segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)


Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Birdman)

Direção: Alejandro González Inárritu

Ano de produção: 2014

Com: Michael Keaton, Zack Galifianakis, Emma Stone, Edward Norton, Naomi Watts, Amy Ryan.

Gênero: Comédia Dramática

Classificação Etária: 16 Anos


Um Inárritu “da gema”, apenas com um orçamento maior

            Em 2000, quando o cineasta mexicano Alejandro González apresentou ao mundo seu grande ‘Amores Brutos’, todos viram ali um grande potencial de um diretor autoral, um grande talento em trabalhar com atores, câmera, fotografia e montagem. O filme logo ficou conhecido nos festivais e teve uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (perdendo para ‘O Tigre e o Dragão’). Outra característica importante é a não-linearidade de suas histórias e seus filmes não necessariamente têm uma história só: tanto ‘Amores Brutos’, como ’21 Gramas’, seu filme seguinte e o mais conhecido, ‘Babel’, possuem essa peculiaridade. Ambos têm 3 histórias, que são intercaladas, mas logo se vê o que elas têm em comum.

            O único que fugiu à regra foi ‘Biutiful’, em 2010 e, talvez por isso, seja considerado seu filme menor.

            E agora em 2014, ele volta às origens, seja de câmera e de conteúdo, e, embora o filme seja muito focado no protagonista e seus demônios, também há várias histórias entrelaçadas: Birdman ou (a inesperada virtude da ignorância) é o maior “blockbuster” de Inárritu, mas, todas as suas características estão lá, com a diferença que, agora ele tem um orçamento muito maior, tem um grande elenco a seu dispor e a Academia agora prestou mais atenção nesse moço. Não por acaso, agora esse filme, junto com Boyhood, chegam como favoritos ao Oscar.

            Na história, temos um ator Riggan Thomson (Michael Keaton, no melhor papel de sua carreira) que, no passado, interpretou um herói famoso, chamado Birdman (que sim, tinha aparência e poderes de uma ave) e, após ele recusar a fazer um 4° filme da “franquia”, viu sua carreira cair ladeira abaixo e ser esquecido pela indústria cinematográfica. Porém, ele decide estrelar, dirigir e escrever uma peça de teatro adaptada de um texto consagrado da Broadway. Porém, Riggan precisa lidar com a falta de confiança do público, com o elenco problemático, no caso, os atores Mike (Edward Norton) e Lesley (Naomi Watts), seu agente interesseiro, Brandon (Zack Galifianakis) e sua filha problema, Sam (Emma Stone), que acabara de sair de uma clínica reabilitadora.

            O filme é uma crítica ácida e incômoda à Hollywood, à fama e ao mundo de aparências da indústria do entretenimento e, principalmente, ao esquecimento por parte da mídia a artistas que não estão na moda.

            E uma crítica ao mundo real também. Durante uma das apresentações, Mike diz para a platéia viver mais e parar de olhar a vida pela tela do celular (alguém se lembrou do ‘Clube da Luta’ com o próprio Edward Norton?) e Sam dá uma lição de moral a seu pai sobre seu comportamento considerado “errado”.

            A câmera é quase um protagonista da história: tem plano-seqüências que aparentam não ter sentido nenhum para a trama, mas que são fundamentais para conhecer o psicológico dos personagens, como nas cenas em que Mike e Sam conversam no terraço sobre suas vidas, ou no antagonismo de egos entre Riggan e Mike. A câmera também funciona quase como a mente do espectador e a mente dos personagens, que os acompanha em muitos momentos.

            Isso sem falar no grande fotografia, que muda da água para o vinho sempre que Riggan lida com algum dos seus problemas, seja com sua filha, seu agente, ex-esposa e até quando seu “herói” o perturba que, olha só, o filme até se arrisca como superprodução (ele se imagina voando e salvando a cidade).

            Michael Keaton renasce das cinzas no papel. Após ver a sua carreira ir por água abaixo em filmes menores, ele, nos últimos anos surgia em uma ponta e outra, até aparecer como o vilão de Robocop, de José Padilha e agora tem um papel como protagonista.

            A concorrência pode estar grande na corrida pelo Oscar para Melhor Ator, mas é impossível não associar o personagem Riggan a Michael Keaton da vida real: um ator que ficou famoso no passado ao interpretar um herói famoso, no caso, Batman, nos dois filmes de Tim Burton, mas que viu a carreira ir ladeira abaixo em papéis sem expressão e que agora tem a chance de voltar a brilhar.

            Mas, em ‘Birdman’, não é só a carreira de Michael Keaton que é ressuscitada, mas a de Edward Norton também. Ele surgiu como uma promessa nos anos 1990 em grandes papéis como em ‘Clube da luta’ e ‘A Outra História Americana’, passou um tempo longe, já viveu um super-herói (O Incrível Hulk, em 2008) e agora, 17 anos depois, está de volta às premiações.

            Até Zack Galifianakis, acostumado a comédias estilo “pastelão” aqui tem um papel muito mais interessante do que sua atuação sem graça de ‘Se beber, não case’.

            E Emma Stone, que interpreta Sam, está muito longe das mocinhas em que ela está acostumada a viver: aqui ela é uma adolescente sem juízo e tem um close final em seu rosto daqueles dignos de premiação.

            ‘Birdman’ é uma viagem alucinada na mente de um homem perturbado, mas que está muito longe de ser inconsciente. E a todo o momento parece que estamos em sua mente. E a magia está em saber que não é um filme baseado em quadrinho, livro, nem nada. Tudo veio da cabeça de Alejandro González Inárritu. Pode ter uma referência ou outra, obviamente, mas seu roteiro é 100% original, e o resultado beira à perfeição.

            ‘Birdman’ está com 9 indicações ao Oscar deste ano: Melhor Filme, Direção para Inárritu, Ator para Michael Keaton, Ator Coadjuvante, para Edward Norton, Atriz Coadjuvante, para Emma Stone, Roteiro Original, Fotografia, Edição de Som e Mixagem de Som, mas bem que merecia também de Montagem.

Nota: 10,0

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