segunda-feira, 19 de maio de 2014

Godzilla



Godzilla

Direção: Gareth Edwards
Ano de produção: 2014

Com: Aaron Taylor-Johnson, Elizabeth Olsen, Ken Watanabe, Bryan Cranston, Sally Hawkins, David Strathairn, Juliette Binoche.

Gênero: Ação

Classificação Etária: 12 Anos


O novo Godzilla é tão ruim quanto o filme de 1998

No ano passado, quando Guilhermo Del Toro lançou nos cinemas “Círculo de Fogo”, os fãs de Tokusatsu ficaram muito entusiasmados. Afinal, era o retorno dos filmes/séries de monstros em grande estilo e, dessa vez, levados a sério. Também por se tratar de um diretor tão respeitado como Del Toro (que, em 2006, nos agraciou com o fabuloso “O Labirinto do Fauno”).

E o resultado de “Círculo de Fogo” agradou fãs e não-fãs, sendo um sucesso de crítica, mas, infelizmente, não tanto de público. Ficou claro vendo lá que era um trabalho de fã, sem perder a qualidade, sem ser devoto demais e não se esquecendo que o roteiro e os personagens são a coisa principal de um filme. E os apaixonados por Tokusatsu finalmente poderiam ser representados de maneira íntegra.

Para quem não sabe, os Tokusatsu são aqueles monstros de origem principalmente japonesa que se popularizaram mais nos anos 1980, com o sucesso de séries como Jaspion, Changeman e Jiraya. Quem, como eu, nunca foi hostilizado por defender essas séries clássicas que por anos eram vistas como “bregas” ou “coisa de criança”?

Mas, como começou tudo isso? Foi há exatos 60 anos, em 1954, com o povo japonês ainda com a sombra da bomba atômica da 2ª Guerra Mundial. Eles queriam realizar uma obra que entretesse o povo e ainda com ligações às bombas de Hiroshima e Nagasaki. E esse filme foi “Godzilla”, um filme que não só foi um grande sucesso, mas que fez o mundo enxergar que poderia se ver um filme de qualidade em território asiático, fora dos portões de Hollywood e abrir caminho para o mercado nipônico no cinema. Sem esse filme, provavelmente não veríamos o cinema de Akira Kurosawa aqui no Ocidente.

Como Hollywood não brinca em serviço, logo os americanos compraram os direitos pelo monstro gigante, fazendo várias materiais genéricos do tema, a maioria sem sucesso. Foi em 1998, que a Columbia/Sony resolveu ressuscitar o monstro gigante em uma super produção. A idéia era bacana, fazer o Godzilla invadir a cidade de Nova York com um filme com a cara de Hollywood, e por se tratar de um filme-catástrofe, o estúdio resolveu chamar o diretor Roland Emmerich, fresquinho com o sucesso de “Independence Day”, em 1996.

Mas o resultado foi um desastre. O “Godzilla” de 1998 foi um fracasso de público e crítica, afundou a carreira de quase todo o elenco e o diretor Roland Emmerich só voltaria a fazer um filme lucrativo 6 anos depois com “O dia depois de amanhã”. E com o trauma de 1998, ninguém queria tocar no projeto de novo, até que Del Toro ano passado fez Hollywood despertar que poderia dar certo...

Com o sucesso crítico de “Círculo de Fogo”, a Warner recebeu sinal verde para produzir um remake de Godzilla. Para isso, chamou um diretor quase sem experiência em longas metragens, um elenco sensacional e uma produção milionária, assim, nascia esse filme aqui, a versão de 2014 de “Godzilla”, para celebrar os 60 anos do lagartão gigante.

A premissa era bacana, resgatar as raízes do monstro, inclusive sua força nuclear e alternar EUA com o Japão para agradar gregos e troianos.

Mas o resultado é tão chocho, tão sem graça e sim, com alguns problemas do filme de 1998.

Todo o conteúdo e as metáforas políticas do filme de 1954 foram trocados pelos conflitos familiares, o que não é ruim, mas, tanto aqui, como no longa de Emmerich, os atores em carne e osso têm mais importância do que o monstro em si. E não necessariamente as histórias são empolgantes. Logo na abertura, temos Sandra Brody (Juliette Binoche) sendo morta em uma usina nuclear, colocando seu viúvo, Joe Brody (Bryan Cranston, da série “Breaking Bad”) em um estado quase paranóico, e mesmo a história pulando 15 anos, sem esquecer ou superar a perda.

A escolha do protagonista foi também equivocada. Aaron Taylor-Johnson é um péssimo ator, não é bom para carregar um filme desse tamanho nas costas, infelizmente, não sabe atuar, não possui a carga dramática que seu personagem exigia e aqui é só caras e bocas.

O restante do elenco até se esforça. Quem questiona o talento de Bryan Cranston (que fez Breaking Bad soltar faíscas) e Juliette Binoche, vencedora do Oscar por “O Paciente Inglês”. Também tem Ken Watanabe, que apareceu em “O Último Samurai” e “Batman Begins”. Aqui, ele é o ponto nipônico que o filme precisava. Seu sotaque para dizer “Gojira” e não “Godzilla” é impagável. E o que dizer de Elizabeth Olsen. Ela é a irmã mais nova das gêmeas Mary Kate & Ashley Olsen. Futuramente ela será vista como a Feiticeira Escarlate em “Os vingadores 2”. Ela é uma boa atriz, é esforçada, até dá uma vida à sua personagem, Elle, que é casada com Ford, papel do Aaron Taylor-Johnson. Mas a falta de química e falta que sua personagem teve de um destaque maior para a trama foram desastrosos.

E assim como o Godzilla de 1998, aqui, até a parte técnica é capenga. Primeiro, o 3D não tem profundidade alguma. Quem for ver no cinema, por favor, veja em 2D. O som é tão incômodo quanto preguiçoso. Acreditem, o som do filme de 1954 é muito melhor, mesmo sendo visto em uma TV normal. Até o próprio monstro digital não agrada. Aqui, ele é uma versão muito piorada de qualquer vilão de quadrinhos sendo mais feio e mais artificial.

Foi uma pena mesmo que esse Godzilla tenha sido tão insatisfatório. Se “Círculo de Fogo” foi quase autoral nas mãos de Del Toro, aqui, temos um trabalho de estúdio e de produtor, em que os engravatados de Hollywood e, nesse caso da Warner, ainda não sabem nada de roteiro, e, no caso de Godzilla, nem de efeitos.
             

Nota: 3,0

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