terça-feira, 21 de agosto de 2018

(Des)Encanto confirma a boa fase das animações adultas


                 (Des)Encanto é a nova série animada da Netflix, chegou ao serviço de streaming no último dia 17 de agosto cheia de expectativa, mas também, cheia de responsabilidades.

                A Netflix hoje já é uma gigante do entretenimento e embora ainda existam algumas séries lá de gosto duvidoso (Insatiable, Punho de Ferro...), os executivos já conseguem bater de frente com os canais mais tradicionais e com uma equipe com os melhores diretores e roteiristas.

                A ida de Shonda Rhimes (criadora de Grey’s Anatomy, Scandal, entre outras) à Netflix já foi uma prova disso, mas muitos se surpreenderam quando foi anunciado que Matt Groening faria uma nova série animada ao serviço.

                Matt é o criador de nada menos do que Os Simpsons e de Futurama e obviamente um nome como esses chama atenção de qualquer projeto.

                Mas as responsabilidades de (Des)Encanto não terminam por aí: estamos em uma safra ótima de animações voltadas ao público adulto. Além dos próprios Simpsons, que estão aí desde 1989 e Uma Família da Pesada, que nos diverte desde o final dos anos 90, agora também somos agraciados com animações como Rick and Morty, Bojack Horseman e Final Space e as comparações de (Des)Encanto com essas animações tão populares são quase inevitáveis.

                A boa notícia é que (Des)Encanto é uma grande animação e promete fazer muito sucesso. Vai ser impossível ter o mesmo impacto cultural de Os Simpsons, mas o envolvimento com a série é inevitável.



                E no mesmo ano em que tivemos a ótima Final Space, lançá-la depois é quase covardia.

                (Des)Encanto se passa no período Medieval, em um lugar chamado de Terra dos Sonhos, onde conhecemos a nossa protagonista, Bean (Abbi Jacobson), filha do rei, mas ela foge dos padrões do que é uma princesa: rebelde, beberrona e não quer saber de casamento arranjado.

                Bean perdeu sua mãe muito cedo e a falta que ela sente é notável, mas ela consegue dois improváveis amigos: um pequeno Elfo verde e um diabinho chamado Luci (numa clara referência a Lúcifer).


                De início dos dois parecem o paradoxo do bem e do mal, mas logo a série mostra que foge dos estereótipos: os ditos heróis não são exatamente os mais bonzinhos nem os ditos vilões são exatamente malvados. E isso tornam os personagens mais tridimensionais.

                Por exemplo, o rei não é o pai autoritário na qual a filha tem medo, o que fica ainda mais claro na segunda metade da série, o Luci é um personagem que o público acaba torcendo por ele, o Elfo não é o mascote injustiçado e ingênuo (mas ainda sim é irresistível) e Bean está muito longe do estereótipo de mocinha: embora seja rebelde, o público torce por ela, é quase como uma versão politicamente incorreta da Merida de Valente.


                Tecnicamente, (Des)Encanto é uma animação perfeita: os traços dos personagens, os ricos detalhes dos cenários e a mescla entre 2D e 3D tornam a série em um deleite visual.

                E mesmo se passando em uma época totalmente diferente do tradicional de Matt Groening (Futurama se passa no futuro e Os Simpsons, no presente), notam - se os traços dos personagens dele, mesmo para o público dito casual.


                Matt Groening, mesmo vindo de uma série tão duradoura quanto Os Simpsons, entendeu o formato Netflix, onde as pessoas fazem maratona e assistem como um grande filme, tanto que dividiu a história em duas partes e há vários “ganchos” para a próxima parte.

                E como já dito, (Des)Encanto é uma animação adulta, mas diferentemente de Os Simpsons e Futurama, onde havia uma censura e muitas crianças vêem até hoje, aqui, em se tratando de um produto Netflix, não há sutilezas: as piadas são adultas e ponto.


                Há referências a Game of Thrones, algumas piadas são de duplo sentido, há mensagens (algumas subliminares e algumas ficam evidentes) sobre feminismo, repressão e até uma referência ao filme De Olhos Bem Fechados, de Stanley Kubrick.

                Não chega a ser tão incorreta quanto South Park, mas também não vá esperando uma animação Pixar.

                (Des)Encanto pode não ser uma animação perfeita (ela não se desenvolve muito nos episódios 5 e 6), mas não há o que reclamar de uma animação que consegue ser engraçada, boa tecnicamente, com bons personagens e que faz pensar.

                Ah, e vejam a série dublada: a dublagem de (Des)Encanto é praticamente um personagem. Fica a dica.
               
Nota 9,0

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