domingo, 22 de novembro de 2015

Marvel: Jessica Jones - 1ª Temporada


Marvel: Jessica Jones - 1ª temporada

Criada por: Melissa Rosenberg

2015

Com: Krysten Ritter, David Tennant, Rachael Taylor, Mike Colter, Carrie-Anne Moss, Eka Darville, Erin Moriarty, Wil Traval.

Ação

14 Anos


É a mesma Marvel dos cinemas – só que diferente

            Em abril desse ano estreou a série do Demolidor. Foi a primeira parceria entre a Marvel e a Netflix. A casa das ideias já está consolidada com o seu universo nos cinemas e agora está expandindo isso para a TV.

            Tudo começou em 2013 com a estreia de Agents of Shield no canal ABC, que teve uma primeira temporada que dividiu opiniões, mas que se acertou no final daquela temporada, teve um segundo ano excelente e está tendo um terceiro ainda melhor. Em janeiro deste ano, durante o hiato de Shield, estreou a série da Agent Carter, que se passa após os acontecimentos de ‘Capitão América – O Primeiro Vingador’ e foi elogiada por público e crítica.

            E agora, em novembro de 2015, chega no serviço streaming a segunda série da parceria Marvel/Netflix: Jessica Jones.

            Essa parceria também promete entregar a série do Luke Cage e de início a ideia também era uma série do Punho de Ferro, mas os produtores gostaram tanto do trabalho de Jon Bernthal como Justiceiro na 2ª temporada de Demolidor que estão com a ideia da série própria do herói e o Punho de Ferro ganharia um filme – e tudo isso culminando na série dos Defensores, que seria o “núcleo urbano” da Marvel.

            Se nos cinemas a casa das ideias trabalha com heróis fantásticos e poderosos, nas séries eles trabalham com personagens mais reais e humanos. A própria Agente Carter não é nenhuma super-heroína, mas tem um papel fundamental na história do Universo Marvel.

            Outra grande diferença entre as séries e filmes é que ao passo que vemos filmes com a violência moderada e nunca realista, nas séries (ao menos as da Netflix) o que vemos é um retrato violento e sombrio de Nova York. Isso em Demolidor ficou muito claro – e foi um diferencial importantíssimo – mas aqui em Jessica Jones a coisa vai além: em momento algum a série indica que se trata de um universo de super-herói, já que consegue ser ainda mais violenta, sombria e realista do que Demolidor. E mais ousada também: há muito conteúdo sexual e as cenas de sexo são mostradas sem pudor e sem culpa – o que é muito bom para mostrar que quadrinho não é coisa apenas de criança, há várias publicações para o público adulto e quem ainda associa HQs à infantilidade, ou não conhece o universo dos quadrinhos ou é mal intencionado.

            Jessica Jones é baseada na série de quadrinhos Alias, de 2001, escrita por Brian Michael Bendis e desenhada por Michael Gaydos e mostrava o dia-a-dia da agência Alias (que no Brasil ganhou o nome de “codinome”, que também tem esse nome da série) e sua principal investigadora: Jessica Jones, que é órfã, foi viver Trish Walker, que se tornou sua melhor amiga e lida com os demônios internos de seu passado e com seus poderes, que é sua força sobre-humana, que ela considera mais como uma maldição, sobretudo após ela conhecer o vilão Kilgrave e ter um passado sombrio com ele: os dois já foram amantes e nos tempos atuais ela ainda vive atormentada com suas lembranças.

            Kilgrave – ou Homem-Púrpura, como preferem os fãs de quadrinhos, tem um poder muito peculiar: ele consegue que as pessoas façam o que ele quiser. A única pessoa imune a isso é a própria Jessica, que conforme vai passando a série – tanto das HQs como da Netflix – descobrimos o porquê da obsessão que ele tem pela Jessica.

            Todo o passado de Jessica vem à tona quando ela conhece o Luke Cage, um herói que tem o poder de ser indestrutível e isso é mostrado na série de forma brilhante e sem explorar demais (afinal, Luke vai ganhar uma série própria) e descobre-se que Jessica assassinou a ex-esposa de Luke no passado a mando – ou não – de Kilgrave.

            O primeiro encontro de Luke e Jessica na série é idêntico ao mostrado nos quadrinhos: ela toma um uísque no bar de Luke (ele é dono do bar) e os dois vão para casa fazer sexo. A cena foi muito bem feita, envolvente e o espectador acredita e torce pela relação dos dois e considerando que ainda teremos série do Luke, ainda podemos ver o romance dar certo (nas HQs os dois se casam e têm um filho) – embora que nas histórias de Alias, ela tenha estudado com Peter Parker (sim, o próprio Homem-Aranha) e confessa ter uma queda com ele. Considerando que o herói aracnídeo agora é da Marvel Studios, esse triângulo amoroso unindo cinema e TV seria muito atraente.

            As comparações com Demolidor são inevitáveis, já que é a série do mesmo canal e no mesmo local: Hell’s Chicken, que é a periferia de Nova York que ainda está afetada com os acontecimentos de The Avengers – Os Vingadores, sem contar que ambos os heróis irão se encontrar lá na frente em Defensores, mas deve-se tomar cuidado com as comparações pois os pontos de vista são diferentes: ao passo que Demolidor era uma série de ação de fato, mostrava a ascensão do herói e focava muito na corrupção, aqui temos uma heroína em decadência e que o foco está mais em seu psicológico do que na cidade em si, que raramente é citada ao longo da série.

            Em tempos de debate sobre o feminismo e o lugar da mulher na sociedade, Jessica Jones é a série certa e na hora certa: a questão do feminismo é tratada de forma natural e sem estereótipos.

            A própria Jessica não é uma heroína qualquer: ela bebe, fala palavrão, mas não deixa de ser mulher. E ela se preocupa com as pessoas e ainda tem o coração de uma heroína, tanto que o fato de ela ter uma vida solitária e se afastar de amizade e relacionamento, é para a própria proteção das pessoas que ela ama, sobretudo a sua melhor amiga, Trish, que é uma ex-apresentadora famosa de rádio, e também tem o coração de super-heroína.

            Trish é uma personagem que se torna mais interessante e atraente com o passar dos episódios. De início ela pode parecer como uma coadjuvante de luxo, apenas como a melhor amiga da protagonista (e tá cheio de série assim), mas ela se torna peça fundamental na caça de Jessica ao seu rival.

            Ainda sobre a questão do feminismo, temos a personagem da Heri, vivida por Carrie-Anne Moss (a Trinity de ‘Matrix’), que é melhor advogada de Nova York, ou seja, tem uma carreira bem-sucedida, mas está de divórcio marcado com uma médica e está envolvida com uma das suas funcionárias (deixa alguém da “família tradicional” assistir isso).

            Carrie-Anne Moss faz seu melhor personagem desde Trinity exatamente por trazer a imponência que o papel exigia, ao passo em que ela é destruída internamente.

            Krysten Ritter (que virá ao Brasil para a Comic Con Experience) interpreta de forma muito competente a Jessica Jones e também não cai nos estereótipos de uma heroína sexualizada e consegue ser uma mulher forte e ser feminina ao mesmo tempo.

            Mas quem rouba mesmo a cena é David Tennant (que também virá ao Brasil na CCXP). Tennant é o Doutor preferido da maioria dos fãs de Doctor Who e a escolha dele para fazer o vilão Kilgrave foi certeira por 2 motivos: ele é um grande ator e como não é exatamente uma estrela hollywoodiana, não custou muito para trazê-lo à série. Segundo que seu papel em Doctor Who, que durou 3 temporadas, foi tão marcante que fica difícil não associar o ator ao personagem e ele precisava de um papel forte.

            Kilgrave só aparece a partir do 3º episódio e é mostrado aos poucos, sempre de forma ameaçadora e sempre um passo à frente da Jessica. Como já citado, seu poder é o de obrigar as pessoas a fazerem o que ele quer.

            Há uma cena das HQs que foi alterada para a série, mas que ficou muito melhor: nos quadrinhos, Kilgrave obrigava todos os clientes de um restaurante a pararem de respirar, causando a morte de todos, mas na série, o vilão obrigou os policiais em uma delegacia a apontarem arma uns aos outros e a câmera dando uma visão geral da tensão do momento.

            É impressionante como Kilgrave/Homem-Púrpura é um vilão fascinante, mas não era famoso, mas agora tem a chance de ganhar fama com o público em geral. Ele já é dos maiores vilões se juntarmos filmes e séries e juntando Marvel e DC - e merece estar ao lado dos memoráveis Coringa, Magneto, Loki e Wilson Fisk.

            Os 13 episódios de Jessica Jones passam rápido e após o término já fica a saudade. Em um ano tão positivo para a Netflix, com séries maravilhosas e que dificilmente passariam em um canal tradicional, como Sense8 e a própria Demolidor, Jessica Jones entra na galeria das obras-primas do serviço. E é, na opinião deste que vos fala, A Melhor Série Baseada em HQ da Atualidade.

Nota: 10,0

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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Jogos Vorazes: A Esperança - O Final


Jogos Vorazes: A Esperança – O Final (The Hunger Games – Mockingjay – Part 2)

Direção: Francis Lawrence

2015

Com: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Julianne Moore, Philip Seymour Hoffman, Woody Harrelson, Donald Sutherland, Natalie Dormer, Mahershala Ali, Jeffrey Wright, Stanley Tucci, Jena Malone, Sam Claflin, Willow Shields.

Ação

14 Anos

Final Apoteótico não segura filme morno

            Jogos Vorazes surgiu nos cinemas em 2012 e logo chamou a atenção do público e crítica pela temática diferente: a protagonista não é a mocinha indefesa e sua vida amorosa está em segundo plano.

            A discussão era muito mais profunda: totalitarismo, distopia, desigualdade social e política são os temas que a saga desperta e considerando que seu público alvo é o adolescente, isso é um marco.

            Assim como outras franquias literárias que se tornaram fenômeno de vendas, como Harry Potter e Crepúsculo, Jogos Vorazes também foi responsável por trazer a juventude de volta ao prazer de ler.

            Costuma-se reclamar que “a galera de hoje não lê” ou que “ninguém lê mais por causa da internet”, sendo que na verdade nunca se leu tanto e essas franquias são as grandes responsáveis e inclusive em inspirar diversos autores ao redor do mundo e também aqui no Brasil.

            E no caso particular de Jogos Vorazes, fez o público em geral correr atrás de obras grandes obras que falam de temas como ditadura e futuros distópicos, como 1984, Battle Royale e até o polêmico ‘O Triunfo da Vontade’, de 1935, que não passou de propaganda nazista da época, mas seu contexto com grandes exércitos e um líder autoritário inspira obras até hoje, inclusive Star Wars (ou ninguém associou Hitler a Darth Vader?)

            Mas Jogos Vorazes não resistiu às tentações da Hollywood atual e por se tratar de uma franquia milionária, o último livro, A Esperança, foi dividido em 2 filmes, assim como aconteceu com Harry Potter e Crepúsculo. A Esperança – Parte 1 estreou ano passado. E agora, em 2015, chega ao cinemas ‘Jogos Vorazes: A Esperança – O Final’.

            Muita gente contesta o filme anterior, já que é mais uma preparação para a guerra.
            Embora a Parte 1 tenha alguns buracos que claramente foram para justificar a divisão em dois filmes, ele tem sim, muitas qualidades, pois é um filme de guerra, mas é introspectivo, foca no desespero e trauma da protagonista e mostra como qualquer um pode manipular, independentemente do poder.

            Mas tudo indicava que era a preparação para a Parte 2 e que mostraria a guerra em si, mas o que se vê durante a primeira hora de exibição são basicamente os mesmos diálogos e clima de preparação para a guerra. Novamente Katniss Everdeen está no dilema se assume ou não o Tordo, ela fica na dúvida sobre o amor da sua vida (e isso infelizmente tem mais destaque por aqui, e nos outros filmes esse triângulo amoroso praticamente inexistia), sem contar as intermináveis conversas entre os rebeldes – e líderes rebeldes também – que ligam o nada a lugar nenhum. E alguns personagens que foram fundamentais no filme anterior, como Cressida e Beetee, praticamente inexistem aqui. Até Plutarch tem um personagem com tempo de tela reduzido – o que foi um grande descaso com o saudoso Philip Seymour Hoffman.

            Ele faleceu em fevereiro de 2014 e a maioria de sua aparição nos dois filmes de A Esperança já estava filmada e os produtores disseram haveria CGI agora no final (e a computação gráfica está aparente).

            As qualidades de ‘Jogos Vorazes: A Esperança – O Final’ estão na segunda hora de projeção, na qual temos a guerra em si com cenas de ação maravilhosas e preparando para o final apoteótico que a série prometia – e seguir ou não os livros é mero detalhe, já que o filme em si se sustenta.

            Todo o início deste filme poderia ser melhor editado e montado – bem como metade do filme anterior, ou seja, daria tranquilamente para ser feito apenas um filme de 120 minutos e sem perder o ritmo nem o conteúdo do livro, que aliás, quem leu o livro sabe que ele tem momentos, não tem tanto conteúdo para dois filmes de 2 horas e os fãs são unânimes ao dizer que é o livro mais fraco da Suzanne Collins e ficou claro que muita coisa lá foi pressão da editora, já que os dois primeiros livros foram um sucesso nas livrarias.

            Quanto ao grande elenco, embora alguns atores tenham sido desperdiçados como já citado, a maioria evoluiu como personagem e tiveram mais importância dentro da trama. A própria Jennifer Lawrence amadureceu como atriz, agora vencedora de Oscar, mas é impressionante como o sucesso não subiu à cabeça e ela se entrega no papel de Katniss com o mesmo pique do primeiro filme, o que é maravilhoso, pois ela jamais pode desprezar um papel que lhe deu tanta visibilidade.

            O personagem de Peeta ganhou mais relevância e ele lida com seus demônios internos e com o trauma da lavagem cerebral sofrida no filme passado (e o inesquecível enforcamento no encontro dele com Katniss).

            A atual vencedora do Oscar de Melhor Atriz, Julianne Moore arrebenta como a presidente Alma Coin e a dúvida quanto à sua integridade é levada até o final, mas quem se diverte mesmo é o grande Donald Sutherland como o Presidente Snow. Ele parece se divertir no papel de ditador e em cada aparição dele é uma imponência, com frases de efeito e a ameaça que um vilão de uma história como essa precisava.

            Outro grande acerto dos filmes de Jogos Vorazes é que a autora dos livros, Suzanne Collins participa de forma direta na produção do filme – e é uma coisa que Divergente erra muito, pois Veronica Roth não tem voz nas decisões da franquia.

            A valorização e participação do autor está virando algo recorrente em Hollywood, por exemplo, J. K. Rowling vai escrever o roteiro de ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’, que é um derivado de Harry Potter e chega aos cinemas ano que vem, mas engana-se quem pensa que isso é exclusivo da literatura fantástica: ano passado Gillian Flynn escreveu o roteiro de ‘Garota Exemplar’ e o resultado foi um filme tão bom – ou melhor – do que o livro e dos filmes mais aclamados de 2014.

            Jogos Vorazes chega ao seu fim e se firmou como a melhor saga de livros para o cinema da atualidade, isso se levarmos em conta que seus “concorrentes” são Divergente e Maze Runner. E se os filmes fizeram a molecada correr atrás de leitura – e de obras tão densas, ela merece ser louvada. É compreensível quem não goste da franquia, mas ela deve ser respeitada. Fale mal, mas fale com propriedade

Nota: 7,5

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quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Meu Primo Vinny


Meu Primo Vinny (My Cousin Vinny)

Direção: Jonathan Lynn

1992

Com: Joe Pesci, Marisa Tomei, Ralph Macchio, Mitchell Whitfield, Fred Gwynne.

Comédia

14 Anos

Famoso pela zebra do Oscar, filme merece ser descoberto

            Meu Primo Vinny, comédia de 1992, dirigida por Jonathan Lynn não foi um sucesso de bilheteria e poucos viram o filme, embora não tenha sido exatamente um fracasso e aqui no Brasil passou quase despercebido nos cinemas, mas passou na Tela Quente, na Rede Globo, em 1995 (época em que muitos dependiam da TV aberta para ver filmes), mas para quem acompanha cinema, quando ‘Meu Primo Vinny’ é citado, a primeira coisa que vem à cabeça é o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Marisa Tomei por seu papel no filme. E mais do que isso: foi uma das maiores zebras da história da premiação (pegue qualquer lista e essa zebra está no meio).

            Na ocasião, a super favorita era Joan Plowright por ‘Um Sonho de Primavera’, mas Vanessa Redgrave por ‘Retorno a Howards End’ e Miranda Richardson por ‘Perdas e Danos’ corriam por fora. E quando Jack Palance anunciou o nome de Marisa como vencedora do Oscar, fez todo mundo se levantar como um choque.

            Muita gente não engole até hoje esse prêmio e é um direito de cada um, mas a grande injustiça em relação à Marisa foram os comentários maldosos da época, que diziam que Palance apenas leu o nome da última indicada. Essa piada de mau gosto ficou durante quase os anos 90 inteiros em Hollywood e só foi esquecida em 2002, quando Marisa foi indicada ao Oscar novamente (e desta vez sendo elogiada) por ‘Entre Quatro Paredes’ – e perdendo para Jennifer Connelly por ‘Uma Mente Brilhante’.

            Mas, afinal, Marisa Tomei mereceu ganhar esse contestado Oscar?

            Vamos por partes: ela está irresistível como Mona Lisa Vito, que funciona como alívio cômico em uma comédia tensa de certa forma e é uma mistura de esposa dedicada e mulher tentando se provar que não é apenas corpo.

            Marisa é quem se destaca no filme e como a trama nem é tão focada nela, isso é um mérito da atriz, mas este não foi um papel que exigisse tanto dela para vencer uma premiação deste tamanho.

            Infelizmente as comédias são desvalorizadas na Academia e o fato de ela ser um papel de comédia deve ter sido o critério dos votantes para premiá-la, mas ter deixado de reconhecer o esforço de Joan em ‘Um Sonho de Primavera’ foi um ultraje – e porque raios não indicaram Miranda Richardson pela vilã em ‘Traídos pelo Desejo’, mas a indicaram por seu papel pequeno em ‘Perdas e Danos’?

            Mas o filme não se resume apenas à Marisa. Muito pelo contrário, ‘Meu Primo Vinny’ é uma boa comédia, inteligente, com um roteiro até “fora da caixa”, embora não escape dos clichês.

            Na história, dois adolescentes de Nova York estão viajando pelo Alabama e passam por uma loja de conveniência, mas são acusados injustamente por um crime que não cometeram no local. Para a defesa, é chamado o primo de um deles (o tal “Vinny” do título).

            O problema é que Vinny nunca trabalhou como advogado, teve que fazer o Exame da Ordem por 6 vezes e só está formado a pouco mais de 1 mês. Sem contar que ele é atrapalhado: conhece pouco das leis, jamais pisou em um tribunal e precisa se provar como profissional.

            Não precisa ser muito esperto para perceber como esse filme pode terminar, ele segue muito a chamada “jornada do herói”, mas o que vale é o caminho percorrido na história para o desfecho bacana, na qual Marisa tem um grande destaque: o filme faz com que o espectador torça pela superação do protagonista porque ele se porta como pessoa simples e esforçada. Ele começa a estudar, a recolher provas e apagar a imagem de piada que ele tem no início do filme.

            Sem contar que a escolha para Joe Pesci foi certeira, pois o grande público já o conhecia por seu papel de um dos criminosos atrapalhados em ‘Esqueceram de Mim’ e ele estava fresquinho pelo Oscar por ‘Os Bons Companheiros’. E quem não reparou que um dos adolescentes presos injustamente é ninguém menos do que Ralph Macchio, o Daniel San de Karatê Kid?

            Muita gente reclama que o roteiro de ‘Meu Primo Vinny’ é didático demais para explicar a advocacia, mas discordo: tudo acontece aos olhos do personagem de Joe Pesci e ele, na verdade, somos todos nós, que estamos aprendendo com ele tudo o que fazer – e o que não fazer na carreira de Direito.

            Mas um pequeno furo é que não ficou claro o porquê de os adolescentes serem presos injustamente, se foi alguma conspiração ou erro policial – e isso era fundamental para a platéia criar empatia pela dupla e torcer pela liberdade deles, sendo que torcemos mais pelo sucesso da carreira de Vinny.

            Se dependesse apenas de Joe Pesci e Marisa Tomei, o filme com certeza levaria uma nota acima de 9, mas teve esses pequenos espaços no roteiro – e a falta de envolvimento emocional com a dupla adolescente.

            Mas se a intenção for apenas sentar e se divertir no sofá, ‘Meu Primo Vinny’ acaba sendo uma escolha perfeita e agora que chegou no serviço da Netflix, pode ser descoberto por uma nova geração – ou por um público que nem sabia que o filme existia. E também por quem viu de relance que ele foi um vencedor de Oscar.

Nota: 8,0

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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Aliança do Crime


Aliança do Crime (Black Mass)

Direção: Scott Cooper

2015

Com: Johnny Deep, Joel Edgerton, Benedict Cumberbatch, Kevin Bacon, Dakota Johnson, Corey Stoll, Jesse Plemons, Peter Sarsgaard.

Policial

16 Anos

O retorno triunfal de Johnny Deep?

            Johnny Deep é dos melhores atores da Hollywood atual, porém, seus últimos filmes foram verdadeiras bombas e grandes fracassos, são eles: O Turista, Sombras da Noite, O Cavaleiro Solitário, Transcendence – A Revolução e Mortdecai e parecia que nunca mais veríamos aquele Deep de Edward – Mãos de Tesoura e Ed Wood que aprendemos a gostar. Mas, quando foi anunciado que ele faria o papel de um criminoso, tanto o público quanto a crítica ficaram de olho para um possível grande papel dele – e talvez o retorno às premiações, como Oscar e Globo de Ouro.

            Mas, afinal, ‘Aliança do Crime’ é o grande retorno de Johnny Deep? A resposta é: sim e não. Ele está excelente no papel do criminoso Whitey Bulger, um papel contido e que não lembra em nada seu exagerado Jack Sparrow, mas, por outro lado, ‘Aliança do Crime’ é um filme com muitos problemas, embora tenha muitas qualidades, infelizmente não é o tipo de filme que possa dar algum destaque a ele. Na verdade, a condução fria da história faz que nem mesmo a opinião pública se interesse pelo longa.

            ‘Aliança do Crime’ conta a história real de Whitey Bulger, um criminoso que, após passar 10 anos preso, resolve trabalhar para o FBI para derrubar uma família de mafiosos, mas que depois começa a ser investigado pela própria instituição.

            Embora o destaque seja muito de Deep, o filme também conta com a presença de Joel Edgerton, que vive o agente do FBI, John Connelly, que é amigo de Bulger desde a infância e trabalha para acobertar os crimes de Whitey. Joel é tão ou mais importante do que Deep na história e é o personagem mais dúbio da trama: enquanto a plateia espera um próximo crime de Bulger, ninguém sabe das intenções de Connelly, se ele vai agir como um homem da lei ou como amigo de Bulger.

            Os demais atores têm pouco a oferecer. Benedict Cumberbatch faz um senador que, curiosamente, é irmão de Whitey e, dentro das limitações, tem um certo destaque na trama, mas isso é raso e às vezes esquecido com o passar do filme.

            E alguns personagens, que poderiam dar um peso maior para a trama, praticamente inexistem: Corey Stoll (o Jaqueta Amarela de ‘Homem-Formiga’) poderia ser o antagonista e rival de Bulger na função gato-e-rato, mas ele aparece tarde demais no filme e seu papel é curto. Kevin Bacon faz um agente do FBI que persegue Whitey e também tem algumas pontas – e mal aproveitadas.

            O filme dá pouca importância às personagens femininas, o que é um grande erro, já que o Whitey da vida real era muito devoto à sua mãe e mesmo sua esposa era tratada com um certo respeito. Há apenas uma sequência, em que ele está jogando baralho com sua mãe, que também passa rápido demais.

            Sua esposa é vivida pela Dakota Johnson (que foi Anastasia Steele de ‘Cinquenta Tons de Cinza’) que tem um papel contido e só tem importância na trama em uma cena que tem no trailer, que é a conversa é entre Bulger e seu filho quando os dois estão na mesa de jantar, na qual o filho relata da briga que teve na escola.

            Essa é uma das melhores cenas do filme e que assusta, não necessariamente com as mortes e violência, mas com o olhar e com a frieza e foi um mérito tão grande de Johnny Deep isso, de a pesada maquiagem sumir com as expressões do personagem, que ficamos pensando se seus recentes fracassos foram por culpa dele próprio, do seu agente, de direção ou dos estúdios, que o obrigavam a fazer sempre o esquisito excêntrico.

            São dois momentos importantes do filme que são daqueles únicos e que arrisco dizer que este filme mediano só será lembrado por esses dois momentos: essa já citada conversa com seu filho, na qual Bulger diz a seu filho que o erro não foi ele ter batido no colega, mas em ter batido e todo mundo ter visto. E Whitey ainda diz: “se ninguém viu, é porque não aconteceu”.

            E há outro momento, já na segunda metade da história, quando Bulger, Connelly e outro parceiro estão jantando à mesa e Whitey pede uma receita, que é secreta de família. Bulger não gosta que seu colega revelou uma receita de família e diz que, se ele entrega um segredo desses, pode entregar coisas maiores.

            Mas Bulger só fez uma brincadeira e a cena foi claramente inspirada em um famoso momento de ‘Os Bons Companheiros’, de Scorsese, protagonizada por Joe Pesci e o que fica marcada aqui é o olhar frio e calculista de Whitey.

            A reconstrução de época de ‘Aliança do Crime’ é sublime. O filme passa por três momentos: 1975, 1981 e 1985, e todos os detalhes foram feitos com muitos cuidado e nenhum objeto passou despercebido. Se tiver indicação ao Oscar para Design de Produção, será merecido.

            ‘Aliança do Crime’ tinha potencial para ser um grande filme, mas esbarra na condução contida de Scott Cooper (que também dirigiu ‘Coração Louco’, com Jeff Bridges) e na mão de um grande diretor, se fosse dirigido por Martin Scorsese nos tempos de Robert de Niro, seria um clássico. E poderia marcar a volta triunfal dos filmes de máfia para a nova geração.
Nota: 7,0

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domingo, 8 de novembro de 2015

007 Contra Spectre


007 Contra Spectre (Spectre)

Direção: Sam Mendes

2015

Com: Daniel Craig, Léa Seydoux, Ben Whishaw, Ralph Fiennes, Christoph Waltz, Dave Bautista, Naomie Harris, Andrew Scott, Monica Bellucci.

Ação

14 Anos

De volta às raízes, mas sem perder o que foi construído

            Em 2002, era lançado o 20º filme da franquia do James Bond, ‘Um Novo Dia Para Morrer’. Na ocasião, era a comemoração dos 40 anos da franquia e embora o filme tenha sido bem-sucedido comercialmente, a crítica o detonou, parecia que um ciclo se fechava e tudo indicava que a franquia terminaria ali. E ainda nesse tempo apareceu uma nova franquia de ação que mudaria para sempre a forma de como ver um filme de espionagem: a trilogia Bourne, que foi tão inventiva que praticamente obrigou uma franquia já consagrada do 007 a se reinventar aos novos tempos e os produtores resolveram que sim, a franquia do agente da rainha continuaria.

            Quando Daniel Craig foi escolhido como o novo 007, muita gente criticou e não o achavam com o charme para o papel. Felizmente as redes sociais não eram tão fortes como são hoje, senão ele seria bombardeado, assim como Gal Gadot foi criticada como Mulher Maravilha, por exemplo.

            Neste cenário, em 2006 chegaria aos cinemas 007 – Cassino Royale, que foi uma espécie de reboot da franquia e colocou um James Bond mais realista, humano e sim, o filme bebe muito da fonte de Jason Bourne.

            Cassino Royale foi um grande sucesso de público e crítica e abriu espaço para mais 2 filmes: 007 – Quantum of Solace em 2008, que não foi tão bem sucedido, embora seja um bom filme, mas o melhor da franquia viria em 2012: 007 – Operação Skyfall foi aclamado, foi a maior bilheteria da franquia até então e marcou a comemoração dos 50 anos de 007.

            E agora em 2015 a franquia retorna com seu 24º filme, novamente sob a direção de Sam Mendes (que dirigiu Skyfall) e também com Daniel Craig como o agente secreto: 007 Contra Spectre.

            Possivelmente, este será o último filme de Daniel no papel do agente secreto, já que ele declarou que “prefere cortar os pulsos a viver o herói novamente”.

            E isso, infelizmente, é visível quando vemos 007 Contra Spectre: Daniel claramente esteve sem vontade de fazer o papel e ainda bem que o filme se sobressai nas cenas de ação, na direção de Sam Mendes (que também já declarou que não volta à franquia) e no grande elenco. Todos os atores estão muito bem, obrigado conseguem ofuscar o protagonista, cada um à sua maneira: Léa Seydoux faz uma Bond Girl muito interessante e que não se contenta em ser a mocinha em perigo: muitas vezes ela ajuda o nosso agente e sua primeira aparição é muito boa. Embora ela perca para Eva Green como Vesper Lynd, ela está na galeria das melhores Bond Girls da história. Ao menos ela ganha de Halle Berry de ‘Um Novo Dia Para Morrer’, que mais prometeu do que cumpriu.

Christoph Waltz vive o vilão Oberhauser e embora ele seja um grande ator, já vencedor de 2 Oscar, ele não consegue ser melhor do que Javier Bardem em Skyfall nem do que Le Chiffre em Cassino Royale, seja por pouco tempo de tela ou pela pouca carga dramática – e seu papel exigia isso.

            Ralph Fiennes é o novo M, após a atriz Judi Dench ficar no papel por 7 filmes, ele assume o comando do MI6, que é tão bom quanto Judi e que venham mais 7 filmes para Ralph. Dave Bautista é o capanga de Oberhauser e ele não só é uma ameaça ao James Bond como ele protagoniza duas das melhores cenas do filme: uma perseguição de carro pelas ruas de Roma e uma luta no trem. Para quem não sabe, ele é o Drax em ‘Guardiões da Galáxia’ e parece que Hollywood o descobriu como um novo “brucutu” simpático, coisa que Schwarzenegger e Stallone um dia foram.

            Dois outros grandes destaques são o Q, vivido por Ben Whishaw, repetindo seu papel de nerd de Skyfall, mas, desta vez, com muito mais espaço em cena. Ele consegue ser um alívio cômico que funciona, sem cair no “nerd esquisito” e sem quebrar o ritmo da história.

            Outro ator que se destaca é Andrew Scott que também faz uma espécie de vilão, o arrogante C, que quer acabar com os serviços do MI6 e aprova um projeto para que os agentes sejam substituídos por drones e robôs.

            É difícil dizer sobre Monica Bellucci, já que ela tem pouco tempo de tela – embora seja uma aparição importante para a trama.

            Como em todo e qualquer filme da franquia, tudo começa com uma cena de ação para depois subirem os créditos iniciais e começar a história principal. E os primeiros 15 minutos de 007 Contra Spectre são espetaculares: tudo se passa na Cidade do México, em um desfile do chamado “dia dos mortos”, na qual James Bond está à procura dos responsáveis da morte de M no filme anterior. Há um plano-sequência magnífico com uma câmera acompanhando o herói e uma dama subindo todo um prédio de elevador e terminando em um quarto de hotel.

            Parece que é fácil, mas é dificílimo fazer isso: o diretor tem que pensar em todos os detalhes, em todos os figurantes e no tempo de tudo, já que não há cortes e a cena deve acontecer de uma única vez.

            Ainda bem que 007 Contra Spectre estava em boas mãos com um grande diretor como Sam Mendes, vencedor de Oscar por Beleza Americana e que também fez o ótimo ‘Estrada para Perdição’.

            Após isso, há uma cena de ação grandiosa com um helicóptero dando voltas no ar aos olhos de uma multidão assustada e terminando na morte do vilão.

            Quando o filme “começa” de fato, James Bond precisa destruir uma organização chamada Spectre (muito conhecida pelos fãs da franquia), liderada por Oberhauser.

Paralelamente a isso, M não gostou de James ter agido por conta própria na Cidade do México e com a ameaça de C, começa a questionar da importância dos agentes 00 e teme por Bond fazer algo sem sua permissão.

            É basicamente a mesma questão de Skyfall, na qual o filme questiona o tempo todo se os agentes de campo estão ficando obsoletos ou não.

            Mas, se a temática é idêntica, qual a necessidade de se fazer este filme? Primeiro, lá em Skyfall a discussão é sobre o MI6 em si e sobre a obediência do agente, ao passo que aqui a discussão é sobre tecnologia e como a máquina pode substituir o homem – ou não. Segundo que a franquia do 007 estava seguindo uma sequência e desde Cassino Royale, cada filme é a continuação do outro e essa “quadrilogia” estava abordando o lado mais dramático e psicológico do herói. Em Skyfall, por exemplo, não há uma Bond Girl, cena de sexo (como há em todos os filmes) e nem mesmo a famosa abertura com a música clássica e o tiro na tela.

            Já aqui, embora tenha uma carga dramática alta, o filme retoma aos filmes clássicos, na qual o herói era o galanteador, combatia vilões megalomaníacos e sempre bebia antes de salvar o mundo. E há sim, cenas de cama, uma com Monica Bellucci e outra com Léa Seydoux (e a química dos dois é muito boa).

            Mas isso pode não ser um retrocesso como se imagina. Esses 4 filmes mais intimistas foram importantíssimos para a franquia ganhar fôlego e o público voltar a se interessar pelo agente secreto, mas 007 Contra Spectre deixou claro que este é um ciclo se se encerra e a franquia está longe de acabar: podem escolher um novo ator para viver o James Bond e a história ter um novo recomeço, desta vez com o 007 que aprendemos a ver e apreciar. E sem medo do politicamente correto.

Nota: 9,0

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