terça-feira, 1 de setembro de 2015

Narcos - 1ª Temporada



Criada por: Chris Brancato e Eric Newman

2015

Com: Wagner Moura, Boyd Holbrook, Pedro Pascal, Juan Pablo Raba, Joanna Christie, Stephanie Sigman, Gabriela de la Garza, Manolo Cardona, Ana de La Reguera, André Mattos.

Drama / Biografia

18 Anos


Um “Tropa de Elite” colombiano de 10 horas

            Já não é segredo nenhum que a TV agora tem o efeito contrário do que era há 20, 30 anos: se antes era uma vergonha para as celebridades irem para a TV, pois isto representava uma decadência de carreira, agora é uma renovação e a chance de brilhar em uma nova mídia.

            Esse fenômeno já estava acontecendo com os atores, mas já faz pouco tempo que até diretores respeitados estão indo para a TV: Martin Scorsese, Steven Spielberg, os irmãos Wachowski e agora o brasileiríssimo José Padilha, diretor de Tropa de Elite 1 e 2 e do documentário Ônibus 174.

            Ele bem que tentou seguir o caminho de Walter Salles e Fernando Meirelles e fazer uma carreira em Hollywood com o remake de Robocop no ano passado e embora tenha feito um relativo sucesso, o diretor reclamou muito da pressão dos executivos e que ele não teve liberdade nenhuma para o projeto. Mesmo sendo um bom filme de ação, ficou claro que era um filme de produtor, não do Padilha.

            Mas, nada como voltar às origens e ele fazer o que sabe de melhor: denúncia. E corajosa, sem as máscaras que a imprensa brasileira e mundial tem ao mostrar o sistema como ele é por dentro.

            Se Tropa de Elite 2 foi o auge disso, agora isso é representado de forma mais global.

            Ano passado foi anunciado que uma série da Netflix sobre o Pablo Escobar estava sendo produzida, o que já nos deixou otimistas, já que o canal, assim como a HBO, dá mais liberdade para os autores realizarem suas obras e é possível ousar mais.

            Não estou fazendo propaganda de graça para a Netflix nem para a HBO, mas na grande maioria nos canais existe a preocupação com patrocinadores e audiência, mas considerando que a HBO é uma TV fechada e a Netflix é um serviço de streaming, isso não acontece. E essa ousadia é clara se levarmos em conta uma série como Sense8, que não tem vergonha nem pudor de mostrar quem é e jamais seria exibida em um canal aberto.

            E não temos somente José Padilha de brasileiro em Narcos, mas também temos o nosso Capitão Nascimento, Wagner Moura como Pablo Escobar, o diretor de Fotografia é Lula Carvalho, que já trabalhou com Padilha em Tropa 1 e 2 e Robocop e o ator André Mattos – que fez Tropa de Elite 2. E também temos Fernando Coimbra, diretor de O Lobo Atrás da Porta (que também tem Lula Carvalho na fotografia) e dirige o episódio 7 e 8 desta temporada.

            Padilha é o produtor executivo e também dirige os dois primeiros episódios.

            Narcos não é uma história de origem, já começa tendo Pablo como um traficante e como ele se tornou um dos maiores da história e uma lenda.

            Durante os anos 80, ele já era o maior da Colômbia, era temido dentro e fora do seu país, já tentou ser presidente do país (e quase conseguiu, levantando a bandeira de trabalhar para o povo), mas teve o cargo expugnado depois das denúncias de ele ser um traficante de drogas (muito antes de a população em geral saber disso), ficou exilado por um tempo no Panamá, mas seu auge foi na construção de sua “prisão”, que na verdade era uma fortaleza.

            A idéia de prisão surgiu de um acordo entre ele a o governo da Colômbia, na qual a caça a ele estava se intensificando e quanto mais se procurava por ele, mais ele provocava o terror em seu país. Foi nesse período, na segunda metade dos anos 80 que a Colômbia teve a fama que tem até hoje de um cartel de drogas e paraíso para os traficantes.

            Durante esse período, houve guerra civil no país, com atentados terroristas e a morte de todos aqueles que queriam combater Escobar, como Rodrigo Lara, que foi o responsável pela impugnação de Escobar, foi promovido para Embaixador colombiano na Tchecoslováquia, mas foi baleado antes de viajar.

            Outros momentos marcantes foram o atentado em um avião no ar com a intenção fracassada de assassinar o então candidato à presidência Cesar Gaviria. O caso gerou revolta nacional e foi a partir daí que Escobar passou a ser odiado pelo público e mídia. E por falar em mídia, não se deve esquecer os seqüestros de jornalistas importantes, sobretudo de Diana Turbay, que era a porta voz da mídia contra Escobar e acabou sendo morta acidentalmente em uma ação fracassada do exército colombiano, que causou comoção nacional e foi o grande estopim para o então presidente colombiano Cesar Gavíria fazer um acordo para Escobar criar sua fortaleza em troca de paz pelo seu país.

            Diana era filha do ex-presidente colombiano e sua maior rival como jornalista era Valeria Velez, que era a porta voz a favor de Escobar em troca de favores sexuais. E ela era tão ruim quanto Escobar, já que o seqüestro de Diana foi uma sugestão dela.

            Aliás, a série mostra que embora Escobar fosse megalomaníaco, frio e calculista, seu império não seria nada sem os seus capangas, ou sicários, como eram chamados, sobretudo Gustavo, que era seu amigo de infância. Seus sicários já o salvaram da morte e inclusive delataram traidores. Isso pode não parecer, mas é importantíssimo para a História. Grandes ditadores, como Hitler e Stalin, além da ditadura brasileira, só chegaram aonde chegaram porque seus servos eram fiéis como um cão e matariam, literalmente, pelo seu chefe.

            Ao contrário de muita obra do ponto de vista do vilão em que mostra o lado mais humano da figura histórica, aqui Escobar é tratado como um ser mau, sem sutilezas e assassino frio. Em uma das conversas dois de seus sicários questiona se ele é um santo e o outro responde: “claro, ele leva as pessoas ao céu”.

            Quem se lembrar de Tropa de Elite vai saber que os dois filmes eram contados em primeira pessoa, sob o ponto de vista do Capitão Nascimento. Aqui também temos a narração em primeira pessoa, mas do policial do DEA (Drug Enforcement Administration ou Órgão para o Controle/Combate das Drogas dos EUA), Steve Murphy, que passou grande parte de sua vida na captura de Escobar e é tão protagonista quanto Wagner Moura. Quem faz é o ator Boyd Holbrook (de Garota Exemplar’), mas aqui faz seu melhor papel.

            Por falar em grandes papéis, temos que destacar o papel irretocável de Wagner, que é tão bom quanto o seu Capitão Nascimento. Muita gente criticou seu sotaque espanhol e embora a crítica seja válida, não devemos nos esquecer do esforço dele para fazer o melhor possível, seja por ele ter engordado 20 quilos ou por ele ter vivido por 1 ano na Colômbia.

            Embora Escobar seja apresentado como um pai exemplar para seus filhos pequenos e sua mãe sempre a defende e não admite que ninguém fale mal de seu filho. Sua esposa, Tata, também o defende e ele a trata com certo respeito – mas todos sabem que ele a traía com Valeria.

            Mas engana-se quem acha que Narcos seja uma série unicamente sobre Escobar: funciona muito bem como objeto de estudo sobre a Colômbia, com uma fotografia poderosa de Lula Carvalho, tanto representando a série como obra de ficção como as imagens reais de fatos históricos. A série também deixou claro sobre a omissão norte-americana com o tráfico colombiano. O então presidente Ronald Reagan estava preocupado unicamente com a ameaça comunista, enquanto o tráfico de drogas entrava de forma fácil em Miami e Los Angeles.

            Narcos pode ser visto como um grande filme de 10 horas, que é uma marca da Netflix com episódios contínuos, ou como uma série propriamente dita. Não importa. O importante é que ela merece estar entre as melhores do serviço e mostra que não são apenas americanos e ingleses que podem fazer uma série de qualidade, nós, latinos, também. Tanto em idéia como em produção (a abertura é uma obra-prima).

            A segunda temporada ainda não foi oficializada, mas, assim como Sense8, é só uma questão de tempo. E como estamos falando de um canal sem a pressão da audiência e de agradar seus patrocinadores, é compreensível que a próxima temporada só seja anunciada com um roteiro pronto.

Nota: 10,0

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