segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Mississipi em Chamas


Mississipi em Chamas (Mississipi Burning)
Direção: Alan Parker
Ano de produção: 1988
Com: Gene Hackman, Willem Dafoe, Frances McDormand.
Gênero: Drama
Classificação Etária: 14 Anos
Nota: 10,0

Só a ignorância humana explica o episódio de “Mississipi em Chamas”.

            Recentemente eu assisti a “Histórias Cruzadas”, um drama de 2011, em que uma escritora realiza um livro contando a convivência doméstica do ponto de vista das empregadas. A história se passava em Mississipi, um estado norte-americano no sul do país, no início dos anos 1960, onde na época havia um radical sistema de segregação racial, onde negros e brancos deveriam viver separadamente, inclusive banheiros e restaurantes separados. Quando eu assisti, foi impossível não haver aquele sentimento de indignação. Não há explicação para, em pleno século XX, no Ocidente “civilizado” um absurdo desses.

            Levando agora para o mesmo local e época, com o mesmo problema de segregação racial, porém, muito mais radical, temos a história de “Mississipi em Chamas”. Esse ótimo drama, ultra-violento, que incendiou a sociedade americana no final dos anos 80, criando polêmicas de todos os lados, inclusive sendo acusado de racismo. Dirigido por Alan Parker (de “Coração Satânico”) e protagonizado por Gene Hackman e Willem Dafoe, “Mississipi em Chamas” venceu o Oscar de Fotografia, sendo ainda indicado a Melhor Ator (Hackman), Atriz Coadjuvante (Frances) e de Melhor Filme, mas perdeu para “Rain Man”.



            Mississipi em Chamas é baseado em uma história real, em que dois agentes do FBI (Hackman & Dafoe) vão ao Estado de Mississipi investigar o desaparecimento de 3 jovens ativistas dos direitos civis, sendo um deles negro. Os principais suspeitos são os integrantes do grupo Ku Klux Klan, que pregava a superioridade branca e o extermínio da raça “preta”. Mesmo sendo, nos dias de hoje, um grupo teoricamente enfraquecido, estima-se que há cerca de 6 mil membros dos KKK (como são conhecidos entre si). O filme acompanha a busca pelos líderes desse grupo e o personagem de Hackman se envolve (mas não tem um caso), com a esposa (Frances) de um delegado e possível suspeito.


            25 anos depois de seu lançamento, “Mississipi em Chamas” prova por que não envelhece com o tempo e por que é um dos trabalhos mais tensos e definitivos dos anos 80, tem cenas clássicas como a cruz pegando fogo (dizem as más línguas que essa cena foi a inspiração de Madonna para seu clipe Like A Prayer, em 1989) e quando o personagem de Willem Dafoe conversa com um negro em um restaurante e todos olham para os dois com cara de desconfiança. E para dar um tom mais realista, durante um discurso para a sociedade branca, um dos líderes da Ku Klux Klan, Clayton Townley, fala da superioridade branca. Para essa cena, o diretor Alan Parker usou trechos reais do grupo KKK.

            O filme gerou muita polêmica na época de lançamento, aqui no Brasil, estreou em Fevereiro de 1989 e foi um sucesso de público e crítica. Os críticos, aliás, acharam, (eu também achei) que esse filme, e não Rain Man é que deveria levar o prêmio de Melhor Filme no Oscar de 1989.

            Mesmo com toda a violência é obrigatório para todos conhecerem esse passado triste da história americana, não é à toa que esse país permitia o racismo por lei, não foi à toa que toda a América Latina também permitia e permite que práticas raciais ocorram sem nada acontecer. Foi um longo caminho de luta pela liberdade de direitos raciais, fundamentalmente ao longo dos anos 60, principalmente naquele que foi um dos anos mais radicais da história: 1968. Martin Luther King e Malcolm X eram as vozes pelos direitos. As mudanças dependem sim, de nós. Entre muitas cenas incômodas ao longo do filme, tem uma em que o personagem de Willem Dafoe diz que todos aqueles que assistem sem fazer nada também são culpados pelas atrocidades. Infelizmente isso está mais presente em nossas vidas do que se imagina. Escândalos de corrupção, impunidade. Também somos culpados. Assim como a sociedade branca de Mississipi, que assistia a tudo até com um sentimento de aprovação. Assim como também, foi o Nazismo da Alemanha. Tudo é um ciclo. Essa é a nossa humanidade.

Trailer do Filme:


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