segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Psicose

Psicose (Psycho)
Direção: Alfred Hitchcock
Ano de produção: 1960
Com: Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, John Gavin, Martin Balsam
Gênero: Suspense
Classificação Etária: 14 Anos
Nota: 10

            Quando se fala em um filme de suspense de qualidade, o que te vem à cabeça? Imagino que, para muitos, a primeira opção é Psicose. Não existe filme do gênero que capta tão bem o desespero e psicológico humano, com sequências para realmente ficar na mente de todos nós e uma obra-prima de um diretor realmente único. Hitchcock, no melhor momento de sua carreira – ok, um dos dois melhores momentos, fazendo páreo com “Um Corpo Que Cai”. Mas este é, com certeza, seu filme mais célebre, mais lembrado, muito copiado e jamais superado. Psicose inspirou muitos filmes do gênero, como o inteligente suspense “Identidade” e o blockbuster “1408”. Quando um filme muito antigo é lembrado nos dias de hoje, é apreciado sem a gente se atentar a coisas como a produção, a técnica e aos efeitos, é por que a coisa está boa. Psicose teve mais três continuações, todas foram um fracasso total de público e crítica. E ainda teve uma refilmagem muito fajuta, em 1998, dirigida por Gus Van Sant. Aliás, é um mistério até hoje o porquê Sant teve a idéia infeliz em refilmar Psicose. Ele estava em alta com o sucesso comercial e crítico de “Gênio Indomável”, era uma revelação em ascensão e não tinha nada que mexer no clássico. Sant filmou o clássico quadro a quadro, mas o resultado saiu horroroso. Quem pegar uma versão e outra,verá que as cenas são incrivelmente idênticas, exceto uma desnecessária cena de masturbação de Bates, por volta dos 35 minutos de filme. A versão de 1998 ficou muito robótica, teve um péssimo protagonista (Vince Vaughn – que ficaria famoso anos depois como ator de comédia, por exemplo, em “Penetras Bons de Bico” e “Encontro de Casais”) e Gus Van Sant, que é um grande diretor, não tem talento, até o momento, para o suspense. Está previsto para estrear no ano que vem uma biografia de Hitchcock, estrelada por Anthony Hopkins, que fala dos bastidores de Psicose. O papel de Janet Leigh ficou com a estonteante Scarlett Johansson – que no quesito beleza é incontestável, mas está há tempos nos devendo um papel digno de nota.

            E a história... Para quem veio de Marte, conta a história de Marion Crane, vivida pela ótima Janet Leigh, que trabalha como atendente em uma imobiliária. Em uma sexta-feira, seu chefe deixa com ela 40 mil dólares em dinheiro vivo. Ela inventa a história que estava com uma dor de cabeça para sair mais cedo do trabalho e some com o dinheiro. Durante a fuga, ela se depara com seu chefe em um semáforo, que não a reconhece – esta cena, aliás, foi que inspirou Tarantino em “Pulp Fiction – Tempos de Violência” na cena em que Bruce Willis atropela Marcellus Wallace. De tanto dirigir, Marion se cansa e decide passar a noite em um hotel, o Hotel Bates. Lá, é atendida por um jovem, até que educado, Norman Bates (Anthony Perkins), que é tímido, solitário e só vive com sua mãe, ela que, aliás, reprova a nova hóspede, mas Norman não parece se importar muito, até tem uma atração rápida por Marion e a espiona tirando a roupa (foi essa a cena da masturbação, no filme de 1998). Ao tomar banho porém, Marion é assassinada a facadas por uma pessoa que, aparentemente, é a mãe de Bates. Esta cena do assassinato é um dos momentos mais notáveis do cinema, que ainda é lembrada - assusta muito. Assusta tanto que o espectador nem percebe que a faca jamais toca no corpo da atriz. Um close no olho da atriz e a música diminuindo, até ela morrer de fato, são momentos únicos e de gelar a espinha. Após o ocorrido, a irmã de Marion, Lila, percebe o sumiço da irmã e suspeita que Sam, amante de Marion, tem a ver com o desaparecimento. O chefe de Marion aciona um detetive particular para tentar recuperar o dinheiro roubado. 

            Bem, com o receio de que alguém não ter visto o filme, ou se viu, não lembra o que acontece no desfecho, prefiro parar a história por aqui. O filme deixa várias perguntas no ar. A cena final, que não contarei aqui, foi para marcar um personagem para sempre, esta cena é imitada até hoje, inclusive nas novelas.

            Psicose é, também, um delicioso exercício psicológico, mostrando do que a mente humana é capaz de fazer e pensar, de como nós temos nossas máscaras e como podem haver vários alter-egos dentro de nós. Há um livro, de Sidney Sheldon,em que uma mesma mulher tem 3 alter-egos, um deles é uma assassina em série, mas que a justiça se recusa a achar que é um caso de psicologia e sim, de polícia. Ou nos mostra como a mente humana pode reagir depois de um trauma inesquecível.

            Hitchcock não tem medo de ousar, não tem medo do que pode dar errado e não tem medo do que as pessoas podem pensar, e outro ponto positivo é que ele não se prende a explicar demais as coisas. Ás vezes, a dúvida é o que dá o brilho que a sétima arte precisa, isso que, por exemplo, “Jogos Mortais” errou feio em fazer sete(!) filmes para querer explicar todos os acontecimentos, além da violência gratuita.

            Fazer um filme que, passados 62 anos de sua estréia, ainda deixar a platéia em estado de choque, é coisa de gênio, é coisa de Hitchcock.


Imagens:















Trailer do filme:




Tudo pode dar certo

Tudo pode dar certo (Whatever Works)
Direção: Woody Allen
Ano de produção: 2009
Com: Larry David, Evan Rachel Wood, Patricia Clarkson.
Gênero: Comédia Dramática
Classificação Etária: 12 Anos
Nota: 9,0

Há diretores que são tão únicos no cinema que só de bater o olho em uma cena já se sabe quem está por trás de um determinado filme. E “Tudo pode dar certo”, de Woody Allen é um desses. Mesmo sem saber de antemão quem o dirige, fica claro desde a primeira seqüência que estamos falando de uma obra de Allen. Primeiro pela análise psicológica das personagens. O nosso protagonista fica analisando, sempre de forma negativa, a todos ao seu redor e à sua vida em geral. Outra característica é o uso da metalinguagem, ou seja, em que o autor conversa com o leitor (aqui, neste caso, com o espectador), uma referência ao personagem do próprio Woody em “Annie Hall”, que, aliás, os dois personagens são muito parecidos psicologicamente. Outra coisa foram as situações hilárias com o desfecho das personagens, aquela sensação de que a idéia só poderia ser de um cineasta realmente único que é Woody Allen, além de uma trilha sonora inesquecível e locações de encher os olhos.

Allen filma em sua terra natal, Nova York, algo que não acontecia desde 2004, com o simpático “Melinda e Melinda”, pois, nesse meio tempo, ele se aventurou pela Europa, com “Match Point”, “Sonho de Cassandra” e Scoop – “O grande furo”, em Londres “Vicky Cristina Barcelona, na Espanha; e depois, na França com a obra-prima “Meia-Noite em Paris” e com o recente “Para Roma com Amor”, na Itália”.

“Tudo pode dar certo” conta a história de Boris (Larry David), um velhinho bem ranzinza, que adora analisar psicologicamente as pessoas, tem uma visão pessimista das coisas e, após uma tentativa fracassada de suicídio, trabalha como professor de xadrez para crianças. Mas ele não leva jeito para a coisa, pois, costuma ofender aos pequenos leigos no tabuleiro. Em um dia aparentemente corriqueiro, ao entrar em seu apartamento, Boris se depara com a jovem Melodie (vivida por Evan Rachel Wood, de “Aos Treze” – que é uma graça). A garota implora para morar com Boris, que acaba aceitando, embora de contra a sua vontade. Logo, ela arruma um emprego, mas não é dos mais atraentes para Boris, que é de passeadora de cachorros. Melodie se revela um doce de pessoa, embora não seja tão inteligente. Já Boris é arrogante e ranzinza, mas com um QI elevadíssimo. Não demora muito para ela se apaixonar por ele, os dois têm um relacionamento incomum, chegando a um estranho casamento.

Mais tarde, surge a figura da mãe de Melodie, Marietta, vivida por Patricia Clarkson, que de início é contra o casamento e trata de procurar um relacionamento mais jovem para a filha. Surge também o pai de Melodie, que havia traído Marietta com uma prostituta e veio pedir perdão. Ah, ele também é contra o casamento de sua filha.

            O filme acerta pelo fato de ser simples. Roteiro e personagem corriqueiros. Quem está acostumado apenas com as superproduções hollywoodianas, possivelmente, não irá gostar, por achar que é “muito parado”. Até o elenco é praticamente desconhecido. Larry David, que não é conhecido pelo grande público, já trabalhou com Allen em “A Era do Rádio” e “Contos de Nova York”. Evan Rachel Wood, que fez aquele filme maravilhoso, que foi “Aos Treze”, logo caiu no esquecimento, mas fez um papel memorável em “O Lutador”, na qual faz a filha de Mickey Rourke, agora, esperamos que seja a ressurreição dela, que é uma boa atriz.

            Outro ponto alto do filme é não julgar as personagens. Com um roteiro desses, um diretor qualquer poderia fazer algo como, “um senhor sem humanidade é enfeitiçado por um anjinho da guarda chamado Melodie que o faz enxergar esse sentimento chamado amor”. Felizmente não é assim. Boris é mais parecido com nós do que a gente imagina. Melodie não é 100% boazinha (não explicarei o porquê, isso é revelado no desfecho) e o final é tão inesperado que só poderia ser de Allen. Só mesmo ele poderia cutucar com tanta acidez no psicológico humano. Coisa de gênio. Coisa de Woody Allen.


Fotos:












Trailer do Filme: