2016 está sendo um ano com mais promessas do que com
resultados, pelo menos, no cinema: vários projetos que prometiam muito,
entregaram pouco e decepcionam, sobretudo no período do verão americano. Houve alguns
bons filmes, mas quase nada memorável a ponto de ficar para a História (no
verão do ano passado tivemos Mad Max e Divertida Mente, por exemplo).
O que está acontecendo neste ano é que os melhores filmes
do ano são aqueles que poucos tiveram expectativa e não são necessariamente
filmes de baixo orçamento (Zootopia é um exemplo).
E há um outro filme fazendo barulho nas redes sociais e
que está sendo apontado pelos críticos e pelo público como dos melhores filmes
do ano – e melhores suspenses dos últimos anos: O Homem nas Trevas, que o
título original é “Don’t Breathe”, ou “Não Respire” e quem assiste ao filme vê
que este título faria muito mais sentido, afinal, há diversos momentos em que
alguns personagens – e o público – passam sem respirar e agoniado.
Na história, três jovens assaltantes decidem praticar um
último roubo, que é invadir a casa de um deficiente visual veterano de guerra.
A missão parecia tranquila, mas coisas estranhas começam
a acontecer dentro da casa.
Há diversas camadas para serem exploradas em O Homem nas
Trevas e quanto menos o espectador souber, mais interessante fica. O que começa
como um filme de roubo vira um suspense psicológico e se torna visceral e
elegante ao mesmo tempo.
O roteiro de Fede Alvarez (que também é o diretor) e de
Rodolfo Sayagues (os dois também escreveram A Morte do Demônio) mostra que
todos têm suas motivações e ninguém é exatamente culpado e ninguém é exatamente
inocente: se alguém invadisse a sua casa para roubar o seu dinheiro, como você
reagiria? Mas se alguém te atacasse de forma brutal, como você reagiria? O filme
brinca com essas questões o tempo todo e deixa para o espectador tomar as suas
conclusões, sem manipulá-lo.
Sam Raimi ficou mundialmente conhecido como o diretor da
trilogia do Homem-Aranha e embora tenham dois grandes filmes desta trilogia (o
terceiro é fraco!), seu coração fala mais alto pelo terror, como nos dois
exemplares de A Morte do Demônio (o de 1981 ele é diretor e no de 2013 ele é
produtor). E aqui ele é o produtor novamente e vemos muito de sua marca aqui,
como alguns sustos falsos, o bizarro e o “jumpscare”, que é aquele susto
inesperado.
E tem mais: embora ele seja um diretor já renomado, ele
jamais deixa de lado seu espírito de cinema independente: O Homem nas Trevas é
um filme relativamente pequeno (custou “só” 10 milhões de dolares), a maior
parte do filme se passa em apenas um único ambiente e o nome mais conhecido do
elenco é Stephen Lang, que não é exatamente um astro, embora tenha feito a
maior bilheteria da história, que é Avatar.
Aliás, seu personagem é o deficiente visual em questão e
embora o elenco jovem esteja muito bem, é ele o melhor personagem por aqui. Ele
foi apenas creditado como “o homem cego” e não tem nome – pelo menos até onde o
público sabe – e sempre se mostra imponente e como uma ameaça.
O “homem cego” é um personagem a ser descoberto. O roteiro
não perdeu tempo com flashbacks ou em explicar demais a sua história (que
cairiam bem em um spin-off) e lembra muito o personagem de Clint Eastwood em
Gran Torino: um veterano de guerra solitário, amargurado e seu único indício de
humanidade é seu cachorro (no filme de Eastwood era seu carro).
O Homem nas Trevas é uma pequena preciosidade do
suspense/terror, seu sucesso é merecido e é uma história que pode ser muito bem
explorada, mas não em demasia, já que tanto se fala na falta de criatividade em
Hollywood.
Nota:
10,0
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