segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A Teoria de Tudo


A Teoria de Tudo (The Theory of Everything)

Direção: James Marsh

Ano de produção: 2014

Com: Eddie Redmayne, Felicity Jones, Charlie Cox, Emily Watson.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 12 Anos


Nem os grandes gênios se fazem sozinhos

            Stephen Hawking nasceu no dia 9 de Janeiro de 1942, exatos 300 anos da morte de Galileu Galilei e desde a sua infância já se via um garoto com aptidões para a física, embora não tenha sido um bom aluno nas outras matérias e por não ter uma boa caligrafia, mas, ao terminar o colégio, entrou para a Universidade de Cambridge. Em uma festa, conhece uma jovem chamada Jane Wilde, estudante de literatura e se especializando em poesia medieval espanhola, logo eles vão se conhecendo melhor, até iniciarem um romance.

            Além de estudarem em áreas completamente diferentes, Jane e Stephen também se divergem no que diz à religião: ela é uma moça muito religiosa e devota. Ele é ateu assumido e diz que “uma força divina não deve intervir em estudos astronômicos”. Ele não acredita que possa haver uma força superior em nosso planeta por se tratar apenas de um pequeno corpo celeste em um devasto universo.

            Em 1963, porém, um acidente vai deixando Stephen com uma doença chamada ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), uma doença incurável que leva à perda de movimentos, mas, sem afetar seu cérebro. Nada disso o impede de realizar as pesquisas sobre tempo e espaço e sobre os buracos negros.

            Em 1965, ele e Jane se casam e o casal têm 3 filhos: Robert, Lucy e Timothy. No mundo acadêmico, Stephen leva à Universidade as teorias e equações sobre a existência dos buracos negros e tudo isso chama a atenção de seus superiores, que levam para frente as hipóteses de Stephen.

            Durante uma viagem para a Suíça, em 1985, Stephen pega uma pneumonia, que de tão grave os médicos cogitam à Jane que ela autorize o desligamento dos aparelhos. Ela não aceita e, no lugar disso, o leva de volta à Cambridge onde é realizada uma traqueotomia, que o deixa impedido de falar.

            Isso, porém, não o impede de continuar seu trabalho: ele ganha um computador de inteligência artificial que “fala” tudo o que ele escreve na tela. Esse equipamento ele tem até hoje e é seu principal meio de comunicação, que o ajudou a escreveu seu célebre livro, que vendeu milhões de cópias pelo mundo inteiro e, apesar de ser voltado para o mundo da física, é muito claro para nós, leigos no assunto: ‘Uma breve história do tempo’, lançado em 1988 e usado como fonte de pesquisa até os dias de hoje.

            Na vida pessoal, porém, as coisas não iam nada bem: seu casamento com Jane estava em crise, principalmente após ela iniciar uma amizade e atração por seu colega de igreja, Jonathan, que depois foi fundamental para ajudar na doença de Stephen e na criação dos filhos e, quando nasce Timothy, seu filho mais novo, havia a dúvida de quem era o pai.

            Mas a coisa degringolou de vez quando houve a necessidade da contratação de uma enfermeira. Elaine Mason começou a cuidar de Stephen e ela se mostrava dedicada e competente, porém, que faz com que ele comece a perder o interesse pela esposa.
            Após 30 anos de casados, em 1995, Jane e Stephen se divorciam. Ele se casa com Elaine e ela se casa com Jonathan.

            Com toda essa história, Jane Hawking viu que seu ex-marido não podia ficar conhecido apenas como um grande físico e resolveu contar toda essa trajetória em um Best-seller, ‘A Teoria de Tudo’. Segundo ela mesma, o livro funcionou mais como desabafo do que uma história contada, embora seja muito bem escrito.

            E agora, dessa grande história, nasce um grande filme, ‘A Teoria de Tudo’.

            Houve muita dificuldade na adaptação para o cinema, pois Jane se recusava a fornecer os direitos e principalmente porque o livro é em primeira pessoa. Todos os acontecimentos são do ponto de vista de Jane. O livro é praticamente 100% narrativo e quase não há diálogos.

            Ficou obviamente muita coisa de fora, para quem quer conhecer a história mais a fundo, recomendo que leia o livro, pois tem todos os detalhes dos acontecimentos vistos na tela, mas o roteirista estreante Anthony McCarten consegue condensar uma história inteligível, mesmo para quem não conhecia nada. Ainda é cedo para dizer se ‘A Teoria de Tudo’ será o filme definitivo sobre Stephen Hawking, mas, com certeza, é um grande meio para se saber mais da história.

            O diretor James Marsh (do documentário premiado ‘O Equilibrista’) focou mais a história do casal, na doença, e nos feitos de Stephen. Ficou de fora, por exemplo, a família de Stephen, as muitas viagens por ele realizadas para ser homenageado e sua grande amizade com o também físico, Kip Thorne (que auxiliou Christopher Nolan na concepção do roteiro de ‘Interestelar’).

            Um grande acerto do roteiro para o cinema esteve em tratar a separação do casal de forma imparcial: não se sabe de quem foi a culpa pela crise, se dela, pelo caso com Jonathan, ou dele, pelo caso com sua enfermeira. Considerando que Jane é a autora, o livro, obviamente, o trata como o culpado pela separação.

            Uma coisa, porém, é fato: sem Jane, Stephen não seria nem a metade do gênio que foi. Tudo o que ele construiu foi ao lado dela, que sempre o tratou como uma pessoa normal e implorou para que ele permanecesse vivo. E até hoje não saberemos se o caso dela com Jonathan, na época, foi adultério ou necessidade física.

            Em ‘A Teoria de Tudo’, temos uma grande reconstituição de época, principalmente no início, quando temos os anos 1960 retratados na tela, frutos do Figurino e Direção de Arte primorosos (que injustamente ficaram fora do Oscar), embalados por uma trilha sonora poderosa que é impossível não se apaixonar.

            Mesmo com todos esses trunfos, ‘A Teoria de Tudo’ não seria nada sem um grande elenco: Eddie Redmayne, que interpreta o grande físico faz o papel de sua carreira. Ele se reuniu com o próprio Stephen antes e durante as filmagens, perdeu 15 quilos, estudou suas teorias e sua atuação foi tão convincente que o próprio Hawking disse em uma entrevista que parecia que ele estava se vendo na tela.

            Até o momento, ele é o favorito para levar o Oscar de Melhor Ator pelo papel e, curiosamente, a primeira vez que a vida de Stephen Hawking foi colocada na tela foi em um filme da BBC de 2004, ‘A História de Stephen Hawking’, que foi interpretado por Benedict Cumberbatch, que agora concorre com Eddie como Melhor Ator por ‘O Jogo da Imitação’.

            E Felicity Jones, que interpreta Jane Hawking, também está indicada ao Oscar de Melhor Atriz pelo papel. Ela ainda não é exatamente uma estrela e, em sua curta carreira, ela tem, como destaque o independente e premiado ‘Loucamente Apaixonados’ e um curto papel em ‘O Espetacular Homem-Aranha 2’, onde ela viveria a Gata Negra em um 3° filme (que, possivelmente, não acontecerá).

            Sua Jane é uma mulher, ao mesmo tempo segura, apaixonada e idealista. E foi um grande acerto colocar uma atriz sem grandes vaidades e que o grande público não a conheça. As chances de ela ganhar o prêmio são mínimas, considerando que temos uma poderosa Julianne Moore no caminho, mas isso pode fazer um bem à sua carreira: talvez esse não seja seu papel definitivo e pode ser a chance dela brilhar. Além do mais, existe a chamada “maldição do Oscar”, na qual, quem ganha a estatueta, nunca mais faz nada de bom no cinema. Felicity tem tudo – e mais um pouco – para se tornar das grandes em Hollywood e de tão boa atriz, era a primeira opção dos produtores para o papel de Jane Hawking.

            A crítica brasileira não abraçou ‘A Teoria de Tudo’ como ele deveria. Muitos o colocam como piegas e manipulador. Tem gente o chamando de “super estimado” e que o reconhecimento seja um exagero.

            ‘A Teoria de Tudo’ une emoção e razão, romance e biografia e em momento algum se comprometeu em ser uma grande biografia, mas em contar uma história sob outro ponto de vista além da física.

            O filme recebeu 5 indicações ao Oscar 2015: Melhor Filme, Ator, para Eddie, Atriz, para Felicity, Roteiro Adaptado e Trilha Sonora. Mas, merecia mais: Figurino e Design de Produção, além de Direção para James Marsh que, se a indicação viesse, esse filme entraria para o chamado “super cinco”, que são aqueles filmes que recebem indicações nas 5 categorias principais: Filme, Direção, Ator, Atriz e Roteiro.

            Mas, quem disse que a Academia é sinônimo de coerência?


Nota: 10,0


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