domingo, 11 de outubro de 2015

Perdido em Marte


Perdido em Marte (The Martian)

Direção: Ridley Scott

2015

Com: Matt Damon, Jessica Chastain, Kristen Wiig, Jeff Daniels, Chiwetel Ejiofor, Sean Bean, Mackenzie Davis, Kate Mara, Michael Pena, Sebastian Stan, Benedict Wong, Donald Glover.

Ficção Científica

12 Anos

Bem-vindo de volta, Scott

            O diretor Ridley Scott bem que tenta, mas não consegue se separar da ficção científica e embora ele tenha acertado em outros gêneros com Gladiador e Thelma & Louise, ele mais errou do que acertou. Mesmo dentro da ficção científica ele já cometeu deslizes: se Alien – O 8º Passageiro e Blade Runner – O Caçador de Andróides são duas obras-primas do cinema, o mesmo não se pode dizer de Prometheus, que teve um dos trailers mais espetaculares dos últimos anos e acabou decepcionando a maioria do público.
            Mas, nada como se reinventar no próprio gênero e colocar uma temática diferente: Perdido em Marte é um grande filme de ficção científica e deve ser visto por todo o público, desde os mais entendidos em ciência até o público comum.

            As comparações com Interestelar são inevitáveis: no filme de Christopher Nolan, Matt Damon também interpreta um astronauta que está perdido em um planeta distante, mas enquanto o filme estava em produção, os produtores deixaram claro que são filmes distintos. E o trailer mostrou isso também.

            Na história, uma equipe de astronautas da NASA liderada por Melissa Lewis (Jessica Chastain) faz uma missão em Marte, mas uma forte tempestade de areia faz com que um dos tripulantes, Mark Watney (um Matt Damon ótimo!) fique desacordado, é dado como morto e é deixado por seus colegas.

            No dia seguinte, Watney acorda com baixa quantidade de oxigênio, mas logo se reabilita ao voltar para a base instalada pela equipe no planeta. E nesse contexto, Watney luta pela sobrevivência enquanto tenta fazer contato com a NASA.

            Enquanto isso, na Terra, Watney é homenageado, mas demora dois meses para descobrirem que ele está vivo e bem em Marte, porém o diretor da NASA, Teddy Sanders (Jeff Daniels) discute se vale a pena arriscar milhões de dólares por causa de apenas uma vida.

            Neste meio tempo, a equipe liderada por Melissa está em órbita no espaço, demora um pouco para ser contatada sobre o estado de Watney, mas organiza uma missão de resgate.

            E Perdido em Marte vai intercalando sendo 3 filmes em 1: tem o núcleo da Terra, que se passa na NASA, o núcleo da equipe, mas o que mais se destaca é a sobrevivência de Watney sozinho em Marte.

            Em momento nenhum o filme se torna enfadonho, muito pelo contrário. É certo que muitos ficam com um pé atrás de ficção científica e muitos não têm paciência com o gênero, mas Perdido em Marte é uma exceção: quando a plateia pensa que ver Matt Damon sozinho vai cansar, o filme corta para o arco na Terra, e assim por diante, e nenhuma história é menos importante do que a outra.

            O roteiro de Drew Goddard (que também escreveu alguns episódios de Demolidor e Lost), que é baseado em um livro homônimo de Andy Weir, consegue ser explicativo, mas sem questionar a inteligência do espectador: por diversas vezes, Mark Watney está conversando com a NASA por conferência, mas, na verdade, está conversando com a plateia, o que em um filme de ficção científica, faz todo o sentido. Sem contar as reuniões da NASA (em uma determinada cena, quando o personagem de Donald Glover explica sobre um equipamento, usando Jeff Daniels e Kristen Wiig de exemplo, é muito bacana).

            As comparações com Náufrago e Gravidade também são inevitáveis: no caso do filme com Tom Hanks, mostra a sobrevivência em uma terra desconhecida e no caso do filme com Sandra Bullock, além da sobrevivência, é uma história também de ficção científica.

            Mas, qual é a diferença de Perdido em Marte para esses filmes, mais Interestelar? Enquanto nesses 3 filmes temos a introspecção, reflexão e drama dos personagens, em Perdido em Marte as soluções chegam a ser cômicas: existem os momentos de reflexão, mas Watney faz piadas o tempo todo, tenta sobreviver sem se desesperar (e os momentos de desespero fariam todo o sentido!) e usa soluções ecológicas para se alimentar – a idéia da plantação de batatas é extraordinária.

            Olhando por esse lado, Perdido em Marte é sim um filme otimista: o bom humor de Matt Damon é uma metáfora sobre não perder a alegria e a esperança sobre a adversidade.

            Também o filme é uma alegoria sobre a arrogância humana, sobretudo na figura de Teddy, que está mais preocupado com os lucros do que a vida de Mark.

            Não por isso, Perdido em Marte pode ser um grande objeto de estudo e ser exibido em escolas e faculdades para ensinar questões de ciência, astronomia, esperança e a não-ganância.

            Como todo e qualquer filme de ficção científica, as referências a ‘2001 – Uma Odisséia no Espaço’ estão lá, seja na equipe orbitando no espaço ou na personagem de Kate Mara se exercitando na esteira.

            Hoje em dia, a China é o segundo maior mercado do cinema mundial, já salvou Hollywood várias vezes e foi a grande responsável de termos, em 2015, 3 filmes que ultrapassaram 1 bilhão de dólares em bilheterias, são eles: Vingadores 2, Velozes e Furiosos 7 e Jurassic World.

            A Fox (produtora de Perdido em Marte) sabe muito bem disso e usou isso a seu favor, seu destruir a história: em um determinado momento, a NASA precisa da tecnologia chinesa para a missão de resgatar Watney, inclusive com os atores falando em mandarim – e isso em um blockbuster americano é muito arriscado. Imagina o quanto este filme deva faturar em território chinês?

            Ainda não foi divulgado o orçamento final de Perdido em Marte, mas claramente foi alto, seja em sua milionária produção, mas também no excelente elenco: para unir tantos atores bons em um arrasa-quarteirão americano, somente um diretor do nome de Ridley Scott consegue isso: além de Matt Damon, que tem mais tempo de tela, não devemos nos esquecer da equipe da NASA: Jeff Daniels, Chiwetel Ejiofor (indicado ao Oscar por 12 Anos de Escravidão), Kristen Wiig e Sean Bean (o Ned Stark de Game of Thrones) e do grupo de astronautas no espaço: Jessica Chastain, que dispensa apresentações, Kate Mara (a Zoe Barnes de House of Cards), Michael Pena (que esteve recentemente em Homem-Formiga), e Sebastian Stan, que é o Soldado Invernal da Marvel.

            Costuma-se criticar a tecnologia 3D e são poucos filmes que justificam a conversão em 3 dimensões, mas Perdido em Marte é uma feliz exceção, porque o 3D é primoroso, justamente porque une os efeitos maravilhosos com a profundidade que o filme exige, feita de dentro para fora – e não de for a para dentro, ou seja, não tem objetos sendo arremesados para a platéia, mas a profundidade está nos detalhes, sejam nas conferências de Watney, na equipe orbitando e até na entrevista coletiva de Teddy, que nem havia “necessidade”.

            Perdido em Marte está no top 5 dos melhores usos do 3D, junto com o próprio Gravidade, Avatar, As Aventuras de Pi e A Invenção de Hugo Cabret e o que esses filmes têm em comum? Todos têm grandes diretores e sabem usar a tecnologia em favor da narrativa, e não para justificar o valor alto do ingresso, como ocorre em 90% das produções.

            É quase certo que Perdido em Marte esteja no Oscar 2016 nas categorias técnicas, seja de Melhor Som, Montagem, Edição e Efeitos Especiais – nesta última a concorrência está grande este ano e talvez o Oscar não premie um filme no espaço por 3 anos seguidos (Gravidade e Interestelar ganharam em 2014 e 2015, respectivamente), mas também merece estar em Melhor Roteiro e porque não, Melhor Ator para Matt Damon?. Já passou da hora de os acadêmicos pararem com o preconceito com a ficção científica.

Nota: 10,0

Imagens:










Trailer:

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