domingo, 27 de maio de 2012

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças


Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind)

Direção: Michel Gondry



Ano de produção: 2004

Com: Jim Carrey, Kate Winslet, Kristen Dunst, Mark Ruffalo, Elijah Wood, Tom Wilkinson.

Gênero: Comédia Dramática

Classificação Etária: 14 anos

Nota: 10



Comentário:

Nós, que acompanhamos à sétima arte há tempos estamos tão acostumados a assistir filmes ruins que já estamos até anestesiados. E se não são ruins, a maioria não tem originalidade. Afinal, se no mundo da química, “nada se cria, nada se copia, porém, tudo se transforma”, aqui no mundo cinematográfico não é diferente. Mas felizmente, surge uma luz no fim do túnel: “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” é uma obra 100% original, um grande exercício de interpretação e reflexão, mas, sobretudo, um delicado exercício psicológico. Ele não foi um sucesso em sua estreia, mas, foi se tornando famoso pelo “boca-a-boca” dos amantes de um bom roteiro com o tempo. Sendo assim, não é exagero nenhum dizer que “Brilho Eterno” é um filme Cult. Outra curiosidade é o fato de esse filme ter estreado nas explosivas férias do mês de julho de 2004. Num mesmo “Multiplex” em que os cinemas exibiam “Homem Aranha 2” ou “Shrek 2”, estava lá uma sessão de “Brilho Eterno”.
“Brilho Eterno” fala da história de Joel (vivido por um Jim Carrey bem atípico), um sujeito simples, sem jeito para as mulheres e quase sem assuntos para conversar. Em uma viagem de trem, ele conhece a descolada Clementine (vivida por Kate Winslet, em um de seus melhores papéis), onde eles têm um romance excêntrico. Ela é uma garota cheia de vida e ele sempre entediado. O relacionamento dos dois ia bem, até que Clementine decide apagar Joel da memória. Ela contrata uma empresa especializada em tirar pessoas da mente alheia e exclui todas as lembranças de seu ex-amado. Obviamente, Joel fica arrasado, começa a questionar o porquê de Clementine ter feito tal coisa. Ele decide, então, fazer o mesmo: contrata a mesma empresa e apagar todas as memórias que se tem dela. O procedimento de excluir uma pessoa da mente do “paciente” é realizado na própria casa do requerente. Nesta noite em que é realizado este trabalho, nos são mostrados todos os momentos na vida do casal. Porém, o relacionamento de Joel e Clementine também teve momentos bons, inesquecíveis, e ele começa, aos poucos, a se arrepender da decisão de apagar as lembranças desta mulher e tenta “driblar o sistema”. Mas como enganar a própria mente?
O filme só tem qualidades e eu, particularmente, não encontrei defeito nenhum. A começar pela escolha do elenco. Jim Carrey já havia mostrado seu talento dramático anteriormente: nos ótimos “O Show de Truman” e “O Mundo de Andy” e no subestimado “Cine Majestic”, e aqui o papel de encaixa como uma luva para seu jeito, digamos, simples de ser. Kate Winslet, que é, em minha opinião, entre as melhores, se não a melhor, atrizes inglesas do cinema atual, está arrebatadora no papel. Ela até poderia ficar famosa por aqui só pelo cabelo meio peculiar (como nas imagens acima), mas estamos falando de uma camaleoa que nos surpreende a cada filme. O perfil psicológico de Clementine é o ponto chave para o desespero do protagonista, como uma mulher “complicada e perfeitinha”. E o elenco de apoio está perfeito. Kristen Dunst, como atendente desta empresa peculiar de perda de memória, que de início parece até “café com leite” na história, vai se tornando mais interessante conforme o filme passa. Mark Ruffalo e Tom Wilkinson, como médicos, também estão bem. E finalmente, Elijah Wood, que nos deve um papel digno de nota desde seu Frodo na trilogia “O Senhor dos Anéis”, aqui é o antagonista da história, e por que não dizer, oportunista?
Mas por que, afinal, em um relacionamento aparentemente feliz, querer não se lembrar de nada da outra pessoa?
Conforme vemos a mente de Joel, observamos que a resposta não é tão simples assim e o filme tem mais perguntas do que respostas, afinal, querer explicar tudo enxuto na tela em muitas vezes não é bom para uma reflexão de uma obra, e neste caso, análises do roteiro podem gerar intermináveis conversas de bar e também, não há necessidade que querer responder tudo para ser uma desculpa de um roteiro mal feito (não é, senhor “Jogos Mortais”?).
O filme também não perde tempo nem se torna grosseiro tentando explicar a dificuldade de se entender a mente feminina. Hoje em dia, temos muitas Comédias Românticas com cara de descoladas, mas lá nas mensagens subliminares nota-se um machismo disfarçado (fujam do horroroso “A Verdade Nua e Crua”).
Como já dito, estamos falando de uma obra original. Nada de mais para o ótimo roteirista Charlie Kaufman, que assinou o roteiro do formidável “Adaptação”, em que Nicolas Cage faz um papel duplo e o pouco visto “Quero Ser John Malkovick”, uma comédia arrebatadora, original, muito engraçada, inteligentíssima e diferente de tudo o que já se viu em matéria de roteiros cinematográficos. Recomendo, claro, que todos o vejam.
“Brilho Eterno” foi o grande vencedor do Oscar de 2005 de Roteiro Original, pelo qual mereceu esse prêmio. Foi indicado também, e mereceu perder, o prêmio de Melhor Atriz para Kate Winslet, em que a vencedora foi a atuação impecável de Hillary Swank em “Menina de Ouro”. Mas a não indicação de Melhor Ator para Jim Carrey e na categoria de Melhor Filme foram um ultraje.
Mas, tudo bem, a história mostra que o Oscar vai e os bons filmes ficam. E neste caso, estamos falando de uma obra engenhosa, que nos faz pensar em nossos próprios relacionamentos e nos faz sonhar em onde a mente humana pode chegar. Enfim, “Brilho Eterno” é um filme para não se apagar nunca da memória.


Imagens:



 







Trailer do filme:

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