apesar de falar de uma época que se passa antes de Cristo, mas, pressionar um roteiro mais pop é forçar a barra.

            O filme não se assume como cultura pop, nem como feito histórico, e com o resultado negativo das bilheterias americanas, estamos livres de uma continuação. Pelo menos, um alívio.


Nota: 4,0

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