quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O Jogo da Imitação


O Jogo da Imitação (The Imitation Game)

Direção: Morten Tyldum

Ano de produção: 2014

Com: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode, Mark Strong, Charles Dance.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 12 Anos


A história por trás da História.

            Não tem jeito: a 2ª Guerra Mundial ainda tem muitas histórias para se contar. O resultado todos sabem: os aliados venceram e o regime nazista foi destruído. Mas ainda há muitos segredos e muitos pontos de vista a serem apurados, independente para qual lado seja. Até Tarantino satirizou e mudou o rumo da História em ‘Bastardos Inglórios’.

            Mas, nessa questão da vitória aliada, muitos pensam em grandes heróis e grandes batalhas, mas, o que pode doer é que a Alemanha de Hitler tinha a Europa em suas mãos e sua vitória estava encaminhada. O que aprendemos na escola (e no cinema, também, e, considerando a nossa educação fraca, o cinema pode ser melhor do que a escola como instrumento de aprendizagem) é que a derrota do eixo (Alemanha, Japão e Itália) se deu após a intervenção americana na guerra após o ataque a Pearl Harbor em 1941 e o ataque frustrado alemão na URSS liderada por Stálin. Sim, tudo isso é verdade, mas, finalmente, abriram-se arquivos para nos mostrar que a coisa não foi assim tão heróica: a guerra foi vencida com inteligência, estratégia e também com um pouco de sorte.

            Um grande filme australiano, ‘Os Falsários’, que venceu o Oscar de 2008 em Melhor Filme de Língua Estrangeira, apresentou um fato curioso, que definiu o rumo da guerra, mas, que não é muito divulgado: dentro de Auschwitz, os prisioneiros judeus eram obrigados a produzir dinheiro falsificado para enfraquecer a economia do inimigo. Primeiro fizeram com a Libra Esterlina, moeda da Inglaterra, que deu certo, mas, quando tentaram falsificar o Dólar Americano, houve resistência por parte de um dos prisioneiros e o plano falhou. Mas assusta se pensarmos que a estratégia poderia ter dado certo.

            E agora o cinema conta uma história incrivelmente real que só foi publicada nos anos 1990, ou seja, 50 anos após o término da 2ª Guerra: um matemático britânico inventou uma máquina capaz de quebrar o código nazista, chamado de Enigma e, assim, descobrir seus planos. Foi assim que as ofensivas americanas e britânicas deram certo, inclusive Normandia, retratada brilhantemente em ‘O Resgate do Soldado Ryan’.

            E essa é a história de ‘O Jogo da Imitação’, um dos favoritos ao Oscar deste ano e baseado no livro ‘Alan Turing: The Enigma’, escrito por Andrew Hodges.

            Nos dias de hoje, Alan é lembrado por ser brilhante e um homem à frente de seu tempo, mas, como é bem mostrado no filme, ele era um sujeito reprimido, fechado em seu mundo e que praticamente ninguém o apoiava, e é esse lado mais introspectivo do personagem que é retratado neste filme aqui.

            Alan Turing não tinha amigos na escola, era sempre excluído por ser “estranho”, mas sempre foi estudioso. Desde o colégio era impopular. Mesmo depois de crescido, também era retraído até seu suicídio, em 1954.

            O filme vai intercalando esses 3 momentos da vida dele com perfeição: a infância, o durante a guerra, na construção de Christopher (o nome que ele dá à máquina e não contarei aqui o porquê disso, vale a pena descobrir) e sua decadência no início dos anos 1950.

            Como se não bastasse a repressão por seu jeito, Alan ainda sofria por ser homossexual assumido. E o regime britânico era rigoroso quanto a isso: milhares de gays morreram e, no caso de Alan, para não ir à prisão, ele era obrigado a tomar hormônios femininos, deixando sua saúde cada vez mais fraca.

            Todo o preconceito sofrido na época foi a desculpa que o exército britânico usou para proibir a construção de uma máquina de Inteligência Artificial que custava 100 mil libras para decodificar o código nazista. Mal sabiam eles que estavam diante do 1° computador da história (pois é!).

E os perdões só vieram recentemente, em 2009, o então primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, pediu desculpas ao tratamento desumano e preconceituoso sofrido à Alan, já o perdão real, feito pela rainha Elizabeth II, só veio em dezembro de 2013, ou seja, a menos de 2 anos de algo que ocorreu a cerca de 70 anos atrás.

            E a questão britânica com o preconceito não se limitou somente à Alan. Outra pessoa importantíssima para essa história é Joan Clarke. Mas, quem foi ela?

            Joan é uma jovem, que, assim como Alan, é muito inteligente e muito à frente do seu tempo. Para trabalhar em Christopher, Alan usa como “processo seletivo” um jogo de palavras-cruzadas e aqueles que conseguissem gabaritar, fariam uma prova com o tempo de 6 minutos para conseguir o trabalho. Joan consegue resolver as cruzadas e, ao chegar para o teste, o guarda a aborda, fazendo pouco caso dela e dizendo que “secretárias são no andar de cima” e achando que uma mulher nçao poderia trabalhar em um serviço de inteligência, mas ela é a primeira a finalizar o teste e trabalha na máquina junto de Alan e sua equipe.

            Logo Joan e Alan vão ficando mais próximos, e um sentimento começa a nascer. Sentimento? Mas Alan não é homossexual? Este é só um dos dilemas da história.

            Bem, ‘O Jogo da Imitação’ não é somente um grande filme por retratar uma parte praticamente desconhecida da História, mas, também temos uma reconstituição de época primorosa, fruto de uma Direção de Arte impecável, bem como a sua fotografia, que sabe levar o espectador para cada época em que se passa, seja o período de guerra ou a infância do protagonista. Lembra muito o filme ‘Traffic’, de Steven Soderberg, em que tínhamos 3 histórias diferentes, ambientes diferentes e fotografias diferentes, cada uma adequada a seu tempo.

            O diretor Morten Tyldum está somente em seu segundo filme (o primeiro foi ‘Headhunters’, em 2012) e ele já se mostrou um grande diretor de atores. E aqui ele só trabalha com os melhores, em especial a dupla protagonista.

            Benedict Cumberbatch, que interpreta Alan Turing, é dos atores mais requisitados (se não o mais) da Hollywood atual. É impressionante como tudo o que esse moço participa vira fenômeno pop. Tudo começou na série britânica Sherlock e agora ele está em 3 franquias de sucesso: dos vilões Kahn em ‘Além da Escuridão – Star Trek’ e Smaug em ‘O Hobbit’, ele foi recentemente contratado pela Marvel para viver o Doutor Estranho, que estréia no 2° semestre de 2016. E agora com uma indicação ao Oscar, pode ser a chance de ele se consolidar no 1° time de Hollywood.

            Keira Knightley, que interpreta Joan Clarke está na sua 2ª indicação ao Oscar (a primeira foi em 2006, por ‘Orgulho e Preconceito’), já tem uma franquia de sucesso como Piratas do Caribe, também é uma grande atriz e, também está intercalando papéis mais comerciais e papéis alternativos. E não podemos nos esquecer que ela é a protagonista da “trilogia histórica” do diretor Joe Wright, que além de ‘Orgulho e Preconceito’, os dois fizeram juntos ‘Desejo e Reparação’ e ‘Anna Karerina’. Ela é conhecida por ser quase idêntica a Natalie Portman, inclusive é fácil de confundir as duas. Ambas grandes atrizes, mas Natalie tem mais papéis memoráveis e é sim, mais conhecida do grande público.

            ‘O jogo da imitação’ tem 8 indicações ao Oscar deste ano: Melhor Filme, Diretor para Morten Tyldum, Ator para Benedict Cumberbatch, Atriz Coadjuvante para Keira Knightley, Roteiro Adaptado para Graham Moore, Trilha Sonora para Alexandre Desplat, Montagem e Design de Produção (a antiga Direção de Arte).

            Independentemente de os prêmios virem ou não, nada apaga o brilhantismo de ‘O Jogo da Imitação’, pois um grande filme não se faz com prêmios, e sim com talento, trabalho e muito amor no que se faz.


Nota: 10,0

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