sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Caminhos da Floresta


Caminhos da Floresta (Into the Woods)

Direção: Rob Marshall

Ano de produção: 2014

Com: Meryl Streep, Emily Blunt, Anna Kendrick, James Corden, Chris Pine, Mackenzie Mauzy, Johnny Deep, Christine Baranski, Tracey Ullman.

Gênero: Musical

Classificação Etária: 12 Anos


Nem o grande elenco salva ‘Caminhos da Floresta’

            As adaptações de contos de fadas – agora voltados para o mercado pop, e não mais o infantil – estão muito em alta em Hollywood. E a Disney, que colocou esses contos na cultura pop, não perdeu tempo. Mas agora os tempos são outros. Não temos mais a mocinha em perigo à espera de seu príncipe para salvá-la. Agora o mercado viu que o que move grandes histórias são os vilões. E, neste caso, as vilãs. E praticamente todas essas adaptações de contos de fadas estão sob o ponto de vista das vilãs e, fundamentalmente, colocando-as como protagonistas, em detrimentos às mocinhas.

            Foi assim em ‘Espelho, espelho meu’, com Julia Roberts, ‘Branca de Neve e o Caçador’, com Charlize Theron e, no ano passado, tivemos o bem-sucedido ‘Malévola’, marcando o retorno de Angelina Jolie às telas após sua cirurgia de retirada dos seios.

            E agora a Disney, vendo tudo isso, coloca vários universos em um só em uma superprodução, com um grande elenco e que novamente temos uma atriz de respeito como a malvada: ‘Caminhos da Floresta’, que é baseado no musical da Broadway, ‘Into the Woods’ e apresenta a grande dama de Hollywood, Meryl Streep como a Bruxa Malvada.

            E o filme chega realmente a peso de ouro: além de Meryl, temos Emily Blunt como a esposa do padeiro, Anna Kendrick como Cinderela, Chris Pine como o príncipe e Johnny Deep como o lobo mau.

            Até a Academia se rendeu a este filme, indicando-o a 3 categorias: Melhor Figurino, Design de Produção e Atriz Coadjuvante para Meryl Streep, em sua 19ª indicação!

            Tanta expectativa, porém, pode ser uma cilada. E ‘Caminhos da Floresta’ apresenta um roteiro frágil, cheio de furos e que não segura o peso de sua milionária produção e de seu elenco maravilhoso.

            Na história, a bruxa lançou um feitiço sobre o padeiro e sua esposa para que eles não tivessem mais filhos, por causa de algo que ele havia feito no passado. Mas, o feitiço pode ser desfeito, basta eles apresentarem à bruxa a capa da Chapeuzinho Vermelho, o cabelo da Rapunzel, a vaca branca do João e o pé de Feijão e o sapato da Cinderela. Nisso, eles se aventuram pela floresta e conhecem todos esses universos fantásticos.

            Primeiro de tudo: não é porque a coisa é para criança é porque precisa ser tola. Muito pelo contrário, a Disney sabe como ninguém que, é exatamente por ser para crianças é que se deve ter um mínimo de inteligência e cuidado em seu roteiro. A Disney praticamente trouxe as crianças para os cinemas com seus clássicos e agora parece que desaprendeu o que já sabia.

            Outra coisa: são várias histórias intercaladas: Chapeuzinho Vermelho, Cinderela, João e o pé de Feijão e Rapunzel. Não fui contra o fato de serem várias histórias, aliás, foi até mágico imaginar tudo isso num filme só, mas tudo passa tão rápido que mal dá para se apaixonar, nem se envolver com história alguma.

            Até porque, se a Disney faz isso com o Universo Marvel, em colocar vários filmes separados de super-heróis, e depois juntar no universo de ‘Os Vingadores’, poderia ter dado certo aqui e, talvez, um possível nascimento de uma franquia.

            Nem o fato de ser musical é algo ruim. Musicais dominaram aos cinemas por décadas e volta e meia surge algum para manter a tradição. O público de hoje em dia considera esse gênero enfadonho e ultrapassado, mas que deve ser valorizado. O problema é que o musical falado já não convence mais. E a decepção fica porque o diretor, Rob Marshall já é especialista em musicais. Ele realizou aquele que é o melhor musical desta década, junto com ‘Moulin Rouge – Amor em Vermelho’, que foi ‘Chicago’, que venceu 6 Oscars em 2003, incluindo o de Melhor Filme. Aqui os momentos musicais são repetitivos e, alguns, constrangedores.

            E a prova de que o elenco não tem culpa disso é que praticamente todos aqui tiveram experiências em musicais – e todos cantam bem. Só Emily Blunt e Chris Pine não tinham experiências, mas, se revelaram bons cantores. O restante do elenco se deu bem no gênero: Meryl Streep foi a estrela de Mamma Mia, Anna Kendrick foi a protagonista de ‘A Escolha Perfeita’ (que terá continuação, prevista para este ano) e Johnny Deep fez, com Tim Burton, Sweeney Tood.

            Muito da culpa do desastre e decepção é por parte da própria Disney. Por mais que este seja um estúdio experiente a já há muito tempo nos cinemas, ela não pode ficar nas mãos de produtores que não sabem nada de cinema, precisam de uma liderança e de alguém para bater o martelo. E a Disney já teve 3 grandes lideranças em suas chamadas “eras de ouro”: na época dos grandes clássicos, como Branca de Neve e Bela Adormecida, era o próprio Walt Disney que dava palpites nos roteiros finais. Em sua 2ª “era de ouro”, já nos anos 1990, com ‘O Rei Leão’ e ‘A bela e a fera’, era Jeffrey Katzenberg quem reescrevia os roteiros (e depois ele fundou, junto com Steven Spielberg, a DreamWorks). E agora, com a Disney independente da Pixar, com ‘Enrolados’ e ‘Frozen’, ela tem como produtor executivo o John Lasseter (que já foi da Pixar).

            Neste ‘Caminhos da Floresta’, porém, Rob Marshall, que é um bom diretor, fica a mercê do estúdio e praticamente não teve voz por aqui.

            Nem mesmo a produção salva: além do evidente uso do Chroma Key, ainda temos um mau uso da computação gráfica, basta ver na vaca branca digitalizada.

            E como se não bastassem todas as decisões equivocadas do roteiro, o filme se encaminha para um desfecho que era coerente para o espírito dos contos de fadas, mas que se prolonga para uma meia hora final completamente desnecessária e descartável.

            Nem mesmo uma lição de moral eficiente esse filme teve. Logo a Disney, que já nos ensinou valores como amor, amizade e família, agora “ensinou” malandragem e adultério.

            Os valores são, infelizmente, outros.

Nota: 2,0

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