quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Magia ao Luar


Magia ao Luar (Magic in the Moonlight)

Direção: Woody Allen

Ano de produção: 2014

Com: Colin Firth, Emma Stone, Eileen Atkins, Marcia Gay Harden, Jacki Weaver.

Gênero: Comédia Romântica

Classificação Etária: 12 Anos


Allen continua espirituoso e vital

            A força, coragem e vitalidade de Woody Allen são realmente impressionantes. O sujeito tem quase 80 anos e mais de 50 filmes – mas ainda quer mais. Ele mantém a média de realizar um filme por ano, jamais fez um filme ruim, existem alguns médios ou “normais”, é verdade, mas dificilmente decepciona. Ao contrário, volta e meia surge algum filmaço candidato a clássico e que impressiona. Na última década foram 3 casos: o sensacional ‘Match Point’, que trazia Allen à sua melhor forma em anos e foi uma completa mudança de hábito em sua carreira: de cômico não tinha nada, era um suspense com a cara de Hitchcock, além da mudança de cenário: até àquele momento, Allen sempre havia trabalhado em sua cidade natal, Nova York, mas ele, a partir daí, resolveu fazer uma “turnê” pela Europa, começando por Londres, no caso de Match Point. O resultado foi um tremendo sucesso de público e crítica, mas absurdamente, uma única indicação ao Oscar de Roteiro Original.

            Em 2008, tivemos ‘Vicky Cristina Barcelona’, que se passava na Espanha e, este sim, uma comédia e um filme absolutamente delicioso de se ver, além do maravilhoso e afiado elenco, que rendeu o merecido Oscar de Atriz Coadjuvante para Penélope Cruz. Três anos depois, em 2011, Woody Allen viaja para a França e realiza uma grande obra de arte e dos seus melhores filmes – senão o melhor – ‘Meia-noite em Paris’, que, além de mágico e brilhante, ainda mexeu com a nossa nostalgia e promoveu o debate: porque temos o costume de achar que tudo o que é antigo é melhor? Acabou sendo seu filme mais comentado, exaustivamente elogiado, acabou sendo sua maior bilheteria da carreira (e olha que Woody Allen não costuma levar tanta gente ao cinema), além de faturar o Oscar de Roteiro Original.

            E agora, em 2014, Allen viaja à Berlin, mas também ao sul da França em seu novo projeto: ‘Magia ao Luar’, agora com sua nova musa, Emma Stone (a Gwen Stacy de ‘O Espetacular Homem-Aranha’ 1 e 2), “cargo” que já foi de Diane Keaton, Mia Farrow e Scarlett Johansson.

            ‘Magia ao Luar’ conta a história de Stanley (Colin Firth, agora já oscarizado por ‘O Discurso do Rei’), um ilusionista brilhante e competente, porém, arrogante e ranzinza, que é cético ao extremo, só acredita no que vê e trabalha, também, para desmascarar quem MEXE com o espiritual para ganhar dinheiro, espíritas e médiuns. Sua próxima missão é desmascarar a médium Sophie, vivida por uma Emma Stone inspirada. Porém, Sophie começa a provar que seu talento é genuíno e até Stanley fica surpreendido, passando a acreditar que existe sim, um mundo espiritual além do material. E não demora muito para que essas duas pessoas extremas se apaixonem.

            Logo com poucos minutos de projeção, percebe-se que ‘Magia ao Luar’ é um filme de Woody Allen. A sensacional e clássica trilha sonora que embala já na abertura, mas o principal são os belos cenários que praticamente são parte do roteiro. As paisagens do sul da França são quase poéticas.

            Outra característica marcante está em seu protagonista: na grande maioria das vezes, Allen coloca seu próprio alter ego em cena, geralmente um personagem atrapalhado e inseguro. Neste caso não é diferente, Stanley é tudo isso além de ser frio e calculista. Colin Firth faz muito bem o seu papel exatamente por não querer imitar seu mestre e fazer sim, um personagem com a sua cara. Quase nos esquecemos que estamos vendo um ator que só faz papel de mocinho. Tivemos também Michael Caine em ‘Hannah e suas Irmãs’, papel que lhe rendeu o Oscar, que não quis imitar Allen, mas, muitos atores o faz, sobretudo nos filmes considerados medianos do diretor.

            Dentro de seus roteiros, sempre há aquele momento da virada que surpreende o espectador e torna as histórias de Allen especiais. Foi assim em todos os seus grandes filmes. Aqui não é diferente, embora essa reviravolta dure pouco tempo e não seja tão surpreendente, ela funciona.

             O problema é que, em 95% do filme, há muito de mais do mesmo: com personagens desajustados (e nem sempre carismáticos), como Brice, que é apaixonado por Sophie e quase sempre toca uma serenata para ela. Além disso, o foco no romance, embora tenha muita química entre o casal principal, torna ‘Magia ao Luar’ um filme comum e não memorável.

            Apesar disso, a magia (sem trocadilhos!) do filme não pode ser ignorada: Woody Allen faz uma crítica ao ser humano que é tão racional e esquece que o melhor da vida está nos detalhes e nas pequenas coisas: é muito bom se deixar levar, a vida é uma só e não devemos analisá-la demais, pois há muita beleza no mundo para viver de amargura e raiva. E, no caso do nosso protagonista, descer ao degrau da humildade faz muito bem à saúde – e ao coração.


Nota: 8,0

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