quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Renée Zellweger - Uma Biografia Incompleta


Renée Kathleen Zellweger nasceu em 25 de abril de 1969, no Texas, nos EUA. Quando terminou o colégio, em 1987, trabalhou como garçonete, foi ginasta, líder de torcida, mas ela sabia que queria mesmo ser atriz: foi estudar Língua Inglesa na Universidade do Texas e era atriz de teatro amador.

         Depois de se formar, no início dos ano 90, fez testes para comerciais e caiu em filmes de baixo orçamento, como O Massacre da Serra Elétrica – O Retorno, em 1994, e a comédia Jovens, Loucos e Rebeldes, de 1993 e dirigida por Richard Linklater (indicado ao Oscar em 2015 por Boyhood de Melhor Diretor). Em ambos os casos ela contracena com outro ator em início de carreira, Matthew McConaughey e, neste último filme, um novo ator também começaria sua trajetória de sucesso: Ben Affleck.

          Mas Renée só se tornou um rosto conhecido após ser chamada para viver a graciosa Dorothy em Jerry Maguire – A Grande Virada, em 1996, onde ela interpreta o interesse amoroso de Tom Cruise e para o papel de Dorothy, estavam cotadas Cameron Diaz, Bridget Fonda, Winona Ryder e Marisa Tomei. Mas, segundo o próprio diretor Cameron Crowe, “nenhuma delas tinha o frescor de Renée”.


        Jerry Maguire foi um grande sucesso de público e crítica, recebeu 5 indicações ao Oscar e venceu em Ator Coadjuvante para Cuba Gooding Jr.

            E a partir daí, Renée se tornaria um rosto conhecido no mundo inteiro.

          Linda, carismática, ótima atriz e versátil. Era tudo o que Hollywood queria. Tanto que, nos anos seguintes, ela esteve presente tanto em filmes de alto orçamento quanto os independentes. Tanto os estúdios quanto seu agente viam que ela chamava a atenção onde passava e ela se tornou um rosto presente, sobretudo nas premiações...

        Em 1998 ela teve a honra de interpretar a filha de Meryl Streep em Um Amor Verdadeiro, papel que garantiu mais uma indicação de Melhor Atriz para Meryl, mas, injustamente, Renée foi ignorada pela Academia.


          2000 foi um outro ano de virada para Renée: ela atuou ao lado de Jim Carrey na comédia Eu, eu mesmo e Irene (ela interpreta a “Irene” do título) e foi aí que ela e Jim tiveram um rápido relacionamento.

           Também foi em 2000 que ela fez um de seus melhores papéis (se não, o melhor!): A Enfermeira Betty é uma comédia irresistível, inteligente e não fez o sucesso que merecia, mas Renée faturou o Globo de Ouro pelo papel. E quando todos pensavam que seria sua primeira indicação ao Oscar, a Academia a ignorou novamente e não a indicou para Melhor Atriz pelo papel (e premiou Julia Roberts pelo mediano Erin Brockovich).


         E para mostrar que Renée é uma atriz irreverente, quando seu nome foi anunciado no Globo de Ouro, ela estava no banheiro na hora.

         Foi no ano seguinte que ela finalmente teve seu reconhecimento pela Academia: ela foi indicada ao Oscar por O Diário de Bridget Jones interpretando a personagem-título na adaptação do livro de Helen Fielding.

          O filme foi um sucesso de público e crítica e Renée foi ovacionada pelo papel, mas, para o Oscar, a concorrência estava grande: quem ganhou foi Halle Berry por A Última Ceia, tornando-se a primeira negra a vencer o Oscar de Melhor Atriz, e ainda foram indicadas, na ocasião, Nicole Kidman por Moulin Rouge e SissySpacek por Entre Quatro Paredes. Não tinha como Renée vencer.

         No Oscar de 2003, Renée teve a sua segunda indicação, de Melhor Atriz por seu papel de Roxie Hart no musical Chicago. Renée venceu novamente o Globo de Ouro pelo papel e no Oscar perdeu para Nicole Kidman por seu papel no drama As Horas. Curiosamente, Chicago foi o grande vencedor do Oscar de Melhor Filme naquela noite.

          No mesmo ano de 2003, ela atuou ao lado de Ewan McGregor na irresistível comédia Abaixo o Amor, que não foi bem nos cinemas, mas se recuperou no home vídeo.

          No ano seguinte, em 2004, parecia que seria a consolidação de Renée Zellweger: ela venceu todos os prêmios de Atriz Coadjuvante por seu papel em Cold Mountain: Globo de Ouro, Bafta, SAG Awards e, finalmente, o tão sonhado Oscar.


           Cold Mountain não foi tão bem recebido quanto o esperado, a crítica ficou dividida e, na ocasião, foi o responsável pela não indicação de um filme da Miramax para Melhor Filme no Oscar em 12 anos.

           Mas a crítica isentou Renée, que sim, foi muito elogiada pelo papel.

          Este que vos fala considera o papel de Renée o ponto alto do filme e que, em seus momentos, o filme soltava faíscas.

           E com vários projetos encaminhados, Renée era a queridinha da vez, e parecia que ninguém a seguraria.

           Mas só parecia: ela foi voz na animação da DreamWorks, O Espanta Tubarões, que embora tenha ido bem de bilheteria, ficou à sombra de Procurando Nemo e foi constantemente comparado.

           No mesmo ano de 2004, estreou a continuação de Bridget Jones, com o subtítulo de No Limite da Razão, que embora seja competente e bem-feita, não foi nem de longe o impacto do filme de 2001.

          Em 2005, ninguém conseguiu entender o fracasso de público e crítica de A Luta Pela Esperança: é um drama feito para Oscar, estreou bem na época das premiações, tem uma fórmula que a Academia adora, tem a mesma equipe premiada por Uma Mente Brilhante, mas o filme não emplacou, sobretudo pela direção preguiçosa de Ron Howard e pela falta de química entre Russell Crowe e Renée Zellweger.


       Nos anos seguintes, ela basicamente, só teve sucesso como dubladora das animações da DreamWorks, Bee Movie e Monstros vs Alienígenas. Já seus filmes em live action não emplacaram: Miss Potter (que até foi indicada ao Globo de Ouro pelo papel, mais por razões protocolares do que críticas), O Amor Não Tem Regras e Recém Chegada, mas o fundo do poço foi o péssimo suspense Caso 39: o filme foi destruído pela crítica e também foi o responsável por destruir a carreira de Renée: ela nunca mais faria um filme conhecido e até O Bebê de Bridget Jones, ela passou esses anos longe dos holofotes e parecia que sua carreira havia chegado ao fim.

            O Bebê de Bridget Jones é o retorno de Renée aos grandes papéis? Apenas o tempo dirá.

Quando começaram as filmagens deste novo filme, ela apareceu com o visual diferente, sobretudo pelo excesso de cirurgias realizadas quando estava no auge.

Temos grandes atrizes hoje em dia, mas Renée faz falta em Hollywood, sobretudo por sua autenticidade e capacidade de alternar pelos papéis diferentes.

Ela entrou na maldição do Oscar, é verdade, mas fica a pergunta: ela fez menos filmes conhecidos por falta de oportunidades ou sua carreira declinando foi um retrato de Hollywood em querer reciclar suas atrizes quando lhe convém?


 Jennifer Lawrence que se cuide!

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

How to Get Away With Murder - 2ª Temporada


            A primeira temporada de How to Get Away With Murder foi um grande sucesso de público e crítica e venceu o prêmio histórico no Emmy de Melhor Atriz em 2015 para Viola Davis.

            Tamanho sucesso se deu aos seus 15 episódios muito bem distribuídos em uma trama que deixava o espectador tenso a cada episódio. A estrutura era a seguinte: havia a ação ocorrida em tempo presente, mas com relances de um acontecimento futuro e a cada episódio a série deixava pistas das conseqüências ou motivos de como chegaria àquilo. E o resultado foi uma temporada muito bem amarrada e que levou o seu mistério até o final.


            Aliás, quem tomou algum spoiler perdeu uma grande experiência.

            How to Get Away With Murder é uma série de TV aberta, mas a estrutura lembra muito as séries de TV fechada, com poucos episódios por temporada e funcionando como um grande filme. Ok, há um pouco de procedural em alguns episódios e por ser uma série de Direito, isso faz todo o sentido, mas há uma grande trama que leva a temporada. Foi assim nas duas primeiras temporadas e esse deve ser o caminho que a série seguirá.


            Outro fator que faz que a série não tenha perfil de TV aberta é o conteúdo violento e ousado de alguns episódios: não dá para esperar um conteúdo como o de Sense8, por exemplo, mas uma série que mostra relação entre pessoas do mesmo sexo, relações sexuais intensas (no plural mesmo) e assassinato a sangue era algo impensável a alguns anos – ao menos em um canal aberto.

            How to Get Away With Murder é exibida nos Estados Unidos pelo canal ABC, foi criada por Peter Nowalk e tem como produtora executiva ninguém menos do que Shonda Rhimes, que é a criadora de Grey’s Anatomy de Scandal (também séries do canal ABC) e embora ela não seja a criadora aqui, há algumas características dela, como a montagem frenética, o foco nas relações entre os personagens e as personagens femininas fortes. Nas três séries, o foco são as mulheres e os homens têm sim a sua importância, mas quase sempre são relegados ao segundo plano.


            Mas isso torna as séries feministas? Nem um pouco: as tramas políticas e de direito, por exemplo, são universais e interessam a todos.

            Outra característica da Shonda é que suas séries não são lineares e sempre tem algum acontecimento bombástico com reviravoltas, seja um seqüestro, morte e por aí vai. Isso é um problema e uma qualidade ao mesmo tempo e depende muito do contexto que sua temporada se passa.


            No caso de How to Get Away With Murder isso foi uma qualidade enorme para a primeira temporada, mas quase isso foi um calcanhar de Aquiles por aqui: a estrutura desta segunda temporada é idêntica à primeira, ao menos, no início: começa exatamente do ponto onde a primeira termina, mas tem um salto de dois meses com um assassinato e conforme os episódios vão passando, o tempo vai regredindo gradualmente.

            O problema é que no 9º episódio, tudo é revelado e a partir do 10º episódio, temos, praticamente, uma outra série. São duas temporadas dentro de uma. Não que a trama da segunda metade da temporada seja desinteressante, muito pelo contrário, mas os produtores enchem de reviravoltas e flashbacks onde a maioria funciona, sobretudo para conhecermos melhor o passado de alguns personagens, mas alguns excessos poderiam ter sido evitados, onde claramente não devia ter esticado para 15 episódios.


            Assim como na primeira temporada, é Viola Davis com a sua Annalise Keating que leva a série com sua presença imponente com seus alunos, colegas e adversários, mas engana-se quem acha que ela é a única coisa boa por aqui. A maior parte do elenco é composta por nomes desconhecidos e cada um tem o seu talento individual, aliás, agora que a série é um sucesso, só esperamos que esses jovens atores tenham um futuro em Hollywood.

            O nome mais conhecido aqui, tirando Viola Davis foi a presença de Famke Janssen (a Jean Grey da trilogia X-Men), que foi adicionada à segunda temporada como uma velha amiga de Annalise – e está excelente como a advogada Eve (e quando mais sabemos sobre essa personagem e seu passado, mais interessante ela fica).


            No mais, apenas Matt McGorry (o John de Orange is the New Black), que interpreta o Asher e Lisa Weil, a Bonnie, que foi a Paris em Gilmore Girls (e estará no retorno da série pela Netflix) são conhecidos por suas séries anteriores, mas nenhum deles podem ser considerados exatamente como estrelas (embora tenham talento de sobra).

            How to Get Away With Murder termina de forma completamente aberta e com um grande gancho para a próxima temporada. Só esperamos que essa grande série não perca seu ritmo e trama frenéticos. O elenco é todo competente e a equipe técnica é ótima, mas que pode se perder em meio a algumas reviravoltas que podem ou não fazer sentido. É um cuidado que a série vai ter que tomar.

Nota: 9,0

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Novo Sete Homens e um Destino é divertido e despretensioso


            Muitos reclamam – e com razão – da falta de criatividade de Hollywood, basta olhar os blockbusters de 2016: a grande maioria é adaptação ou continuação de algo já feito. Isso quando não são remakes.

            Mas Hollywood vive dos remakes e há várias histórias que até precisam de uma revitalizada de tempos em tempos e engana-se quem acha que isso seja algo recente. A prova é o clássico Sete Homens e Um Destino, de 1960, que é uma visão do clássico Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa, feito em 1954, foi um grande sucesso de público e crítica, reuniu um grande elenco e é cultuado até hoje, tanto que não foram poucos os que viram com maus olhos quando foi anunciado que seria lançado um remake dele – e ainda próximo a um remake que não foi bem aceito como Ben-Hur, que estreou no mês passado.


            Mas, quem torcia o nariz para a nova versão de Sete Homens e Um Destino possivelmente não olhou os nomes envolvidos na produção, começando pelo diretor, Antoine Fuqua, que dirigiu Dia de Treinamento, o subestimado Assassinos Substitutos, entre outros. A trilha sonora é composta por James Horner, que compôs nada menos do que as duas maiores bilheterias da história: Avatar e Titanic e um dos roteiristas é Nic Pizzolatto, o criador da primeira temporada de True Detective.

            Quanto ao elenco, quem acompanha a carreira de Denzel Washington sabe que ele não entra em qualquer projeto, Chris Pratt é o queridinho da vez em Hollywood, Ethan Hawke e Vincent D’Onofrio (o Wilson fisk da série Demolidor) estão em um bom momento da carreira e Haley Bennett é uma estrela em ascensão.


            Com todos esses fatores, era muito improvável que Sete Homens e Um Destino desse errado. É ingrato compará-lo com o filme de Akira, que é intocável, mas com o filme de 1960 dá e em muitos momentos esse remake se sai melhor do que o western feito há 56 anos.

            Sete Homens e Um Destino tem um prólogo muito interessante que já leva o espectador para dentro da história: um grupo de criminosos faz um massacre em um vilarejo e assassina o marido de Emma (personagem da Haley Bennett). Ela decide procurar o pistoleiro Sam Chisolm (Denzel Washington) para vingar o seu marido e Sam reúne um grupo com mais 6 mercenários para praticar justiça.


            Quem procura inovações, é melhor buscar em outra sala de exibição: Sete Homens e Um Destino apresenta uma ação brucutu à moda antiga e não é muito diferente dos clássicos do gênero dos anos 80, como os filmes de Stallone ou Chuck Norris e praticamente aqui não há surpresas, já que não é difícil imaginar o desfecho deste filme.

            A grande diferença aqui é que os clichês funcionam, sobretudo pela boa Direção de Arte e as cenas de ação empolgam (embora exista um ou outro CGI mal feito) e o elenco está muito bem afiado junto, mas o talento individual transmite o carisma que a platéia precisa para comprar a ideia do longa. Há um arco dramático interessante, sobretudo pelo personagem da Haley Bennett, mas há alguns alívios cômicos, principalmente pelo personagem do Chris Pratt e que também relembram os clássicos do gênero western dos anos 60.


            Aliás, a personagem de Haley Bennett poderia ser apenas a “mocinha em perigo”, mas ela tem uma presença maior do que a personagem exigia. Ela não é a protagonista da história, mas tudo acaba convergindo nela – e a ação só ocorre depois de seu chamado. Haley também estará na adaptação do livro A Garota no Trem, com estréia prevista para novembro.

            Sete Homens e Um Destino é divertido e despretensioso e não dá para reclamar disso: não é para se divertir que vamos ao cinema?

Nota: 8,0

Cegonhas tem muito mais a oferecer do que personagens fofos

          Era difícil imaginar que a animação Cegonhas seria dos filmes mais bacanas de 2016. Em um ano de vários filmes aguardados, sobretudo as adaptações de quadrinhos e mesmo no ramo das animações, 2016 é o ano de Procurando Dory e de Zootopia e poucos davam bola para Cegonhas. Além do mais, os trailers e materiais promocionais não vendiam o filme direito: parecia uma animação genérica e feita exclusivamente para o público infantil, mas logo nos primeiros minutos, nota-se algo diferente, uma história original, feita com o coração, mas também com a razão e com uma premissa espetacular.


            Na animação, as Cegonhas fazem o “trabalho” de distribuição de bebês, mas logo no início do filme elas mudam de ramo e realizam o trabalho de entrega de mercadorias, como o comércio eletrônico que temos hoje. A cegonha Junior é o braço direito de Hunter, diretor da empresa de entregas e está de olho em uma promoção, mas, para alcançá-la, precisa demitir a humana Tulip, que, segundo o próprio diretor, atrapalha o rendimento da empresa, mas algo dá errado, Tulip e Junior se perdem e são caçados, tanto por Hunter e sua equipe quanto um grupo de lobos, ou o “bando de lobos”, como são chamados.

            Cegonhas é dirigido, produzido e escrito por Nicholas Stoller, que dirigiu Vizinhos 1 e 2 e também é dirigido por Doug Sweetland, que dirigiu o curta da Pixar, Presto e aqui fazem um trabalho muito interessante de não estender ou explicar demais a história, ao passo que consegue desenvolver bem os seus personagens e equilibrar e dividir os arcos, tanto das cegonhas, dos humanos e dos lobos.


            Tudo isso é um grande trunfo do roteiro, que também brinca com a premissa da história de que as cegonhas trazem os bebês não é mais passada para as crianças de hoje em dia: há uma parte em que um menino pergunta para os pais se eles vão trazer um irmãozinho. Os pais respondem que não é assim tão fácil, o garoto pergunta como é e os dois se olham com um sorriso malicioso.

            Resumindo: fica subentendido como se faz um bebê na vida real, mas a inocência da cena faz com que isso fique com a interpretação de cada um.


            O roteiro também tem várias camadas que podem passar despercebidas, mas que tornam a trama atraente e mais antenada com o mundo real, como o mundo empresarial implacável e o conceito de família, mas há duas coisas aqui que foram geniais: Tulip é uma “estranha no ninho” na empresa e mal vista pelos colegas, mas ela jamais conseguiu fazer outra coisa e ela mesma não sabe de suas qualidades, embora tenha grandes motivações.

Isso parte muito do princípio de que todos nós temos qualidades a serem exploradas, ou como diz a célebre frase de Albert Einstein: “somos todos geniais, mas se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em árvores, ele passará sua vida inteira acreditando ser estúpido”.


            E há mais uma coisa: não mandamos mais cartas para nos comunicar. Tudo é feito por meios eletrônicos. Há uma cena em que uma criança escreve para uma cegonha e a carta realmente chega aos correios, mas divide espaço com as centenas de correspondências de produtos online.

            Há alguns alívios cômicos em Cegonhas e eles funcionam porque não quebram a história e contribuem com o roteiro e essa mudança entre o drama e a comédia é muito visível na paleta de cores, mas também na boa trilha dos irmãos Danna, que assinaram a trilha sonora de O Bom Dinossauro, da Pixar.


            A dublagem brasileira de Cegonhas é excelente, mas, quem puder ver legendado, porque há nomes bacanas como Ty Burrell (de Modern Family), Jennifer Aniston, Danny Trejo, entre outros.

            Quem ainda tem preconceitos com a animação Cegonhas e achar que é “filme de criança”, pode ser surpreendido com uma história honesta, inteligente e com metáforas para o mundo adulto. Mal dá para notar seus bem distribuídos 80 minutos.

Nota: 9,0

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Scandal - 5ª Temporada


            Shonda Rhimes está muito em alta na TV, parece que tudo o que ela toca vira ouro e mesmo quando todos pensam que ela está em baixa, ela consegue dar a volta por cima com suas criações/produções que são um grande sucesso. Um exemplo é Grey’s Anatomy, que tem seus altos e baixos, mas se reergueu na 12ª (!) temporada e, ao contrário do que muitos pensavam, não deu sinais de cansaço. E mesmo uma série que não é criação sua, como How to Get Away With Murder, onde ela é produtora executiva, a coisa dá certo e a série protagonizada por Viola Davis é um grande sucesso de público e crítica.

            Mas, de suas criações, a menos citada é justamente um de seus melhores trabalhos: Scandal não é exatamente um sucesso aqui no Brasil (mas também não é um fracasso, sobretudo porque ela está disponível na Netflix e tem o seu público) e no “resto do mundo”, mas nos EUA já virou fenômeno cultural, sobretudo porque a série é sobre os bastidores da política americana e muitos não se importam, mas deveriam, já que o que acontece na Casa Branca afeta o mundo inteiro e há muitos valores em Scandal que são universais como a corrupção, violência e o mundo de aparências.


            E para o público brasileiro, ver tudo isso é fundamental: tudo o que sabemos sobre política é o que nos chega através das mídias, mas jamais saberemos o que ocorre nos bastidores e nas reuniões a portas fechadas.

            Ok, Shonda Rhimes coloca um pouco de dramaticidade na trama justamente para deixá-la mais atraente para o grande público. Ela é muito criticada por isso – e com razão – mas aqui na 5ª temporada de Scandal, isso funciona e torna a série mais tensa fazendo com que o espectador queira logo o próximo episódio – ou temporada – e o que foi um grande problema na 4ª temporada, aqui se torna um atrativo a mais.

            Após os acontecimentos do ano anterior, Olivia Pope ainda está traumatizada e o presidente Fitz consegue expulsar os corruptos ao seu redor, os dois estão juntos, mas não demora muito para que o relacionamento dos dois se torne público – e um escândalo nacional. Paralelamente a isso, Fitz está no final do seu mandato, a eleição presidencial está chegando e acompanhamos aqui os bastidores das campanhas dos dois partidos: Democrata e Republicano.


            Kerry Washington continua arrebentando em seu papel como Olivia Pope e para muitas mulheres (sobretudo as norte-americanas) ela é uma grande heroína e símbolo de empoderamento feminino e racial também: “Eu ousei nascer mulher e negra” – foi o que ela disse em um dos episódios.

            Ela ainda tem a imponência que sempre teve (mas isso foi muito discutível na temporada passada) e a Annalise Keating (personagem da Viola Davis em How to Get Away With Murder) possivelmente não existiria sem Olivia Pope e tudo o que ocorre na série converge para ela.


            Mas esta 5ª temporada não foi apenas de Olivia, pelo contrário, os 21 episódios foram muito bem distribuídos e deu uma presença maior a outros personagens, como Abby, que não é mais a sombra de Olivia ou do presidente e está tomando as rédeas e responsabilidades de sua nova carreira, Mellie, que foi ganhando a simpatia do público com o passar das temporadas e sua personagem leva a trama por vários episódios. E Susan Ross, a vice-presidente, que funcionava mais como um alívio cômico, mostrou o seu valor perante a Casa Branca.

            Olivia Pope é realmente um símbolo e inspiração para muitos, mas não é exatamente uma heroína e não mede esforços para alcançar seus objetivos: “Eu não perco!”, foi o que ela disse em um dos episódios e em parte isso se deve ao seu perfil, mas também às limitações que a vida lhe obrigou e ela sempre se orgulha em dizer que lutou por tudo o que conquistou, exatamente como o seu pai havia lhe ensinado em um dos flahsbacks em temporadas passadas: “Você deve fazer o dobro do que eles fazem para ter metade do que eles têm”.


            Metade desta temporada é focada na eleição e tanto Shonda quanto toda a equipe técnica de Scandal estavam inspiradíssimos para a construção das tramas e sub-tramas nos 42 minutos de cada episódio e de forma acessível e dinâmica, sobretudo pela montagem frenética onde praticamente não há alívios ou respiros. E em uma campanha eleitoral vale tudo para chegar aos objetivos (alguém se lembrou de Maquiavel?) e muitos personagens se matam (às vezes, literalmente!) para alcançar a tão sonhada Casa Branca e mesmo aqueles que o público considerava como “heróis” ou “bonzinhos”, tem o seu caráter colocado à prova perante a sensação de poder. E o resultado disso é uma temporada inesquecível e que deixou os fãs ansiosos pela 6ª temporada (que chega em outubro nos EUA).


            Scandal é uma série sobre a política americana, mas com pessoas e situações que poderiam estar em qualquer lugar do mundo e em um momento turbulento da política brasileira, merece ser descoberta por aqui, nem que seja apenas como produto de entretenimento.


Nota: 10,0

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O Homem nas Trevas assusta muito fazendo pouco


            2016 está sendo um ano com mais promessas do que com resultados, pelo menos, no cinema: vários projetos que prometiam muito, entregaram pouco e decepcionam, sobretudo no período do verão americano. Houve alguns bons filmes, mas quase nada memorável a ponto de ficar para a História (no verão do ano passado tivemos Mad Max e Divertida Mente, por exemplo).

            O que está acontecendo neste ano é que os melhores filmes do ano são aqueles que poucos tiveram expectativa e não são necessariamente filmes de baixo orçamento (Zootopia é um exemplo).

            E há um outro filme fazendo barulho nas redes sociais e que está sendo apontado pelos críticos e pelo público como dos melhores filmes do ano – e melhores suspenses dos últimos anos: O Homem nas Trevas, que o título original é “Don’t Breathe”, ou “Não Respire” e quem assiste ao filme vê que este título faria muito mais sentido, afinal, há diversos momentos em que alguns personagens – e o público – passam sem respirar e agoniado.


            Na história, três jovens assaltantes decidem praticar um último roubo, que é invadir a casa de um deficiente visual veterano de guerra.

            A missão parecia tranquila, mas coisas estranhas começam a acontecer dentro da casa.


            Há diversas camadas para serem exploradas em O Homem nas Trevas e quanto menos o espectador souber, mais interessante fica. O que começa como um filme de roubo vira um suspense psicológico e se torna visceral e elegante ao mesmo tempo.

            O roteiro de Fede Alvarez (que também é o diretor) e de Rodolfo Sayagues (os dois também escreveram A Morte do Demônio) mostra que todos têm suas motivações e ninguém é exatamente culpado e ninguém é exatamente inocente: se alguém invadisse a sua casa para roubar o seu dinheiro, como você reagiria? Mas se alguém te atacasse de forma brutal, como você reagiria? O filme brinca com essas questões o tempo todo e deixa para o espectador tomar as suas conclusões, sem manipulá-lo.


            Sam Raimi ficou mundialmente conhecido como o diretor da trilogia do Homem-Aranha e embora tenham dois grandes filmes desta trilogia (o terceiro é fraco!), seu coração fala mais alto pelo terror, como nos dois exemplares de A Morte do Demônio (o de 1981 ele é diretor e no de 2013 ele é produtor). E aqui ele é o produtor novamente e vemos muito de sua marca aqui, como alguns sustos falsos, o bizarro e o “jumpscare”, que é aquele susto inesperado.

            E tem mais: embora ele seja um diretor já renomado, ele jamais deixa de lado seu espírito de cinema independente: O Homem nas Trevas é um filme relativamente pequeno (custou “só” 10 milhões de dolares), a maior parte do filme se passa em apenas um único ambiente e o nome mais conhecido do elenco é Stephen Lang, que não é exatamente um astro, embora tenha feito a maior bilheteria da história, que é Avatar.


            Aliás, seu personagem é o deficiente visual em questão e embora o elenco jovem esteja muito bem, é ele o melhor personagem por aqui. Ele foi apenas creditado como “o homem cego” e não tem nome – pelo menos até onde o público sabe – e sempre se mostra imponente e como uma ameaça.

            O “homem cego” é um personagem a ser descoberto. O roteiro não perdeu tempo com flashbacks ou em explicar demais a sua história (que cairiam bem em um spin-off) e lembra muito o personagem de Clint Eastwood em Gran Torino: um veterano de guerra solitário, amargurado e seu único indício de humanidade é seu cachorro (no filme de Eastwood era seu carro).


            O Homem nas Trevas é uma pequena preciosidade do suspense/terror, seu sucesso é merecido e é uma história que pode ser muito bem explorada, mas não em demasia, já que tanto se fala na falta de criatividade em Hollywood.

Nota: 10,0

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Grey's Anatomy - 12ª Temporada


            O formato de Grey’s Anatomy parece estar com os dias contados. Não a série em si, mas o formato: nesta 12ª temporada são 24 episódios e era muito comum os canais investirem em vários episódios por temporada até uma década atrás, mas com os serviços de streaming, que popularizou séries com 10, 12, no máximo 13 episódios e considerando que um ator de série também almeja trabalhar com cinema (e vice-versa), os canais investem em menos episódios, até porque isso barateia os custos de produção.


            E não são apenas os canais fechados, como a Netflix ou HBO: o canal ABC (que também distribui Grey’s Anatomy) iniciou, em 2014, a série How to Get Away With Murder, que é produzida pela Shonda Rhimes, que, apesar de ser um programa da TV aberta norte-americana, contém apenas 15 episódios. E parece que esse é mesmo o caminho, séries com menos episódios. E nem estamos falando do formato de antologia, na qual uma temporada é fechada e começa tudo do zero. Fargo e American Horror Story fazem isso com muito sucesso, por exemplo.

            Não bastasse tudo isso, Grey’s Anatomy chega ao seu 12º ano cheia de altos e baixos: a série teve o seu auge, entre a 2ª e a 5ª temporada e claramente foi empurrando sua trama em muitas histórias e personagens que não faziam sentido com o passar dos anos.


            Tudo isso ocorreu porque 1) a série tem fãs no mundo todo, inclusive no Brasil, e a seguem religiosamente e 2) sua criadora, Shonda Rhimes, costuma inventar alguma história megalomaníaca para empurrar o seu carro chefe, como um acidente aéreo ou seqüestro no hospital, mas nada se compara ao leão na 8ª temporada.

            Neste cenário, as expectativas para esta 12ª temporada eram totalmente baixas, sobretudo pelo final da 11ª temporada: houve uma perda irreparável de um personagem e parecia que a série bateria nessa tecla, mas, felizmente, a 12ª temporada de Grey’s Anatomy é tão boa – ou melhor – do que o chamado “auge” da série, sobretudo por levar a sua trama para frente, com poucas lembranças do passado (embora alguns flashbacks funcionem) e há dois elementos que fazem com que esta temporada seja especial: 1) os personagens novos são excelentes e 2) a série não tem medo de ousar.


            Logo no primeiro episódio, temos um caso de duas adolescentes que se amam se são reprimidas pela família e aqui há mais cenas de sexo, beijo entre duas mulheres e os dramas são apresentados sem quase sem pudor nenhum. Ok, é uma série de TV aberta e não dá para esperar uma ousadia como em Sense8, mas considerando que Grey’s Anatomy era uma série “para a família”, isso é um avanço.

            Mesmo tecnicamente a série evoluiu, a montagem está mais ágil, a trilha sonora casa muito bem com a maioria dos momentos e os diálogos estão melhores do que muitos filmes grandes. O episódio 9, por exemplo, onde um paciente agride uma médica, é feita de forma quase visceral e do ponto de vista da vítima. E este episódio é dirigido pelo astro Denzel Washington.


            A maioria dos novos personagens já haviam sido introduzidos na temporada passada, como Amelia Shepherd, Jo Wilson, Stephanie Edwards, Maggie Pierce e Andrew DeLuca. Todos excelentes, cada um tem seu arco dramático e juntando com as novas funções dos personagens já veteranos, como a própria Meredith e Bailey, a série ainda tem muita lenha para queimar, contrariando todas as previsões.

            Grey’s Anatomy tem um grande elenco, tanto em tamanho quanto em qualidade dos atores e há tempos deixou de ser apenas uma série da Meredith Grey, vivida pela Ellen Pompeo. Ok, ela ainda é a narradora (se bem que há 2 episódios aqui que não são narrados por ela) e seu nome é o primeiro nos créditos, mas o nome “Anatomia da Grey” agora é mais protocolar do que uma necessidade.


            Com tantas histórias, tantos personagens cativantes e ainda com uma legião de fãs, Grey’s Anatomy ainda não deu sinal de que acabará. A 13ª temporada já foi encomendada e está sendo filmada. A série andou em baixa entre a 7ª e a 11ª temporada e não era difícil achar quem havia desistido, mas esse “reboot”, que aconteceu nesta nova temporada foi fundamental para dar uma nova vida a este mundo da medicina e para atrair novos espectadores.


            Quem quiser acompanhar a série do começo, com seus mais de 200 episódios, estão todos disponíveis na Netflix, não há problema nenhum, mas, quem começar a acompanhar deste 12º ano, encontrará o início de uma grande história e personagens que se descobre – ou redescobre – junto com os fãs que acompanham esta série que já está na história da TV mundial há mais de uma década.

Nota: 10,0