sexta-feira, 25 de julho de 2014

Estrada para Perdição



Estrada para perdição (Road to perdition)

Direção: Sam Mendes

Ano de produção: 2002

Com: Tom Hanks, Paul Newman, Jude Law, Jennifer Jason Leigh, Stanley Tucci.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 14 Anos


Elegância na narrativa em uma ótima adaptação.

            Em Outubro de 2002, o cinema ainda vivia todo o turbilhão do primeiro filme do Homem-Aranha, um filme evento feito com o coração e um sucesso arrebatador. E também esse foi o mês que o filme do aracnídeo chegara em DVD e o filme ainda estava fresquinho na memória do povo. E também, nessa época, parecia que os filmes de quadrinhos eram o futuro. E de fato foram, o sucesso de Homem-Aranha e de X-Men em 2000, abriu as portas para as boas e más adaptações de HQs.

            E olhando para as boas adaptações, nessa mesma época de 2002, estreou um filme que é difícil olhar seu conteúdo e imaginar que se trata de uma adaptação de HQ: Estrada para perdição, que, infelizmente, não foi um sucesso comercial, mas recuperou os números com a chegada do DVD. E estamos falando de uma das melhores – e mais honestas – adaptações de quadrinhos até o momento.

            “Estrada para Perdição” é baseado em uma HQ homônima de Max Collins e se passa na década de 1930. Era o período da Grande Depressão americana e a máfia dominava o território, tendo como principal representante o Al Capone. Um dos braços direitos de Al, John Rooney (Paul Newman) é o chefe de uma gangue e também o chefe de Michael Sullivan (Tom Hanks). Sullivan é um dos homens de confiança de Rooney e vive bem com a família: tem uma bela esposa (Leigh) e dois filhos. O problema é que o trabalho de Sullivan é matar, coisa que ele esconde de seus filhos. Querendo saber como seu pai trabalha, Michael Jr. um de seus filhos, entra no carro de seu pai quando ele faria seu trabalho. O problema é que Jr. vê toda a ação de seu pai, se tornando testemunha ocular de assassinato e daí se cria o dilema para Sullivan: como sair dessa situação. Por um lado, é o seu trabalho que sustenta a família. Por outro, honrar e respeitar a moral perante seu filho.

            Outro problema é que Rooney e seus homens não enxergam por esse lado. Querem a cabeça de Sullivan a qualquer custo e, como um legítimo mafioso, atinge o ponto mais fraco de uma pessoa: família. Os homens de Rooney matam a esposa e o outro filho de Sullivan. Em uma ação desesperada, Sullivan e Jr. fogem para Chicago e tentar recuperar a honra da família.

            Um grande problema em se fazer uma obra-prima como filme de estréia é que a pressão para o filme seguinte aumenta exponencialmente. E no caso de Sam Mendes não foi diferente. Após ele dirigir o fabuloso “Beleza Americana”, seu filme de estréia, a crítica logo pressionou para que “Estrada para perdição” fosse o melhor filme daquele ano. Mas não foi o caso. E o filme foi praticamente ignorado e até esnobado. É algo completamente diferente de “Beleza Americana” e é típico de Mendes em não ter um estilo próprio de filmar e ele só conseguiu as pazes com o público em 2012 com o mega-sucesso “007 – Operação Skyfall”.

            Sem fazer essa ou aquela comparação, “Estrada para perdição” é um grande filme e tem um grave problema de ritmo na meia hora final. Também o clima pessimista de década de 1930 talvez tenha afastado o grande público. Mas nada disso anula as qualidades do filme: a bela reconstrução de época, trilha sonora de arrepiar, a melhor fotografia possível e as grandes atuações, em especial de Tom Hanks e Paul Newman. Foi com esse filme que Hanks deixou um pouco de lado o perfil de mocinho e embarca em um papel mais sombrio. E o grande destaque é para Paul Newman. Essa lenda do cinema faz seu último filme atuando fisicamente (ele dublou a animação “Carros”, em 2006) e faz de seu vilão John Rooney um personagem mítico. Ele faleceu em 2008, mas, com certeza, está entre os grandes do cinema.

            “Estrada para perdição” venceu o Oscar de 2003 de Melhor Fotografia. O responsável por essa fotografia maravilhosa é Conrad L. Hall, que faleceu no início de 2003 e não viu sua obra ser premiada. O filme ainda teve mais 4 indicações: Som, Edição de Som, Trilha Sonora e Ator Coadjuvante para Paul Newman. Tom Hanks foi ignorado, assim como a Direção de Arte.

            “Estrada para perdição” pode não ser um filme perfeito, mas fala diretamente ao coração na relação de pai e filho e mostra que o amor sobrevive às crises e situações – inclusive à morte.


Nota: 8,5

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sábado, 19 de julho de 2014

Transformers 4 - A era da extinção



Transformers 4 – A era da extinção (Transformers – Age of Extinction)

Direção: Michael Bay

Ano de produção: 2014

Com: Mark Wahlberg, Nicola Peltz, Stanley Tucci, Kelsey Grammer.

Gênero: Ficção Científica

Classificação Etária: 12 Anos


Transformers é uma franquia milionária de roteiro pobre.

            Não tem jeito. O diretor Michael Bay está aí há 2 décadas em Hollywood. Seu cinema atrai multidões e a crítica odeia. Mesmo no grande público, há quem não goste dele. Muitos dizem que seus filmes são bonitos e sem alma e de fato é verdade. Infelizmente, Michael Bay não sabe trabalhar com atores e seu cinema pipoca chega até as últimas consequências de até onde uma produção pode alcançar e sabendo exatamente o que fazer com as limitações de sua época. Foi assim com ‘Os Bad Boys’, ‘Armageddon’ e agora com Transformers.

            O que não é de todo mal. O cinema precisa de uma pessoa como Michael Bay. Mas como produtor. E não como diretor. Suas tramas são demais arrastadas, não há envolvimento emocional nem empatia, e quando tem, isso é mal feito.

            E tudo isso se aplica aqui a Transformers 4: um elenco ruim e mal colocado. Mark Wahlberg como pai de Nicola Peltz, não combina. Mesmo ele tendo crescido, não evoluiu como ator e está naquela fase brucutu de sua carreira, como Stallone e Schwarzenegger já foram. Ele mais parece irmão do que pai da moça. Mas quem é Nicola Peltz? Bem, ela é novata em Hollywood, apareceu em ‘O último mestre do ar’, mas seu papel de destaque foi na série da Universal, Bates Motel. Aqui, ela teria chance de brilhar, se Bay desse a chance. Mas não foi o caso. E fora que é uma atriz que não transmite emoção nem tem uma carga dramática digna de nota. Um dia ela pode ter, mas por enquanto, ela fica melhor em Bates Motel. E sua Tessa aqui em ‘Transformers 4’, tem uma cara de troféu ‘Framboesa de Ouro’. E nem Sexy Symbol ela é. O porquê de o elenco falar a toda hora de sua beleza é o mistério.

            E para piorar a história ainda entra o namorado de Tessa, Shane. Péssimo ator e as intrigas entre ele e Cade são constrangedoras e parecem tiradas de roteiro de ‘Malhação’.

            Na história – se é que podemos chamar isso de história – que se passa 5 anos após os acontecimentos de ‘Transformers 3’, os robôs foram rebaixados à categoria de clandestinos e o governo americano fez uma campanha maciça de eliminá-los, mas Cade Yeager (Mark Wahlberg), descobre, sem querer, que Optimus Prime ainda vive, mas em uma forma de caminhão velho. Mas, alto lá, como ele descobriu isso? Bom, ele é um mecânico falido, cuida de sua filha, Tessa (Nicola Peltz) aos trancos e barrancos e compra, por acaso o caminhão das mãos de seu sócio. Paralelamente a isso, temos a multinacional KSY, chefiada por Joshua (Stanley Tucci), que fabrica Transformers plagiando a estrutura dos Decepticons. Ou seja, as máquinas da KSY são verdadeiras máquinas de matar. E, claro que começa a guerra, entre Autobots, Decepticons e também o governo americano.

            Não é porque o filme tem o publico masculino como foco é que vai ser uma coisa malfeita. Muito pelo contrário. E mesmo sendo testosterona pura o filme feito claramente para o público adolescente, dava para fazer algo bacana. ‘Os Mercenários’ fez isso muito bem: um programa masculino, resgatando todos os brucutus da ação e ainda assim sendo um filme pipoca divertido. Mas ‘Transformers’ é uma agressão em saber que é um filme milionário e tinha por obrigação, fazer algo melhor cuidado.

            Esse cuidado fica claro, na produção, muito bem feita, diga-se de passagem. O design dos personagens (no caso, os robôs). Para quem já brincou com os brinquedos da Hasbro (Transformers é baseado em uma franquia de brinquedos) sabe que nada deixou passar aos olhos de Bay e Steven Spielberg (sim, ele mesmo, também produz os filmes da franquia).

            Há cenas de ação espetaculares, em especial na meia hora final na China e a perseguição próxima à casa de Cade por volta de meia hora de produção. O 3D dele também está muito bonito. Há duas maneiras de se fazer uma boa tecnologia em 3 dimensões. Uma é de dentro para fora, típico de “jogar objetos na cara”. Outra é de fora para dentro, usando melhor a profundidade e mais detalhes quase imperceptíveis. E nesse filme, as duas formas ficaram bem feitas. Além de destroços das explosões indo em direção à plateia, há os detalhes do fogo e água nas cenas de ação, dando uma ideia de profundidade e de duas camadas ao invés de uma.

            Poderiam inverter a coisa: o filme poderia ter sido produzido por Michael Bay e dirigido por Spielberg. O resultado seria bem melhor.

            Transformers é uma franquia milionária. Os 3 filmes juntos já arrecadaram mais de 2 bilhões de dólares ao redor do mundo. Bem feito ou mal feito, o povo vai ver e a franquia já está na história do cinema. E com certeza, teremos ‘Transformers 5’ e 6 para os próximos anos.


Nota: 4,0

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Planeta dos macacos - o confronto



Planeta dos macacos – o confronto (Dawn of the planet of the Apes)

Direção: Matt Reeves

Ano de produção: 2014

Com: Andy Serkis, Jason Clarke, Keri Russell, Toby Kebbell, Gary Oldman, Judy Greer.

Gênero: Ficção Científica

Classificação Etária: 14 Anos


O novo ‘Planeta dos macacos’ mostra um futuro sombrio e pouco sóbrio.

            Quando estreou, em 2011, ‘Planeta dos macacos – A origem’, todo mundo já falou mal antes de ver. Também pudera, a história se passa antes do clássico ‘Planeta dos macacos’ de 1968 – e não temos boas recordações dos últimos reboots. E o mundo ainda estava com trauma do filme de 2001, dirigido por Tim Burton que foi um desastre total. E como se não bastasse, o diretor, Rupert Wyatt, era um mero desconhecido. Mas, para a surpresa geral, o filme é de primeira. Uma grande história, que fala com todas as massas e ainda com o melhor uso da captura de movimentos desde ‘Senhor dos anéis’. Foi um sucesso de público e crítica.

            E tamanho sucesso fez com que o estúdio já pensasse em uma trilogia. E conseguiu!

            ‘Planeta dos macacos – o confronto’ é a continuação direta do filme de 2011, se passa 10 anos depois de ‘Planeta dos macacos – A origem’ e é um filme de meio de trilogia (sim, teremos um 3º filme).

            Na história, após os acontecimentos do primeiro filme, a raça humana quase foi dizimada por conta de um vírus criado em laboratório pelo personagem de James Franco no filme anterior. Os macacos agora são a maioria no mundo e vivem em floresta, liderados por César (Andy Serkis) e agora também por Koba (Toby Kebbell). Mas os humanos necessitam de energia para sobreviver e o único meio é por uma represa. O problema é que essa represa fica dentro dessa floresta onde os primatas vivem e a conciliação – bem como o entendimento de missão pacífica – será algo quase impossível – ou última chance de paz no planeta.

            Novamente, a tecnologia de captura de movimentos, popularizada por Peter Jackson e sua empresa, WETA, são de encher os olhos e fazem não só efeitos para contornar a história, mas como parte dela. Por se passar em uma floresta cheia de primatas – diferente do laboratório do filme anterior, aqui há muito mais atores e, pelo fato de os macacos serem agora os protagonistas (ao contrário dos humanos), eles são bem mais exigidos em suas atuações e expressões artísticas. As atuações de Andy Serkis, bem como seu antagonista, Koba, são dignas de Oscar (e não estou exagerando).

            Se no filme de 1968 tínhamos uma visão sobre o fim da raça humana. Em ‘Planeta dos macacos – A origem’, tínhamos uma metáfora de como o ser humano destrata deu mundo e como maltrata animais em geral. E aqui, a metáfora muda um pouco de lado, e referência é o que não falta: de início temos uma disputa por território, os primatas delimitam as “áreas de humanos” e “áreas de macacos”. Um não pode invadir o espaço do outro para não haver desequilíbrio (alguém se lembrou da Guerra Fria? Pois é) e depois temos uma referência clara à X-Men: conhecemos melhor, conforme o filme vai passando, a figura de Koba. Ele acredita que todos os humanos são maus e quer que humanos devam, ou morrer, ou serem escravos de macacos. E já César deseja que homens e macacos vivam em harmonia. Lembra muito o Professor Xavier e Magneto, do universo dos mutantes. Ou, como os fãs sugerem, lembra muito Martin Luther King e Malcolm X (aliás, Malcolm é o nome do personagem de Jason Clarke) e a luta entre César e Koba é muito Mem coreografada e real.

            Na verdade, Koba e seu “regime” lembram muito o nazismo: um sistema de somente uma raça aceitável como pura e verdadeira e que vale qualquer coisa para chegar ao poder (como Maquiavel previra).

            Um ponto forte também é o clima pessimista do filme. No início de ‘Planeta dos macacos – A origem’ tínhamos uma fotografia cheia de luzes e mostrando os acontecimentos do ponto de vista dos humanos. Já aqui, a fotografia é sombria e pós-apocalíptica. O que faz todo o sentido, afinal, estamos falando de um futuro em que quase todos os humanos morreram e o mundo ficou à beira do colapso (aliás, a Direção de Arte lembra muito a da série ‘The Walking Dead’).

            É um filme de estúdio sim, mas feito com competência e vê-se uma preocupação do diretor e roteiristas em respeitar o espectador, sem momentos dignos de ‘Michael Bay’ e quase sem piadinhas de alívio – aqui o clima é quase de fim do mundo. Mesmo alguns momentos mais “fofinhos”, como o macaco-bebê que brinca com a personagem de Keri Russell (lembrando muito o tratamento nosso com gatos e cachorros) é cortado por uma cena tensa que quase acaba em tragédia.

            Com tudo isso, o filme valeria uma nota 10, sem dúvidas, mas, infelizmente houve uma coisa aqui comum entre os blockbusters desse ano: o lançamento em 3D, porém sem profundidade alguma. Vimos em ‘Godzilla’ ‘X-Men: dias de um futuro esquecido’ que o 3D é inútil e que só incomoda. Aqui não é diferente. Não há NENHUMA cena em que há profundidade mínima que fosse. E olha que com as boas batalhas que têm no filme, aliada com a Direção de Arte sombria, poderiam fazer um 3D espetacular.

            É uma grande pena que um filme tão bacana como esse tenha um 3D tão pobre. É um filme de meio de trilogia com um desfecho centrado, mesmo se o filme não fosse emplacar (mas o sucesso é garantido). E se você for assistir nos cinemas, por favor, sem 3D!


Nota: 9,0

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quinta-feira, 17 de julho de 2014

American Horror Story: Asylum



American Horror Story: Asylum


Criação: Ryan Murphy

Ano de produção: 2012

Com: Sarah Paulson, Jessica Lange, Lily Rabe, Zachary Quinto, Evan Peters, Joseph Fiennes, James Cromwell, Lizzie Brocheré.

Gênero: Terror

Classificação Etária: 18 Anos


O terror se multiplica – e se renova.

            Puxe bem pela memória: qual foi o último filme bom de terror que você viu? Possivelmente já faz algum tempo. Com o cinema investindo mais em suas franquias, a boa qualidade do terror em assustar está sendo jogada de lado. E quando tem, ela é mal feita. Após o furacão que foi a franquia ‘Jogos Mortais’, os estúdios estão apostando em torturas sem limites. E após o fenômeno que foi ‘Atividade Paranormal’, agora os filmes de terror genéricos que falam sobre espiritismo estão por aí. E a grandiosa maioria é de qualidade duvidosa.

            Mas, voltando à pergunta inicial, qual será que foi o último bom filme de terror que nós vimos? Bom, a esperança estava no ano passado com ‘Carrie – A Estranha’, um remake do filme de 1976 e com uma boa atriz como protagonista: Chloe Grace Moretz. Mas o resultado foi um fracasso de público e crítica.

            O último filme bom de fato de terror possivelmente foi o 1° Jogos Mortais, de um distante 2004. Antes de a série virar repetição de si mesma, ela mostrou um ponto de vista diferente de terror e um final surpresa.

            Mas, e os dias de hoje? Bom, se considerarmos que vivemos a época de ouro das séries de TV, com roteiros e personagem melhores do que o cinema, isso também aconteceria naturalmente com as séries de terror.

            Ou melhor, A série, no singular mesmo, que não só apresenta um roteiro ultra-inteligente, situações de fotografia e câmera de atiçar e assustar o espectador e ainda inovar até no formato atual das séries: American Horror Story. Criada por Ryan Murphy em 2011 já irá para a 4ª temporada no canal Fox, mas esse comentário se resume à 2ª temporada, de 2012, que já está disponível no Netflix.

            E porque ela é tão inovadora? Por duas razões. Primeiro, é que toda e qualquer série, independentemente do número de temporadas, conta uma história centrada e fechada e muitas vezes, para o entendimento de uma 4ª temporada, por exemplo, deve-se voltar à 1ª e entender todo o contexto. E aqui não. Cada temporada começa e termina de um jeito completamente diferente da anterior. No caso de American Horror Story, a 1ª temporada se passou em uma casa abandonada e a 3ª foi em um convento. E a 2ª (a melhor de todas – e objeto desse estudo) se passa em um hospício.

            Outra razão para a série ser tão inovadora é o clima de terror que só se tinha nos grandes clássicos do gênero, como ‘O Exorcista’ e ‘O Iluminado’. Muitas vezes o terror não está só nos momentos sanguinolentos, mas às vezes até em um diálogo, ou expressão de algum personagem. É quase que uma referência e homenagem aos primeiros filmes de Darren Aronofsky, ‘Pi’ e ‘Réquiem para um sonho’.

            Essa 2ª temporada, Asylum, se passa no hospício Briarcliff, no ano de 1964. A instituição foi fundada pelo padre Timothy (Joseph Fiennes) e conta com freiras e médicos para cuidar dos pacientes. A líder dessas freiras é a irmã Jude (Jessica Lange) e sua assistente, Mary Eunice (Lily Rabe). Os doutores responsáveis pela “cura” dos pacientes são o cientista Arthur Arden (James Cromwell) e o psiquiatra Oliver (Zachary Quinto). Muitos pacientes estão lá de forma injusta, que é o caso da jornalista Lana Winters (Sarah Paulson), e os possíveis assassinos, Kit Walter (Evan Peters) e Grace (Lizzié Brocheré).

            Cada personagem tem o seu momento na série. E a cada episódio fica aquela impressão de que “nada é o que parece ser”. Muitas vezes, aquele personagem que era tratado como herói ou “do bem”, se revela mais perigoso. Ou ao contrário. De início, o espectador é apresentado à personagem da Jessica Lange, que é mostrada como uma freira ditadora e impiedosa. Ela prende Lana injustamente no hospício por suas idéias contrárias e a série vai mostrando em flashbacks o tratamento cruel que ela dá aos pacientes e seu vício por álcool.

            Mas depois, a coisa muda de lado. A irmã Jude começa a perder poder na instituição para o Dr. Arden e é vítima de armação de sua “amiga”, Mary, que toma o poder e interna Jude e a rebaixa como uma paciente comum.

            Mas quem são Arden e Mary? O Dr. Arden sempre foi apresentado na série como um personagem obscuro – e quanto mais se sabe sobre ele, mais interessante ele fica. Ele faz experimentos em seres humanos – do mesmo jeito que a ciência faz em ratos hoje em dia – e tem o “sonho” de transformar seres “inferiores” (os pacientes), em seres “evoluídos”. Alguém associou isso ao Nazismo? Se alguém fez esse paralelo, acertou em cheio. O Dr. é acusado pela paciente Charlotte Brown (papel de Franka Potente) se ter servido ao Nazismo. O problema é que ninguém acredita nela. Primeiro pelo seu estado visível de loucura, segundo porque ela diz que é a própria Anne Frank, que escreveu seu diário em um Best-Seller. Esse arco ocorre em 2 episódios apenas, mas tem um grande desfecho.

            E Mary é apresentada, de início, como uma freira doce e atenciosa, mas que se revela ambiciosa e ainda pior, possui o diabo no corpo. Literalmente. E conforme a série vai passando, seu estado de possuída é mais evidente e vai tendo contornos de sadismo e crueldade. Vai chegar uma determinada hora da série que Mary será a grande vilã.

            Outro detalhe importante é a troca de protagonistas ao longo dos episódios. De início tínhamos a Jessica Lange como o principal nome, mas que depois outros personagens serão apresentados e, assim como o Dr. Arden, quanto mais se conhece, mais interessante fica. Que é o caso do psiquiatra Oliver, que de mero coadjuvante e homem certinho se revela um sádico e psicopata (fazendo o paradoxo de sua profissão). Ele seqüestra Lana para suas experiências com mulheres e acusa Kit Walter injustamente de assassinato, sendo que o culpado é ele.

            Aliás, Kit Walter é vivido de forma soberba por Evan Peters. Ele está nas 3 temporadas da série e se revela um ótimo ator. Ele viveu o mutante Mercúrio em ‘X-Men: Dias de um futuro esquecido’ e está em alta em Hollywood. E deve estar na 4ª temporada.

            Mas a grande protagonista da série, aquela personagem que vai definir o futuro da série é a Lana Winters. Ela começa como uma mera jornalista, é internada injustamente e passa por poucas e boas na série: quando ela tem um suspiro de liberdade, iludida pelo Oliver de libertá-la, mas ele a seqüestra e só não a mata porque, por um golpe de pura sorte, ela consegue fugir. Mas quem disse que essa fuga que trará paz? Ela acaba voltando a Briarcliff e tem que conviver com uma espécie de ditadura da irmã Mary Eunice e experimentos do Dr. Arden. Quando ela finalmente consegue o direito de sair do hospício, ela conta suas experiências em seu livro – que logo vira Best-seller - e inicia o plano de fechar as portas de Briarcliff.

            A história não termina aí, mas daí para frente seria entregar demais a história, mas ‘American Horror Story: Asylum’ é um puro deleite para fãs de terror e sempre está entre os indicados a Globo de Ouro e Emmy.

            Outro detalhe importante: como uma legítima série adulta, a falta de pudor é um ponto alto. Não espere sutilezas nas cenas, a série é estritamente violenta e sombria – e ousada também. A cena em que a irmã Mary e o padre Timothy transam (sem a vontade dele e com direito a uma rápida nudez frontal dela) é dessas coisas que jamais passariam em uma TV aberta, por exemplo.

            Enquanto é discutido se pode ou não um beijo gay, ‘American Horror Story: Asylum’ está a mil corpos à frente do seu tempo.


Nota: 10,0

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terça-feira, 15 de julho de 2014

Kinsey - vamos falar de sexo



Kinsey – Vamos falar de sexo (Kinsey)


Direção: Bill Condon

Ano de produção: 2004

Com: Liam Neeson, Laura Linney, Oliver Pratt, Chris O’ Donnell.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 16 Anos


“Kinsey” tem uma história tão surreal que só poderia ser real.

            Nos dias de hoje, a sociedade americana vende para o mundo como um povo progressista e com idéias avançadas, mas é bom saber que, em um passado não muito distante, eles já foram puritanos, e por que não dizer, retrógrados. Estamos falando do início dos anos 1950, com a sociedade ainda com o calor da vitória da 2ª Guerra Mundial e dessa vez com um novo inimigo declarado: a URSS, e, fundamentalmente, o sistema comunista.

            Era uma época, também, que o sexo era um tabu. E foi nesse tempo e espaço que viveu o Dr. Alfred Kinsey, que revolucionou a forma de como encaramos a sexualidade e seu legado permanece até os dias de hoje.

            Mas, afinal, quem foi esse Alfred Kinsey?

            Ele foi um Entomologista e Zoólogo norte-americano que, de início, tinha poucas pretensões e coletou mais de 1000 vespas para estudar mais a fundo a espécie.

            Mas foi em outro ramo que Kinsey se destacou. Ele sempre teve a infância reprimida, em especial seu pai, que o reprimia de quase tudo, até da dança de salão (!). Kinsey se casou virgem aos 25 anos com Clara McMillen, mas logo percebeu que, sexualmente, o casal ia mal. Seu pênis era muito grande e a penetração causava dores à sua esposa. O casal tentou procurar ajuda médica, mas ninguém tinha respostas às dúvidas. E foi por essas dúvidas que Kinsey começa a se interessar pela sexualidade humana. Com todos esses porquês, ele começa conversando com homens e mulheres, queria mostrar para o mundo que no sexo tudo é normal e com o tempo descobre que sua atração também é por homens.

            Kinsey começa entrevistando seus alunos (ele é professor universitário), e depois expande para o público em geral, mas seu ápice foi com suas principais publicações: em 1948, ele publica o livro ‘Sexual Behavior in the Human Male’ (Comportamento sexual masculino, que, absurdamente, não foi publicado no Brasil) e em 1953, ‘Sexual Behavior in the Human Female’ (Comportamento sexual feminino, que também não chegou por aqui).

            Seus livros foram um sucesso de público e crítica, mas não demora muito para a sociedade conservadora o acusar de tudo o que é nome: foi chamado de “destruidor de lares”, de sádico e, claro, de comunista.

            Mas, seu estudo mais polêmico foram as entrevistas com pedófilos para conhecer o que ele chamou de “orgasmo infantil” (um tema polêmico até para os dias de hoje).

            Sua morte foi em 1956, mas suas idéias e obras são estudadas até hoje, em especial em cursos de educação sexual e faculdades de psicologia.

            E é exatamente sobre essa história e pessoa que fala o filme ‘Kinsey – vamos falar de sexo’.

            A direção e o roteiro são de Bill Condon (de ‘Deuses e Monstros’) e faz uma homenagem honesta à pessoa e à obra de Kinsey.

            Mais do que isso, é uma bela reconstrução de época e, embora o filme não tenha feito sucesso comercial (mas deveria!) é uma história que merece ser conhecida, seja pelo filme ou pela biografia do Kinsey.

            Quem interpreta o protagonista é Liam Neeson, que faz brilhantemente o médico que, ao passo que é um doutor revolucionário, é um homem inseguro e internamente infeliz, além dos problemas em casa.

            E sua esposa, Clara McMillen é interpretada pela sempre ótima Laura Linney (indicada ao Oscar pelo papel) e faz uma típica dama dos anos 1950: insegura sexualmente e dividida entre crescer como uma mulher e manter a tradição paternalista. A primeira cena em que ela e seu marido vão ao médico para falar dos problemas sexuais, bem como o ato sexual em si, são muito bem produzidas.

            Mas por mais que o filme seja muito bem realizado e escrito, são maior trunfo é entender a mentalidade da sociedade da época.

            A forma como Bill Condon coloca a todos, desde o tradicionalismo até os jovens mais pervertidos, é um ponto chave para o filme. Desde o semblante de um casal jovem constrangido em contar suas experiências até os risinhos nervosos na aula de educação sexual, mostram que o ser humano é alheio às mudanças.

            Esse filme, ‘Kinsey – vamos falar de sexo’, não deve ser visto como um produto de entretenimento. E, para os mais entusiasmados, digo que as cenas de nudez e sexo são raras e quase nulas. O filme se preocupou mais em mostrar a história do homem e seu legado.

            E se considerarmos que, em pleno ano de 2014, cerca de 60 anos depois dos acontecimentos do filme, um simples beijo entre dois homens em uma novela provoca comoção e era algo novo na telinha da TV, vemos que, infelizmente, a sociedade não evoluiu sexualmente.


Nota: 9,0

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