segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Ninfomaníaca - Volume 1



Ninfomaníaca – Volume 1 (Nymphomaniac)

Direção: Lars Von Trier

Ano de produção: 2013

Com: Stacy Martin, Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard, Shia LaBeouf, Christian Slater, Uma Thurman.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 18 Anos


A odisseia sexual de Lars Von Trier.

            Não tem jeito. O cinema de Lars Von Trier é para ser amado ou odiado. E para embarcar em seu universo, é preciso conhecer seu estilo. A câmera quase documental, a ausência de trilha sonora e, em alguns casos, até ausência de cenários. O público em geral odeia e os críticos, adoram. Trier é, portanto, um diretor para poucos.

            Mas seus filmes têm seu público e por isso ele faz mais filmes. Não é um grande público dos blockbusters americanos, mas é um público mais diferenciado. E geralmente de 2 em 2 anos temos um filme dele.

            O cinema de Trier é incômodo. Ele mostra o ser humano da pior forma possível e sem censura e pudor. Daí ele ganhou a fama de diretor alternativo. Mesmo uma obra comovente como ‘Dançando no escuro’ apresenta uma forma sombria do ser humano.

            Mas, se olharmos para sua grande biografia, nenhum outro filme é mais polêmico, incômodo e provocativo do que seu projeto mais ambicioso, ‘Ninfomaníaca’. Trier escreveu e dirigiu esse filme e foi filmado e concebido para ter 5h30 de duração e de forma íntegra (!). Porém, os produtores viram (e com razão), que ninguém teria paciência de ver um filme com tudo isso de tempo por melhor que fosse. Além do mais, o filme continha sexo explícito e exacerbado e poderia chocar ainda mais seu público. Com isso, Trier enxugou e editou seu projeto para dois filmes de duas horas.

            Porém, “editado” não significa contido. ‘Ninfomaníaca – volume 1’ é um filme denso, para poucas pessoas e muito, mas muito ousado.

            Na história, uma mulher, Joe, vivida pela sempre ótima Charlotte Gainsbourg é encontrada espancada em um beco e é resgatada por um homem mais velho, Seligman (Stellan Skarsgard). Ela começa a contar sua história de vida e deixa claro que não é uma boa pessoa e tem fixação por sexo. Como ela mesma se autodenomina, ela é uma ninfomaníaca.

            Dá para fazer uma alegoria com outro grande projeto de outro grande diretor que dividiu seu filme em duas partes: ‘Kill Bill’, de Quentin Tarantino. Lá, tínhamos uma história relativamente simples, mas que o diretor quis uma temática mais profunda. E aqui não é diferente, temos uma história muito simples, que em qualquer cine privê passa, mas que Trier gostou tanto de escrever esse roteiro que tratou a coisa de maneira mais profunda.

            O filme é narrado em capítulos, contando desde a infância de Joe, com as descobertas sexuais de seu corpo e do mundo em geral, passando pela relação carinhosa com seu pai, até sua adolescência, mostrando sua primeira vez até as aventuras sexuais da adolescência. A cena em que ela aposta com uma amiga com quantos homens ela consegue ter relações em uma viagem de trem, terminando com um sexo oral em um milionário, é o ápice de tudo isso.

            Se na grande maioria das cenas temos a ausência de trilha sonora e tomadas longas de diálogos, quando se tem música, ela é arrebatadora. Nas cenas de descoberta de Joe, logo no início, Trier usa a mesma música que Kubrick usa na relação entre Tom Cruise e Nicole Kidman em ‘De olhos bem fechados’, e quando Joe se assume ninfomaníaca no trem, o rock pesado como pano de fundo faz todo o sentido.

            O elenco de apoio está formidável. Uma Thurman e Christian Slater, muito famosos nos anos 1990 estavam sumidos e estão bem no papel. Até Shia LaBeouf (o mocinho dos três primeiros filmes de ‘Transformers’) convence no seu papel, de início como o sujeito que tira a virgindade de Joe, e depois, diretor provisório da empresa do tio.

            E mesmo com todas as qualidades já citadas, como roteiro e a direção de Trier, ‘Ninfomaníaca – volume 1’ seria um desastre total se não fosse o papel sublime e espetacular de Stacy Martin, que vive a Joe na adolescência. Ela é linda e ótima atriz! E é apenas uma iniciante atuando. E sua beleza inocente e pervertida é também parte da personagem. Aliás, é uma coisa que define muito uma grande atuação, quando não se precisa de tantos diálogos e um olhar e expressão definem a personagem. Tanto o olhar de mocinha apaixonada tanto seu olhar sedutor. Somente o conteúdo denso do filme explica o porquê essa menina não foi indicada a prêmios. No que depender desse papel, essa menina tem um grande carreira pela frente.

            E Lars foi inteligente em contratar uma atriz novata e desconhecida. O papel é ousado, com cenas de sexo e nudez sem censura e uma atriz consagrada com certeza teria mais repulsa a um papel desses e exigiria mais. Já imaginou uma Jennifer Lawrence em um filme desses?

            Os críticos adoraram o filme, mas o público não. Muita gente acusa o filme de pornográfico e frio. Discordo. O filme conta a trajetória de uma mulher, tentando se descobrir e conhecendo-se. E como Lars gosta de filmar como uma vida real, as aventuras sexuais fazem todo o sentido.

            Nesse volume 1, além de contar a infância de descobertas de Joe, o filme ainda passa pelo início da vida profissional da moça (e seu chefe é o mesmo sujeito que tirou sua virgindade) e quando ela se torna uma destruidora de lares. Aliás, esse é o melhor momento do filme, os momentos da família do sujeito, com os filhos e a esposa traída, vivida por Uma Thurman, no apartamento de Joe, contém diálogos poderosos e hipnotizantes.

            Ah, mais duas curiosidades. O trailer desse filme passou em uma sessão de ‘Frozen – uma aventura congelante’ em um cinema norte-americano, para o constrangimento geral e pais desesperados. E nos créditos finais deste filme, somos apresentados às imagens de ‘Ninfomaníaca – volume 2’. No que depender das cenas, o desfecho será primoroso.


Nota: 9,0

Imagens:












Trailer:

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