sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Cegonhas tem muito mais a oferecer do que personagens fofos

          Era difícil imaginar que a animação Cegonhas seria dos filmes mais bacanas de 2016. Em um ano de vários filmes aguardados, sobretudo as adaptações de quadrinhos e mesmo no ramo das animações, 2016 é o ano de Procurando Dory e de Zootopia e poucos davam bola para Cegonhas. Além do mais, os trailers e materiais promocionais não vendiam o filme direito: parecia uma animação genérica e feita exclusivamente para o público infantil, mas logo nos primeiros minutos, nota-se algo diferente, uma história original, feita com o coração, mas também com a razão e com uma premissa espetacular.


            Na animação, as Cegonhas fazem o “trabalho” de distribuição de bebês, mas logo no início do filme elas mudam de ramo e realizam o trabalho de entrega de mercadorias, como o comércio eletrônico que temos hoje. A cegonha Junior é o braço direito de Hunter, diretor da empresa de entregas e está de olho em uma promoção, mas, para alcançá-la, precisa demitir a humana Tulip, que, segundo o próprio diretor, atrapalha o rendimento da empresa, mas algo dá errado, Tulip e Junior se perdem e são caçados, tanto por Hunter e sua equipe quanto um grupo de lobos, ou o “bando de lobos”, como são chamados.

            Cegonhas é dirigido, produzido e escrito por Nicholas Stoller, que dirigiu Vizinhos 1 e 2 e também é dirigido por Doug Sweetland, que dirigiu o curta da Pixar, Presto e aqui fazem um trabalho muito interessante de não estender ou explicar demais a história, ao passo que consegue desenvolver bem os seus personagens e equilibrar e dividir os arcos, tanto das cegonhas, dos humanos e dos lobos.


            Tudo isso é um grande trunfo do roteiro, que também brinca com a premissa da história de que as cegonhas trazem os bebês não é mais passada para as crianças de hoje em dia: há uma parte em que um menino pergunta para os pais se eles vão trazer um irmãozinho. Os pais respondem que não é assim tão fácil, o garoto pergunta como é e os dois se olham com um sorriso malicioso.

            Resumindo: fica subentendido como se faz um bebê na vida real, mas a inocência da cena faz com que isso fique com a interpretação de cada um.


            O roteiro também tem várias camadas que podem passar despercebidas, mas que tornam a trama atraente e mais antenada com o mundo real, como o mundo empresarial implacável e o conceito de família, mas há duas coisas aqui que foram geniais: Tulip é uma “estranha no ninho” na empresa e mal vista pelos colegas, mas ela jamais conseguiu fazer outra coisa e ela mesma não sabe de suas qualidades, embora tenha grandes motivações.

Isso parte muito do princípio de que todos nós temos qualidades a serem exploradas, ou como diz a célebre frase de Albert Einstein: “somos todos geniais, mas se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em árvores, ele passará sua vida inteira acreditando ser estúpido”.


            E há mais uma coisa: não mandamos mais cartas para nos comunicar. Tudo é feito por meios eletrônicos. Há uma cena em que uma criança escreve para uma cegonha e a carta realmente chega aos correios, mas divide espaço com as centenas de correspondências de produtos online.

            Há alguns alívios cômicos em Cegonhas e eles funcionam porque não quebram a história e contribuem com o roteiro e essa mudança entre o drama e a comédia é muito visível na paleta de cores, mas também na boa trilha dos irmãos Danna, que assinaram a trilha sonora de O Bom Dinossauro, da Pixar.


            A dublagem brasileira de Cegonhas é excelente, mas, quem puder ver legendado, porque há nomes bacanas como Ty Burrell (de Modern Family), Jennifer Aniston, Danny Trejo, entre outros.

            Quem ainda tem preconceitos com a animação Cegonhas e achar que é “filme de criança”, pode ser surpreendido com uma história honesta, inteligente e com metáforas para o mundo adulto. Mal dá para notar seus bem distribuídos 80 minutos.

Nota: 9,0

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