segunda-feira, 30 de junho de 2014

Perdidos na Noite



Perdidos na noite (Midnight Cowboy)


Direção: John Schlesinger

Ano de produção: 1969

Com: Jon Voight, Dustin Hoffman, Sylvia Miles.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 16 Anos


O cinema de autor um dia definiu Hollywood

            Na segunda metade dos anos 1960, Hollywood estava falida. Após a explosão dos musicais nos anos 1950, os estúdios se viam em uma crise de criatividade e a falta de uma corrente nova que definisse aquele tempo. E qual foi a saída para tirar Hollywood do buraco? Bom, estamos falando de uma época em que manifestações eram intensas no mundo inteiro e que a rebeldia era a palavra da vez. E foi preciso unir alguns aspirantes a cineastas considerados rebeldes para criar uma nova safra dos filmes americanos: o chamado “cinema de autor”, que são aqueles filmes em que o diretor ou o roteirista têm liberdade total para colocar tudo o que lhe vem à sua cabeça em sua obra. Hoje em dia ainda existem filmes assim, mas estão basicamente no circuito fechado, longe do circuito comercial. São os estúdios que comandam o entretenimento e dão a palavra final. Alguns diretores ainda conseguem alguma autonomia, mesmo nos blockbusters, como Christopher Nolan e J. J. Abrams. Porém, ainda longe do ideal.

            E quais eram esses rebeldes dos anos 1960? Ninguém menos do que Steven Spielberg, George Lucas, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e Brian de Palma.

            E há exatos 45 anos, estreava um filme 100% autoral e uma grande aula de como trabalhar com atores, locações belas e trilha sonora que tem tudo a ver com o que o filme diz: “Perdidos na noite”, que marca a estréia do cineasta britânico ao cinema americano John Schlesinger (que morreu em 2003 aos 77 anos). O filme também marcou a estréia de Jon Voight (pai de Angelina Jolie na vida real) nos cinemas. A sua escolha como protagonista foi ousada, quando Warren Beatty era o mais cotado, o diretor sabia o que estava fazendo em colocar um ator com menos glamour em um papel tão denso. E o filme também tem Dustin Hoffman, que estava fresquinho com seu grande sucesso na obra-prima “A primeira noite de um homem”, em 1967.

            “Perdidos na noite” surgiu como um filme pequeno e alternativo e foi ganhando festivais, até a Academia reconhecê-lo e se tornar não só um sucesso de crítica, mas também de público.

            O filme foi o grande vencedor do Oscar de 1970 de Melhor Filme, e ainda ganhou os prêmios de direção e roteiro adaptado. Os atores Jon Voight e Dustin Hoffman foram indicados a Melhor Ator, mas perderam (injustamente) para John Wayne por “Bravura Indômita”.

            A escolha de “Perdidos na noite” para Melhor Filme também foi uma aposta considerada ousada. Esse foi o primeiro caso da Academia em que um filme com classificação “X” (não recomendado para menores de 17 anos) obteve o prêmio principal. Após os prêmios, o filme foi reclassificado para “R” (onde menores podem ver com a presença dos pais e responsáveis). Aqui no Brasil, seria algo como “Classificação 18 Anos”. Tudo isso é um exagero, diga-se de passagem. O filme gerou essa polêmica por falar em prostituição masculina e do submundo de uma grande cidade como Nova York.

Muito à frente do seu tempo, “Perdidos na noite” sobrevive a tudo isso que se tornou cultuado e lembrado até os dias de hoje. É quase o mesmo caso de “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, que foi um filme acusado de violento e com temática sexual, mas o tempo comprovou sua genialidade e questões abordadas.

            Na história de “Perdidos na noite”, temos um caubói texano, Joe (Voight, sensacional no papel e merecia o Oscar de Melhor Ator!) que parte de sua cidade natal, Texas, rumo à Nova York para tentar a sorte. Lá, ele conhece “Ratzo” Rizzo (Hoffman, igualmente ótimo!), que é um grande aproveitador e com sua saúde piorando aos poucos em especial por sua deficiência na perna direita. Os dois passam a morar juntos no condado do Bronx, considerado a periferia de Nova York. A realidade da metrópole, porém, não é o que Joe esperava. Ele passa a ganhar a vida como garoto de programa e tirando dinheiro das madames, inclusive da socialite Cass (Sylvia Miles) – em uma cena espetacular. Sem dinheiro e com muito charme, é basicamente dessa forma que Joe vai ganhando a vida em Nova York.

            Além desse tema explosivo, que é a prostituição masculina (um tabu até hoje), o filme não se resume somente a isso. Muito pelo contrário, “Perdidos na noite” é munido de sentimentos e de empatia com os protagonistas. É um belo retrato e metáfora da migração das pequenas para as grandes cidades. Aqui no Brasil esse é um fenômeno comum, em especial de quem vem do Nordeste para o Rio de Janeiro e São Paulo, e nos EUA isso também acontece.

            Também é dos últimos suspiros e referências dos grandes Westerns, tão popularizados nos anos 1960 e que viam o fim de seu auge.

            “Perdidos na noite” tem uma fotografia e câmeras perfeitas. Basicamente não há tomadas em estúdios, tudo foi realizado no Bronx, para uma maior realidade das cenas. Muito antes de Scorsese mostrar uma Nova York sombria em Taxi Driver, a metrópole suburbana de “Perdidos na noite” tem ares de vazia e sem vida.

            A cena em que os protagonistas estão em uma festa com sexo, drogas e rock n’ roll é uma referência clara à sua época, em que a rebeldia, o movimento hippie e o amor livre tomavam conta do mundo. Repare que estamos falando do ano de 1969, que teve o festival de Woodstock.

            A trilha sonora que embala o filme, em especial na seqüência de abertura, é dessas clássicas do cinema e que marcam um filme para sempre. Logo   que começa o filme, temos o personagem de Jon Voight caminhando pelas ruas do Texas ao som da canção Everybody’s talkin.

            Para apreciar “Perdidos na noite”, deve-se vê-lo com a cabeça dos anos 60/70. Não se deve compará-lo ao cinema milionário de hoje, pois isso é tão covarde quanto injusto. E se filmes bons são aqueles que não morrem com o tempo, “Perdidos na noite” é a prova viva disso, 45 anos após seu lançamento.
             

Nota: 10,0

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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Como Treinar seu dragão 2



Como treinar seu dragão 2 (How to train your dragon 2)

Direção: Dean DeBlois

Ano de produção: 2014

Vozes de: Jay Baruchel, Cate Blanchett, Gerard Butler.

Gênero: Animação

Classificação Etária: LIVRE


“Como treinar seu dragão 2” é para Gregos e Troianos – ou para Dragões e Humanos.

            Todos os anos, há uma batalha das animações neste período do ano de férias escolares entre a DreamWorks e a Pixar. Na maioria dos casos, a Pixar leva a melhor, pelo menos entre os críticos. A DreamWorks, empresa que tem Steven Spielberg como um dos sócios, sempre teve a idéia de entreter mais a platéia e realizar filmes sem compromisso. E a Pixar (que um dos sócios é Steve Jobs) quer, filme a filme, elevar suas idéias, fazer o público pensar mais e transpor àquilo que é sonho de realidade. Ou seja, em teoria, a Pixar produz filmes mais intimistas e a DreamWorks, mais blockbusters. Mas na prática não é bem assim. É certo que a Pixar fez muitas obras primas, como “Ratatouille” e “Wall-E”, mas dizer que a empresa de Spielberg não tem conteúdo e só realiza animações para ganhar dinheiro é um ultraje. E não devemos nos esquecer que a Pixar tem um filme ruim na sua carreira, que é “Carros 2”.

            Volta e meia, a DreamWorks nos surpreende e até nos faz pensar. A franquia “Shrek” mudou a forma de como encaramos animações como filmes para crianças ou para toda a família e “Os sem-floresta” tem uma bonita mensagem ecológica.

            E foi em 2010 que a DreamWorks realizou seu filme mais intimista, que une produção, roteiro e personagens de forma espetacular e contou com uma indicação ao Oscar: “Como treinar seu dragão”, que foi um sucesso de público e crítica e agora, com o 2° filme, deve virar uma franquia (o 3° filme deve vir em 2016).

            Se havia alguma expectativa negativa em relação à essa continuação, ela é jogada de lado logo na seqüência de abertura, com as crianças da ilha de Berk brincando, cada uma com seu dragão, de corrida (que lembra muito o Quadribol, de Harry Potter) e um prelúdio que o filme seria eletrizante. Mas, “Como treinar seu dragão 2” não é só cenas espetaculares, também é uma história envolvente e que explora mais os acontecimentos do 1° filme.

            Na história, que se passa 5 anos após os acontecimentos do primeiro filme, a ilha de Berk agora está em harmonia com os dragões e cada criança cuida de um. E, obviamente, o nosso protagonista, Soluço, cuida de seu Banguela. Tudo vai bem até que os moradores descobrem que Drago, um antigo rival de Stoick (pai de Soluço), deseja controlar a todos os dragões e também à ilha. Contra a vontade de seu pai (mais uma vez), Soluço agora sai com seu dragão para convencer Drago a deixar a ilha em paz. Em um acidente de percurso, ele encontra um santuário de dragões que é cuidado por Valka, que, logo, Soluço descobre que ela é a sua mãe. Além desse choque familiar, há a questão de Drago: seu dragão ultra poderoso, Alfa, tem o poder de controlar todos os dragões.

            O filme está muito mais bonito e com um 3D de encher os olhos. A Direção de Arte do Santuário de Dragões é sublime. Nota-se o cuidado com os detalhes e a textura dos personagens. Dessa vez, o roteiro e direção ficaram nas mãos de Dean DeBlois (que dirigiu o 1° filme e dirigiu, também, “Lilo & Stitch”, da Disney). DeBlois viu que a história não poderia ter ficado só no primeiro filme e poderia ser muito mais explorada. E não foi algo caça-níquel. Aqui, o protagonista Soluço não tem como preocupação única cuidar de seu dragão, aqui ele tem que salvar sua ilha ao mesmo tempo em que cuida do dilema com sua mãe. O encontro de Soluço e Stoick com Valka é poético.

            Esse “Como treinar seu dragão 2” contém também muitas referências, tanto do cinema como da vida real. O dragão Alfa lembra muito o “Godzilla”, um monstro dos mares, e a inspiração fica mais clara quando no seu uivo. Quando esse Alfa controla os dragões deixando-os ao seu comando remete muito ao nazismo: uma ditadura de um único partido e que todos tinham que venerar seu líder.

            Mas a melhor referência fica no tratamento aos dragões, explico melhor: desde o primeiro filme, vemos que os dragões só atacam os humanos porque se sentem ameaçados e Soluço trata seu Banguela como um filho e tudo muda. Lembra muito o tratamento nosso com os animais de estimação, sobretudo cachorros e gatos. Eles são tão seres vivos quanto nós e só querem um pouco de proteção e, se treinados por mãos erradas, podem ser verdadeiras máquinas de matar (como Drago faz com seu Alfa). De certa forma, essa mensagem pode parecer despercebida, mas não deve ficar ignorada e é uma boa lição de moral, sobretudo às nossas crianças, que são o foco do filme.

            O time de dublagem foi melhorado. Além de termos novamente Jay Baruchel dublando Soluço e Gerard Butler dublando Stoick, temos a atual vencedora de Melhor Atriz no Oscar: Cate Blanchett, com sua Valka, com uma atuação magnífica e com uma carga dramática que só poderia vir de Cate.

            Quem disse que uma continuação não pode superar seu original? Felizmente, esse preconceito já foi deixado de lado se contarmos, por exemplo, que “The Dark Knight” é uma continuação de “Batman Begins”, mas ele ainda existe se lembrarmos que “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” é continuação de “Indiana Jones e a última cruzada”
           

Nota: 10,0


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sexta-feira, 20 de junho de 2014

A culpa é das estrelas



A Culpa é das Estrelas (The Fault in Our Stars)


Direção: Josh Boone

Ano de produção: 2014

Com: Shailene Woodley, Ansel Elgort, Nat Wolff, Laura Dern, Sam Trammell, Willem Dafoe, Lotte Verbeek.

Gênero: Romance

Classificação Etária: 12 Anos


Como filme, “A Culpa das Estrelas” é melhor do que o livro

            Muita gente viu com maus olhos quando foi anunciado, no ano passado, que o Best Seller “A Culpa é das Estrelas” teria uma adaptação cinematográfica. Primeiro pelo excesso de filmes baseados em livros de sucesso, como as franquias “Jogos Vorazes” e “Crepúsculo”. Segundo porque, por se tratar de um livro voltado para o público adolescente, esse “A Culpa é das Estrelas” parecia ser mais do mesmo. E terceiro porque dificilmente um filme consegue ser melhor do que o livro. O que muitos roteiristas precisam entender é que um filme é uma adaptação, e como tal, algumas licenças poéticas são válidas, desde que não se destrua o universo da obra nem fuja demais do tema. Portanto, deve-se haver cuidado quando falamos: “mas isso não tem no livro” ou “está infiel ao livro”.

            O livro “A Culpa é das Estrelas” é um romance que logo se tornou um fenômeno no mercado literário. Escrito por John Green em 2012, a concepção para a adaptação do cinema surgiu ano passado até a edição final este ano. A dupla de roteiristas sabia o que estava fazendo. Scott Neustadter e Michael H. Weber escreveram, em 2009, o encantador “(500) dias com ela” e aqui, entenderam de verdade o espírito do livro, com um roteiro muito centrado e pegando o que há de mais importante para colocar na tela um filme que agrade mesmo quem não leu o livro e eles sabem que adaptação é adaptação e não importa se falte esse ou aquele detalhe: cinema e literatura são mídias diferentes. Ponto.

            Para quem não sabe da história, a trama é narrada em 1ª pessoa pela jovem Hazel Grace Lancaster (Shailene Woodley – (ótima no papel!) que teve câncer diagnosticado quando criança e é incurável. Também tem um problema seríssimo de pulmões e só consegue respirar com a ajuda de aparelhos. Hazel é tímida e carente, quase não tem amigos e, por conta disso, sua mãe a coloca em um grupo de apoio. Lá, ela conhece o charmoso Augustus Waters (Ansel Elgort – um ator dessa nova geração muito interessante), que anda com o auxílio da perna mecânica em sua perna esquerda. Augustus, ou Gus, como também é conhecido, logo se apaixona por Hazel, que prefere não se envolver. Suas mensagens são sempre finalizadas com um O.K. (que é uma marca deles e é muito citada no livro). No grupo de apoio também conhecemos Isaac, que logo se torna amigo do casal. Isaac tem um problema gravve de visão e logo fará uma cirurgia que seu resultado será sua deficiência visual completa.

            Outro ponto fundamental da história é a paixão pela dupla pela literatura. Em especial do livro fictício “Uma Aflição Imperial”, escrito pelo holandês Peter Van Houten. O casal fica intrigado com o desfecho do livro. Eles se comunicam com o autor, que logo solicita que o casal viaja para Amsterdã (capital da Holanda) para que o final do livro seja explicado.

            Essa passagem do livro/filme em que eles viajam para Amsterdã merece uma explicação à parte. Quando surge o convite para que o casal conheça o autor os deixa empolgado. Porém, uma crise de respiração deixa Hazel em coma por dias até que surge a dúvida se ela deve ou não deve ir à Holanda. Os médicos deixam claro que isso é um risco, mas, segundo a própria Hazel, esta é uma chance única em sua vida. E fica o dilema? Ela deve seguir seus sonhos ou a razão? É melhor viver ou sobreviver? Depois de muitas dúvidas ela, Gus e sua mãe vão juntos à Amsterdã. A forma de como a cidade é tratada é esplêndida.

O bacana é que a cidade foi reproduzida de forma honesta. Muita gente olha para Amsterdã como uma cidade “perdida e pecaminosa”. Aqui, ela é tratada como deve ser – uma grande metrópole como qualquer outra, sem estereótipos. E quando finalmente eles conseguem falar com o escritor, Peter Van Houten, o resultado é catastrófico: eles descobrem que ele é um homem bêbado, amargurado e que não responde aos seus fãs. Muito diferente é sua assistente, Lidewij (Lotte Verbeek, da série “The Borgias”), que é muito atenciosa e, após o encontro desastroso do casal com o autor, os leva à casa de Anne Frank.

A trilha sonora do filme, mais puxada pelo lado lírico da coisa e podendo até passar quase invisível, é perfeita. As músicas casam de forma harmônica com a Direção de Arte irretocável. Quando nos lemos, dá margem para muitas interpretações e permite que o leitor imagine ou reflita naquilo escrito. E isso ficou de forma magnífica aqui. Todos os locais, desde o grupo de apoio até mesmo em detalhes mínimos, como a típica casa do subúrbio americano são tratados de maneira como há muito não se vê.

O romance é colocado de forma lírica sim, mas não melosa e nem como algo inatingível ou impossível. É um romance teen com dois adolescentes normais, que têm seus desejos e repressões (a cena de sexo em Amsterdã é poética). Suas deficiências não são caricatas nem tratadas de forma à platéia ficar com compaixão. Hazel e Gus são seres humanos normais. E mesmo o romance é aqui algo verdadeiro. São pessoas que se amam independentemente das limitações.

Há uma coisa irônica em colocar Shailene Woodley e Ansel Elgort como casal principal aqui: eles são irmãos em “Divergente”, Tris e Caleb e de tão amigos a Fox, estúdio que financiou “A Culpa é das Estrelas” resolveu colocá-los aqui como casal até para o público se identificar com os rostos novos.

E por falar em rostos novos, coloco muita fé na carreira dos dois. Elgort é uma grande revelação. Seu Caleb em Divergente não foi tão legal assim, é verdade, (e o filme também não ajuda) mas aqui é uma chance de crescer. É um ator bonito sim, mas espero que ele não fique centrado só nisso e espero, principalmente, que seu agente o coloque em papéis que o exija mais. E Shailene Woodley é, não só uma promessa como uma realidade. Muita gente não a considera bonita (o que não é meu caso), mas carisma e talento ela tem. E que talento! Se Divergente é um acidente em sua vida, quem quiser vê-la atuando de fato, recomendo que vejam “Os Descendentes”, com George Clooney, em que ela recebeu uma indicação ao Globo de Ouro de Atriz Coadjuvante pelo papel.

Mas a dupla principal não seria nada sem um elenco de apoio. Os pais de Hazel (que não têm seu nome revelado) são vividos pela sempre ótima Laura Dern e pelo Sam Trammell (o Sam Merlotte da série “True Blood”, da HBO – que, aliás, iniciará sua última temporada). E não devemos nos esquecer do sempre ótimo Willem Dafoe como o ranzinza escritor Peter.

E o final tem todo aquele sentimento que o filme exigia. É difícil conter as lágrimas no desfecho e mais difícil ainda deixar de torcer pelo casal. Espero que com o sucesso do filme e livro, tenha-se menos preconceitos com àqueles restritos de mobilidade e que eles sejam tratados com o mínimo de respeito.

E quem disse que um romance adolescente não possa resultar em um filme tão bacana e cheio de sentimento como “A Culpa é das Estrelas”. Nas mãos de um bom roteirista, tudo é possível.
             

Nota: 10,0

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No limite do amanhã



No limite do amanhã (Edge of Tomorrow)

Direção: Doug Liman

Ano de produção: 2014

Com: Tom Cruise, Emily Blunt, Bill Paxton, Blendan Gleeson.

Gênero: Ficção Científica

Classificação Etária: 12 Anos


“No limite do amanhã” é uma ótima surpresa como ação

            Até o momento, 2014 está sendo um ano tão decepcionante para o cinema. Sério! Vários projetos que prometiam mundos e fundos e alguns foram até bem de bilheteria, mas dividiram a crítica. Exemplos? “X-Men: dias de um futuro esquecido”, que prometia ser o melhor filme dos mutantes da história se perde em uma trama confusa e com personagens desperdiçados. E “Godzilla”, que prometia resgatar aquele espírito infantil de filmes e séries de monstros gigantes, como “Círculo de Fogo” fez muito bem ano passado, mas apresenta cenas ruins de ação e um protagonista fraco.

            E a coisa estava tão feia que eu já até tinha perdido as esperanças nos blockbusters e investido todas as minhas fichas no cinema de arte. Eis que surge “No limite do amanhã”, um grande filme de ficção que brinca muito com a questão da viagem no tempo e tem uma trama muito cuidadosa e intrigante.

            É possível dizer que, “No Limite do Amanhã” é uma mistura de “Feitiço do Tempo” com “Tropas Estelares”. No caso de Feitiço de Tempo, a semelhança é clara: nos dois filmes temos e protagonista que revive o mesmo dia todos os dias e tendo que corrigir a todos os erros deste dia. Nesse ponto, os dilemas de Tom Cruise são maiores do que àqueles vividos por Bill Murray: enquanto em “Feitiço do tempo” o personagem de Murray tentava corrigir os erros de sua vida pessoal, viver aquele dia como se ele fosse único e ainda, conquistar a garota dos seus sonhos, Cruise aqui volta no tempo para decidir e mudar algo que pode afetar o futuro de muitas vidas. E, no caso de “No Limite do Amanhã”, há como pano de fundo, metáforas e conspirações políticas. É aí que entra a semelhança com “Tropas Estelares”, mas as semelhanças não param por aí: o visual arrebatador, o clima de aventura e o gênero ficção científica também são pontos em comum.

            Também dá para dizer que “No Limite do Amanhã” parece muito um videogame em um filme que não é inspirado em game nenhum. Enquanto as adaptações de games são de um gosto muito duvidoso (à exceção de “Detona Ralph”, claro!), aqui temos algo que lembra muito um cenário de game, principalmente porque o nosso protagonista, assim que morre, tem que reviver tudo novamente e volta tudo do começo da “fase”. E sem contar o visual, que relembra muito a jogos de tiro, como “Battlefield” e “Call of Duty”.

            “No Limite do Amanhã” é baseado no livro “All you need is kill” de Hiroshi Sakurazaka, se passa em um futuro não muito distante e conta a história de Bill Cage (Tom Cruise), que é um relações públicas do exército americano. Após uma discussão com seu superior, Brigham (Brendan Gleeson), ele é rebaixado de cargo e passa a viver como um simples soldado em uma batalha com alienígenas no que eles chamam de “dia D”. Porém, a missão é suicida e leva ao exército inteiro à morte. Cage morre nas mãos de um alienígena e volta do mesmo ponto em que acorda como soldado. E todas as vezes em que Cage morre, ele parte do mesmo ponto para tentar corrigir a carnificina. Bill Cage descobre que seu “poder” de voltar no tempo é o único modo de salvar a humanidade dos chamados “Ômegas”, que são os alienígenas mais avançados. Quem lhe conta é a guerreira Rita Vrataski (Emily Blunt), que é a única que sabe das conspirações políticas e da passagem de tempo de Cage.

            Uma coisa que torna esse “No Limite do Amanhã” tão especial é que, mesmo baseado em um livro, seu tom é praticamente de um filme original. Não é baseado em quadrinhos nem tampouco é continuação. Aliás, é dos poucos filmes do verão americano que não é seqüência. O filme merece sim, estar entre os indicados às categorias técnicas, como Efeitos Especiais e Direção de Arte.

            Outro detalhe da expectativa baixa desse filme é a escolha do diretor, Doug Liman. Ele começou a carreira de forma espetacular no cinema independente com “Swingers – caindo na noite” e “Vamos Nessa” – seu melhor filme na carreira. Tal talento levou Hollywood a chamá-lo a uma superprodução: “A Identidade Bourne”, em 2002, que teve mais 2 filmes excelentes e um péssimo reboot. Porém, a carreira de Liman foi ficando mais comercial e menos interessante, com “Sr. & Sra. Smith” e “Jumper”, dois filmes que não gosto e parecia que Liman entraria na galeria de diretores que não têm pulso firme e estão à mercê dos produtores, como Brett Ratner, mas aqui o caso é outro. Mesmo “No Limite do Amanhã” não sendo um filme autoral e é sim, uma superprodução, nota-se o cuidado com o roteiro em entregar ao público o melhor material possível.

            Só tenho duas ressalvas em relação ao filme, primeiro, a preguiça em fazer um final digno de nota. Toda a ousadia da história se perde em um desfecho feito de qualquer jeito. e não podemos esquecer que o protagonista de “No Limite do Amanhã” é Tom Cruise, que há tempos nos deve um papel digno de nota e anda mais preguiçoso para atuar. E ele não consegue colocar a carga dramática que seu personagem exige e aqui está com a cara do Tom de sempre: sorridente e com cara de herói. Muito contrário é o papel de Emily Blunt, que foi revelada lá em “O diabo veste Prada”, anda melhor a cada filme e anda mais requisitada. Sua Rita é uma grande personificação de mulher forte, esperta e a um passo a frente do universo masculino.

            Mas compreendo a escolha de Tom para o papel, afinal, seu rosto vende a seus fãs são incontáveis. E mesmo não sendo exatamente um sucesso comercial, “No Limite do Amanhã” é, como já dito, um filme não-autoral de estúdio.
             

Nota: 9,0

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quarta-feira, 18 de junho de 2014

O Concurso



O Concurso


Direção: Pedro Vasconcelos

Ano de produção: 2013

Com: Fábio Porchat, Danton Mello, Anderson Di Rizzi, Rodrigo Pandolfo, Sabrina Sato, Jackson Antunes, Carol Castro, Nelson Freitas.

Gênero: Comédia

Classificação Etária: 14 Anos


Para quem achava que “Zorra Total” era de mau gosto, ainda não viu nada

Já faz algum tempo que o cinema nacional está investindo em comédias televisivas. Nada contra, afinal, cinema é uma arte e, como tal, deve fazer elo com todas as mídias possíveis. Se fosse assim, não deveriam existir filmes de quadrinhos, se considerar que são meios diferentes de cultura. Mas, se pegarmos os últimos sucesso do cinema brasileiro, a grande maioria é composta por comédias. Tudo começou lá em 2006 com “Se eu fosse você” e sua continuação em 2009, para logo se consolidar esse gênero. Este ano ainda não teve nenhum filme de grande acolhida popular que se tornasse um fenômeno (“Até que a sorte nos separe 2” estreou ano passado). Mas, arrisco dizer que 2013 foi o auge disso. Além do já citado “Até que a sorte nos separe 2”, também tivemos “De pernas pro ar 2”, que estreou no final do ano e o grande fenômeno “Minha mãe é uma peça” – este sim, um grande filme.

Houve um ator, que fez 3 filmes no mesmo ano e todos foram um grande sucesso. Seu nome é Fábio Porchat, que fez os horrorosos “Vai que dá certo” e “Meu passado me condena”. E também fez o filme que comentaremos agora, que estreou no meio das férias de Julho do ano passado, no meio dos arrasa-quarteirões hollywoodianos e, claro, foi um grande sucesso: “O Concurso”, que marca a estréia do diretor de novelas, Pedro Vasconcelos à direção de um longa-metragem. Também marca a estréia de Sabrina Sato (?) nas telonas.

“O Concurso” conta a história de 4 sujeitos que prestaram o concurso público para Juiz Federal do Rio de Janeiro e agora farão o teste final na Cidade Maravilhosa. Cada um é de um canto do país: Danton Mello é Caio, um advogado carioca; Porchat é Rogério, um gaúcho nascido em Pelotas com alguns traços, digamos, menos masculinos; Rodrigo Pandolfo é Bernardo, o típico nerd paulista; e também Anderson Di Rizzi é Freitas, um cearense bem devoto. Eles realizarão a prova em uma segunda-feira e passam o fim de semana no Rio, onde se envolvem em situações bizarras.

Primeiro, há uma tentativa clara dos produtores brasileiros em querer fazer o nosso “Se beber, não case”. A idéia é muito parecida: colocar 4 homens em uma viagem onde dá tudo errado. Poderia ser uma idéia boa, se fosse ao menos engraçada, mas não é o caso. A premissa é tão absurda que, em se tratando de Brasil, onde há pouquíssimo investimento em educação, colocar um homem querendo burlar uma prova e ainda se vangloriar disso, deveria ser proibido. E como se não bastasse isso, o filme ainda tem todos os estereótipos possíveis dos tipos brasileiros: Caio é o malandro carioca, onde acha que sempre levará vantagem e quer levar todo mundo no papo. Rogério tem sua sexualidade em xeque porque é de Pelotas – e piadas sobre o local não faltam. Freitas é o típico religioso (e aqui mostrado como ser ignorante) nordestino, que não tem malícia e, em teoria, nem ambições. E Bernardo, é um típico nerd tímido que não se envolve com ninguém e só estuda. Seu personagem é tão estereotipado que, agora, no século 21, com tantas mídias culturais em que o nerd finalmente conquistou seu lugar, fica difícil engolir que ainda há preconceitos com a cultura nérdica.

Um dos argumentos que os produtores e roteiristas usam para esse tipo de comédia é: “vamos divertir a platéia”. Bem, antes fosse isso. E não devemos falar mal só porque é um produto nacional. Muito pelo contrário, é exatamente por ser um produto brasileiro é que devemos valorizar e os produtores deveriam ter a obrigação e entregar o melhor material possível para seu público, mas com um filme desses, não houve nem boa vontade nem boas idéias.

Há situações de péssimo gosto – e algumas mal explicadas – como na cena em que um dos personagens come (?) maconha e nada acontece. Ou ainda quando o personagem Caio dá o golpe do “boa noite, cinderela” em seus companheiros e todo mundo sai ileso. Essa cena, aliás, foi realizada em um baile funk. É o retrato da atual música brasileira e do mau gosto do filme. e tem também uma constrangedora luta entre anões.

Quando citei antes o Fábio Porchat, não tenho nada contra ele como ator – nem como comediante – muito pelo contrário, sua “Porta dos Fundos” foi uma grande idéia para o humor brasileiro e seu texto inteligente é a razão de seu sucesso, mas, como ator, realmente, ainda não provou ser grande. Não por culpa dele, possivelmente de seu próprio agente, que sempre o encaixa no mesmo tipo de papel: o de comediante atrapalhado. E até hoje ainda não houve um papel que o exigisse. Só para se ter uma idéia ele quase destruiu a dublagem de “Frozen – Uma aventura congelante” com o simpático Olaf. Também menos por culpa dele e mais do estúdio, que pressiona por um dublador mais conhecido. E aqui, seu papel de Rogério é constrangedor.

E o filme ainda tem Sabrina Sato como uma atiradora de facas de circo. Aqui, ela protagoniza seqüências absurdas com o personagem de Bernardo. Registro aqui meus sentimentos negativos em colocá-la em um longa-metragem. Uma pessoa que não sabe falar e tampouco atuar que aparece lá pela metade do filme e tem a pachorra de falar basicamente uma frase só no filme: “me come ou eu te mato” (?).

Há um grave problema em querer repetir a TV no cinema: não há sentido na pessoa pagar 20, 30 reais e ver tudo o que ele vê na telinha. Deveria haver um pouco mais de respeito com o espectador. As situações de “O Concurso” fazem os roteiristas de Zorra Total se sentirem inteligentes.

“O Concurso” é uma poeira para os olhos.


Nota: 0,0

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