terça-feira, 29 de setembro de 2015

How to Get Away With Murder - 1ª Temporada


How to Get Away With Murder – 1ª temporada

Criada por: Peter Nowalk

2014

Com: Viola Davis, Liza Weil, Charlie Weber, Katie Findlay, Alfred Enoch, Jack Falahee, Aja Naomi King, Matt McGorry, Karka Souza, Billy Brown, Tom Verica.

Suspense

14 Anos


How to Get Away With Murder mostra o porquê de a TV estar melhor do que o cinema

            Na semana passada a série ‘How to Get Away With Murder’ ganhou duas motivações para o grande público começar a vê-la: primeiro porque a 1ª temporada chegou no serviço de streaming e agora pode ser vista por um público muito maior (sobretudo depois que o canal Sony fez o descaso de só exibi-la dublada) e principalmente porque Viola Davis não só ganhou o Emmy de melhor atriz dramática por este papel irretocável, como também fez um discurso histórico sobre racismo e oportunidade. Viola foi a primeira mulher negra a ganhar o prêmio.

            E ela estava certa: que uma atriz negra só pode ganhar um prêmio desses se houverem papéis e embora o racismo tenha diminuído, ele existe ainda, infelizmente, e na TV isso não é diferente.

            Mas há uma pessoa que está lutando para diminuir isso desde 2005: a grande Midas da TV americana, Shonda Rhimes, que ganhou muita fama com a criação de Grey’s Anatomy e Private Practice, com suas tramas, reviravoltas e acolhida popular, e dando muito destaque aos atores negros. Mas ainda faltava algo, faltava uma série em que um negro era protagonista, sem ser “vítima do sistema” e menos ainda com algum tema racial.

            Daí veio a idéia de fazer Scandal, em 2012. Uma série política, eletrizante e com uma protagonista negra, a ótima Kerry Washington.

            Scandal já vai para a 5ª temporada, e é um sucesso de público e crítica (embora a 4ª temporada tenha sido um pouco aquém em relação às outras) e só mostra o quanto Shonda sabe escrever bons roteiros, ótimos personagens e é conhecedora do mundo em geral.

            E agora surge uma série que não é sua criação, mas ela é produtora executiva, e não é exagero nenhum dizer que esta é sua melhor obra: How to Get Away With Murder, que chegou arrancando elogios da crítica e do público, a segunda temporada já estreou nos EUA e de tão ousada tem muito mais cara de série de TV fechada, mas é de um canal aberto – e com apenas 15 episódios – em contrapartida dos 22, que a maioria das séries abertas tem.

            A série foi criada por Peter Novalk (que escreveu alguns episódios de Scandal e Grey’s Anatomy) e conta a história da professora de direito Annalise Keating (Viola Davis, no melhor papel da sua carreira) que ensina em uma renomada universidade da Filadélfia a disciplina Introdução ao Direito Penal, também conhecida como How to Get Away With Murder ou  em português, “como se livrar de um assassinato”.

            Annalise escolhe casos reais e desafia seus alunos a descobrirem soluções para livrar seus clientes e escolhe um grupo dos alunos mais preparados para serem seus “estagiários” e terem a honra de trabalharem com ela, são eles: Connor Walsh, Michaela Pratt, Wes Gibbins, Asher Millstone e Laurel Castillo.

            Um grande trabalho para a pós-produção desta temporada foi a questão da montagem: a série é cheia de flashbacks que alterna presente e passado e a cada episódio pistas novas são colocadas e cabe ao espectador encaixá-las e desvendar o mistério.

            Logo nos primeiros instantes do primeiro episódio vemos um grupo de jovens (na qual ainda não conhecemos) tentando esconder um cadáver que acabaram de matar – aparentemente por acidente e depois somos levados à aula de Keating, na qual dá um salto de 3 meses no tempo e conforme os episódios avançam, esse tempo vai diminuindo, até que no episódio 9 (o melhor da temporada), chegamos ao grande dia.

            E para aguçar ainda mais a curiosidade do espectador, logo descobrimos que a vítima é Sam Keating, marido de Annalise. E também descobrimos que ela tem um amante, chamado Nate. Por que os alunos mataram o marido da professora? Por que Annalise é infiel? São essas perguntas que deixam a série mais atraente e mais viciante a cada momento.

            Pode parecer que não, mas é dificílimo fazer isso, de amarrar os fatos do passado para compreender o presente, sem cansar o espectador, sem deixar o roteiro enfadonho e sem perder o ritmo, mas How to Get Away With Murder faz isso de forma brilhante.

            E conforme a temporada vai evoluindo descobrimos que o plot principal é a morte de Lisa Stangard, na qual os dois suspeitos são Sam Keating (que mantinha um caso com ela) e Rebecca Sutter (sua amiga que claramente é viciada em drogas e não dá para confiar em seu estado).

            O destaque de How to Get Away With Murder é o grande papel de Viola, que logo nos primeiros momentos da série a percebemos como professora brilhante, mulher forte e exigente com os alunos - e isso se estende até o final, mas também a reconhecemos como um ser humano com suas falhas e problemas pessoais, sobretudo quando o foco é sua casa, seja pelo seu marido e por outros laços familiares que vão aparecendo na série.

            E sua exigência também atrai a admiração e respeito pelos alunos, que a vêem como modelo a idolatria (quem nunca teve um professor como ídolo, é porque não valoriza a educação). Coincidência ou não, isso lembra muito ‘Sociedade dos Poetas Mortos’ e, vejam, o nome de Robin Williams no filme era John Keating.

            Embora Viola Davis faça a série soltar faíscas, nada disso aconteceria sem um grande elenco de apoio, que é quase desconhecido, sobretudo os alunos, e todos, sem exceção, podem ter em How to Get Away With Murder uma chance de carreira consolidada e todos têm uma história interessante e é impossível não ter envolvimento emocional:

            Connor é homossexual assumido (e a série acerta em tratar o caso com naturalidade), tem um affair, é inteligente e é o primeiro aluno a ganhar o cobiçado troféu (embora tenha sido em troca de favores sexuais); Laurel é linda e idealista e também é um elo importante para a história; Michaela é a maior fã de Annalise, nasceu em um lugar pobre do sul dos EUA, está de casamento marcado com o amor da sua vida (mas sua sogra acha que é um casamento por interesse) e vê no trabalho com Annalise uma chance de crescer; Asher é inteligente e convencido (mas não é arrogante), é o único do grupo de alunos que fica de fora do assassinato – e jamais desconfia.

            Para quem bateu o olho nele e o reconheceu, ele é o mesmo ator que faz o guarda da prisão de ‘Orange is the New Black’ que engravida Dayanara.

            Mas o estudante mais interessante do grupo é Wes e é o que mais precisa se provar, pois, embora seja esforçado, é o menos conhecedor da área e ele entra no grupo para preencher uma vaga e Annalise viu nesse esforço que valeria a pena investir.

             Ele é vizinho de Rebecca (sim, a mesma que é a suspeita do assassinato de Lisa) e se apaixona por ela, mesmo sendo pessoas completamente diferentes (ele é mais certinho e ela mais “largada”) e mesmo com ela o esnobando.

            Rebecca também é uma personagem interessante e bipolar, ela deixa a dúvida de sua inocência o tempo todo.

            A maioria dos críticos falou mal de sua personagem, inclusive teve um famoso portal da internet que disse que ela estragou a série. Discordo completamente. Rebecca é uma personagem a ser descoberta aos poucos e foi um grande esforço da atriz em não entrar no clichê da drogada perturbada e nos estereótipos que, por exemplo, a TV brasileira tem. Katie Findlay também pode ter em How to Get Away With Murder a chance de brilhar em Hollywood.

            E também não devemos nos esquecer dos dois braços direitos de Annalise: Frank - que também é um personagem a ser descoberto - e Bonnie, que exerce também a carreira de advogada e substitui Annalise quando precisa.

            Não foi a toa que How to Get Away With Murder ganhou vários fãs em pouco tempo de vida, seja por sua trama intrigante, personagens fascinantes e roteiro que nos enriquece de conhecimento e nos provoca. E lembra muito o formato de Netflix, como um grande filme de 12, 13 horas (ou 15 horas, como é o caso aqui) e nós, fãs, esperamos que a série não tenha o triste fim de Revenge, Smallville, Arquivo X, dentre outras: se arrastar até se tornar repetitiva e ser lembrada de forma negativa. Só o tempo dirá.

Nota: 10,0

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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Showgirls


Showgirls

Direção: Paul Verhoeven

1995

Com: Elizabeth Berkley, Kyle MacLachlan, Gina Ravera, Glenn Plummer, Gina Gershon, Robert Davi.

Drama

18 Anos


Showgirls ganhou o prêmio de pior drama dos últimos 25 anos – mas, existem piores?

            O “clássico” Showgirls está completando 20 anos em 2015 e foi um grande fracasso de público e crítica na época do lançamento, mas depois foi crescendo a sua publicidade de forma inacreditável e ganhando status de cult, vejamos o porquê: Showgirls ganhou quase todos os prêmios do troféu Framboesa de Ouro em 1996 e até hoje é um dos maiores “vencedores” e o feito gerou tanta repercussão na mídia que acendeu a curiosidade do público em geral e foi ganhando o boca-a-boca, tanto que é exibido até hoje em sessões fechadas, especiais na TV e agora que chegou no serviço de streaming, pode ganhar um novo público.

            Outra coisa que aumentou a publicidade do filme foi o diretor: o holandês Paul Verhoeven estava em alta com as ficções científicas Robocop, de 1987, e O Vingador do Futuro, de 1990, mas ficou tão empolgado com o sucesso de Instinto Selvagem em 1992 que ele achava que seguir o caminho do erotismo seria sua nova marca e 3 anos depois lançaria Showgirls.

            E tem mais: ninguém vai receber o troféu Framboesa de Ouro por motivos óbvios e Paul foi a primeira pessoa da história a ir receber e ainda acrescentou que seu filme era tão ruim que pelos menos o fato de ele ir poderia gerar alguma publicidade para o filme. E ele estava mais do que certo: Showgirls virou cult de tão ruim e para quem é fã e curioso sobre cinema, tem a obrigação de ver Showgirls, pelo bem e pelo mal.

            Mas afinal, por que Showgirls é tão ruim? Alguns fãs do filme dizem que os Acadêmicos e críticos só detonaram o filme pelo tom erótico, o que tem um pouco de verdade: ainda há uma ala conservadora forte nos EUA que boicota muita coisa de censura R e X (aquelas proibidas para menores). Para muita gente, a violência é liberada, mas cenas de nudez e sexo ainda são um tabu para muita gente.

            Mas o problema é que Showgirls é um filme fraco, com diálogos constrangedores, péssimo elenco e a montagem muito amadora, com muita cara de filme pornô de baixo orçamento. A única coisa que se salva é que em momento algum ele é levado a sério, e como um filme de comédia, Showgirls funciona muito bem. Para quem quiser ver essa indústria levada a sério em um grande filme, veja ‘Boogie Nights – Prazer sem Limites’, de Paul Thomas Anderson.

            Na história, temos Heather (que depois adota seu “nome de guerra” de Nomi), que viaja para Las Vegas sem perspectiva nenhuma, principalmente porque o homem que deu carona a ela sumiu com sua mala, mas logo ela consegue um emprego como dançarina de boate.

            Mas não demora muito para ela se destacar, sobretudo quando ela vai sendo chamada para espetáculos maiores e unindo isso à sua ambição de crescer, seu nome começa a ser o mais requisitado de Las Vegas – por homens e mulheres.

            Kyle MacLachlan já era famoso na época de Showgirls, ele havia feito a série Twin Peaks anos anteriores e aceitou participar dessa bomba apenas para se divertir, mas o mesmo não se pode dizer de Elizabeth Berkley, que é a protagonista: Showgirls foi seu primeiro filme de destaque e para quem achava que seria uma guinada na carreira, errou feio. Ela própria disse que topou fazer esse filme, na qual ela aparece com nudez frontal e em vários momentos provocantes, porque achava que isso a faria crescer como atriz, mas a exceção de uma ou outra ponta, sua carreira não teve futuro.

            Showgirls não se contentou somente com o troféu máximo na Framboesa de Ouro de 1996: ele também ganhou, em 2000 como o pior filme da década e em 2005, como o pior drama dos últimos 25 anos. Houve exagero? Com certeza! Sobretudo porque nesse meio tempo tivemos A Reconquista, Destino Insólito, Mulher-Gato, dentre outros. E sem contar que no mesmo ano de 1995 ainda teve o pavoroso ‘Waterworld – O Segredo das Águas’, que é ainda pior do que Showgirls.

            Talvez os defensores do filme estejam certos sobre o puritanismo da sociedade.      

Nota: 2,0

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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Agents of S.H.I.E.L.D. - 2ª Temporada


Agents of S.H.I.E.L.D. – 2ª temporada

Criada por: Joss Whedon, Jed Whedon, Maurissa Tancharoen

2014

Com: Clark Gregg, Chloe Bennet, Ming-Na Wen, Elizabeth Henstridge, Iain De Caestecker, Brett Dalton, Nick Blood, Adrianne Palicki, Henry Simmons, Ruth Negga, Kyle MacLachlan, Hayley Atwell.

Ação

14 Anos


A 2ª temporada cobre todas as falhas da 1ª – e um pouco mais

            Foi em 2013 quando a série ‘Agents of S.H.I.E.L.D.’ foi anunciada. A expectativa era enorme, afinal, seria a primeira série de TV da Marvel e havia a promessa de interagir um o universo cinematográfico.

            E de fato, quando ela estreou, na Fall Season daquele ano, o episódio piloto fez muito barulho e atraiu muita gente, sobretudo pelo “renascimento” do agente Phil Coulson, que morrera em ‘Os Vingadores’.

O problema foi o que veio depois: o roteiro era confuso, os atores eram sem carisma, e embora Clark Gregg (que interpreta Coulson) seja um bom ator, ele não conseguia segurar a série. E para piorar, a rede ABC (canal em que a série é exibida) queria algo para toda a família, ou seja, a série tinha que agradar o fã de quadrinhos, mas também tinha que agradar os pais e ao restante da família.

Mas isso acabou sendo um tiro no pé para o canal, já que a audiência estava caindo, a crítica estava destruindo a série e o boca a boca nas redes sociais estava sendo negativo.

Muita gente havia abandonado a série (inclusive este que vos fala) e a Marvel, olhando para tudo isso, precisava fazer algo.

Daí que veio a luz no fim do túnel: em abril de 2014 chegou aos cinemas ‘Capitão América 2 – O Soldado Invernal’ e o arco principal do filme era a SHIELD sendo corrompida pela Hydra e na semana de lançamento do filme, a rede ABC colocou justamente o episódio que ligava os acontecimentos do longa com a série, reacendendo a curiosidade dos fãs e aumentando a audiência do seriado.

E foi exatamente este “fim” da SHIELD o ponto principal até o final da 1ª temporada e também é o que leva ao início da 2ª temporada.

Na verdade, a SHIELD está na clandestinidade e seus “sobreviventes” lutam para levá-la ao seu lugar e destruir a Hydra.

A segunda temporada começa com um flashback na Segunda Guerra Mundial, na qual a Agente Carter protege um artefato chamado de Obelisco (e depois descobrimos seu real poder) das mãos da Hydra.

Esse início é fundamental para entendermos um pouco da criação da SHIELD e também deu início à série da Agent Carter (falaremos dela melhor em outra ocasião), que também pode ser vista como spin-off de ‘Agents of S.H.I.E.L.D.’.

Já nos dias atuais, voltamos aos acontecimentos do final da temporada passada: Coulson se torna diretor da SHIELD após a “renúncia” de Nick Fury e Ward está preso na sede da SHIELD após descobrirem que ele era um agente da Hydra infiltrado. Na temporada passada ele quase levou Fitz e Jemma à morte e agora prisioneiro, só aceita falar com Skye (seu interesse amoroso na temporada passada) e tenta manipulá-la a acreditar nele, sobretudo pelo seu pai, que ela jamais conheceu.

Nesta 2ª temporada temos a inserção de dois novos heróis: Bobbi Morse e Lance Hunter. A primeira aparição de Bobbi já mostra ao que veio: Jemma foi capturada pela Hydra e Bobbi é contratada para ficar de olho nela, mas Bobbi a liberta de lá (em uma cena de ação grandiosa) e só depois descobrimos que ela, na verdade, trabalha para a SHIELD. Já Lance é o ex-marido de Bobbi. Os dois se provocam a cada momento e a cada episódio a série deixa pistas falsas de um possível agente duplo (?)

A segunda temporada começa com o gancho da primeira, mas não demora muito para o espectador descobrir qual será o foco ao longo da temporada e ao que tudo indica, pode ser o foco do restante da série: os Inumanos.

Embora os mutantes dos X-Men sejam da Marvel nos quadrinhos, nos cinemas a detentora dos direitos deles é a Fox e a casa de ideias não pode usá-los em seus filmes e séries. Nesse cenário, a saída para a Marvel em utilizá-los foram os Inumanos, que vão ganhar um filme próprio em 2019.

Os Inumanos são menos populares nas hqs, mas a Marvel consegue colocar em tela aquilo que o grande público não conhece e deixá-lo popular. Os Guardiões da Galáxia estão aí para comprovar.

No caso de ‘Agents of S.H.I.E.L.D.’, os Inumanos são tratados igualmente como nos filmes dos X-Men e é impossível desassociar: a sociedade os rejeita, eles se tornam uma ameaça e há aqueles que querem conciliação e àqueles que querem guerra.

Descobrimos que Skye é uma Inumana, ela finalmente conhece seus pais - que também são Inumanos, aliás, sua mãe, Jiaying é a líder dos Inumanos e seu pai é Cal, um sujeito de intenções duvidosas e a série também leva essa dúvida até o final.

Quando Skye os conhece, ela descobre que seu nome, na verdade, é Daisy Johnson, que libera uma espécie de campo de força, que, de início, ela não consegue controla-lo, mas aprende a controlar seus poderes.

Também descobrimos que Raina (péssima personagem da primeira temporada) também é uma Inumana, com o poder de prever os acontecimentos futuros. Raina fica com uma aparência diferente de quando era humana e a série discute o preconceito e o culto à beleza (alguém se lembrou da Mística?)

E por falar na Mística, não podemos nos esquecer da agente da Hydra, que atende pelo codinome de Agente 33, que depois descobrimos que seu nome é Kara.

A Hydra desenvolve a tecnologia de reconhecimento facial e consegue fazer clones de uma pessoa e nesse cenário, acontece o efeito mais impressionante da série, que ocorre no episódio 4 e também leva as consequências até o final: Kara consegue clonar o rosto da Agente May e se infiltra na SHIELD, mas logo é descoberta.

Se na primeira temporada havia pouco, ou quase nenhum envolvimento emocional com os personagens, nesta temporada o espectador consegue não só se envolver com os protagonistas, mas com todo o elenco e mesmo não sendo atores reconhecidos pelo talento, todos estão muito bem em seu papel e algumas histórias são surpreendentes:

            Coulson precisa lidar com seus dramas pessoais e com a liderança da SHIELD, ele continua escrevendo os sinais misteriosos na parede, tem que cuidar de seu prisioneiro Ward – e conseguir alguma informação dele sobre a Hydra – e com sua Skye em sua sede se descobrir seu passado.

            A agente Melinda May tem um episódio praticamente só dela: é o episódio 17, na qual há um flashback surpreendente sobre seu passado, descobrimos que ela era casada e matou, acidentalmente, uma garota. O grande destaque de sua personagem era seu jeito frio e calculista – e logo descobrimos seus motivos e motivações.

            Fitz e Jemma eram personagens muito mal aproveitados no começo e suas atuações eram quase robóticas: eram o perfil do cientista nerd e frio, mas depois que Ward jogou Fitz de um avião na temporada passada e o deixou como prisioneiro embaixo d’água com Jemma, o arco ficou muito mais interessante, já que o incidente afetou sua atenção – ele está com dificuldade de raciocínio – e sua química com Jemma remete a uma amizade inseparável – ou a uma possível atração (?)

            Mas a personagem mais bem aproveitada nesta temporada é Skye (ou Daisy, depende do ponto de vista). Ela era insuportável no começo e estando na série basicamente por ser o perfil de adolescente ingênua e linda no mundo da SHIELD, mas agora sua história ganha tons dramáticos, principalmente quando ela conhece seus pais e quando ela se torna Inumana. Daisy tem tudo para ser uma nova heroína da ação da TV e um elo de equilíbrio entre a SHIELD e os Inumanos.

            Por comparação à primeira temporada, ‘Agents of S.H.I.E.L.D.’ se tornou praticamente uma nova série no 2º ano, tanto na história, tratamento dos personagens e até na produção: as cenas de ação são tão boas que o público nem acredita que se trata de uma série da TV aberta americana.

            Mas isso é um sinal que a Marvel também erra e, sobretudo, ela sabe ouvir seu público. E não é isso que as empresas vitoriosas fazem?

Nota: 10,0

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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Que Horas Ela Volta?


Que Horas Ela Volta?

Direção: Anna Muylaert

2015

Com: Regina Casé, Camila Márdila, Michel Joelsas, Karine Teles, Lourenço Mutarelli, Helena Albergaria, Luis Miranda, Theo Werneck.

Drama

14 Anos

‘Que Horas Ela Volta’ é o melhor filme brasileiro em anos

            Desde um distante 1999, com ‘Central do Brasil’, que o nosso país não vai ao Oscar de Filme Estrangeiro. Em 2004, um outro grande filme teve chances de sair com a estatueta, desta vez em categorias “maiores”, inclusive a de Melhor Diretor: Cidade de Deus, que até hoje é um dos filmes brasileiros mais aclamados da história e sua montagem (que também foi indicada) é sempre uma referência em escolas de cinema e em muitas outras obras. Os filmes da Kathryn Bigelow estão aí para comprovar.

            De lá para cá vimos os grandes Tropa de Elite se tornando fenômenos pop, mas o que moveu a indústria nacional foram as comédias televisivas, que gerou milhões para os estúdios (sobretudo a Globo Filmes), a maioria das comédias foram destruídas pela crítica, mas o público adorou. O problema é que esses filmes ocupam 80% das salas e engolem os filmes independentes do nosso cinema, que, infelizmente, ficam restritos aos festivais.

            Mas, é glorioso quando um filme brasileiro independente ganha destaque e é ovacionado por público e crítica: ‘Que Horas Ela Volta?’ é o melhor filme brasileiro em anos, um grande exercício de reflexão, é provocativo, comovente e acredite – ninguém sairá do filme da mesma forma.

            ‘Que Horas Ela Volta?’ conta a história de Val (Regina Casé, no melhor papel de sua carreira) que trabalha como empregada domestica em uma casa luxuosa em São Paulo e é basicamente sua única família, sobretudo na figura de Fabinho (Michel Joelsas, o protagonista de ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’), o filho de sua patroa Bárbara e é seu grande laço materno.

            Ela está há anos sem ver sua filha, Jéssica (Camila Márdila, igualmente ótima), que está morando no Pernambuco e liga para sua mãe avisando que se mudará para São Paulo para prestar vestibular de Arquitetura.

            Mas a presença de Jéssica abala o ambiente da casa – para o bem e para o mal – pois ela se revela uma moça inteligente e estudiosa, mas se recusa a dormir no quarto de empregada de sua mãe, senta junto aos patrões para comer, fica na piscina da família, dentre outras coisas.

            O filme promove várias discussões: até quando vai a relação entre patrão e empregado e até onde vão os limites de uma ordem e o respeito. Val é uma empregada quase como da família, mas não pode fazer muita coisa que seus patrões fazem – além de ter um quarto insalubre nos fundos da casa.

            Também a presença de Jéssica gera uma ambigüidade: será que essa personagem fascinante é arrogante ou determinada? Ela não segue os padrões porque tem vergonha da mãe ou porque ela quer crescer na vida? Ou mais do que isso: ela não chama a mãe pelo nome porque não gosta dela ou pelo tempo ausente?

            O filme deixa essas perguntas o tempo todo, não dá respostas prontas, deixando para o espectador tirar suas conclusões.

            Regina Casé faz O papel de sua carreira, e não consigo imaginar outra atriz em uma personagem tão cativante, verdadeira e humana. A sua Val foge dos estereótipos e comove com sua sutileza, humildade e momentos de quebrar o coração, tudo fruto de um roteiro primoroso e com uma montagem e fotografia de encher os olhos.

            Quem dirige e escreve o roteiro é a sempre ótima Anna Muylaert, que começou lá em 2002 com Durval Discos, escreveu o roteiro de ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’, mas ‘Que Horas Ela Volta?’ é seu melhor filme.

            E apesar de Regina Casé estar ganhando um destaque merecido pelo papel, o elenco de apoio também arrebenta: Camila Márdila é uma revelação em pessoa, faz seu primeiro filme e ‘Que Horas Ela Volta?’ pode ser a chance de uma carreira consolidada. Michel Joelsas faz seu melhor papel desde ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’ e não devemos nos esquecer dos patrões de Val, Carlos (Lourenço Mutarelli) e Bárbara (Karine Teles).

            ‘Que Horas Ela Volta?’ merece mais do que a indicação ao Oscar de Filme Estrangeiro: o roteiro maravilhoso e as atuações impecáveis de Regina Casé e Camila Márdila (no caso, para Atriz Coadjuvante) também merecem reconhecimento.

            ‘Que Horas Ela Volta?’ é um filme tão provocativo sobre luta de classes e superação que pode assustar os conservadores da Academia – e ao público norte-americano conservador. Mas não faz mal. A vida é assim mesmo.

Nota: 10,0

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