segunda-feira, 20 de outubro de 2014

O Juiz



O Juiz (The Judge)

Direção: David Dobkin

Ano de produção: 2014

Com: Robert Downey Jr., Robert Duvall, Billy Bob Thornton, Vincent D’ Onofrio, Vera Farmiga, Leighton Meester.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 14 Anos


‘O Juiz’ é marcado por grandes atuações – dos coadjuvantes

            Robert Downey Jr. é sim, um grande ator. Ele começou a carreira nos anos 1980 e sua revelação para o mundo se deu em 1992 quando ele interpretou ninguém menos do que Charlie Chaplin no filme ‘Chaplin’ e recebeu uma merecida indicação ao Oscar pelo papel. Depois, sua carreira foi sendo perdida em papéis sem expressão e o fundo do poço foi seu envolvimento com drogas, na qual passou anos longe dos holofotes. Em 2007 foi um começo e respiro de retorno com seu papel em ‘Zodíaco’, de David Fincher, mas seu divisor de águas se deu em 2008, quando ele estrelou o papel-título em ‘Homem de Ferro’. De lá para cá, ele se torna dos atores mais conhecidos e respeitados de Hollywood, além de ser o mais bem pago. Seu cachê fica próximo de 40 milhões de dólares.

            Muita fama e prestígio, porém, podem ser um problema. Downey agora acha que pode ser maior do que o personagem, que começou de maneira espetacular e resulta em um filme tão burocrático quanto ‘Homem de Ferro 3’, que a qualidade baixa daquele roteiro não traduz a altíssima bilheteria que teve. O terceiro capítulo do Homem de Ferro faturou mais de 1 bilhão de dólares ao redor do mundo.

            Mas, como todo bom ator que se preze, ele não pode ficar somente em filmes lucrativos e precisa de um reconhecimento na carreira, ou, mais ainda, de premiações. E Downey quer, agora, provar que pode ser um ator sério e que pode ir além do herói da armadura.

            E foi assim que nasceu ‘O Juiz’, filme que, por uma grande ironia e nenhuma coincidência, tem como produtora a Team Downey, criada pelo próprio Downey e sua esposa, Susan Downey. Ela, aliás, é também produtora deste filme aqui.

            Nada contra em colocar a família em tela, muitos filmes da Sofia Coppola são produzidos por seu pai, Francis Ford Coppola e o resultado é maravilhoso, mas a coisa deve ser feita com um mínimo de competência e até humildade para entregar o melhor filme possível para a platéia. E ‘O Juiz’ tem muita competência sim, mas humildade zero. Lembrou-me aquele filme com a Angelina Jolie, ‘A Troca’, em que só se vê gritos e uma tentativa de ganhar Oscar pela força. Aqui o resultado é quase o mesmo: há uma tentativa de Downey tentar ser um ator mais sério de maneira forçada e superficial em um papel que não lhe combina. Desta vez não temos o que sempre ocorre em Hollywood, em que bons atores são desperdiçados, seja por falta de oportunidade ou imposição de estúdio ou produtores. Aqui, Downey e sua família são os próprios produtores e seu papel teve sinal verde para fazer o que quisesse. E mais, há muito de Tony Stark em Hank Palmer, papel de Downey aqui. Hank é um advogado arrogante, que se acha na posição superior do que seus colegas e quase sempre solta uma piadinha – e que nem sempre é engraçada.

            E como se não bastasse, o filme é altamente previsível. Parece e é um produto feito na medida certa para Oscar. Um drama bonito, familiar e que a platéia pode se apaixonar. Uma trilha sonora eficiente e sempre pronta nos momentos em que se exige uma comoção maior (trilha essa assinada por Thomas Newman, de ‘Beleza Americana’) e um pequeno romance de fundo.

            Na história, Hank é um advogado que volta para a pequena cidade que nasceu para o velório de sua mãe. Ele tem uma relação conturbada com seu pai, o juiz Joseph Palmer (Robert Duvall), respeitado na região, mas que é acusado de assassinato por um réu que ficou por anos preso e foi julgado justamente por Palmer.

            Joseph acaba indo ao banco dos réus e, de início, é representado por um advogado inexperiente chamado Kennedy. Porém, logo Hank deseja assumir o caso e, assim, reconquistar a simpatia de seu pai, ao mesmo tempo em que quer honrar seu nome.

            A história de ‘O Juiz’ é muito interessante e poderia sim, ter um grande resultado, mas é uma pena que tudo foi desperdiçado em uma realização piegas, maneirista e bastante arrastada. As duas horas e meia de duração se tornam incômodas e não justificam o conteúdo até simples do filme.

            Não é um filme horrível de se ver, ele é feito de momentos. Tem algumas piadas e frases bacanas sobre noções de direito e as conversas entre Hank e Joseph, são, às vezes, sensacionais e de impacto.

            Mas o que faz ‘O Juiz’ ser um filme “assistível” são os coadjuvantes: é maravilhoso ver Robert Duvall e Billy Bob Thornton voltando aos grandes papéis. Duvall já é veterano em Hollywood e entrega um Joseph maduro ao mesmo tempo em que lida com suas perdas. Thornton, que está sumido de grandes papéis desde seu envolvimento com Angelina Jolie entre 2001 e 2002, faz um promotor que está sempre à frente dos Palmer. O diálogo entre ele e Hank na delegacia é impressionante. E até as mocinhas estão bem como podem, embora desperdiçadas: Vera Farmiga (a Norma de ‘Bates Motel’) é o interesse amoroso de Hank (que não tem química nenhuma) e até dá uma iluminada na tela, e o mesmo se aplica com sua filha, vivida por Leighton Meester (a Blair de ‘Gossip Girl’).

            ‘O Juiz’ é tão previsível que é muito fácil acertar o desfecho logo na metade da projeção e também em acertar os acontecimentos seguintes conforme a história vai passando. É o mal de roteiros mal escritos.


Nota: 6,0

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Trailer:

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