terça-feira, 3 de julho de 2012

Para Roma Com Amor

Para Roma com amor (To Rome with love)

Direção: Woody Allen

Ano de produção: 2012

Com: Woody Allen, Alec Baldwin, Jesse Eisenberg, Ellen Page, Penélope Cruz, Roberto Benigni, Judy Davis, Alison Pill, Greta Gerwig, Ornella Muti, Alessandra Mastronardi.

Gênero: Comédia

Classificação Etária: 14 anos

Nota: 10



Desde que começou a dirigir filmes lá pelos anos 1960, Woody Allen sempre filmou em Nova York, que é sua terra natal, sempre havia certa nostalgia e homenagens àquela cidade que era pano de fundo para seus personagens bizarros e psicológicos. Tudo começou a mudar em 2005, quando ele fez aquele que está entre os melhores filmes de sua carreira, que foi o excepcional “Match Point”, na qual Woody realizou seu filme em Londres. De lá para cá, ele já mudou duas vezes de cidade, em Barcelona, com o excêntrico “Vicky Cristina Barcelona” e com a obra-prima “Meia Noite em Paris”, na cidade-luz no ano passado.

Desta vez, Allen mudou novamente de cidade, escolheu a dedo cuidadosamente tanto o destino quanto as locações. E a escolhida foi Roma, capital da Itália.

“Para Roma com amor” teve a ingrata missão de ser o filme seguinte de Allen depois de ele ter chegado à perfeição com “Meia-noite em Paris” no ano passado. Não houve quem não tivesse ficado encantado, maravilhado e sonhado com esse filme, que é, ao mesmo tempo, lindo e nos faz pensar na vida no quesito “tempo”. Para quem também se encantou com “Meia-noite em Paris” em 2011 eu tenho uma grande notícia: “Para Roma com amor” supera todas as expectativas de quem achava que a criatividade de Woody tinha se esgotado ou que seu ego o tinha superado depois do sucesso comercial e de crítica de seu filme anterior. Este novo filme é muito puxado para o humor, críticas ácidas para algumas manias humanas e como sugere o título, tem muito, muito amor, além da direção de arte formidável.

O filme tem 4 histórias distintas, todas passadas em Roma, e não, as personagens nunca se encontram em momento nenhum da trama.

De início, temos um casal que acaba de chegar na cidade, Milly & Antonio (dois atores italianos vividos por Alessandro Tiberi e pela ótima Alessandra Mastronardi) que discutem uma nova chance de emprego dele e a possibilidade de ficar em Roma. Uma louca coincidência da vida cruza no caminho dele a falastrona garota de programa Anna (uma Penélope Cruz fora do comum), que se passa temporariamente por sua esposa Milly, que por sinal, se perde na metrópole ao tentar chegar no salão de beleza. Outra louca coincidência a faz cruzar com um famoso ator italiano de cinema (fictício), por quem ela fica encantada, apesar de “amar” seu marido.

Depois, somos apresentados a outro casal, Hayley (vivida pela graciosa atriz canadense, Alison Pill) e o charmoso italiano, Michelângelo (vivido por Flavio Parenti), que estão de casamento marcado, quando é chegado o momento deste italiano conhecer os pais da noiva. E quem são eles? Phyllis & Jerry. Ela, vivida pela veterana Judy Davis (que já havia trabalhado com o diretor no delicioso “Maridos e Esposas”, de 1992. E ele é vivido por nada mais, nada menos do que o próprio Woody Allen.

Jerry vive um fracassado produtor musical que reclama o tempo todo de tudo: da cidade, das pessoas e, claro, não gosta muito do genro, principalmente quando descobre que ele ajuda os mais necessitados, que já o taxa de “comunista”. Mas a parte mais cômica de tudo é quando Jerry conhece o pai deste italiano, vivido aqui pelo ator Fabio Armiliato. Ele trabalha em uma empresa funerária (!) e tem, na visão de Jerry, uma voz poderosa. Jerry então tenta convencê-lo a seguir a carreira de cantor, mas há uma surpresa, que não contarei, para esta “brilhante carreira”.

Em outra história, temos um cidadão chamado Leopoldo (vivido por Roberto Benigni – que há tempos nos devia um papel digno de nota). Um sujeito comum, que trabalha em um escritório, tem uma esposa e duas filhas e leva essa vida normal. Mas ele tem um grande problema: adora dar palpite onde não é chamado. Em um belo dia em que ia para mais um dia de trabalho, a casa de Leopoldo é cercado de jornalistas que fazer perguntas bizarras do tipo “Como você se barbeia?” ou “O que você comeu no café da manhã hoje?” e assim, esse sujeito comum se torna essa excêntrica celebridade.

Na história mais, digamos, teen do filme, temos um estudante de Arquitetura, Jack (interpretado por Jesse Eisenberg – o Zuckerberg de “A Rede Social”) que mora com sua namorada, que também estuda arquitetura, Sally (Greta Gerwig) e numa bela tarde conhece um arquiteto formado, John (Alec Baldwin), em que se tornam amigos. Tudo muda um pouco com a chegada da melhor amiga de Sally, Mônica (aqui interpretada por uma Ellen Page bem à vontade). Mas quem é Mônica? É uma atriz que, segundo Sally, é uma garota sensual e que homem nenhum a resiste. Mas será que é verdade? De início ninguém acha (embora eu, Raphael Lopes Brito, tenha me apaixonado por ela desde “Juno”). Mas conforme as conversas vão passando, descobre-se que ela é incrivelmente inteligente, culta, descolada, fala abertamente de tudo com todos e o próprio Jack acaba por se apaixonar por ela. Aliás, o fato de ser descolada e do tipo “melhor amiga que um homem pode ter” lembra muito seu papel de “Juno”. Por todos os momentos desta “odisséia” deste triângulo amoroso, temos os conselhos nada memoráveis do personagem de Alec Baldwin. Segundo ele, Mônica pode não ser lá muito atraente, mas não há como não se encantar pelo seu jeito, nem Jack. Mas alto lá! Monica não é a melhor amiga de Sally? E Jack se apaixona por Monica que é namorado de Sally? Tudo isso daria uma história trágica, não? Mas Woody, felizmente, não se preocupa aqui com discursos morais. Na verdade, ele nunca julga seus personagens. Apenas os apresenta da forma que são. Humanos, como nós.

Depois que eu assisti ao filme eu li algumas críticas (eu nunca leio antes) sobre ele. Para minha surpresa, teve muita rejeição por esta obra. Em um famoso jornal aqui de São Paulo um crítico até disse que Woody Allen se perdeu. Outro disse que Woody perde a razão humana com este novo filme. Discordo de tudo. “Para Roma com amor” está no mesmo patamar das grandes obras-primas de Woody, como “Match Point” e “Crimes e Pecados”, de 1989. Aqui, o diretor soube usar as belas locações de Roma para juntar à todos esses personagens para nos trazer uma visão humana que só poderia sair de suas idéias.

É interessante que seus personagens homens são sempre homens mal-resolvidos, atrapalhados e indecisos. Já as mulheres são maduras, seguras de si e amam mais do que homens. E não é assim na vida real? E as melhores figuras para este paradoxo são os personagens de Jesse Eisenberg & Ellen Page. É quase um “Eduardo e Mônica”, que aliás, é o nome da personagem de Page.

Claro, como todos os filmes de Woody Allen, sempre há alguma referência para seus ídolos. Aqui, o fato de termos 4 histórias simultâneas é uma grande homenagem aos filmes italianos de baixo orçamento dos anos 1960, que Allen assistia na adolescência. Mas também há espaço para a cultura romana? Mas é claro. O Coliseu, as ruínas, as obras de arte, tudo com um tom nostálgico, com aquele gosto de “eu poderia viver isso”. A própria personagem de Ellen Page diz que “não entende como algo grandioso viraram ruínas” ou Jack, na visita ao Coliseu, que elogia os arquitetos de antigamente, de como tudo tenha sido feito há tempos, sem os conhecimentos de Engenharia que se tem hoje, está ainda de pé? Tudo isso com uma Trilha Sonora italiana formidável com a música Amada Mia, Amore Mio, da Orquestra The Starlite aguçar o enredo.

Para dar um tom mais “romano” para a trama, Allen escalou um forte elenco italiano para a história para dar vida junto com o elenco norte-americano consagrado. Eu confesso que não conhecia esses atores, como Alessandra Mastronardi ou Flavio Parenti, mas, quem sabe é a chance de nós aqui na América não conhecermos e reconhecermos o trabalho desta gente talentosa?

Ah, depois de concluído o trabalho neste filme Woody Allen passou umas férias aqui no Rio de Janeiro e não descartou a possibilidade de realizar um filme aqui. É mágico imaginar o que Allen pode reservar para sua obra aqui em solo brasileiro. É esperar para ver. Mas enquanto não vem, fiquemos com “Para Roma Com Amor”.

Que tal uma viagem para Roma para hoje à noite?


Imagens:

















Trailer do Filme:




Um comentário:

  1. Boa, pessoas! Este é um dos meus diretores favoritos, assim que possível irei às telonas assistir este filme! Abraços!

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