segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Que Horas Ela Volta?


Que Horas Ela Volta?

Direção: Anna Muylaert

2015

Com: Regina Casé, Camila Márdila, Michel Joelsas, Karine Teles, Lourenço Mutarelli, Helena Albergaria, Luis Miranda, Theo Werneck.

Drama

14 Anos

‘Que Horas Ela Volta’ é o melhor filme brasileiro em anos

            Desde um distante 1999, com ‘Central do Brasil’, que o nosso país não vai ao Oscar de Filme Estrangeiro. Em 2004, um outro grande filme teve chances de sair com a estatueta, desta vez em categorias “maiores”, inclusive a de Melhor Diretor: Cidade de Deus, que até hoje é um dos filmes brasileiros mais aclamados da história e sua montagem (que também foi indicada) é sempre uma referência em escolas de cinema e em muitas outras obras. Os filmes da Kathryn Bigelow estão aí para comprovar.

            De lá para cá vimos os grandes Tropa de Elite se tornando fenômenos pop, mas o que moveu a indústria nacional foram as comédias televisivas, que gerou milhões para os estúdios (sobretudo a Globo Filmes), a maioria das comédias foram destruídas pela crítica, mas o público adorou. O problema é que esses filmes ocupam 80% das salas e engolem os filmes independentes do nosso cinema, que, infelizmente, ficam restritos aos festivais.

            Mas, é glorioso quando um filme brasileiro independente ganha destaque e é ovacionado por público e crítica: ‘Que Horas Ela Volta?’ é o melhor filme brasileiro em anos, um grande exercício de reflexão, é provocativo, comovente e acredite – ninguém sairá do filme da mesma forma.

            ‘Que Horas Ela Volta?’ conta a história de Val (Regina Casé, no melhor papel de sua carreira) que trabalha como empregada domestica em uma casa luxuosa em São Paulo e é basicamente sua única família, sobretudo na figura de Fabinho (Michel Joelsas, o protagonista de ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’), o filho de sua patroa Bárbara e é seu grande laço materno.

            Ela está há anos sem ver sua filha, Jéssica (Camila Márdila, igualmente ótima), que está morando no Pernambuco e liga para sua mãe avisando que se mudará para São Paulo para prestar vestibular de Arquitetura.

            Mas a presença de Jéssica abala o ambiente da casa – para o bem e para o mal – pois ela se revela uma moça inteligente e estudiosa, mas se recusa a dormir no quarto de empregada de sua mãe, senta junto aos patrões para comer, fica na piscina da família, dentre outras coisas.

            O filme promove várias discussões: até quando vai a relação entre patrão e empregado e até onde vão os limites de uma ordem e o respeito. Val é uma empregada quase como da família, mas não pode fazer muita coisa que seus patrões fazem – além de ter um quarto insalubre nos fundos da casa.

            Também a presença de Jéssica gera uma ambigüidade: será que essa personagem fascinante é arrogante ou determinada? Ela não segue os padrões porque tem vergonha da mãe ou porque ela quer crescer na vida? Ou mais do que isso: ela não chama a mãe pelo nome porque não gosta dela ou pelo tempo ausente?

            O filme deixa essas perguntas o tempo todo, não dá respostas prontas, deixando para o espectador tirar suas conclusões.

            Regina Casé faz O papel de sua carreira, e não consigo imaginar outra atriz em uma personagem tão cativante, verdadeira e humana. A sua Val foge dos estereótipos e comove com sua sutileza, humildade e momentos de quebrar o coração, tudo fruto de um roteiro primoroso e com uma montagem e fotografia de encher os olhos.

            Quem dirige e escreve o roteiro é a sempre ótima Anna Muylaert, que começou lá em 2002 com Durval Discos, escreveu o roteiro de ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’, mas ‘Que Horas Ela Volta?’ é seu melhor filme.

            E apesar de Regina Casé estar ganhando um destaque merecido pelo papel, o elenco de apoio também arrebenta: Camila Márdila é uma revelação em pessoa, faz seu primeiro filme e ‘Que Horas Ela Volta?’ pode ser a chance de uma carreira consolidada. Michel Joelsas faz seu melhor papel desde ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’ e não devemos nos esquecer dos patrões de Val, Carlos (Lourenço Mutarelli) e Bárbara (Karine Teles).

            ‘Que Horas Ela Volta?’ merece mais do que a indicação ao Oscar de Filme Estrangeiro: o roteiro maravilhoso e as atuações impecáveis de Regina Casé e Camila Márdila (no caso, para Atriz Coadjuvante) também merecem reconhecimento.

            ‘Que Horas Ela Volta?’ é um filme tão provocativo sobre luta de classes e superação que pode assustar os conservadores da Academia – e ao público norte-americano conservador. Mas não faz mal. A vida é assim mesmo.

Nota: 10,0

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