quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Clube de Compras Dallas

Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club)


Direção: Jean-Marc Vallée

Ano de produção: 2013

Com: Matthew McConaughey, Jennifer Garner, Jared Leto, Denis O´Hare, Steve Zahn.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 18 Anos



“Clube de Compras Dallas” merece ser visto como exercício e história.

            Na corrida pelo Oscar 2014, há uma semelhança interessante entre a maioria dos indicados, que é a questão da didática e entender um pouco mais de história e compreender o presente.

            Só para citar alguns, temos o favorito “Trapaça”. Embora não seja um grande filme, é interessante observar a história dos farsantes que trabalharam para o FBI no final dos anos 1970. E temos também “O Lobo de Wall Street”, este sim, um grande filme, que fala do submundo do mercado financeiro. Embora a história se passe no final da década de 1980, esse ambiente de dinheiro está atual.

            E agora temos uma história um pouco mais corajosa, na verdade, mais real impossível, que é o início da epidemia da AIDS, nos anos 80. Juntando esse pano de fundo com uma história verídica e com um ótimo elenco, temos um grande filme que é “Clube de Compras Dallas”.

            “Clube de Compras Dallas” é baseado em uma história real (o filme está indicado para Melhor Roteiro Original) de Ron Woodroof (Matthew McConaughey – sublime no papel) que trabalha com rodeio, mas, na maior parte do tempo vive sem perspectiva, se droga e transa com prostitutas. Após um incidente, ele vai parar em um hospital e após a internação os médicos dão a notícia: o teste de HIV de Ron deu positivo, ele tem o vírus da AIDS e ele só tem 30 dias de vida. Na verdade, segundo seus médicos - Dr. Sevard (Denis O´Hare - o Russell da série “True Blood”) e Dra. Eve (Jennifer Garner – esposa de Ben Affleck na vida real), Ron tem sorte por estar vivo. Como na época não existia medicação, Ron decide se medicar por conta própria, mas, os únicos remédios que existem para a doença são ilegais. Ron toma a decisão do comércio ilegal de um desses remédios, o AZT. A “matriz” desse negócio é chamada de “Clube de Compras Dallas”.

            O AZT destrói todas as células do corpo, doentes ou não, e por isso, a FDA (órgão do governo americano que libera a venda de novos medicamentos) não libera a venda do remédio.

            O bacana aqui é compreender a sociedade da época. A AIDS era só vista como doença associada em homossexualismo, então dá para imaginar o preconceito que havia. O próprio ato de ser homossexual era visto como doença. Aqui, a figura do preconceito é retratada na figura de Rayon, um transexual que é sócio de Ron no negócio do AZT, vivido por Jared Leto, super favorito ao Oscar de Ator Coadjuvante – e, se vier, o prêmio estará em boas mãos.

            O filme também mostra, de forma indireta, os bastidores da indústria farmacêutica, principalmente os jogos de interesse e a preocupação única em faturar. Ron decide enfrentar o sistema e leva consigo inclusive a Dra. Eve, que ele até nutre certa paixão.

            O ponto alto são, claro, as atuações. Além de Jared Leto (de “Réquiem para um Sonho”) brilhar na pele de um transexual, também Matthew McConaughey entrega seu melhor papel da carreira. Ele emagreceu bastante para viver seu Ron, conviveu com soropositivos na vida real para dar um realismo maior em seu personagem. Vale lembrar que a Academia adora papéis de transformação, fazendo com que Matthew McConaughey seja, portanto, o favorito a levar o prêmio de Melhor Ator.

            O diretor Jean-Marc Vallée demonstra, mais uma vez, que sabe muito bem trabalhar com atores e sabe muito bem lidar com a história do mundo, fazendo a platéia entender o que passou e associar com o presente. Ele fez isso muito bem em seu filme anterior, “A Jovem Rainha Vitória”, que arrancou a melhor performance da carreira de Emily Blunt. Aqui ele consegue o melhor de seu elenco. Até Jennifer Garner, que fez muito mal a sua “Electra”, está bem aqui.

            O que um bom diretor não faz para o cinema, seja ele conhecido ou não.



Nota: 9,0


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domingo, 26 de janeiro de 2014

Trapaça

Trapaça (American Hustle)


Direção: David O. Russell

Ano de produção: 2013

Com: Amy Adams, Bradley Cooper, Christian Bale, Jeremy Renner, Jennifer Lawrence, 
Michael Pena, Robert de Niro.

Gênero: Comédia Dramática

Classificação Etária: 14 Anos



Somente as premiações e seu ótimo elenco explicam o sucesso de “Trapaça”.

            Sempre quando saem os indicados ao Oscar, há um núcleo de 4 ou 5 filmes que despontam como favoritos, são aqueles que estão nas premiações, são elogiados e se tratando de uma premiação como o Oscar, estarão lá de qualquer jeito. No Oscar de 2014, “Gravidade”, “12 anos de escravidão” e “O lobo de Wall Street”, que também estão indicados ao prêmio de Melhor Direção, estiveram em todas as premiações e estão sempre apontados nas listas dos melhores do ano. Bem, eu disse uns 4 ou 5 filmes e só citei 3. Faltou um? Pois é justamente esse que tem tudo o que a Academia gosta, é o líder de indicações e arrisco dizer: é o favorito a levar o prêmio de Melhor Filme. E este filme é “Trapaça”, novo filme do diretor David O. Russell, que ano passado nos entregou o encantador “O Lado Bom da Vida”, filme que deu o Oscar de Melhor Atriz para a Jennifer Lawrence no ano passado.

            David é um diretor muito sortudo em Hollywood. É a mesma sorte que Christopher Nolan tem: ter muitos atores amigos, conseguir chamar muita gente para seu elenco, até com redução de salário em alguns casos e ainda exigir de seus atores a melhor performance possível. Basta ver seus trabalhos anteriores, além de “O Lado Bom da Vida”, teve também “O Vencedor”, em 2010. É a prova que David é o novo queridinho da Academia.

            Com tudo isso, David recebeu sinal verde para realizar “Trapaça” da forma que ele queria. É glorioso quando vemos a indústria de Hollywood, tão dependente de produtores, ainda dá espaço para o cinema autoral.

            No caso de Trapaça, porém, é que ele ficou tão famoso e com tanta gente legal no elenco, fica a impressão de “fogueira de vaidades”, assim como “Onze homens e um segredo”, com atores demais, pretensões demais e conteúdo de menos.

            Trapaça é baseado em uma história real que se passa no final dos anos 1970, onde dois trambiqueiros, Irving (Christian Bale) e Sidney (Amy Adams, com um decote mais ousado a cada cena), que ganham dinheiro às custas de golpes que praticam em suas vítimas. Um agente do FBI, Richie (Bradley Cooper) descobre a farsa e prende a dupla. Ao invés de deixar a dupla apodrecer na cadeia, Richie e o FBI fazem uma proposta ousada de conciliação: Irving e Sidney ajudariam o FBI a capturar outros corruptos poderosos, como o prefeito de Nova Jersey, Carmine (Jeremy Renner) e o mafioso Victor Tellegio (Robert de Niro).

            A personagem de Sidney é, de longe, a mais esperta da história: sempre à frente de todos e usa seu corpo (fundamentalmente seus decotes) para conseguir o que se quer. David usou e abusou da sensualidade de Amy Adams para criar um clima que mais se aproxima de um Noir ao estilo de “Los Angeles – Cidade Proibida”. Mas, o que poderia ser uma ousadia épica, é um resultado de cenas de sexo sem nexo, de gosto um pouco duvidoso e piadas, em sua maioria, sem graça. O mais legal é enxergar a história por trás da história: embora David O. Russell tenha se inspirado em uma história real, muita coisa aqui é inventada. Até o personagem da Jennifer Lawrence é criação de David. Aqui, ela faz a esposa traída e falastrona de Irving, Rosalyn. Ela, infelizmente, aparece pouco na história e está indicada ao Oscar de Atriz Coadjuvante. O talento dela aqui está desperdiçado com diálogos sem sentido, um papel que não lhe combinou e, lamento dizer que, se ela levar o Oscar, será marmelada. Somente a cena da dança é impagável e cômica. Até o beijo em Amy Adams, que prometia ser ousado, ficou a desejar.

            O trio masculino - Christian Bale, Jeremy Renner e Bradley Cooper - está bem, embora nenhum se sobressaia.

Mas e a Amy Adams indicada e favorita a Melhor Atriz? Ela não está mal por aqui. Há um misto de sensualidade e esperteza. Mas calma lá: Amy Adams é uma atriz excelente e esse não pode ser considerado um papel tão definitivo em sua carreira para se consagrar como Melhor Atriz do ano. Na verdade, o papel nem exigiu tanto assim dela. A graça de sua Sidney está na história e no elenco como um todo, e não exatamente em sua personagem.

De tão correto, pelo menos o final é memorável e surpreendente, o que não melhora a qualidade do material, mas trouxe algo diferente. A reviravolta que dá no final é empolgante e vibrante.

Ao final de “Trapaça”, fica a pergunta: um final bacana, um decote da protagonista, uma estrela sem brilhar e um visual cafona são suficientes para ganhar um prêmio de Melhor Filme do Ano?


Nota: 7,0


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O Lobo de Wall Street

O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street)


Direção: Martin Scorsese

Ano de produção: 2013

Com: Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie, Kyle Chandler, Rob Reiner, Jon Favreau, Jean Dujardin, Matthew McConaughey.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 18 Anos



Scorsese mostra seu vigor de décadas sem perder seus costumes.

            O cineasta Martin Scorsese sabe como poucos, fazer cinema e fundamentalmente, trabalhar com atores. Ele já se infiltrou em muitos gêneros: em filmes históricos (A Época da Inocência e Gangues de Nova York), suspense psicológico (Ilha do Medo) e até na história do cinema, com “A Invenção de Hugo Cabret”, seu filme anterior. E mesmo sendo ele assim tão versátil e tentando experimentar de tudo, não tem jeito: seu maior talento é sim, para filmes de máfia, filmes envolvendo drogas, dinheiro e com uma temática mais adulta. Mesmo “Hugo Cabret” tendo uma temática mais infantil e sendo um exercício delicioso de se assistir, seu olho é mesmo para o mundo adulto. Não é à toa, que “Taxi Driver”, “Touro Indomável” e “Os Bons Companheiros” são considerados filmes únicos na história do cinema. Pensando nisso, porque não voltar ao seu gênero preferido e colocá-lo aos novos tempos? E ainda com o seu grande companheiro, Leonardo DiCaprio? A ainda adaptar uma história tão impressionante que só poderia ser real? Foi daí que nasceu a ideia de criar “O Lobo de Wall Street”.

            E o que torna esse filme tão especial? É o simples fato de a temática e o contexto serem muito parecidos com dois de seus filmes de máfia, que foram “Os Bons Companheiros” e “Os Infiltrados”, filme que lhe rendeu seu Oscar de Filme e Direção, como a narração em primeira pessoa e a falta de caráter do protagonista se misturar com a moral ou a falta dela, ou seja, o sujeito não é exatamente honesto mas é impossível não torcer por ele.
            Scorsese também não se submeteu às pressões do estúdio: os produtores queriam que o diretor deixasse seu filme com menos sexo, palavrões e drogas para deixar o filme mais, digamos, viável para a garotada. Mas, não teve jeito, Scorsese entregou um filme praticamente sem pudor, com consumo de drogas, palavrões, nudez e sexo à vontade. O que ajudou a enriquecer o filme artisticamente é verdade, mas ele foi classificado de 18 Anos e, assistindo ao filme, não há nenhum sinal de “adolescência no cinema”.

            “O Lobo de Wall Street” é baseado em um livro do mesmo nome e também é baseado na história real de Jordan Belford, um corretor de títulos financeiro de Wall Street, do final da década de 1980 e começo da década de 90, que começou de baixo, em um modestíssimo escritório, com parceiros de trabalho dos mais picaretas e atrapalhados possível, mas que se tornou uma gigante do mercado, a corretora Rotschild. No início o negócio era mais ou menos legal, mas, conforme foi aumentando, se tornou um negócio ilícito e milionário. A farsa acabou sendo descoberta, Jordan passou um tempo preso, mas trabalha nos dias de hoje em palestras motivacionais.

            Como não poderia deixar de ser, o filme gerou polêmica: além da pressão do estúdio em tirar muita coisa do filme, o filme está sendo acusado de diminuir as minorias (no início, Jordan arremessa um anão em um tiro ao alvo) e sofreu censura em países conservadores, como a Índia e no Líbano. Mesmo nos EUA o filme não escapou das polêmicas: alguns críticos e a opinião pública acusaram Scorsese de glamourizar demais o protagonista e os golpes de Jordan Belford. O filme também foi acusado de vangloriar o dinheiro e de colocar a população pobre lá em baixo.

Discordo de todas essas polêmicas. O filme é tal qual como descreveu Jordan em sua biografia, a diferença é que Scorsese não teve medo de ousar e de se expor. O glamour e a queda de Belford são tratados de forma imparcial e igual nos momentos em que a história exige.

O protagonista exibe e enaltece o dinheiro sim, mas, se estamos falando da história de um vigarista milionário. O Jordan da vida real adorava se mostrar para seus amigos e sua esposa e o filme é sobre sua história e Scorsese é um diretor corajoso, então, nada mais justo do que se apresentar os gastos e luxos do protagonista. Para nós, cidadãos comuns, dá uma pontada de raiva e indignação vendo esse luxo todo na tela, mas, um dia aprenderemos que, filme é filme e vida real é vida real.

Em um dos discursos para seus dedicados funcionários, ele falou que a vida deve ser vivida para se ganhar muito dinheiro, quem não quer, que vá trabalhar no McDonalds.

Polêmica é o nome de “O Lobo de Wall Street”. Logo na cena de abertura, Jordan está cheirando cocaína na bunda de sua namorada. Há também, conversas e atos de masturbação (Max, chefe de Jordan, pergunta ao mesmo quantas vezes ele masturba na semana), também a cena muito engraçada, aliás, de Donnie se masturbando em uma festa na frente do público ao ver Naomi pela primeira vez. Nas cenas de nudez, não há lençolzinho tampando nada nem nada estilizado. A nudez é escancarada e sem pudor nenhum, desde as prostitutas que os funcionários, e o próprio Jordan pega, e até a própria Naomi. Um bacanal gay foi cortado dos cinemas indianos, mas aqui é transmitido sem cortes.

Há uma cena que considero desde já antológica: quando Jordan e Donnie tomam uma droga já vencida. A recomendação é apenas uma dose, mas os dois não se aguentam e tomam o frasco inteiro. Os efeitos demoram, mas aparecem. E como aparecem. A droga os derruba, literalmente, quase morrem, ficando em estado de inconsciência e overdose total. Nem de pé eles conseguem ficar. A entrega dos dois atores, Leonardo diCaprio e Jonah Hill na cena é inesquecível.

Por falar no elenco, o que dizer dos atores? Tem Leonardo diCaprio (que também produz) e, sem pretensões, digo que essa é A MELHOR atuação dele em sua carreira. Depois de estourar em “Titanic”, ele se tornou um ator muito mais interessante e mais seletivo em seus papéis, principalmente em todas as parcerias com Scorsese, como foi em “Gangues de Nova York”, “O Aviador”, “Os Infiltrados” e “Ilha do Medo”. Mas aqui em “O Lobo de Wall Street”, ele entrega seu melhor papel. Ele está indicado ao Oscar de Melhor Ator e, se o prêmio vier, estará em boas mãos.

Mas não só de diCaprio vive “O Lobo de Wall Street”. Jonah Hill, que está indicado a Melhor Ator Coadjuvante, também está ótimo como Donnie, amigo e sócio de Jordan, que vendia artigos infantis e se tornou um também corretor de sucesso. Jonah, aliás, se tornou um ator bem mais sério e bem mais interessante do que o adolescente de “Super Bad – É Hoje”. Seu papel arrancou elogios da crítica e do próprio Scorsese. Quem faz o pai de Jordan é o ex-diretor e agora ator, Rob Reiner (que dirigiu “Harry & Sally – Feitos um para o outro”), que é quase um mentor e conselheiro para seu filho. E o que dizer da modelo Margot Robbie? Aqui, ela faz a esposa do protagonista, Naomi. Mesmo ela se dividindo entre sequências mais ousadas e de uma carga dramática que um filme desses exigia, não dá para dizer se ela é ou não boa atriz, afinal, Scorsese exige bastante de seus atores, mas poucos diretores exigem tanto.

Foi uma experiência gloriosa ter visto “O Lobo de Wall Street” nos cinemas e esse belo e sagaz retrato de Scorsese sobre o mercado financeiro. É um Scorsese “da gema” e também revigorado como há muito tempo não se via.



Nota: 10,0


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domingo, 19 de janeiro de 2014

Frozen - Uma Aventura Congelante

Frozen – Uma Aventura Congelante (Frozen)


Direção: Chris Buck & Jennifer Lee

Ano de produção: 2013

Vozes de: Kristen Bell, Idina Menzel.

Gênero: Animação

Classificação Etária: LIVRE


“Frozen” demonstra que nem só de Pixar vive a Disney.

            Na última década, parecia que a Disney dependia da Pixar para realizar grandes animações. Alguns títulos clássicos e já históricos como “Ratatouille” e “Wall-E” configuraram esse estúdio poderoso de Hollywood, mas faltava um filme puramente da Disney. E vimos também a ascensão e consolidação de outros grandes estúdios como a Fox Animation, com sua “A Era do Gelo” e principalmente a DreamWorks SKG, de Steven Spielberg, que não só se consolidou no mercado cinematográfico, como às vezes apresenta resultado até melhores do que a Disney, tanto de qualidade quanto em bilheterias, basta ver que eles são os criadores de franquias como “Shrek”, “Madagascar” e “Kung Fu Panda”.

            Mas, tudo mudou em 2010, quando a Disney produziu o delicioso “Enrolados”, que contou a história de Rapunzel de um ponto de vista diferente e adaptada aos novos tempos. O filme foi um sucesso de público e crítica e foi a melhor animação puramente da Disney em anos.

            Em 2012, a Disney deu um passo à frente e produziu das melhores animações de sua história com “Detona Ralph”. E não é só dos melhores, como é, de longe, a adaptação mais honesta que o cinema já fez do universo dos videogames. Detona Ralph recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Filme de Animação, mas perdeu, injustamente, para “Valente”, da Pixar.

            E agora, a Disney, deu uma nova evolução à sua carreira: de se adaptar aos novos tempos sem perder sua tradição e com um belo trabalho de pesquisa e roteiro. Daí nasceu sua nova animação: “Frozen – Uma Aventura Congelante”.

            Sem falar besteira nenhuma e sem grandes pretensões, digo que “Frozen” é a melhor animação da Disney desde “O Rei Leão”, em 1994.

            Não tem jeito, por mais que as coisas evoluam e muitas modas vêm e vão, para a Disney, são as princesas que garantem seu sucesso absoluto. Desde “Branca de Neve”, em 1937, passando pela “Bela Adormecida” e “A Pequena Sereia”, a Disney sempre resgata suas princesas até para mostrar para essa geração que a magia ainda está viva e que o público infantil deve sim, ter o hábito de sonhar.

            Para ver que a Disney não abandona suas princesas e que elas sempre voltam, basta ver que o próprio “Enrolados” é um resgate de uma de suas principais princesas, que é a Rapunzel. Até entre os filmes de carne e osso isso é visível, basta ver exemplos como “Diário da Princesa”, que é uma graça e foi o filme que lançou a Anne Hathaway para o estrelato e se tornou a grande atriz que é hoje. E também temos o gracioso “Encantada”, com a irresistível Amy Adams como princesa. E o que dizer da “Tinker Bell”, uma evolução da Sininho que não se para de lançar filmes, desenhos e brinquedos dela?

            E olhando para tudo isso, a Disney viu que precisava realizar um produto diferente e estava carente de boas ideias. Daí que, em 2008, Jennifer Lee leu o conto “A Rainha do Gelo” e levou para o estúdio a ideia de realizar “Frozen”. Foram 5 anos de trabalho intenso, desde a ideia, concepção, roteiro e pesquisa até entregar o melhor material possível para o público.

            Os produtores passaram meses na Noruega, exatamente para estudar a neve e como ficar o mais real possível e dentro do que caberia na tecnologia atual. E o resultado é lindo! Além dos belíssimos efeitos e detalhes da neve, ainda é possível enxergar esses detalhes com o uso da tecnologia 3D: desde a neve derretendo até os flocos indo em direção à plateia com a profundidade e cenários ao fundo. O resultado é de encher os olhos.

            Não só os detalhes de neve estão ótimos, mas também os detalhes mais, digamos, humanos. Os trejeitos dos personagens, em especial às princesas, é algo que praticamente só se vê em filmes de captura de movimento. As expressões e emoções das princesas, embalada por uma trilha sonora espetacular (trilha indicada ao Oscar) também participam e são um atrativo maior da história.

            Na sinopse, temos duas irmãs, Elza e Anna (vozes de Idina Menzel e Kristen Bell, respectivamente) que vivem em um castelo e são duas princesas. As duas são muito unidas, até que Elza descobre que tem o poder de transformar em tudo que toca em gelo. Seus pais decidem, então, isolá-la do resto do mundo, inclusive de sua irmã. Quando as duas crescem, praticamente como filhas únicas, seus pais morrem e o trono de rainha fica com a irmã mais velha, no caso, a própria Elza. Um acontecimento (que não vou contra aqui) faz com que Elza fuja do reino, fazendo sua irmã partir em sua busca, presenciando situações e personagens bizarros.

            Não é exagero dizer que “Frozen” é um filme perfeito. Não só como filme de animação. Mas como filme mesmo. Com certeza, está entre os melhores de 2013. Além da parte técnica, o filme é qualidade em roteiro, emoções, alívios cômicos e do jeito Disney atiçar a plateia. Há muitas músicas, como manda o protocolo, mas, analisando o contexto e até as letras, fizeram todo o sentido. Os alívios cômicos estão hilariantes, principalmente na pele do boneco de neve Olaf (aqui na versão dublada, é interpretado pelo Fábio Porchat) – ele é, com certeza, dono das melhores piadas do filme.

            Por se tratar de um filme de princesas, há romance, claro, mas não da forma que estamos acostumados: a mocinha, Anna (sim, ela é a protagonista, não Elza), não é exatamente pura, ela é sim, doce, mas é o mais parecido com pessoas como nós. Ela não é apontada como perfeita, mas é uma princesa mais, digamos, popular.

            O roteiro de Jennifer Lee (que também escreveu “Detona Ralph”) é absolutamente bem feito, sem esquecer as tradições e deixando claro que o público que está indo ao cinema hoje é diferente do de há 30 anos.

            Há alguns dias que estreou “Frozen”, ainda pode ser cedo, mas não é exagero nenhum dizer que essa animação é uma pequena obra-prima e também já clássica.


Nota: 10,0


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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Um Crime Perfeito

Um Crime Perfeito (A Perfect Murder)


Direção: Andrew Davis

Ano de produção: 1998

Com: Michael Douglas, Gwyneth Paltrow, Viggo Mortensen.

Gênero: Suspense

Classificação Etária: 14 Anos



“Um Crime Perfeito” é tão bom que parece idéia nova.

            Há filmes tão intocáveis na história que parece que se alguém mexer na obra, adaptá-la e filmá-la soa como heresia. Principalmente se essa obra for tão poderosa ou de alguém influente na indústria cinematográfica. E ainda se esse nome poderoso foi ninguém menos do que Alfred Hitchcock. Com mais de 30 anos de sua morte, algumas de suas obras influenciam os cineastas e a cultura pop até hoje. A principal influência é, claro, “Psicose”, esse grande clássico do suspense, muito imitado, mas jamais superado. Principalmente a famosa cena do assassinato no chuveiro. Não só a cena em si, mas a idéia de matar a mocinha na metade do filme e abrir espaço para mais outra metade da história é algo inovador até os dias de hoje.

            Toda essa influência de Psicose foi base para Gus Van Sant ter a “brilhante” idéia de refilmar o clássico de Hitchcock em 1998 e fazer quase que uma Xerox do filme: é quadro a quadro, cena a cena de Psicose que Sant fez para homenagear seu mestre. Sant estava no auge da carreira com o sucesso de público e crítica de “Gênio Indomável” e não tinha como dar errada a refilmagem de Psicose ainda com um elenco com Julianne Moore e William H. Macy. Só que não! O resultado foi um mico e um fracasso de público e crítica. Muito ruim, sem clima e o filme ainda ganhou o troféu “Framboesa de Ouro”.

            No mesmo ano, em 1998, meses depois, ainda sob o trauma do filme de Gus Van Sant, é lançada nos cinemas mundiais, outra refilmagem de um filme de Hitchcock. Desta vez, o alvo era o clássico “Disque M Para Matar”, de 1954 e com Grace Kelly no papel principal. Daí nasceu “Um Crime Perfeito”.

            Na verdade, o diretor Andrew Davis (o mesmo de “O Fugitivo”) deixou claro que não se tratava de uma refilmagem, mas de uma adaptação do filme de Hitchcock e fazer um filme totalmente novo. E conseguiu. Mesmo com uma inevitável comparação dos dois filmes, “Um Crime Perfeito” é um suspense que se sustenta sozinho, sem depender do filme original ou ainda sem a necessidade de amarrar as referências para a platéia sempre se lembrar que está vendo um remake.

            E por grande ironia, diferente do filme de Sant, “Um Crime Perfeito” chega até a surpreender em alguns momentos e é apreciável também a quem não conhece “Disque M Para Matar”.

            Em “Um Crime Perfeito”, temos um executivo milionário, Steven (Michael Douglas, em seu melhor papel desde “Wall Street”) que descobre que sua esposa, Emily (Gwyneth Paltrow, no auge de sua carreira em 1998, com seu “Shakespeare Apaixonado”, que lhe rendeu o Oscar e com seu namoro com Brad Pitt) está o traindo com um pintor charmoso e pobretão David (Viggo Mortensen, em início de carreira, que depois viraria o Aragorn da trilogia “O Senhor dos Anéis”) e oferece uma oferta absurda a David: matar Emily em troca de 500 mil dólares.

            A história tem mais coisa, muita coisa. Tentei ao máximo dar uma enxugada no resumo principalmente para não estragar as muitas qualidades que o filme tem. Um clima devastador de suspense em diálogos espertos e inteligentes, fruto do bom roteiro de Patrick Smith Kelly (que escreveu “Segredo de Sangue”, também com Gwyneth Paltrow).

            Nada é o que parece ser em “Um Crime Perfeito”. Steven e Emily parecem ser um casal modelo e feliz. Mas não são. Emily parece ser uma esposa fiel. Mas não é. David parece ser um legítimo príncipe encantado. Mas não é. E o crime? É todo arquitetado pelo próprio Steven para ser perfeito. Mas existe algo perfeito?

            Todo o elenco parece estar à vontade. Gwyneth Paltrow tem um papel muito interessante como uma esposa ambígua. Ela não é uma pessoa ruim, mas carrega consigo a culpa da traição. Viggo Mortensen, que nem imaginaria que seria galã de verdade nos próximos anos, também se diverte como um pintor fracassado e homem conquistador.

            Mas o filme é todo do Michael Douglas. Seu papel de empresário frio e calculista chega a impressionar. O filme nem precisou de tanto recurso para prender o espectador. Basta ver a frieza com que ele escuta no telefone sua mulher sendo atacada em seu apartamento e depois volta a jogar cartas e sorrindo como se nada tivesse acontecido.

            A cena em que Emily é atacada, aliás, é a mais esperada e melhor do filme. Acompanhada de uma trilha sonora arrepiante e uma câmera que dá vários giros no seu próprio eixo, Emily é “morta pelo seu amante” (só quem viu o filme entende as aspas) justamente na metade do filme. É um artifício para colocar no meio do longa uma cena devastadora e esperada usada até hoje e funciona principalmente em filmes de suspense (olha a referência de Psicose aí... do assassinato bem no meio do filme).

            Só poderiam ter melhorado o final, que ficou simples demais para um filme complexo desses. O desfecho dos protagonistas chega até a frustrar.

            Mas, sem ressentimentos. Para um filme fadado ao fracasso e com uma crítica agourando para que o filme desse errado pelo fato de muitos críticos acharem “Disque M para Matar”, intocável, o resultado se aproximou do que chamamos de Perfeito.


Nota: 9,0


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