quarta-feira, 29 de julho de 2015

De volta para o futuro - 30 anos da trilogia


            De Volta Para o Futuro foi um grande marco dos anos 80 e 90 e seu legado repercute até os dias de hoje. Principalmente agora, em 2015, na qual o primeiro filme completa 30 anos e o terceiro, 25, mas o caso mais curioso foi o do segundo filme: ele é de 1989, 4 anos depois do lançamento do primeiro, mas o “futuro” apresentado por ele é justamente o ano de 2015. Ou seja, o futuro já chegou segundo Robert Zemeckis, Steven Spielberg e companhia.

            A idéia nem era fazer uma trilogia, mas hoje é de extrema importância para a cultura pop, gerando produtos, estudos e uma legião de fãs que se dividem quanto a necessidade de uma continuação ou não.

             Recentemente Zemeckis foi perguntado da possibilidade e ele respondeu: “só depois de morto”.

            É que a trilogia é tão fechada e embora seja atemporal, todas as brincadeiras com as datas e com as reviravoltas ficaram por lá e toda a magia e imaginação sobre a possibilidade de viajar no tempo também ficam junto com os 3 filmes que dá muito receio de mexer em algo consolidado.

            Não bastasse isso, vai ser difícil de engolir um novo elenco com atores tão marcantes em seus papéis, sendo assim, mesmo com os fãs clamando pela volta da franquia e querendo mais filmes, é compreensível que o diretor não queira mexer em seu produto, independentemente do sucesso ou não que irá fazer.

            Mas, o que há em ‘De volta para o futuro’ para tamanho sucesso? E Por que há tantos fãs?

            Primeiro temos que voltar à época do primeiro filme. em 1985, Robert Zemeckis era um total desconhecido em Hollywood, mas tinha um amigo poderoso: Steven Spielberg era dos maiores (se não, O Maior) nomes de Hollywood, pois já havia lançado dois filmes de Indiana Jones, ET – O Extraterrestre ainda estava fresquinho na memória do público e não devemos nos esquecer que o filme que o lançou para o estrelato, ‘Tubarão’, havia completado 10 anos de lançamento e foi o filme que praticamente inventou o conceito dos blockbusters.

            Eles se juntaram ao roteirista Bob Gale, aos produtores Kathleen Kennedy e Frank Marshall, ao compositor Alan Silvestri e ao Letrista Huey Lewis para conceber um novo filme para o verão de 1985.

            Mas ‘De Volta Para o Futuro’ não nasceu da forma como o conhecemos, houve algumas mudanças de roteiro e personagens: no script original, a viagem do tempo não seria feita em uma DeLorean, mas em uma geladeira, mas os realizadores acharam que o público poderia querer imitar entrar na geladeira de casa. E também quem faria o papel de Marty McFly seria Eric Stoltz ao invés de Michael J. Fox, mas os produtores não achavam que não seria uma boa idéia porque Eric era “sério” demais. Fox estava envolvido com a série ‘Caras e Caretas’ durante o dia e filmava o filme à noite – e as tomadas do filme que acontecem de dia foram filmadas durante o fim de semana.

            E embora a trilogia inteira seja excelente, nada apaga a magia e o clima de nostalgia do primeiro filme: desde o clima de anos 80, que nos remete à adolescência, bullying, mas fundamentalmente à viagem no tempo: quando Marty volta a 1955, ele vê seu local completamente diferente: não existe a Av. John Kennedy (ele foi eleito presidente só em 1960), na ocasião do lançamento do filme, o presidente americano era Ronald Reagan – sendo que nos anos 1950 ele era ator – e há uma piada deliciosa sobre isso. E o sujeito que era prefeito em 1985 trabalhava em uma lanchonete 30 anos antes.

            Mas em relação às mudanças na vida de Marty, nada se compara ao encontro dos seus pais quando jovens: sua mãe, Lorraine, que se apaixona por Marty era popular na escola e fumava, já seu pai era tímido, carente e só apanhava de Biff (o grande vilão da série). A presença de Marty em 1955 altera toda a história, principalmente no encontro e relacionamento de seus pais. E quem nunca quis ver como eram os pais na adolescência?

            ‘De volta para o futuro’ é um filme perfeito: desde a história, carisma, envolvimento, técnica, reconstituição de época e o lado musical: a Trilha Sonora de Alan Silvestri já ficou na história do cinema e a canção principal, The Power of Love, de Huey Lewis foi indicada ao Oscar, mas perdeu, injustamente para ‘Say you, say me’.

            O sucesso de público e crítica de ‘De volta para o futuro’ fez os produtores e roteiristas pensarem em uma continuação, mas é curioso isso porque o final do filme já sugere que haverá uma seqüência, mas Zemeckis disse em uma entrevista que tudo foi uma brincadeira do roteiro. Não bastasse isso, a mensagem “To be continued”, que aparece no final, só veio no VHS e DVD.

            ‘De volta para o futuro 2’ só veio em 1989, 4 anos depois. Agora com um orçamento muito maior e sendo filmado simultaneamente com a parte 3. O filme finalmente apresentou o futuro que estávamos imaginando: a história se passa no ano de 2015 (!) na qual Marty, sua namorada, Jennifer e Doc Brown viajam para o futuro com a DeLorean para corrigir um problema com seu futuro filho, na qual ele também sofre bullying da gangue de Griff (neto de Biff).

            Lá, ele “se vê” no futuro, e também vê sua esposa e filhos (e os filhos também não interpretados por Michael J. Fox, inclusive A filha, em um trabalho interessante de maquiagem).

            Seu local está completamente diferente: há um cinema em 3D passando “Tubarão 19”, os skates são voadores, a polícia é mais eficiente no combate ao crime, não há advogados e os carros voadores já existem (à exceção do cinema em 3D, é bem diferente da 2015 de hoje).

            Porém, o plot principal do principal de ‘De volta para o futuro 2’ é que no futuro de 2015, há um almanaque com os resultados de todos os jogos de todos os esportes entre 1950 e 2010, que Marty tem idéia de levar ao passado para ganhar dinheiro, mas é impedido por Doc Brown.

            O problema é que o Biff do futuro volta ao passado e entrega o tal almanaque para o Biff de 1955 e o presente de 1985 é completamente diferente do apresentado no primeiro filme: Biff é o homem mais poderoso da cidade, sua mãe é casada com ele e seu pai foi assassinado pelo próprio Biff em 1973. Considerando a cidade escura, é praticamente um futuro pós-apocalíptico.

            ‘De volta para o futuro 2’ não agradou como o primeiro, sobretudo pela trama dita confusa e pelas previsões furadas de roteiro, mas jamais podemos menosprezá-lo: as brincadeiras com passado, presente e futuro estão mais aprofundadas e as questões como “e se?” também foram mais apuradas.

            Sem contar que é difícil prever o futuro e os realizadores sabiam disso, tanto que levaram a história mais pela brincadeira...

            Seis meses após a estréia do segundo, ‘De volta para o futuro 3’ estréia.

            Dessa vez eles voltam 100 anos no tempo e viajam para 1885, no Velho Oeste.

            Embora seja o mais fraco da trilogia, sobretudo pela mudança de paradigmas – o que era ficção virou western – ainda é um filme muito bacana, absolutamente divertido de se ver, mostrando a cidade em construção (na verdade, o país em construção, na chamada “Marcha para o Oeste”), novamente as referências do primeiro filme estão lá e uma homenagem honesta a Clint Eastwood – coincidência ou não, ele realiza o grande ‘Os Imperdoáveis’ em uma homenagem aos westerns.

            A trilogia se encerra de forma honesta e melancólica. Foi difícil ver a destruição da DeLorean e saber que aquilo não vai mais acontecer, mas nos faz lembrar que todo ciclo se fecha uma hora e também não nos deixou se esquecer da nossa dura realidade, mesmo estando vendo uma obra de pura magia.

De volta para o futuro: 10,0

De volta para o futuro 2: 9,0

De volta para o futuro 3: 8,0


Imagens:

De volta para o futuro:





De volta para o futuro 2:






De volta para o futuro 3: 




terça-feira, 28 de julho de 2015

Touro Indomável


Touro Indomável (Raging Bull)

Direção: Martin Scorsese

Ano de produção: 1980

Com: Robert De Niro, Cathy Moriarty, Joe Pesci.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 16 Anos


Hollywood um dia foi assim

            O diretor Martin Scorsese só recebeu seu Oscar de Melhor Diretor em 2007 por ‘Os Infiltrados’ e embora tenha sido um prêmio mais do que justo, ficou claro que a Academia só deu a estatueta para não entrar no caso das injustiças históricas do Oscar, como Chaplin, Orson Wells e Stanley Kubrick.

            Porém, Scorsese já merecia esse prêmio em 1981, quando fez um filme maravilhoso, muito à frente de seu tempo e que não morre com o tempo: ‘Touro Indomável’ é uma grande obra-prima e marca mais uma vez essa grande parceria entre Scorsese e De Niro.

            Era uma época em que Hollywood ainda investia no cinema de autor, que foi predominante dos anos 70 e foi antes de os multiplex invadirem as salas e foi De Niro que insistiu para que Scorsese fizesse ‘Touro Indomável’, pois seu filme anterior, ‘New York, New York’ foi um fracasso de público e crítica e ele estava afundado com drogas e depressão, já De Niro estava no auge com O Franco-Atirador e Poderoso Chefão 2.

            Já Joe Pesci, que, assim como De Niro também é pupilo de Scorsese, quase ia desistir da carreira de ator e o interesse amoroso do protagonista, vivida por Cathy Moriarty, só tinha 19 anos no lançamento de ‘Touro Indomável’. Não bastasse isso, a fotografia do filme é toda em preto-e-branco e é uma história de boxe, que pareciam saturadas após o sucesso de ‘Rocky – Um Lutador’.

            De fato, ‘Touro Indomável’ não foi um sucesso de bilheteria e mesmo entre os críticos houve aqueles que falaram mal (pois é!), mas não devemos deixar de notar a ousadia de Scorsese na história do pugilista de Peso-Médio, Jake La Motta, que era genial no ringue, mas que não conseguia controlar seus demônios internos e tinha um comportamento explosivo, sobretudo com o ciúme de sua esposa, Vickie, vivida por Mortiarty.

            Alguns críticos acusaram ‘Touro Indomável’ de ser machista e de vangloriar a violência que La Motta tratava Vickie, mas isso é um absurdo: o filme contou de forma honesta esse ponto importantíssimo da história dele e não poderia ter deixado de fora. E há um fato curioso nisso: quando La Motta viu o resultado de ‘Touro Indomável’, ele perguntou a Vickie: “mas eu fazia isso?” E ela respondeu: “você fazia pior!”

            Se na franquia Rocky temos a história de um boxeador em ascensão, em ‘Touro Indomável’ temos uma história de queda e depressão, e o roteirista, Irwin Winkler, é roteirista dos dois filmes. E se a Fotografia foi tão elogiada, devemos dar os créditos não só a Scorsese, mas ao Diretor de Fotografia, Michael Chapman.

            Era uma época em que De Niro se entregava de corpo e alma para seus papéis e buscando sempre a perfeição, tanto que para realizar Touro Indomável, ele treinou boxe por um ano com o próprio La Motta, mas sua mudança mais radical foi quando ele engordou 27 quilos para viver a fase decadente de La Motta. Detalhe: a cena dura cerca de 5 minutos!

            A injustiça no Oscar só não foi maior porque Robert De Niro ganhou o Oscar por este papel irretocável, assim como a Montagem, mas ele merecia quase todos os outros prêmios que perdeu: à exceção de Melhor Som, que perdeu para ‘O Império Contra-Ataca’, ‘Touro Indomável’ deveria ter ganhado em todas as outras categorias: Melhor Filme e Direção (na qual perdeu para ‘Gente como a Gente’, de Robert Redford!), Ator e Atriz Coadjuvantes para Joe Pesci e Cathy Moriarty, e sua primorosa fotografia. E porque raios ele mal foi indicado a Roteiro Adaptado?

            Não entraremos aqui na polêmica se essa foi a melhor parceria entre De Niro e Scorsese, e nem precisa, mas com certeza está entre as 3 melhores com 3 obras-primas: Taxi Driver, Touro Indomável e Os Bons Companheiros.

Nota: 10,0

Imagens:










Trailer:


sábado, 25 de julho de 2015

Edward - Mãos de Tesoura


Edward – Mãos de Tesoura (Edward - Scissorhands)

Direção: Tim Burton

Ano de produção: 1990

Com: Johnny Deep, Winona Ryder, Dianne Wiest, Anthony Michael Hall.

Gênero: Drama

Classificação Etária: LIVRE


O triunfo de Burton

            Já são 8 parcerias entre Johnny Deep e o diretor Tim Burton e dentre muitos altos e baixos, um não vive sem o outro. A mais recente foi em 2012 com o estranho Sombras da Noite, mas as outras vieram, em 2010 com ‘Alice no País das Maravilhas’, o maior sucesso comercial do diretor até agora; Sweeney Tood, em 2007; A Fantástica Fábrica de Chocolate e A Noiva Cadáver, em 2005, A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, em 1999 e Ed Wood, em 1994.

            Faltou um? Pois é justamente esse que é não só o melhor filme dessa parceria como é considerado o melhor filme de Tim Burton: Edward – Mãos de Tesoura é uma pequena obra prima, onde o diretor colocou todo o seu coração, foi um grande sucesso de público e crítica e foi um clássico da sessão da tarde.

            Se Tim Burton já era um diretor consolidado com o cultuado Os Fantasmas se Divertem, em 1988, mas principalmente pelo fenômeno Batman, de 1989, o mesmo não podia se dizer de Johnny Deep: ele começou a carreira lá em 1984 sendo morto pelo Freddy Krueger em A Hora do Pesadelo, mas Edward foi seu primeiro papel de destaque. Não bastasse isso, seu namoro com Winona Ryder, sua parceira neste filme aqui, era dos mais badalados em Hollywood.

            Na sinopse de ‘Edward – Mãos de Tesoura’, temos, de início, Peg (Dianne Wiest) uma vendedora perfumes que não consegue sucesso nas vendas, mas descobre um castelo onde vive um sujeito chamado Edward, na qual seu criador (Vincent Price, infelizmente no último papel de sua carreira) o fez como um ser humano perfeito, exceto por um detalhe: no lugar das mãos, há tesouras.

            Peg o acolhe, o cria como um filho, mas Edward logo se torna o assunto principal do local, para o bem e para o mal: ao passo que ele vira atração entre as vizinhas fazendo um trabalho de cabeleireiro de animais e de humanos, além de fazer belíssimas esculturas no jardim, ele logo se torna vítima de preconceito, sobretudo de Jim, namorado de Kim (Winona Ryder), por ser uma “aberração”.

            Kim é a filha rebelde de Peg e de início também discrimina o Edward de certa forma, mas que logo torna uma amiga e interesse amoroso dele.

            A história pode parecer simples e bizarra do ponto de vista narrativo, mas as melhores qualidades estão nos detalhes: a Direção de Arte é perfeita (e a produção usou um local real dos EUA) e contrasta com o clima soturno e colorido que o diretor usa, não somente neste filme, mas na sua carreira que viria a seguir. A maquiagem, indicada ao Oscar, (e perdeu, injustamente para Dick Tracy) de Edward também é um destaque. Era uma época em que a computação gráfica ainda estava começando e os estúdios ainda usavam efeitos práticos.

E o que dizer da trilha sonora de Danny Elfman? Danny trabalhou em quase todos os filmes de Tim e hoje é dos melhores e mais famosos responsáveis por trilhas no cinema. A música de ‘Edward – Mãos de Tesoura’ é praticamente um personagem na história e as canções líricas e românticas acompanham os melhores momentos do filme – desafio a todos a verem a cena da neve com Winona Ryder e não se comoverem. É dos momentos mais sublimes da história do cinema.

Revendo ‘Edward – Mãos de Tesoura’ é curioso como existem algumas ironias do destino: o vilão da história e que pratica bullying com o nosso protagonista, Anthony Michael Hall foi o nerd de Clube dos Cinco, e ver essa versatilidade foi interessante, mas nada é mais irônico do que ver Winona Ryder: ela era das atrizes mais requisitadas de Hollywood, teve duas indicações ao Oscar, fez um filme com Francis Ford Coppola e estava no auge da beleza. Não era difícil achar um adolescente apaixonado por ela (inclusive este que voz fala), mas com o tempo ficou mais conhecida por seus escândalos, ficou com a fama de cleptomaníaca e era pouco chamada para fazer filmes – e quando era chamada era em papéis sem expressão.

Uma história para a família e que fala de preconceito, discriminação, amores impossíveis e sobre conduta humana. Tudo isso nesse clássico chamado ‘Edward – Mãos de Tesoura’, que acaba de completar 25 anos e está para sempre em nossos corações.

Nota: 10,0

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quarta-feira, 22 de julho de 2015

BoJack Horseman - 2ª Temporada



Criada por: Raphael Bob-Waksberg

Ano de lançamento: 2015

Vozes de: Will Arnett, Aaron Paul, Alison Brie, Amy Sedaris, Paul F. Tompkins, Lisa Kudrow.

Gênero: Animação

Classificação Etária: 16 Anos


A Netflix original e cheia de referências

            Não é segredo para ninguém a alta qualidade das séries da Netflix e como não é exatamente um canal, ela pode ousar mais, não ter que responder a patrocinadores e os roteiristas podem trabalhar nela de forma mais autoral.

            E isso significa que ela também pode trabalhar “fora da caixa”, que é pegar uma idéia que ninguém havia pensado antes e transformar o impossível no possível, embora as referências estejam lá. É o caso de Bojack Horseman, que pode parecer tola e causar repulsa de início, mas bastam alguns minutos de projeção para ver que se trata de uma série absolutamente deliciosa de se ver, muito incorreta, portanto, adulta e há muito de Os Simpsons, Uma Família da Pesada e South Park.

            Na história, um cavalo chamado Bojack (dublado por Will Arnett, que é produtor executivo) foi estrela da série Horsin Around no passado e nos dias de hoje vive amargurado, bêbado e arrogante: ele ainda se sente como uma estrela e tenta tirar vantagem de tudo isso.

            A série critica a tudo e a todos praticamente sem pudor. Desde as celebridades que se sentem como deuses até à indústria hollywoodiana, além do já óbvio destrato aos ex-ídolos até ao ambiente de um set de filmagem.

            Cada personagem tem um perfil que é alguma referência e alguma ironia: além do próprio Bojack, temos seu hóspede, Todd, dublado por Aaron Paul (o Jesse Pinkman de Breaking Bad e aqui também trabalha como produtor executivo) que funciona como uma espécie de alívio cômico, tem um grande coração e sempre parece ter um juízo melhor do que o cavalo.

            A Princesa Caroline é a empresária fracassada de Bojack, é tão arrogante quanto ele, e tão atrapalhada quanto. Ela namora um sujeito que claramente é uma criança disfarçada de adulto, em uma crítica bacana à sociedade de aparências.

            O Sr. Peanutbutter é um gato que é um empresário de um estúdio de Hollywood, também é arrogante embora seja bem sucedido. Ele é rival de Bojack por uma razão simples: ele é o marido de Diane, amiga e interesse amoroso do cavalo.

            Diane é uma escritora e escreveu um livro biográfico sobre Bojack, que mostrou o lado mais “humano” do sujeito arrogante e foi após o sucesso deste livro que o estúdio do Sr. Peanutbutter convidou o cavalo para o papel principal em Secretariat, um filme que Bojack almejava e é a chance de ele ter seu estrelato de volta.

            As duas temporadas mostram o lado arrogante e cínico de Bojack, mas com tramas diferentes: a primeira temporada focou mais no lançamento do livro e Diane era quase a protagonista (na 2ª temporada ela se torna menos importante na série), ao passo que na segunda temos as gravações de Secretariat e o novo romance de Bojack: ele tem um caso com uma das produtoras, que é uma coruja e é dublada pela Lisa Kudrow.

            Há dois flashbacks praticamente dramáticos nas duas temporadas e nas duas ocasiões foram os melhores momentos das temporadas: na primeira conhecemos Sarah Lynn, que era a menina que atuava ao lado de Bojack no seriado, mas, nos dias de hoje é viciada em drogas e é mais lembrada pelos escândalos (alguém se lembrou de Lindsay Lohan?). Foi bacana ver que ela era uma menina sonhadora, era muito inteligente e esforçada e queria uma vida normal, mas foi reprimida por sua mãe, que a usava para ganhar dinheiro, além de ter sido seduzida pelas facilidades de Hollywood.

            E na segunda temporada vemos com mais detalhes a infância de Bojack: ele era tímido, retraído, seu pai era um beberão, violento e sua mãe o destratava, culpando-o por nascer e deixá-la “feia” e vivia castigando o garoto.

            Várias celebridades são citadas ao longo dos episódios: Naomi Watts (que praticamente ganha um episódio próprio), Andrew Garfield, David Boreanaz (que foi o Angel em Buffy – A Caça Vampiros, ganhou uma série própria e agora está sumido). E por falar em atores sumidos, há um personagem com o nome de “Quentin Tarantulino”, em uma clara referência à Tarantino, inclusive brincando com o fato de ele “ressuscitar” a carreira de alguns atores.

            Quem vê imagens de Bojack Horseman pode ter algum preconceito pela “zoomorfização” dos personagens (há gatos, baleias, répteis interpretando humanos) e ainda no século 21 tem gente dizendo que desenho é coisa de criança, mas, para quem reclama da mesmice dos programas de hoje, dê uma chance a Bojack Horseman. A série é curta e dá para ver no padrão maratona da Netflix.           

Nota: 9,0

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quarta-feira, 15 de julho de 2015

Homem-Formiga


Homem-Formiga (Ant-Man)

Direção: Peyton Reed

Ano de produção: 2015

Com: Paul Rudd, Michael Douglas, Evangeline Lilly, Corey Stoll, Bobby Cannavale, Judy Greer, Anthony Mackie, Michael Pena, Hayley Atwell, John Slattery.

Gênero: Ação

Classificação Etária: 14 Anos


A Marvel mais modesta e não menos interessante
            Para a Marvel não importa se o herói é conhecido ou não, o que importa é que ele ou ela esteja integrado ao seu universo. Desde o primeiro Homem de Ferro, em 2008, ela faz aquilo que era considerado de nicho se tornar popular. A exceção dos fãs mais conhecedores de HQs, ninguém conhecia o Homem de Ferro antes do primeiro filme, assim como ninguém conhecia o grupo dos Guardiões da Galáxia até ano passado e hoje em dia o que mais se tem são os cosplayers e fãs de Tony Stark e do grupo dos Guardiões.

           Até ano passado o filme dos Guardiões da Galáxia era o considerado mais arriscado do estúdio e deu mais do que certo, mas, agora, em 2015, não é exagero nenhum dizer que o filme mais arriscado da Marvel realmente é o Homem-Formiga. E por uma série de motivos.

            Não bastasse o fato de ser um herói que é do 3° escalão das HQs, ele ainda tem um poder peculiar, que é o de ficar de tamanho minúsculo, mas fica com a força proporcional a de um adulto e ainda, conseguir domar as formigas como se fosse um exército.

            Se por menos do que isso já fazem memes e piadas nas redes sociais, imagina com um tema desses.

            E ainda temos que considerar que o protagonista é um ladrão que já teve passagem pela prisão, o que pode provocar repulsa no público mais conservador – além da dificuldade em escrever o roteiro.

            E as ressalvas não param por aí: a produção de Homem-Formiga teve várias revisões de roteiro e o então diretor, Edgar Wright (que dirigiu ‘Scott Pilgrim Contra o Mundo’) teve divergências de idéias com a Disney/Marvel e abandonou a cadeira de diretor, deixando o cargo para Peyton Reed, que dirigiu algumas comédias, como os conhecidos ‘Sim Senhor’ e ‘Separados pelo Casamento’ e os subestimados ‘Abaixo o Amor’, com Renée Zellweger no auge e ‘Teenagers – As Apimentadas’, porém, nunca dirigiu uma super produção.

            Homem-Formiga pode não ser um filme excelente, mas se olhar para todos esses problemas que a produção teve, só o fato de nos entregar um filme bacana podemos sim, dizer que o resultado foi excelente.

            A cena de abertura é formidável: se passa no ano de 1989 na qual o Dr. Hank Pym (Michael Douglas) entrega o projeto do homem-formiga para Howard Stark, pai de Tony – e na presença da Agente Peggy Carter (Hayley Atwell) – e a série da Agente Carter mostra que ela e Howard têm uma forte ligação desde a 2ª Guerra Mundial.

            Não bastasse isso na cena, o trabalho de computação gráfica de rejuvenescer Michael Douglas está perfeito. Ele ficou idêntico à sua época de galã de ‘Atração Fatal’ e ‘Instinto Selvagem’ e caiu muito em nossa nostalgia. E não podemos deixar de reparar na maquiagem da Peggy Carter já uma senhora, longe daquela moça jovem apresentada na série.

Depois disso somos levados aos tempos atuais e à história central: Scott Lang (Paul Rudd) acaba de sair da prisão e precisa de uma colocação profissional e do respeito da filha – que mora com a mãe (Judy Greer) e seu namorado, o policial Paxton, mas que logo é atraído por Hank e roubar o projeto do Jaqueta Amarela, criado pelo ambicioso Darren Cross (Corey Stoll, da série House of Cards) na própria empresa criada por Hank e hoje Darren é o presidente.

Pym entrega para Lang o uniforme do Homem-Formiga e o instrui o usar o poder de ficar minúsculo e controlar um exército de formigas, com a ajuda da filha de Pym, Hope (Evangeline Lilly).

Existem várias maneiras de se ver e definir o Homem-Formiga: seja como um filme de assalto, pois há um alívio cômico entre os amigos de Lang que planejam as invasões mais furadas do cinema – é quase como uma paródia de ‘Onze Homens e Um Segredo’. Pode ser visto como um drama familiar, pois tem toda a história da filha de Lang, ele tentando se aproximar da criança, ela querendo a presença paterna e Paxton tentando destruir a imagem de Scott, além da convivência entre Hope e Pym e a indiferença que a moça trata o pai, que só entendemos ao longo do filme.

E obviamente pode ser visto como uma grande comédia: o filme tem piada a toda hora. Mesmo alguns momentos mais densos, há uma piada no final. A grande maioria funciona, sobretudo aquelas que brincam com o tamanho do herói, mas algumas se tornam repetitivas, como as grandes histórias que Luis conta.

Não é surpresa nenhuma que o filme tenha um tom para a comédia, se considerarmos que o próprio Paul Rudd e Adam McKay (que escreveu e dirigiu várias comédias do Will Farrell, por exemplo) são os roteiristas.

As formigas são insetos que agüentam até 50 vezes mais do que seu peso e elas ainda trabalham em sociedade. E o roteiro explora isso brilhantemente.

Como adaptação – e como elo dentro do Universo Marvel- Homem-Formiga funciona muito bem. Para quem não sabia, Hank Pym é um cientista e nas HQs é ele que cria o Ultron e já teve as versões de Hank Pym e Scott Lang, além de uma outra na atualidade, mas jamais teve uma revista só dele. E o fato de colocar o herói antigo para confiar o uniforme ao mais novo é uma grande sacada de roteiro para não perder tempo com explicações e ainda amarrar o passado e presente do Universo Marvel... Além da já citada referência à Agente Carter e a óbvia ligação com os Vingadores, existe a ligação com a série Agents of Shield: Darren tem uma ligação forte com a Hydra, agência que corrompeu a Shield.

Não há ressalva nenhuma com ninguém do elenco, nem todo mundo está bem desenvolvido, infelizmente, como o próprio Jaqueta Amarela, mas os atores são muito bons e cada um, à sua maneira, dá um tom a mais para o filme: Paul Rudd está bem à vontade como herói e assumiu o filme para si; Michael Douglas faz um Hank Pym que é quase como uma figura paterna ao herói e é muito bom ver esse grande ator fazendo um papel grande após sua doença que quase o matou há 2 anos. Evangeline Lilly (a Tauriel de Hobbit e Kate da série Lost) faz de sua Hope uma filha insegura, porém, uma mulher inteligente. E Corey Stoll, embora existam muitas ressalvas com seu Jaqueta Amarela, não podemos nos esquecer que ele arrebenta como empresário inescrupuloso e corrupto.

Seja como produção quase modesta ou como produto de entretenimento, Homem-Formiga é um filme que jamais deve ser descartado, merece ser visto e descoberto. Para quem for vê-lo nos cinemas, há duas cenas pós-créditos, uma no meio dos créditos e outra no final – fazendo ligação com um outro lançamento da Marvel.

Nota: 8,0

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