domingo, 24 de agosto de 2014

Orphan Black - 1ª temporada



Orphan Black – 1ª temporada

Criação: John Fawcett e Graeme Manson

Ano de produção: 2012

Com: Tatiana Maslany, Jordan Gavaris, Dylan Bruce, Kevin Hanchard, Evelyne Brochu, Maria Doyle Kennedy.

Gênero: Suspense Dramático

Classificação Etária: 16 Anos


‘Orphan Black’ é tudo o que a espionagem atual não é nos cinemas

            Com os anos não só as séries de TV chegaram a seu ápice, mas, alguns canais também são sinônimos e marcas de qualidade: como não se lembrar das grandes séries da HBO. Dá para separar a história da TV como antes e depois da HBO com séries como ‘Família Soprano’, ‘Band of Brothers’, ‘Mad Men’, ‘Game Of Thrones’, entre outros. E também o canal Sony, que cresceu com grandes títulos como ‘Revenge’, ‘Grey’s Anatomy’ e ‘The Blacklist’.

            Mas, surgiu um canal que está produzindo séries elogiadas por público e crítica e seu catálogo se popularizou, principalmente pelo Netflix, que é a BBC, que sempre foi sinônimo de credibilidade em matéria de jornalismo e agora investe nessa nova mídia. Algumas séries deles são premiadas, como as consagradas Doctor Who, Sherlock. E há uma, que considero melhor, não ficou conhecida, mas está no catálogo do Netflix e é uma obra de arte: Orphan Black, que é uma série canadense, não tem um elenco conhecido (mas é ótimo!) e tem um roteiro tão engenhoso e perfeito que ficou até difícil de acreditar no que os olhos estavam vendo.

            ‘Orphan Black’ conta a historia de Sarah, que está em uma estação de metrô e testemunha uma pessoa idêntica a ela se suicidando na plataforma. Sarah decide assumir a identidade da vítima, com o nome de Beth, para pegar dinheiro, mas logo descobre que ela é uma detetive, está em crise no casamento e responde pelo assassinato de uma pessoa em teoria inocente.

            Como se não bastasse o turbilhão de coisas que Sarah está com a cabeça por assumir o corpo de outra pessoa eis que vem o choque: ela descobre que é um Clone e há mais pessoas idênticas a ela por aí. E ainda pior, descobre que tudo faz parte de uma conspiração e estão querendo matar uma a uma. Mas, quem está por trás dos crimes? Por que esses clones existem? Por que Beth é acusada de assassinato? E como viver a vida de Beth?

            Essa 1ª temporada teve apenas 10 episódios, e é interessante que, assim como ‘Breaking Bad’, cada episódio é fechado e todos os personagens mudam drasticamente conforme a temporada vai passando. Não só isso, a trama muda com a evolução da série. De início, era uma história de falsidade ideológica, de uma jovem querendo sair de seu submundo e almejando ascensão pessoal ao lado da filha. Depois é uma moça tentando se acostumar com sua nova vida. Suas situações como uma policial poderiam até render alguns momentos cômicos, mas, não é o propósito aqui. Depois é a descoberta e angústia de saber que não é humana em tese, é um produto de laboratório. E depois saber que a vida está em risco. Mas, uma coisa é certa, a vida de Sarah nunca mais será a mesma.

            Mas quem é Sarah? Sarah é uma moça que mora em um bairro periférico, se envolveu com o tráfico de drogas e teve uma filha com um traficante. Sua filha, aliás, é sua única razão de viver de início. É por ela que Sarah quer ascender profissionalmente, e descobrimos que sua filha está fora da guarda dela há quase um ano. A cena, no final do 1º episódio, com a filha acreditando na morte dela, no enterro forjado, é comovente.

            A questão delicada da clonagem é muito bem contada, e explorada também, de forma a não ser um científico chato para o grande público, e sendo atraente para quem conhece a área.

            Mas, como foram concebidos os clones na série? Se a produção fosse hollywoodiana, teríamos computação gráfica, CGI e captura de movimentos, mas, Orphan Black ousou em fazer várias personagens à moda antiga: a mesma atriz fazendo papéis múltiplos.

            E quem é essa atriz? Essa é Tatiana Maslany. Essa grande atriz. Confesso que eu não a conhecia antes de ver Orphan Black e, desde o primeiro minuto da série, já é visível seu potencial e impossível não se apaixonar por ela.

            Recentemente vi o making of da série e a forma como foram conduzidas as tomadas com os clones (que foram muitas) é curiosa: Tatiana incorporou cada uma e, considerando que cada uma é radicalmente diferente uma da outra, a atriz teve que incorporar tudo, desde maquiagem, até os trejeitos e maneirismos. E mais do que isso: mesmo o espectador, já sabendo que vê a mesma atriz, a empatia com cada clone é diferente: Sarah é a grande protagonista, que logo nos envolvemos com ela desde o primeiro minuto. Alysson é uma dona de casa neurótica e que tenta (mas nunca consegue) seguir o padrão de American Way Of Life. Cosima é a estudante nerd que se apaixona pela ciência quando descobre que é um clone. Helena é uma jovem perturbada que acredita que é a matriz dos clones e que todas devem morrer. De início, ela acredita que Sarah é sua inimiga, mas o roteiro tem um destino melhor para as duas. E, no final, aparece Rachel, que trabalha para aqueles que conspiraram contra Sarah e Beth.

            É difícil acreditar porque essa menina não é conhecida e porque raios ela não está nas premiações de TV?

            E o fato de o elenco ser desconhecido, bem como sua protagonista é um grande acerto. Para os produtores, claro, por não gastar demais com atores. E, para o conteúdo ousado da série, fez todo o sentido. Tatiana é uma atriz sem vaidades e não hesita em cena nenhuma, incluindo as cenas de nudez.

            Tatiana é uma atriz diferente. Orphan Black é uma série diferente, o que torna ambos, especiais.


Nota: 10,0

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Trailer:

Pulp Fiction - Tempos de Violência



Pulp Fiction – Tempos de Violência (Pulp Fiction)

Direção: Quentin Tarantino

Ano de produção: 1994

Com: John Travolta, Samuel L. Jackson, Bruce Willis, Uma Thurman, Harvey Keitel, Ving Rhames, Tim Roth, Amanda Plummer, Maria de Medeiros, Christopher Walken, Quentin Tarantino, Steve Buscemi, Eric Stoltz .

Gênero: Policial

Classificação Etária: 18 Anos


Só Tarantino poderia ter imaginado ‘Pulp Fiction’.

            No início dos anos 1990, o cinema estava carente de novos diretores e os grandes filmes eram de cineastas consagrados, como ‘Os bons companheiros’, de Martin Scorsese e ‘O Poderoso Chefão 3’, de Coppola. E nesse mesmo cenário, mais precisamente em 1992, surgia um certo Quentin Tarantino e um filme desconhecido chamado ‘Cães de aluguel’. Como todo e qualquer diretor iniciante, o caminho para conseguir um lugar ao sol foi longo. Primeiro que a indústria não colocava muita credibilidade em Tarantino. Ele não tem formação em cinema e sua experiência com o mundo da sétima arte era seu trabalho de balconista de videolocadora. E também porque sua narrativa é muito diferente do convencional: suas tramas não possuem uma ordem cronológica com começo, meio e fim e seus filmes podem ter protagonistas ou não.

            Mas, eis a surpresa: ‘Cães de Aluguel’ se tornou um grande sucesso de crítica, foi ovacionado em Cannes e Sundance e logo foi sendo descoberto pelo público. E com o passar dos anos, logo se tornou cultuado e até hoje, 22 anos de seu lançamento, é amado por muitos.

            Após o lançamento de ‘Cães de Aluguel’, Tarantino logo se tornou um nome conhecido e alguns críticos o chamavam de “o novo Scorsese”. Um exagero? Pode ser, mas, depois do resultado de ‘Cães de Aluguel’, Tarantino teve sinal verde para dirigir e escrever sua obra-prima até então, ‘Pulp Fiction – Tempos de Violência’.

            Tarantino se uniu ao seu produtor e amigo, Lawrence Bender (que trabalharia com ele em mais 4 filmes, além do próprio ‘Cães de Aluguel’) e concebeu a trama com histórias que aparentemente, não chegam a lugar nenhum e não têm ligação nenhuma, mas que, na verdade, são uma só. Além do mais, temos, mais uma vez, um filme sem uma ordem cronológica “correta”. Em ‘Amnésia’, vimos uma história contada em ordem inversa, em que a abertura era, na verdade, o final, e o fim, o início. Já aqui, temos uma mescla e montagem de histórias: o final pode estar no meio, o meio pode estar no começo, e por aí vai.

            Outro detalhe interessante em ‘Pulp Fiction – Tempos de Violência’ é o elenco. Tarantino não se preocupa em colocar grandes astros em seus filmes e para ele, as boas ideias valem mais do que o estrelato. Mais do que isso, seus filmes podem fazer ressurgir a carreira de alguns atores e descobrir alguns.

            Em ‘Jackie Brown’, de 1997, Pam Grier, estrela dos anos 1970 estava praticamente sumida do mercado, fazendo uma ou outra ponta em alguma série e já surgiu como protagonista no filme. E Tarantino fez praticamente uma homenagem a ela no filme, tanto que o personagem-título é dela, a Jackie Brown.

            Em ‘Bastardos Inglórios’ (no meu conceito, seu melhor filme), Christoph Waltz não era praticamente ninguém. E na ocasião, ele rouba a cena até do Brad Pitt, fez seu general nazista, Landa, um personagem icônico da cultura pop e ganhou todos os prêmios, inclusive o Oscar, pelo papel. Ele também ganharia, em 2013, pelo ‘Django Livre’.

            E já aqui em ‘Pulp Fiction – Tempos de Violência’, não tem como não lembrar que a carreira de John Travolta foi ressuscitada neste filme. O astro de ‘Os embalos de sábado à noite’ e ‘Grease – nos tempos da brilhantina’, de uma distante década de 1970, já estava esquecido do mundo pop quando ele foi chamado àquele que foi, possivelmente, seu melhor papel, Vincent Vega. E a ousadia de Tarantino foi não só por ter chamado um ator com a decadência decretada, como, acreditem, o grande Daniel Day-Lewis era cotado para viver Vega, mas, Tarantino recusou (!). E a ideia que parecia fadada à piada, se tornou um dos maiores trunfos do filme: Travolta foi elogiadíssimo pelo papel, recebeu uma indicação ao Oscar e viu sua carreira, finalmente, decolar e fazer filmes que, dessa vez, foram conhecidos pelo grande público nos anos seguintes, como ‘A Outra Face’ e ‘O nome do jogo’.

            Mas, não é só de Travolta que vive ‘Pulp Fiction – Tempos de Violência’, muito pelo contrário. O elenco está afiado e Tarantino só trabalha com os melhores: Samuel L. Jackson (indicado ao Oscar pelo papel), Uma Thurman (também indicada pelo papel), o grande Harvey Keitel, Bruce Willis, esse sim com a carreira em alta na época, aliás, vale ressaltar que, na época, os astros torciam o nariz para o cinema independente e Willis não só aceitou o papel, como ganhou status de ator sério. Seu papel surpreendente em ‘Os 12 Macacos’, em 1995, de Terry Gilliam, deve tudo a esse filme aqui. Entre muitos outros.

            Mas e a história? Bom, é difícil fazer um resumo de poucas linhas de ‘Pulp Fiction – Tempos de Violência’, exatamente pelo fato da montagem sem linearidade. Mas, trocando em miúdos, dois gângsters, Vincent Vega (Travolta) e Jules (Jackson) precisam entregar uma maleta a seu chefe, Marsellus Wallace (Ving Rhames). No caminho, escapam da morte por pouco depois de um acerto de contas, neutralizam um roubo em um restaurante e recebem a missão de assassinar o pugilista decadente, Butch (Willis), que deveria entregar a luta, mas matou seu oponente e fugiu.

            Enfim, tentei ao máximo resumir a história, mas o roteiro tem muito mais a oferecer.

            ‘Pulp Fiction – Tempos de Violência’ foi vendido como um filme violento e recebeu a temida classificação R-17 (nos EUA, não recomendado para menores de 17 anos, aqui no Brasil seriam 18 anos). De fato, a violência está explícita no filme sem pudor algum. Mas, vendo ‘Pulp Fiction’, a violência, sangue e tudo mais, estão estilizados e o humor e a engenhosidade da trama estão acima de qualquer moral da violência. Vejo ‘Pulp Fiction – Tempos de Violência’ como um filme mais cômico e menos violento.

            Outro detalhe importante, os personagens são explicitados de forma imparcial e a moral religiosa do bem e mal não são questões para Tarantino. Explico melhor. Quando vemos todo e qualquer filme de ação, existe um mocinho e um vilão já determinados. Torcemos quando o herói dá uma surra do malvado e vibramos quando esse morre. Alguns filmes até despertam nosso ímpeto de maldade, colocando a plateia contra aquele personagem. Aqui em ‘Pulp Fiction’, já não há isso. Não há vilões e mocinhos, são gângsters acertando as contas com outros gângsters e não há sentimento de “bem feito” ou “que pena”. O roteiro toma a decisão de não favorecer nenhum dos dois lados (queremos Tarantino na mídia brasileira!).

            A prova tanta que os gângsters não são heróis, nem vilões, é que eles falam de coisas do cotidiano: dos hambúrgueres do McDonalds, Madonna, religião e há os planos-sequência que, aparentemente, não têm nada a ver com a história (e de fato não têm), mas que, ao contrário de parecer uma viagem do roteiro, é mais um trunfo das boas ideias. O “debate” da massagem nos pés é um deles.

            E, conforme dito antes, o que fica mais marcado em ‘Pulp Fiction – Tempos de Violência’ é o humor e engenhosidade. E isso o filme tem de sobra. Tudo o que poderia ser mal feito com outros diretores, aqui, só confirmam a genialidade do roteiro. E não estou falando somente na narrativa não linear, mas em alguns rumos que o roteiro toma.

            Exemplos não faltam. Logo na sequência de abertura, um casal discute sobre as vantagens e facilidades de roubos a banco e restaurantes. Poderia soar como apologia ao crime e incentivo a novos criminosos a tais lugares. Mas aqui é algo delicioso de se ver, pois, repito, não há moral religiosa e nem pudor. São gângsters apresentados como pessoas normais e conversando de assuntos que podem ser comuns ou não. Durante o capítulo (sim, o filme é dividido em capítulos) de John Travolta e Uma Thurman até o preço abusivo do milk-shake é centro de diálogo. Esse capítulo tem a cena icônica da dança entre Travolta e Thurman em homenagem ao Twist dos anos 1960.

            E claro, tem aquele que considero o melhor capítulo do livro, ocupa cerca de 50 dos 150 minutos do filme, que é o chamado “O Relógio de Ouro”.

            Já se foram muitas vezes que vi ‘Pulp Fiction – Tempos de Violência’, mas ainda é difícil entender como Tarantino imaginou fazer essa parte, que é uma delícia: primeiro temos um Butch criança, assistindo TV e recebe, em sua casa, um general do exército americano e amigo de seu falecido pai, vivido por Christopher Walken. Ele conta a história do relógio que seu pai guardava passando as gerações desde seu bisavô até o presente da história. Butch guarda o bendito relógio. Anos depois, Butch vira boxeador e foge de uma luta (como citado acima) e foge, também, de casa com a esposa, afinal, os gângsters de Marsellus estão atrás dele. Mas, eis que sua esposa esquece o relógio no antigo apartamento, fazendo-o ir pegá-lo. No caminho, Butch mata Vincent Vega e atropela Marsellus (em uma homenagem a Psicose), mas se sai bem. Toda a viagem de explicar o porquê do relógio ser tão importante, contar a saga do início, passando pela hilariante bronca na esposa pelo esquecimento, até a quase morte do personagem, e lembrarmos que tudo foi por causa de um simples relógio, e ainda sim, obter o interesse pelo espectador e não se tornar maçante, é algo que o roteiro deve se orgulhar.

            ‘Pulp Fiction – Tempos de Violência’ foi um grandioso sucesso de público e crítica. Pelos críticos, foi ovacionado e quase todos o consideraram o melhor filme de 1994. O filme venceu o Oscar de Roteiro Original, além de ter sido indicado para Ator e Atriz Coadjuvante, Ator, Montagem, Direção e Filme. Esses dois últimos, perdeu para ‘Forrest Gump – O Contador de Histórias’. Muitos consideram isso injusto, de fato, ‘Pulp Fiction’ é melhor do que ‘Forrest Gump’, mas dizer que a premiação foi injusta é um ultraje.

            ‘Pulp Fiction’ ainda ganhou a tão sonhada Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1994.

            E no sucesso com o público, o faturamento foi com mais de 20 vezes de seu investimento. O filme custou a bagatela de 8 milhões de dólares, mas faturou mais de 200 milhões de dólares ao redor do mundo. E ‘Pulp Fiction’ foi o primeiro filme independente da história a chegar à marca de 100 milhões.

            Um dia os estúdios aprendem que, não só de arrasa-quarteirões vive o cinema e é glorioso saber que, um filme com uma premissa pequena faz esse grande barulho até hoje, 20 anos de seu lançamento.


Nota: 10,0

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domingo, 17 de agosto de 2014

Masters of sex - 1ª temporada



Masters of sex – 1ª temporada


Criação: Michelle Ashford

Ano de produção: 2013

Com: Michael Sheen, Lizzy Caplan, Caitlin Fitzgerald, Nicholas D’Agosto, Beau Bridges, Allison Janney, Heléne Yorke.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 16 Anos

‘Masters of sex’ mostra uma história que precisa ser descoberta

            É impossível não associar ‘Masters of sex’ com o filme ‘Kinsey – vamos falar sobre sexo’. Os dois se passam quase mesma época, anos 50. Embora a história de Kinsey se passe no início da década e de Masters, no final, as duas histórias se confundem por se tratarem de homens muito à frente do seu tempo e viram que a sexualidade não deveria ser mais um tabu, mas um assunto corriqueiro.

            Esta série, Masters of sex, é baseada na biografia do dr. William Masters, que no final dos anos 1950, iniciou estudos sobre como o corpo humano reage aos estímulos sexuais. Obviamente, o estudo teve muita repressão pela sociedade conservadora da época e até o resultado final, tanto a opinião pública como a classe médica via como algo pornográfico os estudos de Masters. O médico teve a ajuda imprescindível da dr. Virgínia E. Johnson, que de início era sua secretária, mas logo se tornou sua assistente.

            O estudo consistia em colocar pessoas anônimas para fazerem sexo em um quarto de hospital com fios e com os dois médicos, Virgínia e William, para avaliar absolutamente tudo, desde batimentos cardíacos até os orgasmos femininos. E os resultados foram surpreendentes. Foi a partir desse estudo, por exemplo, que se descobriu que as mulheres têm mais orgasmos do que homens. Em uma relação sexual, homens costumam ejacular somente uma vez, mas as mulheres têm orgasmos múltiplos. E também se descobriu que, durante uma relação sexual, mulheres, às vezes, pensam em outra coisa – ou em outra pessoa.

            É nesse cenário que se passa a série ‘Masters of sex’. A série é transmitida aqui no Brasil pela HBO, não fez um grande sucesso entre o público (mas merecia!), mas foi ovacionada pela crítica. E também esteve presente nas premiações na última temporada. No Emmy deste ano, está indicada a Melhor Atriz para Lizzy Caplan.

            A série é uma das mais bem feitas da atualidade. A belíssima reconstrução de época reflete, além do filme ‘Kinsey’, também à série Mad Men, que se passa nos anos 1960. E entende-se por “reconstrução” não apenas a direção de arte e figurino, mas até os trejeitos dos atores e o comportamento da época, que vejam, era ultraconservador.

            O dr. Masters é apresentado como um médico brilhante, mas arrogante. Enquanto ele não está nos estudos, está na sala de cirurgia resolvendo casos que parecem impossíveis (alguém se lembrou de House?). Quem o interpreta é o sempre ótimo Michael Sheen. Ele fez papéis interessantes no cinema, como Tony Blair em ‘A Rainha’ e Frost em Frost/Nixon. E seu William Masters é sua primeira série e ele faz brilhantemente.

            A Dra. Virgínia é mostrada aqui como uma mulher independente e muito à frente do seu tempo. Era uma época que a mulher dependia do homem para tudo e ela praticamente se oferece para participar dos estudos com o dr. Masters. Quem a interpreta é a grande atriz Lizzy Caplan. Como já dissemos aqui, ela está indicada a prêmios e sua Virgínia é seu primeiro papel de destaque, seja no cinema ou na TV.

            Um arco importante da série foi o momento em que Masters e Virgínia se voluntariaram de cobaia para o estudo. Sim, eles fizeram sexo “pelo bem da ciência”.  O problema é que Masters acaba se apaixonando por Virgínia, sem que Libby, sua esposa, soubesse, e colocando o relacionamento profissional dos dois em risco.

            Isso aconteceu na vida real também e nos anos 1960, Masters se divorciou de Libby para se casar com Virgínia. Isso ainda não aconteceu na série, mas no que depender da fidelidade com a vida real, ainda acontecerá.

            Mas e a vida de Virgínia? Logo no início da série, ela se divorcia de seu marido e ganha a guarda dos filhos. O problema é que um de seus filhos a odeia. E mais um retrato de que Virgínia é uma mulher muito à frente do seu tempo são os momentos em que ela tem que se decidir e conciliar a vida profissional com a pessoal. E em uma determinada hora na série, ela se envolve com o dr. Ethan Hass.

            Como toda série que se preze, o conteúdo não se limita somente aos protagonistas, mas também há um grande elenco de apoio. E vários arcos. Como não se lembrar, por exemplo, da história de Barton e Margaret. Ela se voluntaria para o teste de Masters por nunca ter tido orgasmos na vida. Barton é o diretor do hospital. Mas qual o motivo para isso nunca ter acontecido? Barton tem atração por homens e sua mulher não o atrai.

            Há também a nova secretária de Masters, Jane, que de início era voluntária para o teste, mas logo foi contratada, vivida pela irresistível Heléne Yorke.

            Existe uma tendência para as grandes séries de TV, em colocar episódios que se parecem com filmes, com temática cinematográfica e, em alguns casos, melhores do que filmes. E ‘Masters of sex’ não é diferente. Cada episódio é uma surpresa diferente e nada é o que parece ser.

            Ah, para quem é mais conservador, ‘Masters of sex’ tem uma temática sexual. Nada mais justo, afinal, com um tema explosivo como esse, era o mínimo. São as grandes séries dessa que muitos consideram a época de ouro da TV americana.


Nota: 10,0

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domingo, 10 de agosto de 2014

Guardiões da Galáxia



Guardiões da Galáxia (Guardians of the Galaxy)


Direção: James Gunn

Ano de produção: 2014

Com: Chris Pratt, Zoe Saldana, Dave Bautista, Bradley Cooper, Vin Diesel, Lee Pace, Karen Gilan, Djimon Hounson, Benicio del Toro, Gleen Close, John C. Reilly, Josh Brolin.

Gênero: Ficção Científica

Classificação Etária: 12 Anos


Decididamente, ‘Guardiões da Galáxia’ é o blockbuster de 2014.

            Empresa organizada é outra coisa: enquanto a DC Comics só agora está começando a se mexer e explorar seu universo, com os anúncios de ‘Batman VS Superman’ e ‘Liga da Justiça’, além das séries de TV, Flash, Constantine e Gothan, a Marvel já há alguns anos está se mexendo e explorando seu universo. Tanto que agora já tem um estúdio próprio, a Marvel Studios. Nem todos são grandes filmes, mas eles arriscam. Mesmo ‘Homem de Ferro 3’, que foi muito contestado, foi um grande sucesso, faturando mais de 1 bilhão de dólares ao redor do mundo no ano passado.

            A Marvel Studios é um dos estúdios de Hollywood mais lucrativos do momento. Se não, o mais. Todos seus filmes superaram o orçamento.

            E também a Marvel Studios é dos estúdios mais criativos do momento. Fazer uma adaptação de quadrinhos não é fácil e os últimos filmes do estúdio são um salto de criatividade, boas histórias e ótimos personagens. E o principal: são filmes que se sustentam sozinhos, mesmo quem não conhece as HQs, se identifica, gosta e se apaixona pelos filmes.

            É quase como a Pixar estava até a algum tempo. Com tantas obras-primas seguidas, era difícil imaginar um filme tão fraco como ‘Carros 2’ em seu currículo.

            O problema é que todo ser humano erra e mesmo em uma carreira, todo mundo derrapa uma hora. Mas, enquanto esse momento não chega para a Marvel, estaremos com a expectativa alta para suas obras.

            Até o momento, porém, a Marvel trabalhava com personagens já consagrados das HQs, então, os fãs de quadrinhos veriam seus filmes de qualquer jeito, sem o risco de um fracasso. Mas, agora, a situação é diferente. A Marvel colocou em tela heróis que o grande público não conhecia. Mesmo os fãs de quadrinhos quase que desconheciam os ‘Guardiões da Galáxia’. Afinal, quase não se vê essas histórias nas bancas no meio de outros grandes nomes como ‘X-Men’ e ‘Homem-Aranha’. Os ‘Guardiões da Galáxia’ são quase como quadrinhos underground, ou alternativos. A minoria que conhecia era quem corria atrás em feiras, exposições ou coisa do tipo.

            E como adaptar uma história dessas para uma mídia tão popular como o cinema? E, principalmente, como convencer os executivos e produtores a colocar dinheiro em uma produção que ninguém conhece? E foram com esses dilemas e dúvidas que a Marvel resolve fazer sua manobra mais arriscada: ‘Guardiões da Galáxia’.

            E a resposta para essas perguntas é: no mundo do cinema, tudo se pode. Desde que se tenha uma boa história boas intenções de um grande filme, e assim surgiu ‘Guardiões da Galáxia’.

            Os Guardiões surgiram no ano de 1969, mas, com uma formação completamente diferente da apresentada no filme. O que se vê no filme é a formação mais recente, realizada agora nesse século. Mas, quem se importa? Aliás, um bom filme independe da fidelidade ou não de sua obra original, seja HQ, livro, ou qualquer coisa. Claro que o universo e alguns elementos devem ser respeitados e preservados, mas, a livre adaptação e a licença poética são válidas e saudáveis para a cultura pop.

            Sendo assim, mesmo que ‘Guardiões da Galáxia’ tenha sido “infiel” à formação original, deve-se olhar para o filme de forma independente.

            E é isso que faz com que ‘Guardiões da Galáxia’ seja um filme tão poderoso. Mesmo quem nunca leu ou ouviu falar nas HQs, vai entender e se envolver com a história. E qualquer roteiro que seja adaptação de algo, não deve ficar na zona de conforto de depender de seu produto original (não é, Sr. ‘Código da Vinci’????).

            A abertura do filme é uma obra de arte, e já prende o espectador, mostrando a morte da mãe de Peter Quill, que foi abduzido ainda criança e se tornou o Senhor das Estrelas.
            A cena foi tão inesquecível e os roteiristas tinham tanta certeza que ela daria certo que ela acontece antes do logotipo da Marvel e dos Créditos Iniciais.

            E logo somos apresentados à todos os personagens. Gamora, a mulher mais poderosa do Universo (como ela mesma se autodenomina) é filha adotiva de Thanos e está atrás de uma esfera roubada que está nas mãos de Peter. A primeira cena dela, em uma luta com Peter, e com uma Direção de Arte linda, é instigante. Logo no meio da luta dos dois, aparecem mais dois personagens: Rocket Raccoon, um Guaxinim mercenário muito interessante, e Groot, uma árvore que é como uma espécie de guarda-costas de Rocket.

            Por atrapalharem a “ordem pública”, os 4 são presos. Lá, eles conhecem Drax, o destruidor e, mesmo com um sistema rigoroso de prisão, os cinco conseguem fugir (em uma cena de ação espetacular), junto com a bendita esfera.

            Mas, o que fazer com ela? Bom, ela é valiosa, e quase todos estão interessados em dinheiro, daí eles resolvem vendê-la ao Colecionador (Benicio Del Toro), mas, como um bom blockbuster, algo tem que dar errado...

            Paralelamente, as, digamos, forças do mal, também estão interessadas na esfera, Thanos, o ser mais poderoso do universo, a quer a todo custo, e manda seu braço-direito, Ronan e a Nebulosa (irmã de Gamora) atrás dela.

            A ousadia do filme não está somente em colocar heróis desconhecidos na tela, mas, também, em algumas situações: desde que Christopher Nolan ousou em colocar um tom mais sombrio com a franquia Batman, agora, todo mundo quer colocar isso em seu filme, e não necessariamente isso pode ser bom. Aqui no caso de ‘Guardiões da Galáxia’, existem os momentos mais intimistas, em que a platéia se envolve com a história, mas é inegável que o filme apresente um tom mais pop, humorístico e menos sério, embora, a história se leve muito a sério.

            No caso de ‘Guardiões da Galáxia’, é difícil apontar uma, mas, arrisco dizer que a melhor cena do filme é justamente a seqüência de abertura. Explico o porquê.

            Sem conhecermos e nos envolvermos com o drama e história de Peter, provavelmente encararíamos o filme como comédia passageira e como mais uma Sessão da Tarde, mas, felizmente, não é o caso.

            Os personagens, digamos, digitais do filme, Rocket e Groot, praticamente são apresentados aqui sem origem. O que é muito bom, afinal, a história recente mostrou que explicações demais podem prejudicar a evolução de um filme.

            Por falar nos dois, é impossível não se apaixonar e se envolver com a dupla. Vivemos em um mundo politicamente correto em que até um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo é contestado e enquanto a DC (olha o atraso novamente) discute se vale a pena ter um filme protagonizado por uma mulher, com sua Mulher Maravilha, a Marvel coloca no mercado uma árvore e um guaxinim (e não duvide de um filme solo da dupla). Em apenas uma semana que o filme está em cartaz, esses já símbolos, Groot e Rocket já caíram nas graças do grande público e pode escrever – seus bonecos venderão como água para este natal e vão colocar no chinelo brinquedos consagrados agora em 2014.

            Quem dubla Groot é Vin Diesel, de Velozes e Furiosos. A frase “Eu sou Groot” já pode ser considerada a frase do ano e uma curiosidade: Vin Diesel dublou a frase em 6 idiomas diferentes, inclusive em português e com sotaques.

            E quem dubla Rocket é Bradley Cooper, que começou como comediante e mais um galã, mas, agora, muito mais respeitado como ator, principalmente com seu ótimo ‘O lado bom da vida’.

            Mas, se não há motivação para Rocket e Groot, para Drax, há uma grande: Roman, o grande vilão deste filme aqui e braço-direito do Thanos, assassinou sua família e agora Drax quer vingança. Para ele, dinheiro é o de menos.

            Quem faz Drax é Dave Bautista. Na vida real ele é lutador de MMA e nunca havia feito um papel de destaque até então. Seu Drax é a chance de brilhar – seja como astro de ação ou ator mais sério.

            O filme acerta em não ter ninguém se sobressaindo no elenco, todos são tratados de forma igual e não há destaque. Mesmo a grande Zoe Saldana, com sua Gamora, tem tratamento igual. Ela que, aliás, virou nova musa nerd e ‘Guardiões da Galáxia’ já é sua 3ª franquia, como não se lembrar de sua Uhura em ‘Star Trek’ e Neytiri em ‘Avatar’. Sua Gamora é uma grande personagem e uma grande prova que mulheres hoje em dia não combinam mais como donzelas em perigo e agora partiram para o ataque.

            A dupla de roteiristas conta com o próprio diretor, James Gunn (de ‘Seres Rastejantes’) e da novata Nicole Perlman. Sim, uma novata. Ela não tinha escrito absolutamente nada antes de ‘Guardiões da Galáxia’, o que foi uma grande iniciativa da Marvel, de colocar pessoas novas e com novas visões de futuro para as próximas gerações. E o resultado ficou grandioso.

            Há um clima de nostalgia no filme, principalmente na visão de Peter. Ele não larga seu Walkman e ouve muita música antiga, em especial dos anos 1980. A cena da fuga da prisão, em que ele resgata seu Walkman, ao som de Jimmy Buffett com sua If You Like Pina Colada, é tão corajosa, que fica difícil imaginá-la em um filme desse tamanho. E o desfecho ao som de Ain’t No Mountain High Enough mostra o quanto esse filme tem tudo – e mais um pouco – para se tornar clássico.

            E como todo bom filme da Marvel, há a aparição rápida de Stan Lee – dessa vez como um sujeito paquerador – e a cena pós-créditos, que não tem nada a ver com o Universo Marvel e é mais um Easter-Egg de um outro filme antigo da Marvel.

            O próximo filme da Marvel será ‘Os Vingadores 2’, que estréia ano que vem. E no que depender de ‘Guardiões da Galáxia’, decepção não será a palavra.


Nota: 10,0

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