segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Adaptação

Adaptação (Adaptation)
Direção: Spike Jonze
Ano de produção: 2002
Com: Nicolas Cage, Meryl Streep, Chris Cooper, Judy Greer, Tilda Swinton
Gênero: Comédia Dramática
Classificação Etária: 14 Anos
Nota: 10

O grande problema em se fazer um filme grandioso é a expectativa para o próximo. Principalmente quando este filme é o primeiro da carreira de um cineasta. Quando Spike Jonze realizou, aquele que é, na opinião deste que voz fala, a melhor comédia dos anos 90, “Quero Ser John Malkovick”, confesso que não estava lá com muita expectativa para o próximo filme, achava que o gás de Jonze já havia acabado ou que os elogios exagerados do filme anterior fariam mal ao diretor. Com M. Night Shyamalan foi exatamente assim. Quando ele fez em 1999, aquela obra-prima que foi “O Sexto Sentido”, o sucesso comercial e crítico do filme subiu tanto a cabeça de Shyamalan que nunca mais ele fez um filme digno de nota. Ao contrário, a cada filme ele está pior e cada vez mais piorando. De “Sinais”, a “A dama na água”, ele inclusive já ganhou o prêmio Framboesa de Ouro com o insuportável “O Último Mestre do Ar”.

Mas felizmente, Jonze não se empolgou com o exemplo de Shyamalan. Pois seu filme seguinte, “Adaptação”, é tão arrebatador, cômico e inteligente quanto “Quero Ser John Malkovick”, embora este aqui tenha uma carga dramática mais forte.

“Adaptação” conta a história de um roteirista, Charlie Kaufman, que, por ironia, é o próprio roteirista do filme, aqui vivido por um Nicolas Cage no melhor papel de sua carreira (tá bom, um dos dois melhores, fazendo páreo com “Despedida Em Las Vegas”), que precisa de qualquer jeito adaptar para o cinema o livro “The Orchid Thief”, de Susan Orlean (vivida por Meryl Streep, ótima no papel e o fato de ela ter perdido o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por este papel foi um fato que não engulo até hoje), que conta a história de um fornecedor de plantas que coleciona orquídeas, vivido por Chris Cooper (vencedor do Oscar e do Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel). Aqui, Charlie está passando por varias crises, como a baixa estima, a frustração sexual e os problemas com sa eu irmão gêmeo, Donald, também vivido por Nicolas Cage.

O que é interessante por aqui é que nem tudo é verdadeiro em Adaptação. Começando pelo próprio irmão gêmeo de Charlie, Donald. Ele nunca existiu. Tudo foi uma brincadeira de Charlie na vida real. No próprio cartaz do filme há a mensagem: escrito por Charlie/Donald Kaufman. Outra brincadeira: Susan nunca teve caso com seu protagonista, como o filme sugere. Aliás, o filme é uma referência, também, à carreira do diretor, Spike Jonze. Ao longo do filme, inclusive na abertura, somos levados ao set de filmagem de Quero Ser John Malkovick, com o próprio Malkovick e John Cusack, o protagonista.

 Mas, apesar de tudo isso, o filme deve sim, ser levado a sério.

 Primeiro porque não é exatamente uma comédia. Há vários momentos de reflexão e tensão. Os 20 minutos finais, momentos sérios, são dignos de um filme de suspense, inclusive com mortes. O filme, também, acompanha o psicológico do nosso protagonista, que nem sempre é cômico. Ele é fissurado por orquídeas, é gamado pela personagem de Judy Greer e a quase todo momento está infeliz, embora seja muito inteligente.

E os atores? São o maior trunfo por aqui. Nicolas Cage, que é um ator pelo qual eu não tenho tanta admiração, faz um papel duplo que se divide entre homem apaixonado, psicologicamente abatido e gênio atrapalhado. Meryl Streep, considerada por muitos como a primeira dama de Hollywood, faz um dos melhores papéis de sua carreira e um dos mais improváveis também, afinal, ela fuma maconha, fala palavrão e é muito falastrona. E Chris Cooper, no melhor personagem de sua carreira, está impagável como um colecionador de plantas e venceu, com méritos o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

Foi uma grande pena que, de lá para cá, Spike Jonze, esse grande cineasta e grande diretor de videoclipes, nunca mais fez um grande filme, o que não anula o impacto que Adaptação ainda provoque.


Imagens:











Trailer:




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