domingo, 27 de maio de 2012

Amor Sem Escalas


Amor sem escalas (Up in the air)

Direção: Jason Reitman



Ano de produção: 2009

Com: George Clooney, Anna Kendrick, Vera Farmiga, Jason Bateman, Melanie Lynskey, Danny McBride

Gênero: Comédia Dramática

Classificação Etária: 14 anos

Nota: 10



Comentário:


Antes de mais nada, duas coisas: ao assistir “Amor sem Escalas” alguns podem ter a incômoda sensação de estar vendo um filme oportunista, que apenas pega carona na crise financeira iniciada em 2008 e longe de terminar. Na verdade, é baseado em um livro homônimo escrito em 2001. Aliás, “oportunista” é um adjetivo que não se combina por aqui. Outra coisa: esqueça o ridículo título nacional. Não, não que a expressão “Amor sem escalas” seja feia, mas dá a impressão de ser uma comédia romântica descompromissada. E veja bem, não há nenhuma característica do gênero por aqui. Aliás, este título infeliz ajudou a distribuidora brasileira a vender esta obra da forma errada (explicaremos melhor a diante). A verdade é que “Amor sem escalas” é uma pequena obra-prima do século 21, que será sempre lembrada com um dos roteiros mais ácidos dos últimos anos.

Na sinopse, o protagonista é o personagem Ryan (vivido pelo George Clooney, cada vez melhor como ator) que trabalha em uma empresa especializada em demitir funcionários de outras empresas, já que muitos apresentam um comportamento explosivo em uma demissão (e no caso deste filme, é um mais explosivo do que o outro) e muitos patrões não têm coragem de fazê-la pessoalmente, daí é que a empresa de Ryan entra. Ele anda de avião por todo território americano. Orgulha-se de não ter laços familiares nem sentimentais. Não é uma pessoa sociável. Ele mesmo diz em um dos diálogos que anda de avião em um ano mais do que seria uma viagem à Lua em quilômetros rodados. Por ironia, Ryan também dá palestras de motivação de como as pessoas precisam se desligar das coisas e serem mais feliz. Numa das viagens, ele conhece uma mulher bem madura, a Alex (vivida por Vera Farmiga, do terror “A Órfã”), que na verdade, é uma versão de saias do protagonista. Ela também não acredita nas relações humanas. Os dois tem um romance casual. Mas casual mesmo. Em nenhum momento o filme transparece que um dos dois irá se apaixonar. Entre uma viagem e outra, os dois se encontram (no primeiro encontro, com direito a um rápido nu de costas de Vera Farmiga). Também entra em cena o personagem de Natalie, vivida por Anna Kendrick (ótima no papel!!!!!), uma moça com um futuro promissor e que vai trabalhar com Ryan e aprender com ele “a arte de demitir bem”. Mas Natalie é uma menina meiga, delicada, muito sentimental, tem um namorado, e acredita profundamente nas relações humanas, e de início ela e Ryan não se dão muito bem. Em diversos momentos os dois se digladiam com suas devidas filosofias de vida. Esse duelo de egos, diga-se de passagem, é delicioso.

O filme tinha tudo, mas tudo mesmo para ser mais um daqueles dramas piegas norte-americanos. Afinal, com um roteiro desses, a história poderia sugerir que o personagem de Ryan era frio e calculista e conheceu seu anjinho da guarda que o fez rever o melhor da vida. Ou que o amor muda tudo. Felizmente não tem nada disso. “Amor sem escalas” não se prende a discursos morais, ele apresenta as três personagens como serem humanos, com seus defeitos, qualidades e desejos, sem deixar o lado irônico. E o lado implacável também. As sequências de demissões são apresentadas sem piedade nenhuma ao espectador, como a do funcionário que trabalhava na mesma empresa havia 17 anos e foi demitido por uma “colegial”, como ele mesmo diz, ou quando descobre-se que uma das demitidas da trama se suicidou. Até arrisco dizer que o filme é um soco no estômago para o público geral.

Nada que o diretor Jason Reitman não esteja acostumado, em “Obrigado por fumar” ele faz uma obra ácida sobre a indústria do tabaco, e em “Juno” ele faz um crítica ao comportamento adolescente. Este segundo filme, aliás, foi um sucesso de público e crítica. Quando lançou, todos achavam que ele perderia a mão no próximo filme ou que o sucesso subiria à sua cabeça. Felizmente não aconteceu nada disso, “Amor sem escalas” foi um sucesso de crítica, melhor do que os dois anteriores do diretor embora não tenha agradado muito o público geral (também explico o porquê mais tarde).

E o elenco?

Que elenco devastador!

George Clooney, como já dito, anda melhor a cada filme. Quando ele realizou o fracassado “Batman & Robin”, em 1997, seu agente havia dito para ele se aposentar. Ainda bem que ele não o ouviu. Hoje ele está entre os melhores atores de sua geração e agora também se firmando como um grande diretor (recomendo que todos vejam um drama dirigido por ele, “Boa Noite e Boa Sorte”). Por aqui, ele é o perfeito casamento entre homem durão, competente no trabalho, um bom professor para Natalie e nunca, mas nunca colocando as emoções para seu ofício.

Vera Farmiga, é daquelas mulheres independentes que nós amamos, sem perder o lado feminino, mas sendo igualmente durona. A cena, quase no final, em Chicago dela e do Clooney é arrebatadora.

Mas a melhor personagem aqui é a da Anna Kendrick, essa menina de 25 anos tem tudo, e mais um pouco, para estrela dos próximos anos. Ela pode ser vista em “Scott Pilgrim – contra o mundo”, embora ela também faça o papel de melhor amiga de Bella, papel pequeno, é verdade, na cinessérie “Crepúsculo”, mas a diferença de atuação entre ela e Kristen Stewart é infinita. Anna Kendrick está naquela fase de Julia Roberts antes de Uma Linda Mulher: uma atriz em que todos têm empatia e só esperando aquele papel de destaque. Por aqui, em “Amor sem Escalas”, ela é uma perfeita junção entre a adolescente querendo um lugar ao sol, garota sensível, inteligente e uma já mulher feita. Quando ela aparece em cena, o filme solta faíscas. Quem não se apaixonar por ela, na sua primeira cena, em uma reunião na empresa, em que ela é apresentada a todos, inclusive para Ryan, pode procurar um hospital.

Uma curiosidade: quando eu fui assistir a este filme no cinema, em 2010, a sala estava razoavelmente cheia. Por causa do título, só tinham casais no cinema. A maioria apaixonados (por isso digo que ele foi vendido da forma errada). Mais da metade saiu no meio do filme, todos aborrecidos com o que viram e os que ficaram até o final, bem, eu fui conversar com dois deles, para saber o que acharam. Um disse que era só para agradar aos americanos, que “esse povo se acha melhor do que todo o mundo”. O outro casal classificou o filme de “lixo” e “sem sentido” quando eu perguntei o porquê, a moça disse: “porque não tem amor”. Eu não tive nem cara para falar que achei uma obra-prima. Devido a essas opiniões, que foram quase unânimes, o filme foi um fracasso de bilheteria, não agradou a praticamente ninguém, só aos críticos de cinema e eu, estou de lá para cá no desafio de encontrar alguém que tenha gostado, alguém que não seja crítico.

Ah, “Amor Sem Escalas” recebeu 6 indicações ao Oscar em 2010 (Melhor Filme, Direção (Jason Reitman), Ator (George Clooney), Roteiro Adaptado e Atrizes Coadjuvantes (Anna Kendrick & Vera Farmiga). Por uma dessas injustiças da Academia, o filme saiu da premiação de mãos vazias(!). Mas não tem problema, isso foi só um detalhe. Ao ver “Amor Sem Escalas”, ficamos otimistas quanto ao futuro do cinema. Afinal, a sétima arte se consagrou, principalmente nos anos 1970, com o chamado “cinema entre adultos”, que aqui é resgatado com muita, mas muita maestria. Agora é esperar aos próximos anos.


Imagens:



















Trailer do Filme:



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