terça-feira, 21 de maio de 2013

A Última Ceia


A Última Ceia (Monster´s Ball)

Direção: Marc Forster

Ano de produção: 2001

Com: Billy Bob Thornton, Halle Berry, Heath Ledger, Peter Boyle, P. Diddy.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 18 Anos

Nota: 9,0

Halle Berry é a melhor coisa (e não a única boa) em “A Última Ceia”.

            Quando se fala em histórias de racismo, qual é a primeira coisa que vêm à cabeça? Escravidão, violência, ou sentimento de revolta? Infelizmente é tudo isso e um pouco mais. O cinema já explorou esse tema inúmeras vezes, algumas memoráveis (A Cor Púrpura, Mississipi em Chamas) e outras que é melhor esquecer (Duelo de Titãs, Crash – No Limite), então, surge a pergunta: dá para alguma obra falar de um tema tão falado e ser original ao mesmo tempo? A resposta boa é que dá sim, desde que com um bom roteiro e boas ideias. E sem explorar demais o tema. É mais ou menos isso que sugere “A Última Ceia”, esse filme ousado e ao mesmo tempo humano e exigente.

            A Última Ceia não foi um grande sucesso de público de início, mas foi sendo descoberto aos poucos principalmente pela notoriedade dos festivais, mas principalmente pelo melhor momento do Oscar de 2002: quando Halle Berry levou seu merecido Oscar por este papel e se tornou a primeira (e única até agora) atriz negra a vencer na categoria de Melhor Atriz. Seu discurso de agradecimento já entrou para a história e eu, particularmente, gosto de ver até hoje a cena no YouTube.

             E com todo esse “repertório”, “A Última Ceia” acabou se tornando cada vez descoberto e apreciado pelo grande público.

            A Última Ceia conta a história de Hank (Billy Bob Thornton, sempre ótimo), um homem amargurado pela perda da esposa que trabalha no corredor da morte junto com seu filho, Sonny (Heath Ledger) e é racista, boca suja e beberrão, assim como seu pai (Peter Boyle). Quando seu filho morre, ele fica angustiado e não menos racista. Num grande acidente da vida, ele conhece a garçonete Letícia (Halle Berry, ótima!!!!!!!!), que tem um filho obeso e um marido no corredor da morte próximo do dia no óbito. Hank se apaixona por Letícia e começa a rever seus valores.

            Dá para dizer, sem falar besteira nenhuma, que A Última Ceia é um filme Cult. Foi feito para um circuito muito fechado e é lembrado até hoje por diversas razões. Uma delas é o fato de ser o filme de estreia do diretor Marc Forster, que se revelou um diretor muito mais humano e interessante do que poderia ser (como em “Em Busca da Terra do Nunca”) ou até em superproduções, como em 007 – Quantum of Solace, se tornou, inclusive, um roteirista respeitado apesar de ser avesso a se aparecer demais nos holofotes. O filme também marcou o início da fase séria de Heath Ledger no cinema (seu papel irretocável como Coringa está aí para comprovar) depois do divertido “10 coisas que odeio em você” e da aventura pipoca “Coração de Cavaleiro” se tornou dos maiores nomes de Hollywood e sua morte precoce em 2008 foi uma pena não só para o cinema, que perdeu aquele que tinha tudo para ser dos maiores da história mas uma pena pelas circunstâncias de sua morte e porte de drogas.

            A Última Ceia também marcou a estreia do produtor Lee Daniels, que é o diretor de “Preciosa”, indicado ao prêmio de direção em 2010 e a estreia surpreendentemente boa do rapper P. Diddy, famoso por sua fama de Bad Boy.

            Não dá para negar que o ano de 2001 foi de Billy Bob Thornton, mesmo saboreando o sucesso comercial com “Vida Bandida”, com Bruce Willis é com filmes mais densos que ele tem a chance maior de mostrar seu talento, principalmente neste aqui, mas pelo noir dos irmãos Coen em “O Homem que não estava lá”. Sua ausência no Oscar de melhor ator foi, portanto, daquelas coisas inacreditáveis que só poderiam vir de uma premiação como o Oscar.

            Mas o melhor personagem aqui é o da Halle Berry. Ela é um arraso como uma garçonete negra, pobre e carente. É uma grande pena mesmo que, olhando para sua carreira ela não havia mostrado ainda seu talento dramático e nem depois de seu Oscar por aqui ela fez um papel digno de nota. Ao contrário, ela fez o lixo que foi “Mulher-Gato” em 2004 (para mim, o pior ou dos piores filmes deste século 21) e o estranho suspense “Na Companhia do Medo”. Antes, ela até fez o papel de Tempestade em “X-Men”, mas era pouco para quem almejava algo mais. Há quem diga que seu Oscar foi sorte ou apenas pelo tabu da cor, não por mérito. Discordo. Foi o papel mais humano e verdadeiro das indicadas do que as favoritas e badaladas Nicole Kidman por “Moulin Rouge – Amor em Vermelho” e Sissy Spacek em “Entre Quatro Paredes”. Mas, repito, uma pena que foi seu único papel digno de nota na carreira.

            A última ceia nos apresenta aquela que é a melhor ou das melhores cenas de sexo do cinema, protagonizada por Halle Berry e Billy Bob Thornton. É uma situação incômoda, sem pudor nenhum, mas que faz todo sentido ao clima da história e ao momento angustiante em que estávamos presenciando.

            É uma história de racismo sim, pobreza sim, sobre a morte sim, sobre a vida sim, mas é sublime em alguns momentos, triste, é verdade, mas sempre honesto na narrativa. Ah, o final, que obviamente não contarei aqui, é tão incômodo quanto poético e marca até hoje o cinema competente de Marc Forster. 


Imagens:









Trailer do Filme:


Acusados


Acusados (The Accused)


Direção: Jonathan Kaplan

Ano de produção: 1988

Com: Jodie Foster, Kelly McGillis.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 16 Anos

Nota: 9,0

Acusados é um grande salto do cinema independente no fim dos anos 80...

            A indústria poderosa de Hollywood evoluiu muito no que vem ao caso alguns tabus da sociedade mundial e americana, é difícil achar um tema que não tenha sido explorado pelo cinema que não tenha provocado um estado de choque maior no espectador: em Clube da Luta, em 1999, foi difícil não sentir aquele soco no estômago com as críticas da sociedade atual consumidora. Em 2004, o diretor Mike Nichols chocou o mundo com uma ousadia sem igual com uma temática sexual poderosa em Closer – Perto Demais, isso sem apresentar uma única cena de nudez. É difícil acreditar, por exemplo, que “A Primeira Noite de um Homem”, de 1967, do próprio Nichols, era considerado subversivo e muito à frente de seu tempo, e hoje em dia pode parecer banal demais.

            Outro grande tabu e problema da sociedade como um todo ainda infelizmente nos dias de hoje também é pouco explorado de forma honesta pelo cinema. Foi preciso pegar um grande roteiro e história para demonstrar esse tema de forma visceral, verdadeira e não menos profunda no final dos anos 1980 e com um grande elenco: Acusados, do diretor Jonathan Kaplan e estrelado pela sempre ótima Jodie Foster, que levou seu merecido Oscar pelo papel em 1989. “Acusados” foi feito para ser independente, mas se tornou célebre principalmente após o boca-a-boca gerado pelo barulho do filme e pelos prêmios que recebeu, principalmente pelo papel de Foster.

            “Acusados” é baseado em uma história incrivelmente real sobre uma jovem chamada Sarah Thomas com uma reputação baixa vivida pela Jodie Foster que sofre um estupro em uma boate. Logo no início do filme, ela corre pedindo ajuda e ela resolve levar o caso à justiça, apontando os culpados e representada por uma advogada conhecida por ser durona, vivida pela Kelly McGillis. Somente a advogada acredita em Sarah e as duas decidem levar o caso até as últimas consequências buscando a punição não só dos responsáveis pelo estupro como aos que de certa forma incentivaram tal ação com uma certa torcida.

            O filme é baseado em uma história real, ocorrida no estado americano de Massachusetts em 1983 e choca não só pela crueldade da situação como ele está assustadoramente atual. Não há uma violência explícita, o diretor optou por explorar mais os casos de tribunal e o filme é quase 100% diálogos (e que diálogos). Há uma década atrás, em 2003, o diretor Gaspar Noé usou a violência de forma tão profunda que houve até casos de vertigem na exibição de seu filme em Cannes, “Irreversível”.

            O que levou a atriz Kelly McGillis a aceitar o papel de advogada por aqui foi que ela assumiu na frente das câmeras que já sofreu estupro na vida. A revelação surpreendeu todo mundo porque ela estava “fresquinha” com o sucesso de Top Gun no ano anterior (sim, ela é a bela moça que faz par romântico com Tom Cruise no filme que eternizou a música “Take My Breath Away”) e o papel se encaixa tão bem que ela nem de longe lembra a moça doce de Top Gun e aqui ela faz uma advogada tão durona como idealista.

            O diretor Jonathan Kaplan não se tornou um grande diretor de cinema mas se tornou um roteirista de séries cada vez mais interessante e mais criterioso na escolha das séries, como ER, Brothers and Sisters e Law and Order.

            Mas o grande trunfo por aqui é o papel irretocável da Jodie Foster, depois de seu papel revelação em Taxi Driver, a indústria viu que ali estava uma atriz promissora e se dedicou tanto no papel que conversou com várias moças na época que sofreram abuso sexual. Ela, infelizmente está sumida do mundo hollywoodiano, embora ela tenha ganhado o prêmio Cecil B. DeMille este ano no Globo de Ouro, mas seu levado já faz parte da história.

            Embora “Acusados” não seja 100% brilhante, nem clássico, não dá para negar o barulho e incômodo que ele causou nem ficar indiferente e imparcial com as situações e um problema ainda longe de acabar, infelizmente.


Imagens:







Trailer do Filme: