sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Caminhos da Floresta


Caminhos da Floresta (Into the Woods)

Direção: Rob Marshall

Ano de produção: 2014

Com: Meryl Streep, Emily Blunt, Anna Kendrick, James Corden, Chris Pine, Mackenzie Mauzy, Johnny Deep, Christine Baranski, Tracey Ullman.

Gênero: Musical

Classificação Etária: 12 Anos


Nem o grande elenco salva ‘Caminhos da Floresta’

            As adaptações de contos de fadas – agora voltados para o mercado pop, e não mais o infantil – estão muito em alta em Hollywood. E a Disney, que colocou esses contos na cultura pop, não perdeu tempo. Mas agora os tempos são outros. Não temos mais a mocinha em perigo à espera de seu príncipe para salvá-la. Agora o mercado viu que o que move grandes histórias são os vilões. E, neste caso, as vilãs. E praticamente todas essas adaptações de contos de fadas estão sob o ponto de vista das vilãs e, fundamentalmente, colocando-as como protagonistas, em detrimentos às mocinhas.

            Foi assim em ‘Espelho, espelho meu’, com Julia Roberts, ‘Branca de Neve e o Caçador’, com Charlize Theron e, no ano passado, tivemos o bem-sucedido ‘Malévola’, marcando o retorno de Angelina Jolie às telas após sua cirurgia de retirada dos seios.

            E agora a Disney, vendo tudo isso, coloca vários universos em um só em uma superprodução, com um grande elenco e que novamente temos uma atriz de respeito como a malvada: ‘Caminhos da Floresta’, que é baseado no musical da Broadway, ‘Into the Woods’ e apresenta a grande dama de Hollywood, Meryl Streep como a Bruxa Malvada.

            E o filme chega realmente a peso de ouro: além de Meryl, temos Emily Blunt como a esposa do padeiro, Anna Kendrick como Cinderela, Chris Pine como o príncipe e Johnny Deep como o lobo mau.

            Até a Academia se rendeu a este filme, indicando-o a 3 categorias: Melhor Figurino, Design de Produção e Atriz Coadjuvante para Meryl Streep, em sua 19ª indicação!

            Tanta expectativa, porém, pode ser uma cilada. E ‘Caminhos da Floresta’ apresenta um roteiro frágil, cheio de furos e que não segura o peso de sua milionária produção e de seu elenco maravilhoso.

            Na história, a bruxa lançou um feitiço sobre o padeiro e sua esposa para que eles não tivessem mais filhos, por causa de algo que ele havia feito no passado. Mas, o feitiço pode ser desfeito, basta eles apresentarem à bruxa a capa da Chapeuzinho Vermelho, o cabelo da Rapunzel, a vaca branca do João e o pé de Feijão e o sapato da Cinderela. Nisso, eles se aventuram pela floresta e conhecem todos esses universos fantásticos.

            Primeiro de tudo: não é porque a coisa é para criança é porque precisa ser tola. Muito pelo contrário, a Disney sabe como ninguém que, é exatamente por ser para crianças é que se deve ter um mínimo de inteligência e cuidado em seu roteiro. A Disney praticamente trouxe as crianças para os cinemas com seus clássicos e agora parece que desaprendeu o que já sabia.

            Outra coisa: são várias histórias intercaladas: Chapeuzinho Vermelho, Cinderela, João e o pé de Feijão e Rapunzel. Não fui contra o fato de serem várias histórias, aliás, foi até mágico imaginar tudo isso num filme só, mas tudo passa tão rápido que mal dá para se apaixonar, nem se envolver com história alguma.

            Até porque, se a Disney faz isso com o Universo Marvel, em colocar vários filmes separados de super-heróis, e depois juntar no universo de ‘Os Vingadores’, poderia ter dado certo aqui e, talvez, um possível nascimento de uma franquia.

            Nem o fato de ser musical é algo ruim. Musicais dominaram aos cinemas por décadas e volta e meia surge algum para manter a tradição. O público de hoje em dia considera esse gênero enfadonho e ultrapassado, mas que deve ser valorizado. O problema é que o musical falado já não convence mais. E a decepção fica porque o diretor, Rob Marshall já é especialista em musicais. Ele realizou aquele que é o melhor musical desta década, junto com ‘Moulin Rouge – Amor em Vermelho’, que foi ‘Chicago’, que venceu 6 Oscars em 2003, incluindo o de Melhor Filme. Aqui os momentos musicais são repetitivos e, alguns, constrangedores.

            E a prova de que o elenco não tem culpa disso é que praticamente todos aqui tiveram experiências em musicais – e todos cantam bem. Só Emily Blunt e Chris Pine não tinham experiências, mas, se revelaram bons cantores. O restante do elenco se deu bem no gênero: Meryl Streep foi a estrela de Mamma Mia, Anna Kendrick foi a protagonista de ‘A Escolha Perfeita’ (que terá continuação, prevista para este ano) e Johnny Deep fez, com Tim Burton, Sweeney Tood.

            Muito da culpa do desastre e decepção é por parte da própria Disney. Por mais que este seja um estúdio experiente a já há muito tempo nos cinemas, ela não pode ficar nas mãos de produtores que não sabem nada de cinema, precisam de uma liderança e de alguém para bater o martelo. E a Disney já teve 3 grandes lideranças em suas chamadas “eras de ouro”: na época dos grandes clássicos, como Branca de Neve e Bela Adormecida, era o próprio Walt Disney que dava palpites nos roteiros finais. Em sua 2ª “era de ouro”, já nos anos 1990, com ‘O Rei Leão’ e ‘A bela e a fera’, era Jeffrey Katzenberg quem reescrevia os roteiros (e depois ele fundou, junto com Steven Spielberg, a DreamWorks). E agora, com a Disney independente da Pixar, com ‘Enrolados’ e ‘Frozen’, ela tem como produtor executivo o John Lasseter (que já foi da Pixar).

            Neste ‘Caminhos da Floresta’, porém, Rob Marshall, que é um bom diretor, fica a mercê do estúdio e praticamente não teve voz por aqui.

            Nem mesmo a produção salva: além do evidente uso do Chroma Key, ainda temos um mau uso da computação gráfica, basta ver na vaca branca digitalizada.

            E como se não bastassem todas as decisões equivocadas do roteiro, o filme se encaminha para um desfecho que era coerente para o espírito dos contos de fadas, mas que se prolonga para uma meia hora final completamente desnecessária e descartável.

            Nem mesmo uma lição de moral eficiente esse filme teve. Logo a Disney, que já nos ensinou valores como amor, amizade e família, agora “ensinou” malandragem e adultério.

            Os valores são, infelizmente, outros.

Nota: 2,0

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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Whiplash - Em Busca da Perfeição


Whiplash – Em Busca da Perfeição (Whiplash)

Direção: Damien Chazelle

Ano de produção: 2014

Com: Miles Teller, J.K. Simmons, Melissa Benoist.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 14 Anos


A Força do Cinema Independente

            Muita gente se surpreendeu com a nomeação de ‘Whiplash – Em Busca da Perfeição’ na categoria de Melhor Filme para o Oscar deste ano. Não que o filme seja ruim ou coisa do tipo, muito pelo contrário, mas por ser um filme independente e que foi ganhando os festivais aos poucos e, conseqüentemente, o grande público. E agora, ‘Whiplash – Em Busca da Perfeição’ chega cheio de moral para o Oscar deste ano.

            Dificilmente ganhará na categoria principal, a de Melhor Filme, porque a concorrência está grande, mas, ele é o super favorito na categoria de Ator Coadjuvante para J.K. Simmons (que está ganhando todos os prêmios por este papel, como o Globo de Ouro e o SAG Awards). E também este filme está muito forte para Roteiro Adaptado e também para Melhor Montagem.

            ‘Whiplash – Em Busca da Perfeição’ está com 4 indicações ao Oscar de 2015: Melhor Filme, Ator Coadjuvante, Roteiro Adaptado e Montagem.

            Na história, temos Andrew (Miles Teller), um aluno de uma renomada escola de música que sonha em se tornar um baterista de sucesso e é ingressado no grupo de jazz principal da escola, que é encabeçado pelo professor Terence Fletcher (J. K. Simmons), que é ultra-exigente, rigoroso e um carrasco com seus alunos, mas, em especial com Andrew, que o deixa mais sedento pela excelência.

            A história de ‘Whiplash – Em Busca da Perfeição’ pode parecer comum. E é, mas tem aquele algo a mais que o torna especial, começando pelas atuações. Miles Teller nunca foi um bom ator. Ele está no elenco da saga Divergente e será o Senhor Fantástico no reboot de Quarteto Fantástico, mas aqui é um papel de entrega e dedicação como dificilmente se vê. Sua obsessão pela perfeição, juntando com seu professor em seu pé e ele tendo poucos, se não, nenhum amigo, o torna perfeito para o papel. Para quem o vê de forma fria pode achá-lo tolo ou nerd, mas, basta olhar com mais atenção e observar que tudo isso foi pensado para deixar o personagem o mais realista possível: quanto mais Andrew apanha de Terence, mais ele se fica obcecado em se tornar um baterista de respeito.

            Toda a vida social de Andrew vai por água abaixo: de tanto trabalhar na bateria com suas baquetas, seus dedos começam a sangrar, ele não tem mais tempo para nada e dá um fora em sua namorada Nicole (Melissa Benoist, que foi escolhida para viver a Super Girl, na nova série da DC Comics).

            Se ‘Whiplash – Em Busca da Perfeição’ fosse um filme com orçamento maior, poderia muito bem ser de Darren Aronofsky. Ele sabe muito bem colocar a ambição humana acima dos limites psicológicos e levar o indivíduo até as últimas conseqüências: ‘Réquiem para um sonho’ e ‘Cisne Negro’ são exemplos disso.

            J. K. Simmons faz o melhor papel de sua carreira. Ele ficou conhecido do grande público como o jornalista sensacionalista Jonah Jameson, da trilogia do Homem-Aranha e participou de quase todos os filmes de Jason Reitman. Coincidência ou não, Reitman é o produtor executivo deste filme aqui.

            Não por acaso, ele surge aqui como o favorito a levar o prêmio de Ator Coadjuvante e, se vier o prêmio, não será somente pela força incrível de seu personagem, mas de sua grande carreira que, infelizmente, Hollywood só o vê como coadjuvante e agora ele tem a chance, mais do que nunca, de entrar para o primeiro time.

            Seu Terence Fletcher é uma pessoa obsessiva pela perfeição e arranca, até as últimas conseqüências, o que seus alunos podem e não podem fazer. Muita gente está comparando-o com o sargento sádico de ‘Nascido para Matar’, que não tem escrúpulo nenhum e, no caso de Fletcher, quando a platéia espera algum alívio ou redenção, pode-se ter uma surpresa não muito agradável. Mas ele não consegue criar antipatia com o público, nem com Andrew, muito pelo contrário.

            Em um dos momentos, ele cita que o grande saxofonista Charles Parker (conhecido como ‘Bird’, que virou um grande filme de Clint Eastwood, em 1988) foi hostilizado, ridicularizado e seu instrutor jogou um prato em sua cabeça para ele ser o melhor. E ele ainda cita que tentou, mas não encontrou seu Charles Parker.

            É a força de uma grande atuação, em que um vilão é tão poderoso que o torna até mais memorável do que o herói (alguém citou o Coringa de Heath Ledger?). E é tudo o que Michael Fassbender poderia ter sido em ’12 Anos de Escravidão’ e não foi. Pegando um exemplo mais leviano (ou não!) lembra muito a personagem de Meryl Streep em ‘O diabo veste prada’, em que ela é uma pessoa exigente que arranca o que pode e o que não pode da ingênua Anne Hathaway.

            A indicação para Melhor Montagem também é mais do que justa. O diretor Damien Chazelle faz o que pôde trabalhando apenas com uma câmera. Além de cortes rápidos e da posição da câmera sempre de baixo para cima, deixando Fletcher uma aparência mais sombria, tentem reparar nos detalhes do suor, expressões de rosto e sangue jorrando de Andrew. O resultado é o mais realista possível.

            Naquela que é possivelmente a melhor cena do filme, Andrew está indo para uma apresentação de jazz, quando o pneu de seu ônibus fura no meio do caminho. Ele tenta pegar um táxi, mas não tem sucesso, aluga um carro e esquece as baquetas na locadora. Quando volta para recuperá-las, um caminhão atropela seu carro, ele sai sangrando, mas sai inteiro, se apresenta no show de jazz, porém, sem condição nenhuma, tenso e trêmulo, Fletcher o expulsa do grupo. Durante toda a cena (que dura cerca de 10 minutos), a câmera é quase documental e quase sempre está no rosto de Andrew. E o resultado é impressionante.

            E pensar que diretor deste filme aqui, Damien Chazelle, é o roteirista do horroroso ‘O Último Exorcismo 2’.

            Nada como um grande filme para apagar um fracasso original. Que o diga Curtis Hanson em ‘Los Angeles – Cidade Proibida’.


Nota: 10,0


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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O Jogo da Imitação


O Jogo da Imitação (The Imitation Game)

Direção: Morten Tyldum

Ano de produção: 2014

Com: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Mark Strong, Charles Dance.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 12 Anos


A história por trás da História.

            Não tem jeito: a 2ª Guerra Mundial ainda tem muitas histórias para se contar. O resultado todos sabem: os aliados venceram e o regime nazista foi destruído. Mas ainda há muitos segredos e muitos pontos de vista a serem apurados, independente para qual lado seja. Até Tarantino satirizou e mudou o rumo da História em ‘Bastardos Inglórios’.

            Mas, nessa questão da vitória aliada, muitos pensam em grandes heróis e grandes batalhas, mas, o que pode doer é que a Alemanha de Hitler tinha a Europa em suas mãos e sua vitória estava encaminhada. O que aprendemos na escola (e no cinema, também, e, considerando a nossa educação fraca, o cinema pode ser melhor do que a escola como instrumento de aprendizagem) é que a derrota do eixo (Alemanha, Japão e Itália) se deu após a intervenção americana na guerra após o ataque a Pearl Harbor em 1941 e o ataque frustrado alemão na URSS liderada por Stálin. Sim, tudo isso é verdade, mas, finalmente, abriram-se arquivos para nos mostrar que a coisa não foi assim tão heróica: a guerra foi vencida com inteligência, estratégia e também com um pouco de sorte.

            Um grande filme australiano, ‘Os Falsários’, que venceu o Oscar de 2008 em Melhor Filme de Língua Estrangeira, apresentou um fato curioso, que definiu o rumo da guerra, mas, que não é muito divulgado: dentro de Auschwitz, os prisioneiros judeus eram obrigados a produzir dinheiro falsificado para enfraquecer a economia do inimigo. Primeiro fizeram com a Libra Esterlina, moeda da Inglaterra, que deu certo, mas, quando tentaram falsificar o Dólar Americano, houve resistência por parte de um dos prisioneiros e o plano falhou. Mas assusta se pensarmos que a estratégia poderia ter dado certo.

            E agora o cinema conta uma história incrivelmente real que só foi publicada nos anos 1990, ou seja, 50 anos após o término da 2ª Guerra: um matemático britânico inventou uma máquina capaz de quebrar o código nazista, chamado de Enigma e, assim, descobrir seus planos. Foi assim que as ofensivas americanas e britânicas deram certo, inclusive Normandia, retratada brilhantemente em ‘O Resgate do Soldado Ryan’.

            E essa é a história de ‘O Jogo da Imitação’, um dos favoritos ao Oscar deste ano e baseado no livro ‘Alan Turing: The Enigma’, escrito por Andrew Hodges.

            Nos dias de hoje, Alan é lembrado por ser brilhante e um homem à frente de seu tempo, mas, como é bem mostrado no filme, ele era um sujeito reprimido, fechado em seu mundo e que praticamente ninguém o apoiava, e é esse lado mais introspectivo do personagem que é retratado neste filme aqui.

            Alan Turing não tinha amigos na escola, era sempre excluído por ser “estranho”, mas sempre foi estudioso. Desde o colégio era impopular. Mesmo depois de crescido, também era retraído até seu suicídio, em 1954.

            O filme vai intercalando esses 3 momentos da vida dele com perfeição: a infância, o durante a guerra, na construção de Christopher (o nome que ele dá à máquina e não contarei aqui o porquê disso, vale a pena descobrir) e sua decadência no início dos anos 1950.

            Como se não bastasse a repressão por seu jeito, Alan ainda sofria por ser homossexual assumido. E o regime britânico era rigoroso quanto a isso: milhares de gays morreram e, no caso de Alan, para não ir à prisão, ele era obrigado a tomar hormônios femininos, deixando sua saúde cada vez mais fraca.

            Todo o preconceito sofrido na época foi a desculpa que o exército britânico usou para proibir a construção de uma máquina de Inteligência Artificial que custava 100 mil libras para decodificar o código nazista. Mal sabiam eles que estavam diante do 1° computador da história (pois é!).

E os perdões só vieram recentemente, em 2009, o então primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, pediu desculpas ao tratamento desumano e preconceituoso sofrido à Alan, já o perdão real, feito pela rainha Elizabeth II, só veio em dezembro de 2013, ou seja, a menos de 2 anos de algo que ocorreu a cerca de 70 anos atrás.

            E a questão britânica com o preconceito não se limitou somente à Alan. Outra pessoa importantíssima para essa história é Joan Clarke. Mas, quem foi ela?

            Joan é uma jovem, que, assim como Alan, é muito inteligente e muito à frente do seu tempo. Para trabalhar em Christopher, Alan usa como “processo seletivo” um jogo de palavras-cruzadas e aqueles que conseguissem gabaritar, fariam uma prova com o tempo de 6 minutos para conseguir o trabalho. Joan consegue resolver as cruzadas e, ao chegar para o teste, o guarda a aborda, fazendo pouco caso dela e dizendo que “secretárias são no andar de cima” e achando que uma mulher nçao poderia trabalhar em um serviço de inteligência, mas ela é a primeira a finalizar o teste e trabalha na máquina junto de Alan e sua equipe.

            Logo Joan e Alan vão ficando mais próximos, e um sentimento começa a nascer. Sentimento? Mas Alan não é homossexual? Este é só um dos dilemas da história.

            Bem, ‘O Jogo da Imitação’ não é somente um grande filme por retratar uma parte praticamente desconhecida da História, mas, também temos uma reconstituição de época primorosa, fruto de uma Direção de Arte impecável, bem como a sua fotografia, que sabe levar o espectador para cada época em que se passa, seja o período de guerra ou a infância do protagonista. Lembra muito o filme ‘Traffic’, de Steven Soderberg, em que tínhamos 3 histórias diferentes, ambientes diferentes e fotografias diferentes, cada uma adequada a seu tempo.

            O diretor Morten Tyldum está somente em seu segundo filme (o primeiro foi ‘Headhunters’, em 2012) e ele já se mostrou um grande diretor de atores. E aqui ele só trabalha com os melhores, em especial a dupla protagonista.

            Benedict Cumberbatch, que interpreta Alan Turing, é dos atores mais requisitados (se não o mais) da Hollywood atual. É impressionante como tudo o que esse moço participa vira fenômeno pop. Tudo começou na série britânica Sherlock e agora ele está em 3 franquias de sucesso: dos vilões Kahn em ‘Além da Escuridão – Star Trek’ e Smaug em ‘O Hobbit’, ele foi recentemente contratado pela Marvel para viver o Doutor Estranho, que estréia no 2° semestre de 2016. E agora com uma indicação ao Oscar, pode ser a chance de ele se consolidar no 1° time de Hollywood.

            Keira Knightley, que interpreta Joan Clarke está na sua 2ª indicação ao Oscar (a primeira foi em 2006, por ‘Orgulho e Preconceito’), já tem uma franquia de sucesso como Piratas do Caribe, também é uma grande atriz e, também está intercalando papéis mais comerciais e papéis alternativos. E não podemos nos esquecer que ela é a protagonista da “trilogia histórica” do diretor Joe Wright, que além de ‘Orgulho e Preconceito’, os dois fizeram juntos ‘Desejo e Reparação’ e ‘Anna Karerina’. Ela é conhecida por ser quase idêntica a Natalie Portman, inclusive é fácil de confundir as duas. Ambas grandes atrizes, mas Natalie tem mais papéis memoráveis e é sim, mais conhecida do grande público.

            ‘O jogo da imitação’ tem 8 indicações ao Oscar deste ano: Melhor Filme, Diretor para Morten Tyldum, Ator para Benedict Cumberbatch, Atriz Coadjuvante para Keira Knightley, Roteiro Adaptado para Graham Moore, Trilha Sonora para Alexandre Desplat, Montagem e Design de Produção (a antiga Direção de Arte).

            Independentemente de os prêmios virem ou não, nada apaga o brilhantismo de ‘O Jogo da Imitação’, pois um grande filme não se faz com prêmios, e sim com talento, trabalho e muito amor no que se faz.


Nota: 10,0

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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Sem Escalas


Sem Escalas (Non-Stop)

Direção: Jaume Collet-Serra

Ano de produção: 2014

Com: Liam Neeson, Julianne Moore, Michelle Dockery, Corey Stoll, Lupita Nyong’o.

Gênero: Suspense

Classificação Etária: 14 Anos


‘Sem Escalas’ é um programa bacana, desde que não se leve a sério

            Que Liam Neeson é um grande e respeitado ator, isso ninguém discute, com papéis memoráveis e com uma indicação ao Oscar por ‘A Lista de Schindler’, esse ator irlandês de 62 anos já escreveu seu nome na história do cinema. Porém, nos últimos anos, ele adotou uma postura diferente de atuar, seja seu estilo próprio, pressão de estúdio ou de agente, mas ele agora se firmou como um astro de filmes de ação e policial. Fez praticamente o mesmo caminho de Robert de Niro, na qual agora ele mais se diverte do que atua.

            A maioria dos críticos torce o nariz por isso e têm os seus motivos, mas, não vejo isso como algo negativo: é colocar atores consagrados artisticamente no papel de brucutu à moda antiga. Se hoje estamos vivendo o auge das superproduções e adaptações de quadrinhos, há cerca de 30 anos, o cinemão americano tinha como atrativo principal os heróis de ação que não levavam desaforo para casa, como Stallone e Chuck Norris. E agora Liam Neeson agarrou esse ponto para ele. Tudo por causa de um certo ‘Busca Implacável’ que deu muito certo nas bilheterias em 2008 e agora virou uma franquia. E não é exagero nenhum se dizer que ‘Sem Escalas’ é seu melhor filme de sua nova “fase”.

            ‘Sem Escalas’ é um grande filme de ação, com um excelente elenco (mesmo, que contaremos a seguir), capaz de deixar a platéia tensa e tudo se resolve na mão, sem o auxílio de efeitos especiais ou computação gráfica, apesar do desfecho preguiçoso.

            ‘Sem Escalas’ conta a história de Bill Marks (Liam Neeson), um agente federal aéreo que está em um vôo de Nova York a Londres e começa a receber torpedos ameaçadores pelo celular: se não for depositada a quantia de 150 milhões de dólares em uma conta, uma pessoa morrerá a cada 20 minutos. A tensão fica em descobrir quem é a pessoa responsável pelas ameaças (e mortes) e a coisa se complica ainda mais quando se descobre que a conta bancária pertence ao próprio Bill.

            O roteiro acerta em manter a tensão até o final. Todos são suspeitos, até os funcionários do avião, ao passo que ninguém se revela culpado e, conforme as mortes vão acontecendo, as peças se encaixam menos.

            Há também mais 3 acertos de roteiro, que é em desenvolver uma trama de quase 120 minutos em um único local e ainda manter o interesse do público, sem se tornar repetitivo. ‘Sem Escalas’ ainda é uma paródia (embora levada a sério) da paranóia americana com a questão do terrorismo. Depois dos ataques de 11 de Setembro de 2001, viajar por solo estadunidense está mais burocrático e perigoso. Outra qualidade é a sátira à sociedade do espetáculo em que vivemos na mídia em criar “vilões” e chocar a opinião pública: Bill é apresentado às câmeras como um sujeito beberrão, violento e responsável pelo possível seqüestro ao avião. Há, inclusive, debates na TV sobre seu comportamento (alguém se lembrou da TV brasileira e seu jornalismo sensacionalista?)

            O diretor Jaume Collet-Serra (de ‘A Órfã’) soube captar a tensão que a história exigia e as grandes cenas de ação se explicam por um de seus produtores executivos, Joel Silver, de ‘Matrix’. Ele e Jaume já haviam trabalhado juntos em ‘A Casa de Cera’, em 2005.

            Não pensem, porém, que estamos diante de um novo ‘Vôo United 93’ (que foi indicado ao Oscar de Direção em 2007), pois ‘Sem Escalas’ não deve ser levado a sério. É um grande entretenimento e um grande filme de ação para se ver com muita pipoca ao lado, sem compromisso com a realidade. Mas é um entretenimento feito com competência e respeitando o público.

            Liam Neeson é o grande astro por aqui e seu rosto está estampado no cartaz, mas, ele não é a única grande pessoa no elenco, muito pelo contrário, o elenco de ‘Sem Escalas’ é espetacular: Julianne Moore faz a colega da poltrona ao lado de Bill e, no meio da paranóia, acaba sendo a única pessoa em quem ele confia. Julianne está no melhor momento de sua carreira, pois além de ela estar em uma franquia milionária como ‘Jogos Vorazes’, ainda está cotada para o Oscar 2015 por seu papel em ‘ Para Sempre Alice’. Por falar em Oscar, tem também Lupita Nyong’o, que é a atual vencedora do Oscar de Atriz Coadjuvante por ’12 Anos de Escravidão’, fazendo aqui uma comissária de bordo. Também como comissária de bordo, temos a presença iluminada de Michelle Dockery, a milionária Mary Crawley da série britânica Downton Abbey. E finalmente temos Corey Stoll, que aqui interpreta um policial. Ele teve seu rosto conhecido após seu personagem interessante como o governador Patrick Russo em ‘House of Cards’, mas que agora tem tudo para brilhar pelo seu papel como o vilão Jaqueta Amarela em ‘Homem-Formiga’.

            Se ‘Sem Escalas’ funciona como produto de entretenimento, poderia ter um trabalho melhor em sua conclusão e nas motivações do possível terrorista, que de tensas, viraram uma desculpa dos furos de roteiro.

            E para quem curte esse “novo” Liam Neeson, saiba que ‘Busca Implacável 3’ está logo chegando aos cinemas.


Nota: 8,0

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Para Sempre Alice


Para Sempre Alice (Still Alice)

Direção: Richard Glatzer, Wash Westmoreland

Ano de produção: 2014

Com: Julianne Moore, Alec Baldwin, Kristen Stewart, Kate Bosworth.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 12 Anos

Para Sempre Julianne

            Não teve jeito, 2014 foi o ano de Julianne Moore. Logo no início do ano, ela atua junto com Liam Neeson no filme de ação ‘Sem Escalas’. Como não poderia deixar de ser, ela está em uma grande franquia, no caso, a saga ‘Jogos Vorazes’, na qual ela interpreta a presidente Alma Coin nos dois volumes de ‘A Esperança’. E como uma grande atriz de respeito que ela é, não poderia ter ficado de fora dos filmes de Oscar. Ela estava bem cotada como Melhor Atriz pelo novo trabalho de David Cronenberg, ‘Mapas para as estrelas’ (ainda inédito no Brasil), mas a Academia se rendeu a seu papel tocante e sublime neste drama ‘Para Sempre Alice’, que tem uma dupla de diretores/roteiristas praticamente desconhecida do grande público tem um elenco eficiente de apoio, mas é Julianne Moore que se sobressai.

            Não por acaso, ela é a favorita para levar a estatueta.

            Se vier, o prêmio estará em boas mãos, pois ela nos entrega um papel soberbo e equilibrando razão e emoção com maestria.

            Também pesa o fato de ela estar a anos tentando e nunca havia sido reconhecida. Ela já foi indicada duas vezes para Melhor Atriz: em 2000 por ‘Fim de Caso’ e em 2003 por ‘Longe do Paraíso’ (por este último, um absurdo incontestável ela ter perdido para Nicole Kidman por ‘As Horas’) e também foi indicada 2 vezes por Atriz Coadjuvante, em 1998 por ‘Boogie Nights – Prazer sem Limites’ e em 2003 pelo mesmo ‘As Horas’.

            Tendo esse currículo e juntando com o fato de os acadêmicos olharem para trás e dizer que finalmente chegou a hora dela, não é exagero nenhum dizer que sim, Julianne é a favorita para levar o prêmio.

            Mas, apesar de Julianne ser o melhor motivo para assistir a ‘Para Sempre Alice’, não é o único. Muito pelo contrário, é um belo drama familiar e, como já dito, tem um elenco coadjuvante interessante. Alec Baldwin, que mais uma vez interpreta o marido de uma vencedora de Oscar (ele foi o marido picareta de Cate Blanchett em ‘Blue Jasmine’), Kate Bosworth, a Lois Lane de ‘Superman – O Retorno’ interpreta Anna, filha de Julianne, mas o destaque e surpresa ficam mesmo com Kristen Stewart interpretando Lydia, irmã de Anna e também filha de Julianne. Muito ao contrário de sua insossa Bella de Crepúsculo, aqui ela está em um papel mais contido, sem vaidades e sem querer aparecer mais do que a história. Os momentos de redenção ao lado da mãe são sensacionais.

            Na história, Julianne interpreta Alice, uma eficiente professora e palestrante que acabou de completar 50 anos de idade e após começar a esquecer as palavras e se perder em uma corrida por Nova York, ela vai ao médico e descobre que tem o mal de Alzheimer e pior: a doença é genética, ou seja, isso será passado aos seus filhos. Alice tenta seguir o rumo da sua vida e de sua família, mas a perda de memória se torna maior com o passar do tempo. Ela começa a esquecer até o básico (sua filha Anna tem um bebê e ela se esquece disso).

            Além do drama familiar em si, o filme aborda também a raridade da situação: dificilmente alguém tem um mal desses aos 50 anos de idade. Geralmente se dá quando a pessoa tem uma idade a mais. E o filme não tenta explicar demais a doença, nem explorá-la ou torná-la piegas. Ela aconteceu e Alice tem que lidar com ela. E sua família, também.

            Dificilmente ‘Para Sempre Alice’ fará sucesso. Filmes independentes assim se tornam conhecidos por causa das indicações ao Oscar, e o público geralmente não o vê na tela grande, mas merece uma espiada, seja no home vídeo ou nos serviços streaming.

            No caso de ‘Para Sempre Alice’, quem for ver pelo drama familiar, ou em como o mal de Alzheimer se alastra no ser humano, vai encontrar um bom programa. E quem for ver pela tocante atuação de Julianne Moore, também verá um grande programa.

Uma grande atriz e uma grande história.


Nota: 8,0

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