domingo, 29 de setembro de 2013

De pernas pro ar 2

De pernas pro ar 2


Direção: Roberto Santucci

Ano de produção: 2012

Com: Ingrid Guimarães, Bruno Garcia, Maria Paula, Eriberto Leão, Cristiane Fernandes, Tatá Werneck, Cristina Pereira.

Gênero: Comédia

Classificação Etária: 14 Anos



De pernas pro ar 2 confirma as comédias bobocas atuais.

            Em 2010, quando ainda não havia ainda essa onda forte das comédias nacionais dominando os cinemas, estreou um filme, exatamente no finalzinho do ano, próximo do natal, que de início, ninguém deu bola. Foi “De pernas pro ar”, que chegou de forma discreta e levou mais de 2 milhões de espectadores aos cinemas brasileiros. O ano foi muito próspero em muitos aspectos, e o cinema foi um deles. Com muitos blockbusters bem-sucedidos, como “A Origem”, “Homem de Ferro 2” e “Toy Story 3”, o cinema nacional também teve seu merecido espaço, com o colosso que foi “Tropa de Elite 2”, que se tornou o filme nacional mais visto da história levando mais de 10 milhões de espectadores, se tornando um sucesso também de crítica (sinceramente, não conheço ninguém que não tenha gostado de “Tropa de Elite 2”) e extremamente corajoso, criticando governo e mídia. Também tivemos o “fenômeno espírita” com o irregular “Chico Xavier” e o formidável “Nosso Lar”. Todos muito bem-sucedidos, mas sem imaginar que o investimento seria quase total para as comédias.

            Quase todas as comédias conseguiram um sucesso estrondoso, vide “Cilada.com” e “Minha mãe é uma peça”. E claro, com o grande sucesso de “De pernas pro ar”, a indústria olhou para o material que tinha e resolveu que tinha que ter uma continuação.

            Por pura ironia, a continuação, “De pernas pro ar 2” estreou também no final do ano, no caso de 2012. O diretor é o mesmo. Os roteiristas são os mesmos, os atores são os mesmos. E o resultado é um lixo.

            No primeiro filme tínhamos uma mulher, Alice (Ingrid Guimarães) em busca de prazer e conseguiu com uma sociedade com uma amiga, dona de uma sexshop. Nesse segundo filme, temos uma mulher já realizada que precisa conciliar vida pessoal com a correria da vida profissional. O intuito era fazer uma crônica da mulher moderna, mostrando como a vida atual corrida pode trazer efeitos desastrosos na vida pessoal e familiar de uma pessoa. Ou mulher, no caso.
            O tema é universal, mas o foco é o universo feminino. Ou deveria ser. No caso de “De pernas pro ar 2”, nem dá para falar que a intenção era boa. A ideia do primeiro filme já era um desastre total. É vulgar, sem graça, sem roteiro e sem elenco. Nesse segundo filme, como se não bastasse, ainda é machista. Sim, respeito quem gostou e se divertiu, mas o filme tem mensagens subliminares machistas travestidas de feministas, como quando o médico diz para a protagonista, Alice, que mulher nenhuma aguenta a pressão que ela enfrenta. Ou quando a própria protagonista conhece sua antagonista, Vitória, vivida por Cristiane Fernandes, em que ela imagina ser uma “senhora velha e acabada” por trabalhar fora, ter 5 filhos e não ter empregada. Pura balela. A mulher atual está a um passo maior que a maioria dos homens. É mãe, esposa, estudante lê, e ainda tem vida social. Infelizmente, ainda estamos longe de quebrar muitos tabus já impostos.

            Na história, se é que podemos chamar isso de história, se passa logo após os acontecimentos do primeiro filme. Depois de Alice e Marcela (Maria Paula) serem, agora, empresárias de sexshop muito bem sucedidas, agora expandem seus negócios para Nova York, justamente quando a protagonista está cansada demais de tanto trabalhar e não se dedicar ao marido e filhos. Depois de um piripaque em um lançamento de uma loja, ela é forçada a se internar em um SPA, liderado por uma mulher linha dura (e caricata), sem contato com o mundo exterior e que se torna um fardo para Alice. Depois de passar por situações bizarras dentro do local, (tem um “clone” o jogador Vagner Love que chega a ser constrangedor), é chegado o momento de sair do SPA. Como Alice ainda não está “pronta” psicologicamente para trabalhar, é recomendado a ela tirar umas férias. E onde mais? Em Nova York. Mas com a inauguração de uma nova loja, ela não consegue se distanciar do trabalho, sem que seu marido e filho saibam.

            Como se não bastasse o tom machista, vulgar e sem graça, o filme ainda parece novela. Sim. Claro que se tratando de uma produção da Globo Filmes, era inevitável que eles não iam se distanciar de sua “galinha dos ovos de ouro”. Mas o caminho é idêntico aos folhetins globais, com a mocinha indecisa, a “vilã” boazuda, mas no fim, todo mundo se perdoa e vivem felizes para sempre. É triste ver que a indústria brasileira de cinema se dedica a produtos tão sem relevância e ainda com a mesma linguagem que se vê na TV. E com o sucesso estrondoso que essas comédias estão fazendo, o caminho para o cinema nacional, infelizmente, será esse mesmo. É muito difícil fazer um filme aqui no Brasil. Muita burocracia, muito dinheiro e impostos que o Governo Federal arrecada de um diretor iniciante e como ninguém quer se arriscar, os estúdios acham que “em time que está ganhando não se mexe”, e por isso, dizem “vamos fazer comédias pastelonas e bobocas”, e ainda com o argumento de divertir o povo brasileiro sofrido.

            Em “De pernas pro ar 2”, nada salva, o elenco é fraco (Ingrid Guimarães e Maria Paula são sem graça e péssimas atrizes), as locações, que deveriam ser uma atração, não combinam com o contexto (Woody Allen sabia muito bem usar o cenário de Nova York), e até a trilha sonora é fraca. E como estamos no Brasil, tinha que ter um funk carioca no meio. E ainda tem as piadas chulas de orgasmos de um replay das piadas e simulações com vibradores.

            Totalmente constrangedor e sem rumo.

            Isso aqui é como uma bolsa que sobrou de coleções passadas: só serve para ficar no fundo do armário.


Nota: 0,5


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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O bebê de Rosemary

O bebê de Rosemary (Rosemary´s Baby)


Direção: Roman Polanski

Ano de produção: 1968

Com: Mia Farrow, John Cassavetes, Ruth Gordon.

Gênero: Terror

Classificação Etária: 16 Anos



O Bebê de Rosemary permanece ainda assustadoramente atual.

            Fui rever nesta semana, O bebê de Rosemary, este clássico do cinema de terror e cinema em geral da década de 1960. Era uma época em que o terror não era explícito como nos dias de hoje, em que os filmes do gênero parecem mais disputar quem mostra mais do que quem assusta mais. Foi estranho assistir, primeiro porque muita coisa de lá para cá mudou, o mundo mudou. Era um dos anos mais turbulentos e radicais do século XX. Se não, "o” ano mais turbulento: protestos e reivindicações ao redor do mundo, inclusive no Brasil por um mundo melhor e justo. E não só o mundo, mas o cinema mudou. Da computação gráfica à tecnologia 3D, são essas obras de resistência que tornam um filme imortal e único. Outro motivo estranho de rever o filme foi como um filme de terror, que claramente faz questão de esconder todo o medo e horror da situação pode ainda continuar a provocar medo nessa geração “Jogos Mortais”? No caso de O bebê de Rosemary, é por uma razão muito simples, porque o diretor, Roman Polanski (vencedor do Oscar de Melhor Direção em 2003 por “O Pianista”) não teve medo de ousar e de adaptar o livro de Ira Levin, que parecia infilmável e maldito.

O bebê de Rosemary deu uma nova visão da obra e deu uma película cheia de metáforas e críticas sociais, que não são poucas ao longo da produção. Primeiro a metáfora sobre a convivência entre vizinhos, que quase sempre são um terror, principalmente em um prédio e com mais de um apartamento por andar. E depois as diversas metáforas sobre o encastelamento da população e cada vez mais o fato de as pessoas se isolarem do mundo exterior. Se tudo isso era questionado, já nos anos 1960, imagine agora, com todas as tecnologias que temos e a cada geração vivemos mais e mais como uma ilha. Dá para dizer, então, que O bebê de Rosemary é um filme à frente do seu tempo.

Na história, um casal, Rosemary (Mia Farrow, ótima, sensacional no papel, que sequer foi indicada para Melhor Atriz no Oscar) e Guy (Cassavetes) estão de mudança para um apartamento novo, em um prédio rodeado de vizinhos estranhos e sombrios. Rosemary é mais reclusa, mas o marido é mais carismático e logo conquista a amizade dos vizinhos. Em uma noite, Rosemary engravida misteriosamente. Segundo a própria, ela sonhava que estava transando com o marido. Todos estranham mas a gravidez persiste. Durante os 9 meses de gestação, Rosemary começa a ter alucinações com o marido, vizinhos e principalmente com a imagem do capeta em “pessoa”. Quando chega o momento de dar a luz, Rosemary é sedada por remédios e os médicos e vizinhos não a deixam ver a criança. Quando a protagonista, que está lúcida e, na verdade, não tomou remédio nenhum, se levanta da cama, ela decide, carregando uma faca enorme (em uma cena icônica), ver sua criança...

Não há uma só lista dos “melhores filmes de terror da história”, que não esteja com “O bebê de Rosemary” no meio. Anos à frente do seu tempo, foi até bem nas bilheterias e foi um sucesso de crítica. No Brasil, demorou a chegar porque os militares acharam que seria um mau exemplo à sociedade (alguém, por favor, me fala alguma coisa boa da ditadura?), mas por aqui foi sendo descoberto com as edições especiais em DVD e as diversas reprises na TV. A produção é de William Castle (de “A Casa da Colina”) e levou o Oscar de Atriz Coadjuvante para Ruth Gordon, que faz uma das vizinhas, além de ter sido indicado para Roteiro Adaptado, escrito pelo próprio Polanski.

Por se tratar de uma assunto tão delicado, como o satanismo, o filme, claro gerou polêmica: vários grupos conservadores queriam que o filme saísse de cartaz nos EUA, além do mais, Polanski contratou um líder da igreja satânica para um tom mais realista nos momentos finais.

Muita gente acha que situações como essas dão uma publicidade negativa para um filme. Discordo. Tudo isso aumenta a popularidade e curiosidade do filme. Isso, talvez, explica o fato de “O bebê de Rosemary” ter feito mais sucesso por aqui só nas décadas seguintes. E descobrir o cinema de Polanski mais à fundo é um deleite. Fica aqui a dica para assistir, também, “O Pianista” e “Lua de Fel”, do próprio Roman Polanski, mas fuja do pavoroso “O Último Portal”, com Johnny Deep. É bizarro e sem sentido. Mas seu melhor filme é, claro, esse que voz fala: “O bebê de Rosemary”.



Nota: 10


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domingo, 15 de setembro de 2013

O Ataque

O Ataque (White House Down)
Direção: Roland Emmerich
Ano de produção: 2013
Com: Jamie Foxx, Channing Tatum, Joey King, James Woods, Maggie Gyllenhall, Richard, Jenkins.
Gênero: Ação
Classificação Etária: 14 Anos



Inspirado como nunca, Emmerich um filme com sua marca.

            De início, o título em português para O Ataque seria “Ataque à Casa Branca”, mas, como tivemos, no primeiro semestre deste ano o também longa de ação, “Invasão à Casa Branca”, com Morgan Freeman, já disponível em DVD e no Netflix, os tradutores não acharam conveniente confundir mais o público. as  semelhanças entre os dois longas são muitas. A principal diferença está no orçamento e distribuição. Invasão à Casa Branca chegou como filme modesto e quase sem alarde e foi muito bem nas bilheterias, e foi sendo descoberto pelo grande público, principalmente quando chegou em DVD, mas, fundamentalmente quando ele estreou no Netflix, serviço bastante popular e importante para a propagação de filmes e séries para o grande público.

            O caso de O Ataque foi um pouco diferente. Estreou com status de super produção, com um orçamento de 150 milhões de dólares, faturando mais do que o dobro no mundo inteiro, principalmente na Europa e aqui no Brasil, onde o diretor Roland Emmerich tem muitos fãs.

            Após o fracasso de 10000 a.C, do já obsoleto 2012 e do estranho “Anônimo”, Emmerich finalmente reencontra a acolhida popular que o consagrou. Ele é o responsável pelo megassucesso “Independence Day”, que faturou mais de 800 milhões de dólares pelo mundo todo e aqui no Brasil fez mais de 4 milhões de espectadores no ano de 1996. Nele, teve a cena antológica da explosão da Casa Branca por um ataque alienígena, fez crescer a carreira bem sucedida de Will Smith e ainda de “presente”, faturou o Oscar de Melhores Efeitos Especiais. Mas seu melhor filme é “O Dia Depois de amanhã”, com uma história até interessante, que tinha como pano de fundo o Aquecimento Global e nos apreciou com a Big Apple sendo engolida pelo gelo. Por aqui, em “O Ataque”, há cenas antológicas e surreais de ação, um roteiro ora afiado, ora cheio de reviravoltas absurdas e um ótimo elenco.

            O Ataque conta a história de um rapaz, John Cale (Channing Tatum) daqueles típicos heróis de ação: carismático, sem dinheiro e desprezado pela filha e esposa. Sua filha é incrivelmente inteligente, adora política e é fã do presidente norte-americano, James Swayer (Jamie Foxx). Para tentar se aproximar da filha, ele lhe consegue ingressos para excursões à Casa Branca, bem no dia em que ele vai até a residência para uma entrevista de emprego para o Serviço Secreto. Numa dessas sortes (ou azares) da vida, ocorre um ataque terrorista dentro da Casa Branca, quase todos são tomados como reféns, mas Cale consegue salvar o presidente. O caso vira escândalo mundial em minutos, a Casa está tomada pela mídia, polícia e exército, mas o presidente ainda está desaparecido e seu “herói”, Cale, também, e os terroristas estão irredutíveis: o interesse está além do dinheiro para libertar os reféns e o Presidente...

            No quesito humor e referências, “O Ataque” é um filme perfeito. Sua melhor qualidade é não se levar muito a sério. O filme brinca o tempo todo com poder e política. As semelhanças de Jamie Foxx e o presidente Barack Obama são inevitáveis: além de serem afro-descendentes, são simpáticos e carismáticos. Channing Tatum, que não é um grande ator, funcionou muito bem aqui como herói de ação do estilo Rambo e Duro de Matar. É muito bom rever James Woods (que estava sumido) como chefe do serviço secreto americano em cena. Maggie Gyllenhall está bem como sempre, neste caso, como funcionária do Serviço Secreto. Um destaque muito positivo do filme é a pequena Emily, de 11 anos, que por aqui faz a filha de Tatum, vivida pela novata Joey King. Ela é uma graça e o papel de jovem nerd viciada em política que caiu tão bem que ela merecia um filme próprio.

            As piadas estão espertas, o filme brinca com o caso de Kennedy com a Marilyn Monroe, com a política americana e até com Independence Day(!). Há referências com a atual juventude e a tecnologia, que nos ajuda muito hoje em dia (não entrarei em detalhes, pois a cena merece ser vista com surpresas).

            As cenas de ação estão pra lá de absurdas como a perseguição de carro dentro da Casa Branca, que termina com o carro na piscina(!), explosão, de novo, da Casa Branca e explosão do avião presidencial, Air Force One.

            O final do filme é apenas correto e até enfadonho, e o roteiro, como um todo, é preguiçoso. Infelizmente a desculpa para o ataque em si é tão absurda que deu a impressão que o estúdio não queria um roteirista e sim um produtor que suprisse o resultado artificial e superficial da obra, que vai continuar faturando milhões ao redor do mundo, de certa forma o sucesso é merecido, mas nada como ter um mínimo para um filme: roteiro melhor escrito.
          

Nota: 7,0




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