terça-feira, 29 de setembro de 2015

How to Get Away With Murder - 1ª Temporada


How to Get Away With Murder – 1ª temporada

Criada por: Peter Nowalk

2014

Com: Viola Davis, Liza Weil, Charlie Weber, Katie Findlay, Alfred Enoch, Jack Falahee, Aja Naomi King, Matt McGorry, Karka Souza, Billy Brown, Tom Verica.

Suspense

14 Anos


How to Get Away With Murder mostra o porquê de a TV estar melhor do que o cinema

            Na semana passada a série ‘How to Get Away With Murder’ ganhou duas motivações para o grande público começar a vê-la: primeiro porque a 1ª temporada chegou no serviço de streaming e agora pode ser vista por um público muito maior (sobretudo depois que o canal Sony fez o descaso de só exibi-la dublada) e principalmente porque Viola Davis não só ganhou o Emmy de melhor atriz dramática por este papel irretocável, como também fez um discurso histórico sobre racismo e oportunidade. Viola foi a primeira mulher negra a ganhar o prêmio.

            E ela estava certa: que uma atriz negra só pode ganhar um prêmio desses se houverem papéis e embora o racismo tenha diminuído, ele existe ainda, infelizmente, e na TV isso não é diferente.

            Mas há uma pessoa que está lutando para diminuir isso desde 2005: a grande Midas da TV americana, Shonda Rhimes, que ganhou muita fama com a criação de Grey’s Anatomy e Private Practice, com suas tramas, reviravoltas e acolhida popular, e dando muito destaque aos atores negros. Mas ainda faltava algo, faltava uma série em que um negro era protagonista, sem ser “vítima do sistema” e menos ainda com algum tema racial.

            Daí veio a idéia de fazer Scandal, em 2012. Uma série política, eletrizante e com uma protagonista negra, a ótima Kerry Washington.

            Scandal já vai para a 5ª temporada, e é um sucesso de público e crítica (embora a 4ª temporada tenha sido um pouco aquém em relação às outras) e só mostra o quanto Shonda sabe escrever bons roteiros, ótimos personagens e é conhecedora do mundo em geral.

            E agora surge uma série que não é sua criação, mas ela é produtora executiva, e não é exagero nenhum dizer que esta é sua melhor obra: How to Get Away With Murder, que chegou arrancando elogios da crítica e do público, a segunda temporada já estreou nos EUA e de tão ousada tem muito mais cara de série de TV fechada, mas é de um canal aberto – e com apenas 15 episódios – em contrapartida dos 22, que a maioria das séries abertas tem.

            A série foi criada por Peter Novalk (que escreveu alguns episódios de Scandal e Grey’s Anatomy) e conta a história da professora de direito Annalise Keating (Viola Davis, no melhor papel da sua carreira) que ensina em uma renomada universidade da Filadélfia a disciplina Introdução ao Direito Penal, também conhecida como How to Get Away With Murder ou  em português, “como se livrar de um assassinato”.

            Annalise escolhe casos reais e desafia seus alunos a descobrirem soluções para livrar seus clientes e escolhe um grupo dos alunos mais preparados para serem seus “estagiários” e terem a honra de trabalharem com ela, são eles: Connor Walsh, Michaela Pratt, Wes Gibbins, Asher Millstone e Laurel Castillo.

            Um grande trabalho para a pós-produção desta temporada foi a questão da montagem: a série é cheia de flashbacks que alterna presente e passado e a cada episódio pistas novas são colocadas e cabe ao espectador encaixá-las e desvendar o mistério.

            Logo nos primeiros instantes do primeiro episódio vemos um grupo de jovens (na qual ainda não conhecemos) tentando esconder um cadáver que acabaram de matar – aparentemente por acidente e depois somos levados à aula de Keating, na qual dá um salto de 3 meses no tempo e conforme os episódios avançam, esse tempo vai diminuindo, até que no episódio 9 (o melhor da temporada), chegamos ao grande dia.

            E para aguçar ainda mais a curiosidade do espectador, logo descobrimos que a vítima é Sam Keating, marido de Annalise. E também descobrimos que ela tem um amante, chamado Nate. Por que os alunos mataram o marido da professora? Por que Annalise é infiel? São essas perguntas que deixam a série mais atraente e mais viciante a cada momento.

            Pode parecer que não, mas é dificílimo fazer isso, de amarrar os fatos do passado para compreender o presente, sem cansar o espectador, sem deixar o roteiro enfadonho e sem perder o ritmo, mas How to Get Away With Murder faz isso de forma brilhante.

            E conforme a temporada vai evoluindo descobrimos que o plot principal é a morte de Lisa Stangard, na qual os dois suspeitos são Sam Keating (que mantinha um caso com ela) e Rebecca Sutter (sua amiga que claramente é viciada em drogas e não dá para confiar em seu estado).

            O destaque de How to Get Away With Murder é o grande papel de Viola, que logo nos primeiros momentos da série a percebemos como professora brilhante, mulher forte e exigente com os alunos - e isso se estende até o final, mas também a reconhecemos como um ser humano com suas falhas e problemas pessoais, sobretudo quando o foco é sua casa, seja pelo seu marido e por outros laços familiares que vão aparecendo na série.

            E sua exigência também atrai a admiração e respeito pelos alunos, que a vêem como modelo a idolatria (quem nunca teve um professor como ídolo, é porque não valoriza a educação). Coincidência ou não, isso lembra muito ‘Sociedade dos Poetas Mortos’ e, vejam, o nome de Robin Williams no filme era John Keating.

            Embora Viola Davis faça a série soltar faíscas, nada disso aconteceria sem um grande elenco de apoio, que é quase desconhecido, sobretudo os alunos, e todos, sem exceção, podem ter em How to Get Away With Murder uma chance de carreira consolidada e todos têm uma história interessante e é impossível não ter envolvimento emocional:

            Connor é homossexual assumido (e a série acerta em tratar o caso com naturalidade), tem um affair, é inteligente e é o primeiro aluno a ganhar o cobiçado troféu (embora tenha sido em troca de favores sexuais); Laurel é linda e idealista e também é um elo importante para a história; Michaela é a maior fã de Annalise, nasceu em um lugar pobre do sul dos EUA, está de casamento marcado com o amor da sua vida (mas sua sogra acha que é um casamento por interesse) e vê no trabalho com Annalise uma chance de crescer; Asher é inteligente e convencido (mas não é arrogante), é o único do grupo de alunos que fica de fora do assassinato – e jamais desconfia.

            Para quem bateu o olho nele e o reconheceu, ele é o mesmo ator que faz o guarda da prisão de ‘Orange is the New Black’ que engravida Dayanara.

            Mas o estudante mais interessante do grupo é Wes e é o que mais precisa se provar, pois, embora seja esforçado, é o menos conhecedor da área e ele entra no grupo para preencher uma vaga e Annalise viu nesse esforço que valeria a pena investir.

             Ele é vizinho de Rebecca (sim, a mesma que é a suspeita do assassinato de Lisa) e se apaixona por ela, mesmo sendo pessoas completamente diferentes (ele é mais certinho e ela mais “largada”) e mesmo com ela o esnobando.

            Rebecca também é uma personagem interessante e bipolar, ela deixa a dúvida de sua inocência o tempo todo.

            A maioria dos críticos falou mal de sua personagem, inclusive teve um famoso portal da internet que disse que ela estragou a série. Discordo completamente. Rebecca é uma personagem a ser descoberta aos poucos e foi um grande esforço da atriz em não entrar no clichê da drogada perturbada e nos estereótipos que, por exemplo, a TV brasileira tem. Katie Findlay também pode ter em How to Get Away With Murder a chance de brilhar em Hollywood.

            E também não devemos nos esquecer dos dois braços direitos de Annalise: Frank - que também é um personagem a ser descoberto - e Bonnie, que exerce também a carreira de advogada e substitui Annalise quando precisa.

            Não foi a toa que How to Get Away With Murder ganhou vários fãs em pouco tempo de vida, seja por sua trama intrigante, personagens fascinantes e roteiro que nos enriquece de conhecimento e nos provoca. E lembra muito o formato de Netflix, como um grande filme de 12, 13 horas (ou 15 horas, como é o caso aqui) e nós, fãs, esperamos que a série não tenha o triste fim de Revenge, Smallville, Arquivo X, dentre outras: se arrastar até se tornar repetitiva e ser lembrada de forma negativa. Só o tempo dirá.

Nota: 10,0

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