domingo, 10 de janeiro de 2016

Spotlight - Segredos Revelados


Spotlight – Segredos Revelados (Spotlight)

Direção: Tom McCarthy

2015

Com: Mark Ruffalo, Michael Keaton, Rachel McAdams, John Slattery, Liev Schreiber, Stanley Tucci, Billy Crudup, Brian D’Arcy James.

Drama

14 Anos

Uma aula de cinema – e de jornalismo

            No ano de 2001 uma equipe de jornalismo do Boston Globe, conhecida como Spotlight, fez uma investigação sobre as denúncias que os padres das igrejas daquela cidade estariam praticando pedofilia com as crianças. Na verdade, a Igreja já havia sido denunciada no passado, mas a instituição católica colocou tudo por debaixo dos panos e conseguiu “acordos” com as vítimas.

            Mas o jornal estava disposto a levar a investigação até as últimas consequências, pressionando os poderosos e coletando depoimentos das vítimas.

            E o resultado foi mais chocante do que o esperado: foram mais de 80 padres, só na cidade de Boston, que estavam ligados de forma direta aos escândalos. Nem os atentados de 11 de setembro inibiram as investigações. A equipe do jornal recebeu o Prêmio Pulitzer sobre as matérias e o jornal ganhou mais credibilidade do que já tinha.

            Essa é a história de ‘Spotlight – Segredos Revelados’, que estreou sem fazer barulho no ano passado nos EUA, já vem colecionando críticas positivas e está chamando atenção das premiações – ele deve ir ao Oscar deste ano.

            E o filme merece todos os elogios possíveis: ‘Spotlight – Segredos Revelados’ é uma grande homenagem ao jornalismo investigativo, muito na linha de ‘Todos os Homens do Presidente’ (que, curiosamente, está completando 40 anos em 2016) e extraiu toda a urgência do escândalo.

            Quem quer um programa de cinema para se divertir deve procurar em outra sala de exibição. Aqui é cinema sério, de gente grande e na sessão de cinema que este que vos fala estava, não houve uma única risada por parte da plateia.

            Mas ‘Spotlight – Segredos Revelados’ está muito longe de ser considerado chato. Ou não. O grande público pode sair do filme e dizer que ele é “muito parado”, já que, dentro da história, não é uma grande reviravolta e tudo é feito de forma linear. E olha que algum momento dramático poderia passar com toda a pieguice.

            E mesmo se tratando de um filme sobre a pedofilia da igreja, este não é um filme sobre religião. Ele não aponta o dedo na população católica e os culpa sobre a pedofilia, o filme vai onde os poderosos estão, mostra o quanto a igreja como instituição usa argumentos religiosos em benefício próprio e mais do que isso, o filme nos mostra o quanto a fé humana é um tabu: derrubar um escândalo em uma instituição religiosa é muito mais difícil do que derrubar algo relacionado à política ou à uma empresa. E tudo isso porque ainda somos intolerantes quando à religião: a equipe de jornalismo pode muito bem ser vista aos olhos dos religiosos como “hereges” ou coisa do tipo. Alguns integrantes da equipe inclusive têm a formação católica, mas trabalho é trabalho.

            Mas mesmo sendo um filme mais “pé no chão”, ‘Spotlight – Segredos Revelados’ jamais cansa o espectador, muito pelo contrário, cada revelação, cada descoberta da equipe é algo que vai avançando e chegando mais perto de desmascarar os responsáveis e tudo isso com um belo trabalho de montagem e edição (que também devem ir ao Oscar) que tornam o filme mais dinâmico e atraente a cada tomada. Por exemplo, no mesmo espaço de tempo, há um personagem entrevistando uma vítima, no outro, entrevistando um advogado, no outro, um padre, e no outro tem um jornalista na redação coletando provas.

            E tudo isso com um roteiro primoroso do próprio diretor Tom McCarthy e de Josh Singer (que já tem essa veia investigativa, ele escreveu alguns episódios de ‘The West Wing’ e o filme ‘O 5º Poder’), que nos agracia com diálogos instigantes, imparciais e diretos no que eles têm a dizer, sem as firulas hollywoodianas e respeitando a inteligência do espectador. Até a trilha sonora é contida. ‘Spotlight – Segredos Revelados’ é, portanto, um filme de roteiro e direção, não um filme de produtor.

            E o elenco aqui é excelente. É uma grande prova de que um filme para ser bom não precisa chamar os melhores atores do mundo, desde que se tenha um diretor que saiba trabalhar com atores. São ótimos atores sim, mas não há nenhuma estrela e ninguém quer aparecer mais do que o filme.

            Michael Keaton é o líder da equipe e às vezes têm que tomar decisões que não agradem a todos, embora tenha intenções boas. Mark Ruffalo é o que mais se envolve emocionalmente com a investigação. Rachel McAdams é o grande equilíbrio entre jornalista competente e imparcial, mulher forte e ao mesmo tempo feminina e mora com a avó, que é religiosa devota.

            E todo o elenco de apoio está sensacional: John Slattery, Liev Schreiber, Stanley Tucci, Billy Crudup e Brian D’Arcy James.

            Seja você católico, evangélico, judeu ou ateu, ‘Spotlight – Segredos Revelados’ é um filme para todos, justamente por tratar o caso com imparcialidade e de não ofender a fé – ou falta de fé – de ninguém. Não vá ver o filme com a cabeça de “todo católico é pedófilo” ou “o filme é uma heresia”, vá com a cabeça de uma denúncia com a pedofilia, que não é exclusiva das religiões, é um crime e quem a pratica deve ser punido sim.

            A pedofilia, como prática de estupro, pode deixar consequências físicas, mas as psicológicas dificilmente são superadas e isso ‘Spotlight – Segredos Revelados’ retrata muito bem com os relatos das vítimas e assim como qualquer vítima de estupro, fica constrangida, não recebe o apoio das autoridades, que deviam apoiar e em muitos casos até a família a discrimina. E neste caso específico da pedofilia na igreja, há relatos de vítimas que não receberam apoio de ninguém por estar “ofendendo um homem de Deus”, afinal, é a palavra de um sacerdote respeitado pela sociedade contra uma criança perturbada. E qual criança teria coragem de dizer aos pais que iria abandonar uma vida religiosa porque foi abusada?

É um tabu que estamos muito longe de quebrar.    

Nota: 10,0

Imagens:








Trailer:

Um comentário:

  1. Muito boas fotos. Um dos elementos que eu mais gostei foi o elenco, especilamente Michael Keaton. Falar dele significa falar de uma grande atuação garantida, ele se compromete com os seus personagens e sempre deixa uma grande sensação ao espectador. O mesmo aconteceu com sua última produção sobre a historia do McDonalds, para mim é um dos grandes filmes de Hollywood. Se vocês são amantes do trabalho do ator este é um filme que não devem deixar de ver. É algo muito diferente ao que estávamos acostumados a ver. Para uma tarde de lazer é uma boa opção.

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