quinta-feira, 17 de julho de 2014

American Horror Story: Asylum



American Horror Story: Asylum


Criação: Ryan Murphy

Ano de produção: 2012

Com: Sarah Paulson, Jessica Lange, Lily Rabe, Zachary Quinto, Evan Peters, Joseph Fiennes, James Cromwell, Lizzie Brocheré.

Gênero: Terror

Classificação Etária: 18 Anos


O terror se multiplica – e se renova.

            Puxe bem pela memória: qual foi o último filme bom de terror que você viu? Possivelmente já faz algum tempo. Com o cinema investindo mais em suas franquias, a boa qualidade do terror em assustar está sendo jogada de lado. E quando tem, ela é mal feita. Após o furacão que foi a franquia ‘Jogos Mortais’, os estúdios estão apostando em torturas sem limites. E após o fenômeno que foi ‘Atividade Paranormal’, agora os filmes de terror genéricos que falam sobre espiritismo estão por aí. E a grandiosa maioria é de qualidade duvidosa.

            Mas, voltando à pergunta inicial, qual será que foi o último bom filme de terror que nós vimos? Bom, a esperança estava no ano passado com ‘Carrie – A Estranha’, um remake do filme de 1976 e com uma boa atriz como protagonista: Chloe Grace Moretz. Mas o resultado foi um fracasso de público e crítica.

            O último filme bom de fato de terror possivelmente foi o 1° Jogos Mortais, de um distante 2004. Antes de a série virar repetição de si mesma, ela mostrou um ponto de vista diferente de terror e um final surpresa.

            Mas, e os dias de hoje? Bom, se considerarmos que vivemos a época de ouro das séries de TV, com roteiros e personagem melhores do que o cinema, isso também aconteceria naturalmente com as séries de terror.

            Ou melhor, A série, no singular mesmo, que não só apresenta um roteiro ultra-inteligente, situações de fotografia e câmera de atiçar e assustar o espectador e ainda inovar até no formato atual das séries: American Horror Story. Criada por Ryan Murphy em 2011 já irá para a 4ª temporada no canal Fox, mas esse comentário se resume à 2ª temporada, de 2012, que já está disponível no Netflix.

            E porque ela é tão inovadora? Por duas razões. Primeiro, é que toda e qualquer série, independentemente do número de temporadas, conta uma história centrada e fechada e muitas vezes, para o entendimento de uma 4ª temporada, por exemplo, deve-se voltar à 1ª e entender todo o contexto. E aqui não. Cada temporada começa e termina de um jeito completamente diferente da anterior. No caso de American Horror Story, a 1ª temporada se passou em uma casa abandonada e a 3ª foi em um convento. E a 2ª (a melhor de todas – e objeto desse estudo) se passa em um hospício.

            Outra razão para a série ser tão inovadora é o clima de terror que só se tinha nos grandes clássicos do gênero, como ‘O Exorcista’ e ‘O Iluminado’. Muitas vezes o terror não está só nos momentos sanguinolentos, mas às vezes até em um diálogo, ou expressão de algum personagem. É quase que uma referência e homenagem aos primeiros filmes de Darren Aronofsky, ‘Pi’ e ‘Réquiem para um sonho’.

            Essa 2ª temporada, Asylum, se passa no hospício Briarcliff, no ano de 1964. A instituição foi fundada pelo padre Timothy (Joseph Fiennes) e conta com freiras e médicos para cuidar dos pacientes. A líder dessas freiras é a irmã Jude (Jessica Lange) e sua assistente, Mary Eunice (Lily Rabe). Os doutores responsáveis pela “cura” dos pacientes são o cientista Arthur Arden (James Cromwell) e o psiquiatra Oliver (Zachary Quinto). Muitos pacientes estão lá de forma injusta, que é o caso da jornalista Lana Winters (Sarah Paulson), e os possíveis assassinos, Kit Walter (Evan Peters) e Grace (Lizzié Brocheré).

            Cada personagem tem o seu momento na série. E a cada episódio fica aquela impressão de que “nada é o que parece ser”. Muitas vezes, aquele personagem que era tratado como herói ou “do bem”, se revela mais perigoso. Ou ao contrário. De início, o espectador é apresentado à personagem da Jessica Lange, que é mostrada como uma freira ditadora e impiedosa. Ela prende Lana injustamente no hospício por suas idéias contrárias e a série vai mostrando em flashbacks o tratamento cruel que ela dá aos pacientes e seu vício por álcool.

            Mas depois, a coisa muda de lado. A irmã Jude começa a perder poder na instituição para o Dr. Arden e é vítima de armação de sua “amiga”, Mary, que toma o poder e interna Jude e a rebaixa como uma paciente comum.

            Mas quem são Arden e Mary? O Dr. Arden sempre foi apresentado na série como um personagem obscuro – e quanto mais se sabe sobre ele, mais interessante ele fica. Ele faz experimentos em seres humanos – do mesmo jeito que a ciência faz em ratos hoje em dia – e tem o “sonho” de transformar seres “inferiores” (os pacientes), em seres “evoluídos”. Alguém associou isso ao Nazismo? Se alguém fez esse paralelo, acertou em cheio. O Dr. é acusado pela paciente Charlotte Brown (papel de Franka Potente) se ter servido ao Nazismo. O problema é que ninguém acredita nela. Primeiro pelo seu estado visível de loucura, segundo porque ela diz que é a própria Anne Frank, que escreveu seu diário em um Best-Seller. Esse arco ocorre em 2 episódios apenas, mas tem um grande desfecho.

            E Mary é apresentada, de início, como uma freira doce e atenciosa, mas que se revela ambiciosa e ainda pior, possui o diabo no corpo. Literalmente. E conforme a série vai passando, seu estado de possuída é mais evidente e vai tendo contornos de sadismo e crueldade. Vai chegar uma determinada hora da série que Mary será a grande vilã.

            Outro detalhe importante é a troca de protagonistas ao longo dos episódios. De início tínhamos a Jessica Lange como o principal nome, mas que depois outros personagens serão apresentados e, assim como o Dr. Arden, quanto mais se conhece, mais interessante fica. Que é o caso do psiquiatra Oliver, que de mero coadjuvante e homem certinho se revela um sádico e psicopata (fazendo o paradoxo de sua profissão). Ele seqüestra Lana para suas experiências com mulheres e acusa Kit Walter injustamente de assassinato, sendo que o culpado é ele.

            Aliás, Kit Walter é vivido de forma soberba por Evan Peters. Ele está nas 3 temporadas da série e se revela um ótimo ator. Ele viveu o mutante Mercúrio em ‘X-Men: Dias de um futuro esquecido’ e está em alta em Hollywood. E deve estar na 4ª temporada.

            Mas a grande protagonista da série, aquela personagem que vai definir o futuro da série é a Lana Winters. Ela começa como uma mera jornalista, é internada injustamente e passa por poucas e boas na série: quando ela tem um suspiro de liberdade, iludida pelo Oliver de libertá-la, mas ele a seqüestra e só não a mata porque, por um golpe de pura sorte, ela consegue fugir. Mas quem disse que essa fuga que trará paz? Ela acaba voltando a Briarcliff e tem que conviver com uma espécie de ditadura da irmã Mary Eunice e experimentos do Dr. Arden. Quando ela finalmente consegue o direito de sair do hospício, ela conta suas experiências em seu livro – que logo vira Best-seller - e inicia o plano de fechar as portas de Briarcliff.

            A história não termina aí, mas daí para frente seria entregar demais a história, mas ‘American Horror Story: Asylum’ é um puro deleite para fãs de terror e sempre está entre os indicados a Globo de Ouro e Emmy.

            Outro detalhe importante: como uma legítima série adulta, a falta de pudor é um ponto alto. Não espere sutilezas nas cenas, a série é estritamente violenta e sombria – e ousada também. A cena em que a irmã Mary e o padre Timothy transam (sem a vontade dele e com direito a uma rápida nudez frontal dela) é dessas coisas que jamais passariam em uma TV aberta, por exemplo.

            Enquanto é discutido se pode ou não um beijo gay, ‘American Horror Story: Asylum’ está a mil corpos à frente do seu tempo.


Nota: 10,0

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