quinta-feira, 22 de maio de 2014

Taxi Driver



Taxi Driver

Direção: Martin Scorsese

Ano de produção: 1976

Com: Robert De Niro, Jodie Foster, Harvey Keitel, Cybill Shepherd, Albert Brooks, Martin Scorsese.

Gênero: Drama

Classificação Etária: 18 Anos


Feito há quase 40 anos, “Taxi Driver” ainda está assustadoramente atual

            Hollywood produz mais de 300 filmes por ano. É a 2ª maior indústria de cinema do mundo, ficando atrás da indústria indiana, Bollywood, que produz mais do que o dobro de filmes da indústria americana. Mas o cinema de Hollywood é, indiscutivelmente, mais famoso e mais milionário, pelo menos para nós, ocidentais.

            Mas desses mais de 300 filmes por ano, quantos serão lembrados daqui há 10, 20 ou 50 anos. Eu posso garantir que são pouquíssimos. E são esses poucos que se tornam clássicos, cultuados e amados por gerações. E de muitas épocas gloriosas da 7ª arte, a mais lembrada de forma carinhosa pelos críticos e cineastas são os anos 1970. Para quem não sabe, no início dessa década, Hollywood estava quase falida e o cinema precisava se reinventar. Foi preciso a união de alguns cineastas considerados rebeldes (influenciados pelos movimentos dos anos 1960) para mudar tudo isso, são eles: George Lucas, Steven Spielberg, Francis Ford Coppola e Martin Scorsese. Havia a necessidade do chamado “cinema de autor”, pois tudo o que estava ali, que eram os velhos-oestes e os grandes musicais, estavam fadados ao fracasso.

            George Lucas reinventou o cinema com seu “Star Wars” em 1977; Spielberg também reinventou o cinema de verão (na verdade inventou) com seu “Tubarão”, que, por décadas, foi a maior bilheteria do cinema em terras brasileiras (até chegar Titanic em 1998). Coppola fez a trilogia “O Poderoso Chefão”. Precisa dizer mais?

            Faltou um? Pois é desse mesmo que iremos falar aqui.

            Martin Scorsese fez um grande filme em 1974: “Alice não mora mais aqui”, que virou cultuado e deu o Oscar de Melhor Atriz para Ellen Burstyn (de “Réquiem para um sonho”). Mas foi com “Taxi Driver” que ele realmente se confirma como um grande cineasta. Um diretor corajoso e que faz um cinema autoral – e até os dias de hoje – seu último filme, “O lobo de Wall Street”, que estreou este ano, foi uma obra com a sua cara, quase sem pudor nenhum e com a temida classificação etária de 18 anos.

            Taxi Driver não foi um sucesso comercial (na verdade, filmes do Scorsese não fazem sucesso, à exceção de “A invenção de Hugo Cabret” e “Os Infiltrados”), mas o reconhecimento crítico e o status de cult fazem o filme ser lembrado até hoje.

            E não só Taxi Driver é lembrado até hoje como é um filme que não envelhece. Muito pelo contrário, suas situações sombrias e suas citações ecoam até hoje, considerando a sociedade atual.

            Taxi Driver conta a história de Travis (Robert de Niro, sensacional!), que é um veterano da Guerra do Vietnã e aceita trabalhar como taxista nas madrugadas de Nova York. Dentre várias situações bizarras que ele presencia, entre drogas, prostituição e bebedeira, ele conhece a secretária do candidato a presidente, Betsy (Cybill Shepherd). Na visão dele, Betsy é linda demais e acaba se apaixonando por ela. Após um encontro frustrado em um cinema pornô (!), Betsy o rejeita e Travis planeja assassinar o candidato a presidente. Na compra da arma, ele se olha no espelho e diz a famosa frase: “você está falando comigo”? Outro destaque é a personagem de Iris (Jodie Foster), uma prostituta de 14 anos, que é hostilizada por seu cafetão e Travis fica obcecado em salvá-la.

            Para muitos, este é o melhor filme da carreira de Scorsese. E tem motivos para isso sim. Além da história poderosa, temos que ressaltar as atuações. Robert De Niro estava no auge de seu talento e fresquinho pelo Oscar em 1975 por “O Poderoso Chefão 2”. E, no caso de “Taxi Driver”, sempre com seu melhor diretor, que é o Scorsese. E este foi o primeiro papel de Jodie Foster em sua carreira. Ela de fato só tinha 14 anos. Foi indicada ao Oscar pelo papel e Scorsese viu nela a grande atriz que seria. Ela cresceu e se tornou das atrizes mais importantes da história e faturou 2 merecidos Oscars, em 1989, por “Acusados” e em 1992 por “O Silêncio dos Inocentes”.

            A trilha sonora, muito viva até hoje, é composta por Bernard Herrmann. Ele era o compositor preferido de Hitchcock e trabalhou com ele por vários filmes. Foi ele que fez a famosa e poderosa trilha de “Psicose”. Ele faleceu em dezembro de 1975 e não viu “Taxi Driver” pronto.

            Há outro ponto que não se deve ser destratado ao falar de “Taxi Driver”: Oscar 1977. Foi das premiações mais polêmicas da história ao premiar aquele que é, na minha opinião, apenas mediano, “Rocky – Um Lutador”. Haviam 3 filmes melhores do que ele para merecer o prêmio de Melhor Filme – e muito mais corajosos – além do próprio “Taxi Driver”, também tinha “Todos os homens do presidente”, que relata o escândalo de Watergate, mas, principalmente o poderoso filme de Sidney Lumet, “Rede de Intrigas”. Assim como “Taxi Driver”, é um filme muito à frente do seu tempo por tratar de manipulação da mídia e a arte do espetáculo. Mas “Rede de Intrigas” foi até bem na premiação, ganhou 4 Oscars, de Roteiro Original e Ator para Peter Finch (que havia morrido um mês antes da premiação) e injustamente para Beatrice Straight de Atriz Coadjuvante (deveria ter ficado para Jodie Foster). Mas o prêmio mais justo foi o de Atriz para Faye Dunaway. Ela estava no auge de seu talento e beleza e sua personagem é tão formidável quanto cínica.

            Bom, com tudo isso, porque raios premiar um filme tão insignificante quanto “Rocky – Um Lutador”? Se “Rede de Intrigas” já tinha ganho 4 prêmios, porque não premiá-lo como Melhor Filme também? Há uma explicação para isso. Em 1977, os EUA estavam na lona, com a derrota na Guerra do Vietnã e o escândalo de Watergate com o presidente Nixon e eles estavam precisando de algo para levantar a moral e deixar mais em evidência o sonho americano. E eles acharam melhor premiar uma história de superação do que uma obra mais política.

Uma pena e Taxi Driver saiu de mãos vazias. Uma obra tão à frente de seu tempo que assustou os membros da Academia. Mas não faz mal. A vida é assim mesmo.
             

Nota: 10,0

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