domingo, 27 de maio de 2012

Em um mundo melhor


Em um mundo melhor (Haeven)

Direção: Susanne Bier



Ano de produção: 2010

Com: Mikael Persbrandt, William Jøhnk Nielsen, Markus Rygaard, Trine Dyrholm.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 14 anos

Nota: 10


Comentário:


No Oscar do ano passado, a categoria de filme estrangeiro foi uma briga de foice. Há tempos que isso não acontecia. Neste ano mesmo, em 2012, o brilhante drama iraniano “A Separação” sobrou em relação aos demais. Mas no ano passado era difícil escolher um favorito. Entre o canadense “Incêndios”, o mexicano “Biutiful”, do cineasta Alejandro González Iñárritu e o dinamarquês “Em um mundo melhor” todos tinham motivos para levar a estatueta para casa. Felizmente, com todos os méritos, a escolha da Academia foi certeira. “Em um mundo melhor” não é apenas o melhor filme de língua não-inglesa de 2010, mas dos melhores filmes europeus até onde a memória alcança e acerta em investir em relações humanas. Comove com sutilezas, sem apelar para o pieguismo, não tem o padrão Hollywoodiano em que estamos acostumados a ver e merece ficar para sempre na memória.

Dos filmes anteriores da diretora Sussane Bier, eu, particularmente apenas assisti “Coisas que perdemos pelo caminho”, um drama mediano com uma Halle Berry fraquinha, para variar, mas aqui ela acerta em cheio no que propôs.

“Em um mundo melhor” conta a história de Anton, um médico que trabalha em um campo de refugiados no Sudão e lida, principalmente, com a pobreza e dor dos moradores. Como se não bastasse, ele está em fase de divórcio com a sua esposa, Marianne e mora em uma casa no campo, onde seu filho, Elias, que mora com a sua mãe, vai visitá-lo freqüentemente. Esse menino, aliás, que aqui tem 10 anos, sofre bullying na escola em que estuda principalmente por um rapaz bem mais alto e forte do que ele, que o chama de “rato”, pelo aspecto de seus dentes. Elias conhece Christian, um garoto de sua idade que chegou na Dinamarca recentemente de Londres. Ele também está passando por problemas na família. A mãe de Christian morreu de câncer na Inglaterra e ele culpa seu pai por omissão. Isso faz com que esse garoto tenha um comportamento explosivo. Em uma cena, ele vê o garoto valentão insultando com Elias no banheiro da escola, Christian então, espanca-o e ameaça com uma faca. Aliás, para Christian, tudo se baseia em vingança. Há outras situações mais graves no decorrer da história em que este instinto de revidar tudo é fundamental para o desenrolar da trama. Não por acaso, este título original da Dinamarca, “Haeven”, significa “Vingança”.

Um dos trunfos de “Em um mundo melhor” é o roteiro envolvente. Conforme tudo acontece, o filme praticamente te suga para dentro da história. Eu assisti faz alguns dias e confesso que o filme ainda está fervendo aqui em meu interior. Os atores estão maravilhosos, sobretudo a dupla de garotos. Elias é um garoto inseguro, tímido e carente. Já Christian, para ele, nada deve ficar barato e ele não tolera “covardes”. Anton é o perfeito casamento entre pai exemplar, marido arrependido e médico dedicado. Ele é forçado a cuidar de um ditador lá do Sudão, que matou muitas pessoas e já mutilou mulheres gestantes. A mãe de Elias é um arraso como mulher solteira independente e cuida para que a influência vingativa de Christian não afete o psicológico de seu filho. O pai de Christian, apesar de aqui ter um papel pequeno, se divide entre a culpa pela sua esposa e cuidar de seu filho, que o responsabiliza pela morte da mãe.

O que é interessante é que a diretora Sussane Bier não faz julgamento de ninguém. O filme acompanha as dores de cada personagem de forma imparcial. Há diversas frases de impacto, como Anton dizendo a seu filho que "É assim que as guerras começam", quando ele vai buscar Elias na escola depois do bullying.



Mas “Em um mundo melhor” é muito mais profundo do que qualquer dor humana e tem uma coisa que o cinema brasileiro precisa aprender se sonha em algum dia concorrer novamente ao Oscar de Filme Estrangeiro: falar de problemas universais e não apenas problemas que se passam aqui em território nacional. Afinal, dor, vingança, amor e ódio são sim valores mundiais e universais.


Imagens:









Trailer do filme:






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