quarta-feira, 18 de junho de 2014

O Concurso



O Concurso


Direção: Pedro Vasconcelos

Ano de produção: 2013

Com: Fábio Porchat, Danton Mello, Anderson Di Rizzi, Rodrigo Pandolfo, Sabrina Sato, Jackson Antunes, Carol Castro, Nelson Freitas.

Gênero: Comédia

Classificação Etária: 14 Anos


Para quem achava que “Zorra Total” era de mau gosto, ainda não viu nada

Já faz algum tempo que o cinema nacional está investindo em comédias televisivas. Nada contra, afinal, cinema é uma arte e, como tal, deve fazer elo com todas as mídias possíveis. Se fosse assim, não deveriam existir filmes de quadrinhos, se considerar que são meios diferentes de cultura. Mas, se pegarmos os últimos sucesso do cinema brasileiro, a grande maioria é composta por comédias. Tudo começou lá em 2006 com “Se eu fosse você” e sua continuação em 2009, para logo se consolidar esse gênero. Este ano ainda não teve nenhum filme de grande acolhida popular que se tornasse um fenômeno (“Até que a sorte nos separe 2” estreou ano passado). Mas, arrisco dizer que 2013 foi o auge disso. Além do já citado “Até que a sorte nos separe 2”, também tivemos “De pernas pro ar 2”, que estreou no final do ano e o grande fenômeno “Minha mãe é uma peça” – este sim, um grande filme.

Houve um ator, que fez 3 filmes no mesmo ano e todos foram um grande sucesso. Seu nome é Fábio Porchat, que fez os horrorosos “Vai que dá certo” e “Meu passado me condena”. E também fez o filme que comentaremos agora, que estreou no meio das férias de Julho do ano passado, no meio dos arrasa-quarteirões hollywoodianos e, claro, foi um grande sucesso: “O Concurso”, que marca a estréia do diretor de novelas, Pedro Vasconcelos à direção de um longa-metragem. Também marca a estréia de Sabrina Sato (?) nas telonas.

“O Concurso” conta a história de 4 sujeitos que prestaram o concurso público para Juiz Federal do Rio de Janeiro e agora farão o teste final na Cidade Maravilhosa. Cada um é de um canto do país: Danton Mello é Caio, um advogado carioca; Porchat é Rogério, um gaúcho nascido em Pelotas com alguns traços, digamos, menos masculinos; Rodrigo Pandolfo é Bernardo, o típico nerd paulista; e também Anderson Di Rizzi é Freitas, um cearense bem devoto. Eles realizarão a prova em uma segunda-feira e passam o fim de semana no Rio, onde se envolvem em situações bizarras.

Primeiro, há uma tentativa clara dos produtores brasileiros em querer fazer o nosso “Se beber, não case”. A idéia é muito parecida: colocar 4 homens em uma viagem onde dá tudo errado. Poderia ser uma idéia boa, se fosse ao menos engraçada, mas não é o caso. A premissa é tão absurda que, em se tratando de Brasil, onde há pouquíssimo investimento em educação, colocar um homem querendo burlar uma prova e ainda se vangloriar disso, deveria ser proibido. E como se não bastasse isso, o filme ainda tem todos os estereótipos possíveis dos tipos brasileiros: Caio é o malandro carioca, onde acha que sempre levará vantagem e quer levar todo mundo no papo. Rogério tem sua sexualidade em xeque porque é de Pelotas – e piadas sobre o local não faltam. Freitas é o típico religioso (e aqui mostrado como ser ignorante) nordestino, que não tem malícia e, em teoria, nem ambições. E Bernardo, é um típico nerd tímido que não se envolve com ninguém e só estuda. Seu personagem é tão estereotipado que, agora, no século 21, com tantas mídias culturais em que o nerd finalmente conquistou seu lugar, fica difícil engolir que ainda há preconceitos com a cultura nérdica.

Um dos argumentos que os produtores e roteiristas usam para esse tipo de comédia é: “vamos divertir a platéia”. Bem, antes fosse isso. E não devemos falar mal só porque é um produto nacional. Muito pelo contrário, é exatamente por ser um produto brasileiro é que devemos valorizar e os produtores deveriam ter a obrigação e entregar o melhor material possível para seu público, mas com um filme desses, não houve nem boa vontade nem boas idéias.

Há situações de péssimo gosto – e algumas mal explicadas – como na cena em que um dos personagens come (?) maconha e nada acontece. Ou ainda quando o personagem Caio dá o golpe do “boa noite, cinderela” em seus companheiros e todo mundo sai ileso. Essa cena, aliás, foi realizada em um baile funk. É o retrato da atual música brasileira e do mau gosto do filme. e tem também uma constrangedora luta entre anões.

Quando citei antes o Fábio Porchat, não tenho nada contra ele como ator – nem como comediante – muito pelo contrário, sua “Porta dos Fundos” foi uma grande idéia para o humor brasileiro e seu texto inteligente é a razão de seu sucesso, mas, como ator, realmente, ainda não provou ser grande. Não por culpa dele, possivelmente de seu próprio agente, que sempre o encaixa no mesmo tipo de papel: o de comediante atrapalhado. E até hoje ainda não houve um papel que o exigisse. Só para se ter uma idéia ele quase destruiu a dublagem de “Frozen – Uma aventura congelante” com o simpático Olaf. Também menos por culpa dele e mais do estúdio, que pressiona por um dublador mais conhecido. E aqui, seu papel de Rogério é constrangedor.

E o filme ainda tem Sabrina Sato como uma atiradora de facas de circo. Aqui, ela protagoniza seqüências absurdas com o personagem de Bernardo. Registro aqui meus sentimentos negativos em colocá-la em um longa-metragem. Uma pessoa que não sabe falar e tampouco atuar que aparece lá pela metade do filme e tem a pachorra de falar basicamente uma frase só no filme: “me come ou eu te mato” (?).

Há um grave problema em querer repetir a TV no cinema: não há sentido na pessoa pagar 20, 30 reais e ver tudo o que ele vê na telinha. Deveria haver um pouco mais de respeito com o espectador. As situações de “O Concurso” fazem os roteiristas de Zorra Total se sentirem inteligentes.

“O Concurso” é uma poeira para os olhos.


Nota: 0,0

Imagens:







Trailer:

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