quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Os Homens são de Marte... E é para lá que eu vou


Os Homens são de Marte... E é para lá que eu vou

Direção: Marcus Baldini

Ano de produção: 2014

Com: Mônica Martelli, Daniele Valente, Paulo Gustavo, Marcos Palmeira, Eduardo Moscovis, Humberto Martins, Irene Ravache, Júlia Rabelo.

Gênero: Comédia

Classificação Etária: 14 Anos


Comédia nacional tenta divertir, mas coloca um tema perigoso

            Com tantas comédias passageiras no cinema brasileiro nos últimos anos – e a grande maioria é de gosto duvidoso – estou só esperando o momento de o público e o mercado saturarem do gênero e finalmente produzir grandes filmes que o nosso cinema sabe fazer muito bem.

            Não que fazer filme para divertir o público seja algo abominável. Muito pelo contrário, o cinema é uma arte e, como tal, deve entreter seu povo, mas deve haver um mínimo de inteligência e coerência. Mais do que isso, considerando que o Brasil é um país que consome muito conteúdo das novelas como entretenimento (pois é!), os executivos viram que podem levar esse público da tv ao cinema. E conseguiram. Esse tipo de filme é uma mina de ouro para o mercado nacional, o que são devemos ir contra – se o dinheiro entra, mais e mais filmes são feitos e o cinema brasileiro só tende a crescer. Já tivemos uma crise, no início dos anos 1990 e as lembranças não são muito boas.

            E agora, não é só a TV que está influenciando o cinema, mas o teatro também: tivemos o fraco ‘Qualquer gato vira-lata’ em 2011 e, no ano passado, o surpreendente ‘Minha mãe é uma peça’.

            E em 2014, mais uma peça de sucesso recebe uma adaptação cinematográfica: ‘Os Homens são de Marte... E é para lá que eu vou’, que ficou em cartaz por 8 anos e também virou um sucesso de bilheteria.

            Na história, Fernanda é uma bem-sucedida organizadora de casamentos, mas é infeliz no amor. Ela tem 39 anos e sonha em encontrar o amor da sua vida, mas não consegue emplacar um relacionamento.

            A intenção do roteiro é fazer uma crônica sobre a mulher atual e independente. Mais do que isso, o roteiro é vendido como um filme para o público feminino. Se o caminho fosse esse, o resultado até poderia ser um pouco melhor, porém, a história esconde mensagens machistas subliminares: Fernanda é uma mulher que não pode viver sem homem e só consegue ser feliz com algum ao seu lado. Ah, e tem que ser rico, pois, segundo algumas situações do filme, a mulher tem que ser sustentada pelo homem. Nos dias de hoje, isso é um ultraje. Lembra muito o filme de Woody Allen, ‘Blue Jasmine’, que deu o Oscar para Cate Blanchett.

            A decepção nesse ponto é que a própria Mônica Martelli é uma das roteiristas e ela poderia dar um toque menos machista para a trama.

            A estrutura do roteiro lembra bastante o estilo inglês de se fazer comédias e a inspiração em Bridget Jones está clara, seja na protagonista atrapalhada e insegura e na narração em primeira pessoa, que deixou a trama mais didática e, infelizmente, quer explicar demais os detalhes.

            Algumas situações podem provocar risos no público, em especial nos encontros frustrados de Mônica, seja com o senador, vivido por Eduardo Moscovis, ou com o alemão que vive na Bahia que é desprovido de bens materiais. Pode ter uma ou outra piada que funcione, mas os momentos são constrangedores e, sim, previsíveis.

            O filme não é um desastre total, tem algumas qualidades. A trilha sonora, que é às vezes brega, faz todo o sentido com a proposta do filme (ainda que boa parte seja focada propositalmente nas músicas do Lulu Santos).

            O elenco está afiadíssimo. Mônica Martelli abraçou sua personagem e transmite o carisma e graça que a personagem precisava, ela não quer aparecer mais do que deveria e faz uma atuação contida e na medida. O elenco de coadjuvantes, bem como as participações especiais, também está cômico (inclusive o próprio Lulu Santos), mas há dois atores que aqui estão até melhores do que a protagonista e funcionam como alívio cômico: Daniele Valente e Paulo Gustavo: Ela faz a melhor amiga de Fernanda, Nathalie, uma aspirante a atriz que tem mais juízo do que sua amiga. As conversas das duas quando algo dá errado são hilariantes. Daniele Valente não teve grandes papéis como atriz, mas sua carreira como comediante tem bons momentos e esse filme pode ser uma porta para uma sorte melhor.

            E eu não poderia encerrar a crítica seu falar desse grande comediante: Paulo Gustavo: é impossível não se lembrar dele aqui como sócio de Mônica e como a mãe super protetora em ‘Minha mãe é uma peça’. E cada situação ambos os personagens soltam alguma piada que sempre funciona e nem sempre é algo que as protagonistas querem ouvir.

            Esse trio, Mônica, Paulo e Daniele, mais um grande elenco de apoio, com nomes como Irene Ravache, Marcos Palmeira e até uma ponta cômica de Júlia Rabelo (de ‘Porta dos Fundos’), como uma vidente, é o que fazem deste filme aqui, no mínimo assistível. Mas é pouco se a história é fraca. E dificilmente será lembrado para os próximos anos.


Nota: 4,0

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