terça-feira, 15 de julho de 2014

Kinsey - vamos falar de sexo



Kinsey – Vamos falar de sexo (Kinsey)


Direção: Bill Condon

Ano de produção: 2004

Com: Liam Neeson, Laura Linney, Oliver Pratt, Chris O’ Donnell.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 16 Anos


“Kinsey” tem uma história tão surreal que só poderia ser real.

            Nos dias de hoje, a sociedade americana vende para o mundo como um povo progressista e com idéias avançadas, mas é bom saber que, em um passado não muito distante, eles já foram puritanos, e por que não dizer, retrógrados. Estamos falando do início dos anos 1950, com a sociedade ainda com o calor da vitória da 2ª Guerra Mundial e dessa vez com um novo inimigo declarado: a URSS, e, fundamentalmente, o sistema comunista.

            Era uma época, também, que o sexo era um tabu. E foi nesse tempo e espaço que viveu o Dr. Alfred Kinsey, que revolucionou a forma de como encaramos a sexualidade e seu legado permanece até os dias de hoje.

            Mas, afinal, quem foi esse Alfred Kinsey?

            Ele foi um Entomologista e Zoólogo norte-americano que, de início, tinha poucas pretensões e coletou mais de 1000 vespas para estudar mais a fundo a espécie.

            Mas foi em outro ramo que Kinsey se destacou. Ele sempre teve a infância reprimida, em especial seu pai, que o reprimia de quase tudo, até da dança de salão (!). Kinsey se casou virgem aos 25 anos com Clara McMillen, mas logo percebeu que, sexualmente, o casal ia mal. Seu pênis era muito grande e a penetração causava dores à sua esposa. O casal tentou procurar ajuda médica, mas ninguém tinha respostas às dúvidas. E foi por essas dúvidas que Kinsey começa a se interessar pela sexualidade humana. Com todos esses porquês, ele começa conversando com homens e mulheres, queria mostrar para o mundo que no sexo tudo é normal e com o tempo descobre que sua atração também é por homens.

            Kinsey começa entrevistando seus alunos (ele é professor universitário), e depois expande para o público em geral, mas seu ápice foi com suas principais publicações: em 1948, ele publica o livro ‘Sexual Behavior in the Human Male’ (Comportamento sexual masculino, que, absurdamente, não foi publicado no Brasil) e em 1953, ‘Sexual Behavior in the Human Female’ (Comportamento sexual feminino, que também não chegou por aqui).

            Seus livros foram um sucesso de público e crítica, mas não demora muito para a sociedade conservadora o acusar de tudo o que é nome: foi chamado de “destruidor de lares”, de sádico e, claro, de comunista.

            Mas, seu estudo mais polêmico foram as entrevistas com pedófilos para conhecer o que ele chamou de “orgasmo infantil” (um tema polêmico até para os dias de hoje).

            Sua morte foi em 1956, mas suas idéias e obras são estudadas até hoje, em especial em cursos de educação sexual e faculdades de psicologia.

            E é exatamente sobre essa história e pessoa que fala o filme ‘Kinsey – vamos falar de sexo’.

            A direção e o roteiro são de Bill Condon (de ‘Deuses e Monstros’) e faz uma homenagem honesta à pessoa e à obra de Kinsey.

            Mais do que isso, é uma bela reconstrução de época e, embora o filme não tenha feito sucesso comercial (mas deveria!) é uma história que merece ser conhecida, seja pelo filme ou pela biografia do Kinsey.

            Quem interpreta o protagonista é Liam Neeson, que faz brilhantemente o médico que, ao passo que é um doutor revolucionário, é um homem inseguro e internamente infeliz, além dos problemas em casa.

            E sua esposa, Clara McMillen é interpretada pela sempre ótima Laura Linney (indicada ao Oscar pelo papel) e faz uma típica dama dos anos 1950: insegura sexualmente e dividida entre crescer como uma mulher e manter a tradição paternalista. A primeira cena em que ela e seu marido vão ao médico para falar dos problemas sexuais, bem como o ato sexual em si, são muito bem produzidas.

            Mas por mais que o filme seja muito bem realizado e escrito, são maior trunfo é entender a mentalidade da sociedade da época.

            A forma como Bill Condon coloca a todos, desde o tradicionalismo até os jovens mais pervertidos, é um ponto chave para o filme. Desde o semblante de um casal jovem constrangido em contar suas experiências até os risinhos nervosos na aula de educação sexual, mostram que o ser humano é alheio às mudanças.

            Esse filme, ‘Kinsey – vamos falar de sexo’, não deve ser visto como um produto de entretenimento. E, para os mais entusiasmados, digo que as cenas de nudez e sexo são raras e quase nulas. O filme se preocupou mais em mostrar a história do homem e seu legado.

            E se considerarmos que, em pleno ano de 2014, cerca de 60 anos depois dos acontecimentos do filme, um simples beijo entre dois homens em uma novela provoca comoção e era algo novo na telinha da TV, vemos que, infelizmente, a sociedade não evoluiu sexualmente.


Nota: 9,0

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