quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Gonzaga - de pai para filho


Gonzaga – De pai para filho

Direção: Breno Silveira

Ano de produção: 2012

Com: Chambinho do Acordeon, Julio Andrade, Nanda Costa, Adélio Lima, Land Vieira, Alison Santos, Giancarlo Di Tommaso, Cecília Dassi.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 14 Anos

Nota: 9,0


“Gonzaga” dá uma nova esperança ao atual cinema nacional

            O Luiz Gonzaga foi uma das personalidades mais emblemáticas, polêmicas e marcantes do país. Sua história é tão surpreendente que não poderia ter sido inventada e era inevitável que ela fosse transportada para o cinema. Mas “Gonzaga – De pai para filho” não é bem uma cine-biografia do rei do baião, como ele era conhecido, mas um forte e intenso conflito de gerações Luiz Gonzaga, o pai, e Gonzaguinha, o filho. A história dos dois e, fundamentalmente, a divergência e a magia do filho para com o pai é sublime. E quanto menos se sabe, mais interessante fica.

            “Gonzaga” se passa, de início, na cidade de Exu, no sertão do Estado do Pernambuco, no ano de 1981, onde Gonzaguinha vai à esta cidade conhecer melhor seu pai, Luiz Gonzaga, para, então, se aproximar dele. Seu pai decide contar sua história de vida para, então, ver se o filho compreende as razões de seu abandono durante a sua vida. Daí somos transportados para o ano de 1929, na mesma cidade de Exu, quando Gonzaga era ainda um adolescente cheio de sonhos e idealista. Ele tem uma paixão proibida (é apaixonado pela filha do coronel), tem uma profunda admiração por Lampião (fato que o filme, infelizmente, não abordou muito) e aprende a tocar sanfona com seu pai, Januário. Após um conflito com o coronel, Gonzaga foge da cidade e vai de pau-de-arara à Fortaleza, para tentar ganhar a vida, mas ele vai parar no exército. Mesmo passando 10 anos por lá, ele cumpre uma promessa que fez ao seu pai e não dá um só tiro, mesmo com os conflitos da época, como a Revolução de 1930, ele sempre dava um jeito de escapar dos campos de batalha. Após a baixa no exército, Gonzaga decide tentar a sorte na grande metrópole brasileira da época, o Rio de Janeiro, que seria a sua “casa”.

            O início é extremamente difícil, já que Gonzaga mal sabia ler e não tinha experiência nenhuma na cidade grande, mas de pouco e pouco ele vai conseguindo conquistar a noite carioca, principalmente quando ele decide tocar as músicas raízes do Pernambuco.

            Em uma das noites, ele freqüenta um certo baile (onde ele se torna cliente) e conhece a doce Odiléia (vivida por Nanda Costa, surpreendentemente, ótima no papel, bem diferente de seu papel fraco na novela “Salve Jorge”), que logo se tornaria sua esposa e mãe de Gonzaguinha. Gonzaga é bom para Odiléia, mas com sua experiência de vida com o mundo do sertão e dos coronéis, ele acha que a mulher é sempre submissa, tornando as brigas de casal freqüentes. Odiléia começa, porém, a apresentar crises de Tuberculose, onde é internada e morre no hospital.

            Nesse meio tempo, Gonzaga se torna um sucesso absoluto e se torna o “Rei do Baião”, vendendo milhões de discos por todo o Brasil e faturando milhões.

            Não contarei a história inteira, obviamente, mas o filme também foca no segundo casamento de Gonzaga, com Helena, e o crescimento de Gonzaguinha, passando pela ausência de seu pai, a rebeldia adolescente, o colégio interno e sua mente ideológica, sobretudo durante o período militar (aliás, Gonzaguinha ficou famoso pelas suas músicas de protesto).

            O filme tem muitas, muitas qualidades. Começando pela escolha do elenco, os atores se parecem física e psicologicamente com as personagens que interpretaram. A direção de arte é competente e é uma bela reconstrução da época. E o diretor Breno Silveira retoma sua maior virtude: a de fazer uma reflexão do conflito de gerações entre pai e filho, que fez muito bem em “À Beira do Caminho” e principalmente no mega-sucesso “Dois Filhos de Francisco”, coisa que ele parece que esqueceu em “Era Uma Vez” – que nem merece ser lembrado.

            Mas principalmente, “Gonzaga – de pai para filho” e um alívio em se tratando de cinema brasileiro. A fase atual do nosso cinema é, no meu conceito, um desastre. De alguns anos para cá, só fazem comédias de muita apelação e de péssimo gosto – é só dar uma olhada nas últimas melhores bilheterias, como “E Aí, Comeu” e “Cilada.com”, se o intuito é competir com as comédias hollywoodianas, o tiro está saindo pela culatra, mas “Gonzaga” volta às raízes e origens do que o nosso cinema é, e sempre foi, de senso crítico, político e corajoso.

            O filme até mereceria um conceito 10, mas os 15 minutos finais, mais parecem que os realizadores acharam que acabou o tempo de projeção e resolveram enxugar demais a história. Quase não dá para se envolver emocionalmente com o que acontece, que, aliás, é o momento mais esperado do filme, mesmo com o belíssimo final, com imagens sublimes e que merecem ficar sempre registradas na estante de qualquer fã.

            Ah, e prepare o lenço, pois o filme comove, sempre com sutilezas, mas sempre animando com as canções de tirar o pé do chão, como “Asa Branca”, que se tornaria o hino do nordeste e “Que Nem Jiló”, e, ouvindo essas músicas novamente e pensando na atual fase desastrosa da música nacional, que tal uma dança de forró para hoje à noite?

Imagens:















Trailer:



Um comentário:

  1. Esse filme é realmente muito bom! O cinema nacional vive uma fase excelente nos últimos anos e essa produção não estará fora dos melhores filmes da década! Forte abraço!

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