terça-feira, 29 de maio de 2012

O preço do amanhã


O preço do amanhã (In time)

Direção: Andrew Niccol



Ano de produção: 2011

Com: Justin Timberlake, Amanda Seyfried, Cillian Murphy, Olivia Wilde, Johnny Galecki

Gênero: Ficção Científica

Classificação Etária: 14 anos

Nota: 8,5


Comentário:

Em fevereiro de 2010, uma revista de grande circulação nacional publicou uma reportagem de cunho científico em que dizia que, no futuro, iremos viver mais. Segundo a reportagem, os cientistas estavam criando em laboratório novas drogas que alteravam as células humanas e mudavam até a fórmula química da água, ao invés de H20, D20. Colocar o elemento químico deutério no lugar do hidrogêmio. Tudo para fazer a espécie humana chegar aos 100 anos do jeito que sempre quis: jovem e saudável.
Falando dos dias atuais, estamos, mais do que nunca, escravos do tempo. Estamos na era da produção. Tudo tem que girar mais rápido e tempo é dinheiro.
Outro problema é a desigualdade social, só os com maior poder aquisitivo podem realizar seus desejos materiais.
Pois bem, junte esses três elementos, mais um roteiro competente, ação frenética e de tirar o fôlego, elenco afiado e jovem e temos um dos blockbusters mais criativos dos últimos anos: “O Preço do Amanhã”, que é o terceiro filme dirigido e escrito por Andrew Niccol (de Gattaca e Simone).
Só pela história dá vontade de assistir: num futuro não muito distante, o dinheiro como conhecemos hoje não existirá mais. Tudo será comprado pelo tempo. Todos os cidadãos já nascem com um relógio digital em seu próprio punho. Aqui o tempo funciona como o dinheiro nos dias de hoje, por exemplo, você pode comprar um carro por 59 anos ou um quilo de arroz por 10 minutos, que esse tempo é debitado diretamente do seu braço. A pobreza aqui é definida pelo tempo. Milionários têm um milênio de vida pela frente, que podem, claro, comprar tudo o que quiserem. Pobres vivem, como hoje, excluídos. Vivem com um limite de 25 anos. Há empréstimo de tempo nos bancos e perder esse tempo é um alto risco. E se o tempo zerar? A pessoa morre na hora. Aqui, Timberlake é um cidadão humilde, mas que presencia uma tentativa de roubo de tempo contra um amigo seu, que antes de morrer, doa esse tempo ao personagem de Justin, que fica com mais de 100 anos de vida. Há um magnata de olho neste tempo, que prepara uma cilada para Justin e o acusa injustamente de assassinato. Justin consegue fugir e chama junto a personagem de Amanda Seyfried (que, aliás, cada vez mais amadurecendo como atriz, se tornando mais interessante e agora uma mulher de fato, não aquela jovenzinha buscando um lugar ao sol), que são perseguidos e começa uma desesperada corrida pela verdade...
O interessante é que a ação não é forçada, como na maioria das produções, quase não há explosões, o diretor Andrew Niccol teve liberdade total para realizar o filme da forma que o conduziu e tem um elemento que anda cada vez mais escasso nas produções hollywoodianas: inteligência.
Quem disse que não dá para equilibrar uma ação de tirar o fôlego e uma boa história? “Avatar” e “A Origem” fizeram isso muito bem.
É uma delícia acompanhar essa metáfora do tempo como forma de vida e dinheiro. Algumas situações são mostradas até de forma irônica, como as sequências dentro do ônibus e as cenas de roubo. É uma obra de ficção, mas parece muito o mundo real. Pois tem personagens reais, um mundo não muito impossível de acontecer (anotem isso!), considerando que a nossa busca pela longetividade nunca esteve tão forte, o dinheiro como conhecemos está com os dias contados e... bem, as desigualdades sociais estão longe de acabar.
O elenco está afiado, Timberlake abraçou a carreira de ator, aparentemente largou a música e nos mostra seu talento desde “A Rede Social”. Amanda Seyfried está cada vez mais uma verdadeira camaleoa, se sai bem em todos os gêneros cinematográficos. Olivia Wilde mostrou que há vida depois do seriado “House”, mesmo fazendo aqui um papel menor. E Cillian Murphy viu que tem talento ser trabalhar com Christopher Nolan.
Apenas uma ressalva: apesar do bom elenco, não há química entre o casal principal, apesar de ser simpático e onde que o diretor viu que Olivia Wilde servia como mãe de Justin Timberlake. Isto é apenas um detalhe que pode até passar despercebido. Mas “O Preço do Amanhã” tem tudo para entrar na história como engenhosa e por que não como um filme Cult? Só o tempo dirá...

Imagens:










Trailer do filme:


Os Vingadores


Os Vingadores (The Avengers)

Direção: Joss Whedon



Ano de produção: 2012

Com: Robert Downey Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Samuel L. Jackson, Gwyneth Paltrow.

Gênero: Ação

Classificação Etária: 12 anos

Nota: 9



Comentário:


Desde o ano de 2000, quando a Marvel apostou e acertou com “X-Men: O Filme”, a lista de super-heróis de lá para cá parece tão interminável que até virou uma espécie de subgênero em Hollywood. Tivemos mais 4 filmes de X-Men, 3 Homem-Aranha, 2 Homem de ferro, 2 Hulk, mais o Thor, entre outros. Com todos esses heróis, será que ainda há espaço para mais algum filme do gênero ser lançado sem parecer repetição, e ainda agradar a gregos e troianos? A boa resposta é que dá sim, desde que se tenha uma boa ideia nas mãos, sem agredir a inteligência do espectador e ainda ser fiel aos quadrinhos. “Os Vingadores” foi anunciado à exaustão desde o ano passado e praticamente não houve quem não tivesse visto o trailer deste filme. Mas, felizmente, as expectativas foram superadas. Estamos falando de um grande filme, com ótimas cenas de ação, muito fiel aos seus quadrinhos e muito, muito engraçado.

“Os Vingadores” conta a história do vilão Loki (vivido por Tom Hiddleston) que retorna à Terra enviado pelos chitauri, uma raça alienígena que pretende dominar os humanos. Com a promessa de que será o soberano do planeta, ele rouba o cubo mágico dentro de instalações da S.H.I.E.L.D. e, com isso, adquire grandes poderes. Para aumentar seu poder, ele persuade Clint Barton ou Gavião Arqueiro (vivido por Jeremy Renner) para se aliar a ele e assim, dominar o mundo. Esse cubo tem poderes para destruir o planeta e para conter isso, Nick Fury (Samuel L. Jackson) convoca uma equipe de super-heróis, são eles: Natasha Romanoff ou Viúva Negra (Scarlett Johansson), Bruce Banner ou Hulk (Mark Ruffalo), Tony Stark ou Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), Steve Rogers ou Capitão América (Chris Evans) e Thor (Chris Hemsworth). Todos eles têm seu talento especial: a Viúva Negra é incrivelmente ágil e rápida, Hulk é incrivelmente forte, Homem de Ferro é muito inteligente e também forte, Capitão América é calculista e um herói das antigas e Thor é um deus de outro planeta que curiosamente é irmão de Loki, que de início é visto pelos colegas com insegurança, mas vai ganhando confiança com o tempo. Aparentemente parece uma missão simples, afinal todos são heróis poderosos e o inimigo é um só. Mas há dois inconvenientes: primeiro o vilão é super poderoso e tem tecnologia de destruir a Terra e a raça humana. Aliás, em uma sequência sensacional, em uma celebração na Alemanha, o vilão Loki persuade a população a ficar de joelhos e aceitá-lo como superior. Quando um senhor já de idade o confronta, Loki quase ia matá-lo quando o Capitão América o salva e diz que “A última vez que esteve na Alemanha presenciou uma cena parecida, em que um homem se dizia superior à população”, uma referência ao ditador nazista Adolf Hitler. Outro inconveniente é o fato de todos os heróis serem egocêntricos, cada um tendo que controlar seu ego e o trabalho em equipe se torna cada vez mais difícil. Por exemplo, Banner é visto como “aberração” e quando o Capitão América questiona o Homem de Ferro o que ele tem, além de “lataria”, ele diz que é “Gênio, milionário e filantrópico” e o Homem de Ferro chama o Capitão América de “picolé”, uma referência ao fato do América ter ficado congelado por vários anos. Um incidente provocado pelo vilão faz com que os heróis se unam, cada um com seus ideais, só como exemplo, Thor quer resolver um assunto de família e a Viúva quer resolver uma dúvida com o Gavião Arqueiro (que ainda está sendo manipulado por Loki) – aliás, a cena de luta entre a Viúva e o Gavião é sensacional. E o filme sugere, a partir daí, guerra!

Há vários acertos e pouquíssimos erros em “Os Vingadores”, os criadores acertaram em cheio na escolha das cenas e na escolha do elenco. Todos os atores estão bem e super à vontade em seus devidos papéis.

Robert Downey Jr se diverte mais uma vez com seu personagem, e mais uma vez o roteiro não deixa claro se ele e a personagem de Gwyneth Paltrow irão ou não engatar um romance.

Scarlett Johansson, que há tempos nos devia um papel digno de nota, de uns anos para cá, ela parece que andou mais preocupada em fazer filmes sem expressão (vide este último, a comédia pastelão “Compramos um Zoológico”) e em posar em fotos ousadas na internet, aqui ela arrebenta como a Viúva Negra e espero que ela volte ao cenário cinematográfico com força total.

Mark Ruffalo, provavelmente seu primeiro BlockBuster, mesmo sendo um ator considerado sério, seu personagem de Hulk lhe caiu bem.

Jeremy Renner, o protagonista de “Guerra ao Terror”, que é um ator que anda mais interessante a cada filme, ele tinha que incluir em seu currículo um super-herói e, diga-se de passagem, ele merece um filme próprio.

Chris Evans, seu segundo herói (o primeiro foi o tocha-humana de “Quarteto Fantástico”) está igualmente bem.

Chris Hemsworth, que aqui consolida de vez seu Thor como o primeiro time dos heróis da Marvel.

Mas o que seria um herói sem um vilão? O personagem de Loki está simplesmente assustador, frio e calculista. O papel parece que foi feito exclusivamente para ele, que já apareceu em Thor, mas aqui está bem mais eficiente. Ele é o casamento perfeito entre loucura pelo poder e ganância e se consolida como dos maiores vilões dos quadrinhos.

Outro trunfo por aqui é a escolha muito certeira de engatar humor em meio às sequências de ação. As piadas estão afiadas, atuais e diverte, e muito o expectador. Como não deixar de dar risada nos primeiros encontros de nossos heróis, com um insultando o outro, ou principalmente no momento em que Loki diz que “é poderoso e não vai se curvar perante uma aberração”, daí surge o Hulk e detona com tudo e todos. Nesta sequência, aliás, quando eu estava assistindo no cinema, lotado, diga-se de passagem, além de risadas teve uma salva de palmas da plateia.

E o uso em 3D? os produtores não poderiam ter feito melhor a conversão de formato. O uso dessa tecnologia ficou simplesmente arrebatador. O interessante foi que, diferente da maioria dos filmes em 3D hoje em dia, o formato foi usado de fora para dentro, não ao contrário, de dentro para fora, afinal, não precisa “jogar” objetos em direção à plateia para impressionar a todos (não é, Sr. “Fúria de Titãs”?) e as cenas de ação estão bem tocadas (quem não tirar o fôlego com a meia hora final pode procurar um hospital).

Assistindo “Os Vingadores” ficamos otimistas com o futuro dos heróis no cinema, ainda teremos este ano “Homem Aranha” e “Batman”. E agora é esperar por novos (e melhores) heróis. Ah, pelo desfecho, aguarde que a continuação vem aí.


Imagens:











Trailer do Filme:

Um dia


Um dia (One Day)

Direção: Lone Scherfig



Ano de produção: 2011

Com: Anne Hathaway, Jim Strurgess.

Gênero: Romance

Classificação Etária: 12 anos

Nota: 7,5


Comentário:


Quando “Um Dia” estreou em Novembro do ano passado nos cinemas, eu não via a hora de vê-lo, depois do ótimo trailer e dos elogios ao livro homônimo, de David Nichols, que lhe foi dado. Além disso, o filme é encabeçado por Anne Hathaway, uma atriz que, eu, particularmente, amo muito e acompanho e admiro sua carreira desde seu filme de estréia, “O Diário da Princesa”, em 2002. De lá para cá, ela anda melhor e mais atriz a cada filme. Está amadurecendo mais e se torna cada vez mulher de fato e não aquela menina que teve sorte apenas pelo seu sobrenome.

Mas o romance “Um dia”, novo trabalho da diretora Lone Scherfig, do ótimo drama inglês “Educação” tem muitas falhas, mas não deve jamais ser subestimado, mas, como romance, que é seu objetivo principal, funciona, principalmente se for a dois e à noite.

“Um dia” conta a história de dois jovens: a doce Emma (Anne Hathaway) e o esperto Dexter (Jim Strurgess, de “Quebrando a Banca”) que se conhecem no dia da formatura, em 15 de Julho de 1988. Na verdade, Emma já está de olho em Dexter há tempos, mas ele nunca havia reparado nela. Eles se tornam amigos, mas têm personalidades diferentes: enquanto ele faz sucesso com a mulherada, vira um apresentador de TV famoso e muito carismático, ela é tímida, carente, sem grandes ambições e trabalha em um restaurante. O filme vai acompanhando a trajetória deste casal ano a ano durante 20 anos, sempre no dia 15 de julho. Essa data foi escolhida por ser o Dia de São Swithin, que no folclore britânico, está ligado ao sol e chuva. Segundo a tradição, se chover naquela data, os 40 dias seguintes serão de água em abundância. Se houver estiagem, os mesmos 40 dias serão secos. É como se essa data fosse determinante para os dias que virão. Ano a ano, a história vai acompanhando a evolução das personagens, como em 1993, que os dois vão passar umas férias na França, ou em 2000, quando é realizado o casamento de uma antiga colega de quarto. Mas se no início Dexter é um sujeito de sucesso e Emma é simples, em uma determinada hora os papéis se invertem: ele vai ficando mais pobre aos poucos e ela vira uma escritora de sucesso. Mas, se o filme é de romance, como dito no início, por que aqui na sinopse que eles eram amigos? De fato eles são, se envolvem juntos algumas vezes, em um romance casual baseado em prazer, têm seus devidos relacionamentos com outras pessoas, mas sempre uma hora vão se encontrar. E sempre tem uma reviravolta para que eles não fiquem juntos.

Os fãs de um belo romance não têm o que se queixar, pois o longa tem belas imagens (principalmente as da França), a química entre a dupla principal funciona muito, (de fato temos a impressão de ver um casal real em cena), a maioria das passagens de ano é feita com competência, os diálogos são inteligentes e por se tratar de um romance, em parte alguma ele cai na pieguice. Mas o filme apresenta 3 falhas gritantes, que se não fossem por elas, até poderia aqui ter uma nota bem maior:

·         Anne Hathaway, que repito, é uma grande atriz e se encaixa em qualquer papel, mas aqui, em que ela faz uma estudante inglesa, não combina com seu jeito americanizado de ser, ela não convence como britânica neste papel;

·         Em algumas passagens no tempo, praticamente não dá para se envolver com as personagens, por exemplo, de 1996 para 97, tudo ficou tão enxuto que nem o casal mais apaixonado se encantará com coisa alguma;

·         E principalmente, essa é a principal falha de “Um Dia”, que aliás, é um sério problema de várias produções feita nas pressas no quesito passagem do tempo: Maquiagem. Por aqui, ela é um desastre. Em Jim Strurgess o máximo que fizeram foi um cabelo branco de chorar, mas o pior ficou com Anne Hathaway. Em 20 anos de história, ela está exatamente com o mesmo rosto. Só encurtaram o cabelo, quando ela vira escritora profissional, e olhe lá. Pareceu mesmo que a equipe de produção estava sem vontade de trazer realismo á odisséia do casal.

Depois do ótimo drama inglês “Educação”, a dinamarquesa Lone Scherfig, que tem sim, talento para dirigir atores, pareceu feito apenas mais um “romance de verão”. Bateu na trave.


Imagens:













 Trailer do Filme:


Sexo, Mentiras e Videotape


Sexo, mentiras e videotape (Sex, Lies and Videotape)

Direção: Steven Soderberg



Ano de produção: 1989

Com: Andie MacDowell, James Spader, Peter Gallagher, Laura San Giacomo.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 14 anos

Nota: 10


Comentário:


Antes de qualquer coisa e antes que algum engraçadinho fique entusiasmado com o título do filme ou com as imagens acima, um aviso: em “Sexo, mentiras e videotape” não há nenhuma só cena de sexo ou de nudez, mas é um dos filmes mais ácidos, vorazes e cruéis do assunto. Essa obra-prima de Steven Soderberg, incendiou o mundo cinematográfico no final dos anos 80, gerou muita polêmica, é amado e adiado na mesma proporção e possui diálogos deliciosos.

“Sexo, mentiras e videotape” se passa no subúrbio norte-americano onde um casal, Ann & John (vividos por Andie MacDowell & Peter Gallagher) vive aparentemente em harmonia. Ele é um bem-sucedido advogado e ela é uma dona-de-casa que todo homem sonha, apesar de ser infértil e tem um psicólogo particular. Aliás, a cena de abertura, em que ela revela os detalhes de sua relação com seu marido para seu analista, é devastadora e merece estar entre as melhores seqüências de abertura da história cinematográfica. Porém, com a chegada de um amigo de infância de John, Graham, (vivido por James Spader, ótimo no papel) o cenário muda. Ele é uma pessoa problemática, tem uma tese negativa de advogados, e tem um “projeto” secreto em sua casa, que é o ponto chave do filme. Logo de início, Graham pergunta a Ann se é bom estar casada, logo ela responde que “acha que entra no clichê que ‘ajuda’”. Paralelo a isso, entra na história Cynthia (vivida por Laura San Giacomo), aqui faz papel de amante de John. Ela deixa várias pistas de seu relacionamento com John para Ann, que se finge de morta no início mas que, aos poucos, vai suspeitando. Mas quem é Cynthia afinal? Infelizmente isso não posso contar. Aliás, que projeto é esse que Graham faz em sua casa? Isso também não posso dizer, seria estragar a magia do filme e acabar com tudo aquilo que ele tem o nos dizer.

Assistir a “Sexo, mentiras e videotape” é puro deleite e para quem é mesmo fã da sétima arte, é duplamente recomendado. E por uma série de motivos. Um deles é o fato de o diretor não fazer julgamento deste ou daquele personagem. Por se tratar de um filme de relacionamentos, seria uma coisa perigosa induzir o espectador a gostar de um determinado personagem. O sexo aqui é tratado como algo natural e sem culpa. Afinal, você pode ser a melhor pessoa do mundo, famosa, popular ou engraçada, mas, por alguns momentos entre quatro paredes, somos todos iguais. Se entregar para o parceiro, ter dúvidas ou desejos, são características de todos nós.

Outro aspecto importante, aliás, quem me conhece sabe que adoro isso, é o fato de “Sexo, mentiras e videotape” ser um filme simples. Antes, mas muito antes de o diretor Steven Soderberg ficar famoso e milionário com a trilogia “11 homens e um segredo” e com seu Oscar de Melhor Direção por “Traffic”, em 2001, Soderberg, em 1989 faz aqui, um filme sem recursos, feito na raça e com atores, até então, desconhecidos. Na verdade, apesar de todo esse sucesso e de ele ter feito o recente “Contágio”, seu melhor filme, no caso este, continua subestimado. Aqui, os cenários praticamente são os mesmos em todas as cenas, o diretor teve, inclusive, de tirar dinheiro de seu bolso para concluir o filme do jeito que queria. E o resultado? Não poderia ter sido melhor. Desse dinheiro que Soderberg investiu para terminar o filme, ele também tirou para divulgar seu filme no Festival de Cinema de Cannes, na França. Foi chegando aos poucos, sendo elogiado pelo boca-a-boca e chegou como zebra na premiação. Foi o grande vencedor da Palma de Ouro e faturou, também, o prêmio da audiência no festival de Sundance. Infelizmente, Steven ficou sumido por muitos anos, mas somente em 1998 reapareceu com o delicioso “Irresistível Paixão”, com George Clooney & Jennifer Lopez, antes da glória de Onze homens e Um Segredo e seu Oscar por Traffic.

E o elenco? Cada um com seu talento, é um melhor que o outro. Antes de fazer sucesso na comédia romântica “Quatro Casamentos e um Funeral”, Andie Macdowell faz aqui seu melhor papel como dona-de-casa dedicada, mulher traída e amante vingativa. Peter Gallagher, apesar de ser tratado pelos críticos como “vilão”, aqui, se diverte em diálogos arrepiantes. A seqüência em que Ann o acorda no meio da noite e os dois se digladiam da suspeita de traição do marido, é de roer a unha. Laura San Giacomo, que anda sumida, diga-se de passagem, que aqui, vive Cynthia, está incrivelmente Sexy e sua cena com Graham é devastadora. Mas o melhor personagem aqui é o de James Spader. O filme ganha mais vida quando ele aparece, é uma perfeita união entre macho desesperado e homem sem vergonha. Não posso dizer aqui qual é seu “trabalho” em sua casa, mas posso dizer que são os melhores momentos do filme. Considerando que temos 4 personagens e o tema central é sexo, as comparações com “Closer - Perto Demais” são inevitáveis. Afinal, ninguém é exatamente bom ou ruim. Se fosse para escolher, eu diria que Graham & Cynthia se aproximam mais do status de “heróis”. Não por serem bonzinhos, mas por serem verdadeiros. Graham é o personagem mais incorreto e autêntico por aqui. É uma grande pena para a história cinematográfica, que James Spader tenha se dedicado depois a papéis e filmes sem expressão em Hollywood. Ele tinha tudo para se tornar um grande ator, mas sua ambição não o deixou. Na verdade, só Andie MacDowell deu certo na carreira deste elenco. Os demais ficaram só na promessa. É uma grande pena.

Mas, “Sexo, mentiras e videotape” é um elogio ao cinema, merece ser visto e revisto e depois de uma seção dele, por que não um bom e saudável debate? De preferência, com homens e mulheres no centro da arena. Dentro do devido respeito e sem fazer julgamentos.


Imagens:













Trailer do Filme:

Sete dias com Marilyn


Sete dias com Marilyn (My week with Marilyn)

Direção: Simon Curtis



Ano de produção: 2011

Com: Michelle Williams, Eddie Redmayne, Kenneth Branagh, Emma Watson, Julia Ormond, Judi Dench.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 14 anos

Nota: 9


Comentário:


Marilyn Monroe foi, incontestavelmente, uma das maiores divas cinematográficas do século XX, senão a mais. Seu carisma e beleza irretocáveis conquistaram Hollywood por volta dos 50 até sua misteriosa morte em 1962, quando ela tinha 36 anos. Foi uma grande figura, símbolo sexual e incrivelmente linda (considerando que em sua época não existiam botox ou cirurgias plásticas). Mas como estamos falando de cinema, ainda faltava uma biografia definitiva e digna da Marilyn. Há vários documentários e alguns telefilmes (a maioria de qualidade duvidosa) e ao menos um filme memorável – “A Verdadeira História de Marilyn Monroe”, de 1996 que trazia a recém premiada Mira Sorvino no papel de Marilyn e Ashley Judd como sua colega de quarto. O filme, inexplicavelmente foi um fracasso de público e crítica. Esse jovem que vos fala adorou, principalmente por levantar a hipótese de Monroe ter sido assassinada por uma conspiração do ex-presidente Norte Americano John Kennedy (para quem não sabe, os dois tiveram um caso, e no aniversário dele, ela cantou um “Happy Birthday To You” bem romântico na frente de todos presentes na celebração). Mas, com tudo isso, não é exagero nenhum dizer que “Sete dias com Marilyn” é o melhor deles, mesmo não sendo uma biografia completa, mas que resgata, com muita elegância, o período em que se passa.

A história, que é baseada em fatos reais, se passa no ano de 1957, quando Marilyn Monroe (Michelle Williams, no melhor papel de sua carreira), já uma estrela consagrada, casada com o dramaturgo Arthur Miller, desembarca na Inglaterra para participar de um filme chamado “O Príncipe Encantado”, com o ator e diretor Lawrence Oliver (vivido por Kenneth Branagh, indicado para Melhor Ator Coadjuvante por este papel). Logo surgem alguns inconvenientes: Marilyn era uma estrela querendo ser atriz (eu sei que muita gente vai me xingar por isso, mas ela era uma péssima atriz) e Oliver era um ator querendo ser estrela, e logo viu-se que a escolha da atriz era desastrosa. Os produtores cogitaram trabalhar com Vivien Leigh (aqui, vivida por Julia Ormond), mas quem queria ver Vivien Leigh quando se tem Marilyn Monroe? Monroe atrasava horas e até dias para chegar no set de filmagem, pois ela era muito insegura e sempre se incomodava com as críticas negativas de seus papéis. Nesse meio tempo também conhecemos a história de Colin (Eddie Redmayne), um jovem fã de cinema, que tem Alfred Hitchcock e Orson Welles como ídolos, e claro, é fã da Marylin (a sequência de abertura, em que ele vê um musical dela com cara de bobo, resgata bem o espírito do filme). Ele vai trabalhar neste filme, como 3° assistente, é cheio de sonhos, tem uma namorada bonita (aqui, vivida por Emma Watson, que é a Hermione da franquia Harry Potter, curiosamente, aqui ela está atuando bem, coisa que não fez na série toda do bruxinho), mas logo esse jovem se encanta com a diva Marilyn, ou é ela que se encanta por ele? Mas o fato é que os dois têm um curto romance (por isso o título é Sete dias com Marilyn), que, para ele, foi inesquecível.

O filme retrata com fidelidade a Hollywood da época, tem ótimos atores, e mostra bem o perfil psicológico da protagonista, que apesar da fama, vivia deprimida, se drogava e só queria ser uma garota normal, apesar de todos a virem como uma “deusa grega”, como Colin mesmo diz. Ao longo de sua vida, Marilyn teve 3 maridos e muitos, mas muitos amantes. Colin foi um deles. O relacionamento dos dois se deu enquanto ela era casada com Arthur Miller, abalando não só esse casamento, como o namoro de Colin e sua namorada.

Mas a melhor coisa por aqui é o papel de Michelle Williams, que recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz neste ano por este papel, mas perdeu para Meryl Streep por “A dama de ferro”. Quem diria, depois de passar pela adolescência atuando na xarope série dos anos 90, Dawson´s Creek e em filmes sem expressão, agora se tornaria uma atriz de respeito. Ela leva mesmo a sério seus papéis. Da esposa de Heath Ledger em “O Segredo de Brokeback Mountain” (os dois foram casados na vida real) e seu papel intenso em “Namorados para sempre”, em que ela conviveu em uma casa com seu par, Ryan Gosling, para dar mais vida à personagem, mas agora, com “Sete dias com Marilyn”, é mais uma confirmação de seu talento. Ela ficou por meses estudando a Marilyn Monroe, seu perfil psicológico e seus movimentos. O resultado deste estudo é perfeito. As danças e coreografias são tão fiéis que é fácil de confundir com a Marilyn verdadeira e o rosto, fruto de uma pesada maquiagem é encantador (como se vê nas fotos acima).

Vale lembrar que a Michelle Williams na vida real não possui a silhueta similar à Marilyn, mas ela usou enchimento por todo o corpo (digo todo o corpo mesmo!). Nos números de música, a voz usada é da própria Michelle, que também ensaiou por meses como fazer as canções dos musicais com fidelidade.

Com uma diva e atriz de talento comprovado como Michelle Williams em cena, se entregando para seus papéis e atuando melhor a cada filme, alguém sente falta de Marilyn Monroe?


Imagens:











Trailer do Filme:





Pânico 4


Pânico 4 (Scream 4)

Direção: Wes Craven



Ano de produção: 2011

Com: Neve Campbell, Emma Roberts, David Arquette, Courtney Cox

Gênero: Suspense / Terror

Classificação Etária: 14 anos

Nota: 8,5



Comentário:


Em 1996, o diretor Wes Craven realizou o mega sucesso “Pânico”, um formato inovador em filmes de terror e uma máscara que é famosa até hoje. Neste filme e nas outras duas continuações (foram mais duas), há diversas referências sobre o mundo cinematográfico, sobretudo em relação aos filmes de terror, tinham regras de como fazer um bom filme de terror, como nunca diga “volto já”, pois você não volta. E as continuações têm referências clássicas sobre... continuações. No trailer de “Pânico 3”, em 1999, para se ter uma ideia, iniciava com uma frase mais ou menos assim: “No primeiro filme, as regras colocadas; no segundo, as regras são quebradas; e no terceiro filme... esqueça as regras”. Bem, depois do primeiro “Pânico”, o tema “terror adolescente” virou febre em Hollywood. Tanto que se tornou exploração. Tudo o que era filme de terror no final dos anos 1990 tinha que ter uma mocinha bonita e indefesa que grita, um namorado bonitão e um serial killer que matava a todos, mas o casal principal ficava junto no fim (alguém se lembrou de “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”?).

Pois bem, agora, mais de uma década depois, os tempos são outros, a juventude está mais esperta, os gostos, heróis, modas são outros. Mas e os filmes de terror? Esses mudaram muito. Se aquela moda de filmes adolescentes irritava, agora temos uma tendência ainda pior: a dos filmes de terror com tortura. Afinal, agora o público não se contenta mais se a mocinha simplesmente for perseguida pelo assassino. Ela tem que ser perseguida sim, mas também ser capturada, torturada com brutalidade, correr contra o tempo pela vida, senão... a morte é apresentada de forma bárbara – sim, isso foi uma referência à série de terror “Jogos Mortais”.

A pergunta agora é: com tantas mudanças com o passar dos anos, ainda dá para realizar um filme de terror clássico que atraia essa geração “Jogos Mortais” dos dias de hoje. A resposta é: dá sim. Desde que tenha que ser feito com cuidado e nas mãos de um mestre como Wes Craven.

Foi uma manobra muito, mas muito arriscada. O próprio diretor andava sumido desde o tenso “Voo Noturno”, em 2005. A estrela da época, Neve Campbell, também sumiu, foi musa de 10 entre 10 adolescentes da época (inclusive desde que vos fala), se casou, teve filhos e nunca mais, desde “Pânico 3” tinha feito um filme digno de nota. David Arquette também andava longe dos holofotes. Courtney Cox, estrela de Friends, que, quando a série deixou de existir em 2004, nunca mais tinha dado as caras. Mas o fato de reunir elenco e diretor em baixa é o que torna o filme mais interessante.

O roteiro, muito bem escrito, se passa 10 anos depois dos acontecimentos do terceiro filme, em que Sidney, protagonista dos cruéis assassinatos em Woodsboro agora se mudou de lá, refez sua vida e escreveu um livro, com o nome de “Saindo da Escuridão” explicando todo o seu trauma com as mortes. No dia em que ela volta à cidade para divulgar seu livro, estranhas mortes acontecem. Desta vez, o assassino quer fazer Sidney sofrer muito, antes de matá-la. Um a um de seus amigos, e dos amigos de sua prima, Jill (vivida por Emma Roberts, sobrinha de Julia Roberts na vida real) são mortos. A graça está em saber quem está por trás disso.

O filme acerta, também, em não ser apenas terror, também tem humor, é o chamado “terrir”, e é impressionante como Wes deixa essas duas características bem equilibradas, o que é outro fator para atrair o público.

Outra ponto positivo: o filme não morreu com o tempo, muito pelo contrário, agora os jovens da história se comunicam por torpedo, têm um tablet, ficam no Facebook, estão mais maliciosos...

E aquele filme dentro do filme, o Stab? Bem, teve sete continuações e a molecada é tão fã que monta na cidade um dia dedicado só a passar seções especiais e seguidas de Stab. Os jovens fazem até debate sobre as mortes de Stab.

É impressionante, com tudo exposto nos dias de hoje, um assassino que hoje sua máscara provoca mais risadas do que medo (ou vai dizer que aquela máscara da boca larga não é engraçada?) e que seus assassinatos com uma faca (o que hoje em dia pode soar ultrapassado em um filme de terror) ainda provoquem sustos.

A abertura é ótima, duas mocinhas estão escolhendo um filme de terror para assistir (o escolhido é Jogos Mortais 4) e recebem vários telefonemas do assassino misterioso. As duas morrem. Na outra tomada, duas moças estão assistindo a “Stab”, elas começam a conversar sobre as continuações desta “cine série” e uma delas mata a outra com uma facada e a cena é mostrada de forma cômica. No outro take, duas garotas morrem pelo mesmo assassino. Por que essas três cenas que abrem “Pânico 4” são engraçadas? Porque tudo fazia parte de “Stab 7”, tudo está dentro de um filme (que fique claro, Stab é um filme inventado pelos roteiristas de Pânico, desde o segundo episódio).

E a meia hora final? Claro que não contarei aqui o que acontece, mas são sequências já clássicas e devastadoras. Nos é revelada a pessoa por trás da máscara - nem o nerd mais frio é capaz de descobrir quem é. Além de cenas angustiantes de tensão e um delicioso banho de sangue.

E com tudo isso, ficamos aliviados, afinal, quem disse que os filmes de terror de qualidade não têm jeito?


Imagens:











Trailer do Filme: