segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Beasts of no Nation


Beasts of no Nation

Direção: Cary Fukunaga

2015

Com: Idris Elba, Abraham Attah, Jude Akuwudike.

Drama

18 Anos

Netflix começa nos longa-metragens com o pé direito

            Em 2013 quando a Netflix começou com suas produções próprias, muitos desconfiaram se o serviço se sustentaria. Mas eis que naquele mesmo ano ela lança duas séries excelentes, aclamadas por público, crítica e premiações: House of Cards e Orange is the New Black, que abriu passagem para outras grandes produções como Sense8 e Demolidor.

            Mas a Netflix não se contentou em ficar “apenas” nas séries de TV e agora começa a investir nos longas metragens: Beasts of no Nation é seu primeiro filme original e assim como as séries de TV, está arrancando elogios do público, crítica e também está cotado para as premiações.

            E tem mais: assim como na estréia de House of Cards, sua primeira série original, na qual o serviço precisava se provar, ela chamou nomes de peso: o diretor David Fincher na produção e direção de alguns episódios e o oscarizado Kevin Spacey no papel principal.
            Aqui não é diferente: também foram chamados nomes de peso: o diretor, roteirista, produtor e diretor de fotografia é Cary Fukunaga, que dirigiu os episódios da 1ª temporada de True Detective, série da HBO (que curiosamente é hoje a maior rival da Netflix) e o protagonista é o ótimo Idris Elba, que também é produtor.

            E o resultado é um filme extremamente poderoso, muito bem realizado, perturbador e sem sutilezas. Quem está à procura de algo para se divertir, é melhor procurar outra coisa, pois estamos diante de um dos filmes mais densos do ano (se não, o mais), praticamente não há respiro e não há alívio cômico e lembra muito um outro grande filme: Cidade de Deus.

            As semelhanças com o filme de Fernando Meirelles estão na fotografia, na narrativa em primeira pessoa, sob o ponto de vista de uma criança no meio do fogo cruzado e há dois momentos na qual a referência está clara: quando o personagem de Idris Elba obriga o garoto Agu a assassinar a sangue frio um suspeito de ser o inimigo. E assim como foi em ‘Quem Quer Ser um Milionário?’, existe a famosa perseguição à galinha.

            Na história, um garoto pobre de um país africano chamado Agu (uma revelação em pessoa) vê sua família ser assassinada por um grupo terrorista, mas consegue fugir e é “acolhido” por um grupo de rebeldes liderado pelo Comandante (Idris Elba, ótimo no papel), onde é treinado para ser um soldado.

            Tanto o país onde ocorre o conflito quanto o nome do comandante jamais são revelados, e nem foi essa a intenção de Cary: o objetivo era mostrar que uma guerra é ruim para ambos os lados, inclusive do vencedor e, sobretudo, a perda da inocência.

            Mostrar uma guerra sob o ponto de vista de uma criança não é nenhuma novidade: ‘O Império do Sol’, de Steven Spielberg, fez isso com muita competência, mas o que conta é a narrativa inventiva de mostrar a cabeça de uma criança com todas as perdas e vendo seu país entrar em ruínas e ainda permanecer com o coração bom: ainda nas comparações com Cidade de Deus, Agu se parece muito mais com Buscapé do que com Zé Pequeno.

            Idris Elba está soberbo no papel de um comandante que provoca amor e ódio na mesma proporção para o espectador: ao passo que ele poupa a vida de Agu e quer seu país longe dos terroristas, ele praticamente tira a infância dos garotos ao transformá-los em assassinos (alguém se lembrou de ‘Nascido para Matar’?) e tem a cena já clássica em que ele obriga Agu a matar um civil a sangue frio.

            Não seria nada surpreendente se ‘Beasts of no Nation’ fosse para as premiações, tanto nas categorias técnicas, como fotografia, som e montagem, quanto nas principais: Abraham Attah (que interpreta Agu) e Idris Elba são merecedores da indicação de Melhor Ator e em quem sabe, alguma vaga para melhor filme ou diretor?

            Embora não seja um filme perfeito (faltaram discussões e metáforas sobre o comunidade internacional e descaso com o continente africano, muito bem retradados em ‘Hotel Ruanda’ e aqui, com 140 minutos de duração, daria tempo de colocar), ‘Beasts of no Nation’ mostra a força do serviço streaming: sem a preocupação de agradar esse ou aquele investidor e, para o deleite de nós, amantes de cinema, trazer de volta a tradição das obras autorais.

Nota: 9,0

Imagens:







Trailer:

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