segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Águas Rasas


           As comparações do suspense Águas Rasas com filmes como Tubarão, 127 Horas, Gravidade e Náufrago são inevitáveis, não no que diz à qualidade ou roteiro, mas na importância que damos com um personagem que ocupa um filme sozinho em tela, com a empatia que a platéia tem com esse personagem, na ameaça que o cerca e com a esperança de que o desfecho seja feliz, mas que tanto o espectador quanto o roteiro sabem que isso é quase impossível.


            Para ver e apreciar Águas Rasas o espectador deve 1) saber que a protagonista ocupa mais de 80% sozinha em tela e 2) saber do clima de urgência da história que, embora seja este um produto de entretenimento, é um filme tenso e com vários momentos pontuais em que os menos desavisados não conseguirão ver.

            E o fato de Blake Lively ocupar 80% do filme também é um ponto a favor: desde sua Serena em Gossip Girl, ela só evolui como atriz. Há um drama pessoal na qual ela enfrenta que faz com que a platéia se envolva com sua história e derrote a sua ameaça, no caso, um tubarão, que a atacou durante um mergulho e agora ela está presa em um recife de corais, sem poder chegar à praia, sem contato com o mundo exterior e sem perspectiva de volta para casa.


            A cena em que ela é atacada é visceral e é o ponto alto do filme: tensa e com uma câmera que mostra não só o ataque em si como o dano e o desespero de Nancy (papel de Blake Lively). Aqui o CGI funciona, mas não é sempre: o tubarão digital é, por diversas vezes, artificial e sem vida e um confronto entre a protagonista e a ameaça corre o risco de ficar datado.

            Outro grande problema de Águas Rasas é que, embora seja curto e com um prólogo direto do que ele propõe, não é de primeira que o espectador começa a ter empatia com a Nancy: ela começa o filme pegando uma onda e a câmera passeia por seu corpo em closes em suas partes mais sensuais, lembrando muito Mergulho Radical, com Jessica Alba, mas logo o passeio de praia vira um drama de gente grande.



            Até chegou a ser uma surpresa que Blake tenha aceitado isso, já que tanto ela quanto sua família são ultraconservadores e ela mesma já declarou que acha “horrível” fazer cenas de nudez, mas aqui ela está muito à vontade e convence como atriz dramática.


            Águas Rasas foi uma grande surpresa no explosivo verão americano. Custou 17 milhões de dólares, um valor extremamente baixo para os padrões hollywoodianos, mas já ultrapassou 100 milhões nas bilheterias mundiais, ou seja, mais de 5 vezes mais (colocando na ponta do lápis, foi a mesma proporção de Guerra Civil, a maior bilheteria do ano até agora) e o sucesso é merecido: um filme modesto e bem-feito que, embora tenha essa ou outra falha, é um grande alívio em um período em que se discute a originalidade de Hollywood.

Nota: 8,0

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